Uma mesa cheia de crianças

http://it.youtube.com/watch?v=cKCRHhmHvjg

Sua tataravó teve catorze filhos; sua bisavó teve quase o mesmo número; para sua avó, três foram o bastante; e sua mãe não queria nem você, você foi somente um acidente. E você, minha garota, você vai de parceiro em parceiro, e quando você comete algum engano, escapa dele por meio do aborto. Mas algumas manhãs você acorda chorando depois de ter sonhado à noite com uma grande mesa arrodeada de crianças.

Ontem, tendo saído com alguns amigos, nada melhor do que devaneios em mesas de bar. Entre uma cerveja e um cigarro; falávamos sobre a sociedade atual, sobre o feminismo, sobre o valor da mulher, da pureza, da castidade, da virgindade, sobre a libertação sexual, sobre o Cristianismo. Falávamos, enfim, sobre a vida.

Um amigo economista nos mostrava como o feminismo, através da pretensa defesa das mulheres, tem contribuído para tornar a vida delas um verdadeiro pesadelo. Falávamos de diversas coisas; da fertilidade das mulheres (que é muito mais sensível ao tempo do que a masculina), da óbvia diminuição populacional em países cujos cidadãos “inteligentes” e “superiores” tinham poucos filhos, das óbvias conseqüências desastrosas desta regressão populacional, da suposta luta de classes entre os homens e as mulheres… enfim, sobre diversas coisas. Daria para escrever um livro, como sugerimos, brincando, em certo momento da noite. Dentre todas essas coisas que foram faladas, contudo, gostaria de escrever um pouco aqui sobre a crueldade que o feminismo faz sobre as mulheres.

Em particular, por meio da imposição de uma espécie de “ditadura da beleza”! Oras, se a revolução sexual segue o caminho absurdo de, ao invés de valorizar a pureza femina, valorizar a promiscuidade universal, quem é que sai perdendo nesta história? As mulheres, sem dúvidas. Porque se a sexualidade é livre e se a satisfação sexual é o parâmetro que mede a felicidade, e se é necessário ter mais e mais parceiros (como a menina da canção em epígrafe), então o tempo, que tem efeitos terríveis sobre as mulheres, vai inevitavelmente transformar a felicidade da juventude em frustração na idade adulta. Se as mulheres precisam “disputar” entre si para conseguir parceiros sexuais, a disputa pode ser justa dentro da faixa etária da juventude. Sempre há, entretanto, meninas jovens, e as mulheres, conforme envelhecem, vão precisar disputar com as novas gerações que vêm surgindo – o que, sem dúvidas, não é uma disputa justa. A abundância de pretendentes, a beleza física da flor da juventude, a sensação de ser desejada… tudo é palha e vira pó com o passar dos anos. E então vem a frustração.

Como canta Tom Zé: “A Brigitte Bardot está ficando velha, / envelheceu antes dos nossos sonhos. / Coitada da Brigitte Bardot,  / que era uma moça bonita, / mas ela mesma não podia ser um sonho / para nunca envelhecer”. E como conversávamos ontem: se não for para a edificação da família que estiver ordenada a faculdade sexual, a frustração é inevitável. E, para as mulheres, é ainda mais doloroso, porque a maternidade está profundamente inscrita em cada mulher. Isto significa que precisamos resgatar alguns valores perdidos; valores como castidade, pureza, virgindade. Valores como família, como filhos.

A Ditadura da Beleza joga as mulheres numa guerra sem vitória possível. Porque o tempo é destruidor certo de toda a beleza da juventude; e as novas gerações são concorrentes de peso, contra as quais as mulheres mais velhas têm pouca ou nenhuma chance. Não adianta buscar a beleza e os atrativos do corpo; importa buscar os filhos e a construção da família, única satisfação realmente duradoura. Dizia o meu amigo economista que a mãe dele estava com setenta e não sei quantos anos, e a cada ano que passava, mais bonita ela ficava para ele. Em compensação, as “velhas solteironas” que nunca quiseram formar uma família para aproveitar a sua “liberdade sexual”, muito antes do que gostariam viram a sua liberdade ser destruída por causa dos efeitos do tempo. E, quando se percebe isso, via de regra é tarde demais; famílias só se constroem na juventude.

Contra a Ditadura da Beleza ergue-se como defensor das mulheres o Cristianismo, e em particular o Matrimônio Indissolúvel. Sim, porque a mulher sabe não ter condições de competir com outras mulheres indefinidamente; a Doutrina Católica vai dizer, todavia, que o marido dela, não importa o que aconteça, não importa quantas “concorrentes” apareçam, tem obrigação de estar com ela até que a morte os separe. A indissolubilidade matrimonial vai dizer que o marido deve se importar com a sua mulher e não com nenhuma outra. O que mais uma mulher quer? Que segurança maior que essa a mulher poderia esperar? Porque – vale salientar – o divórcio é extremamente injusto para com as mulheres. Afinal, após vinte anos de casados, quem tem mais chance de conseguir “construir uma nova família” pós-divórcio, o homem ou a mulher perto da menopausa?

É sobre a família que tudo deve estar construído. E o vídeo acima mostra como os valores se foram perdendo com o passar do tempo – como a terra que cai pelo caminho conforme é passada de geração em geração -, e urge recuperá-los. Como a mulher que só quer “curtir” a sua juventude, de parceiro em parceiro, abortando quando necessário. Mas, de vez em quando, ela acorda chorando, porque percebe haver alguma coisa dentro dela a lhe dizer que esta vida não tem futuro. Esta mulher é bem representativa das mulheres que encontramos na nossa sociedade, hoje em dia. Estão enganadas, mas podem ser recuperadas. Porque, no fundo, no fundo, esta mulher do vídeo – como toda mulher! – sonha com uma mesa cheia de crianças.

p.s.: a virtual totalidade das idéias acima expostas são devidas a Valter Romeiro, o meu amigo economista citado, a quem não posso deixar de agradecer.

Comentário – Vaticano II

O sr. Sizenando postou um comentário na página sobre o Vaticano II. Como foi avisado, gostaria de pedir encarecidamente para que não postassem lá, porque isso vai dificultar o desenrolar da conversa entre o sr. Sandro e eu. Comentários lá serão apagados.

O comentário do sr. Sizenando – apagado por mim lá – foi o seguinte:

Caros amigos

desculpe a intrusão
Jorge exclua este comentário se quiser.

Há 43 anos que este tema está em debate
e jamais chegarão a um consenso.

Por exemplo esta pergunta de Sandro.

A Bíblia diz:

Que somos a Imagem e semelhança de Deus.

Deus é LIVRE ! O Homem não é ?

http://www.bibliacatolica.com.br/01/1/1.php
27.    Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher.

Gn. 2,17    mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente.”

Isto certamente era um limite de nossa liberdade !

Mas Deus apesar de ter aconselhado o homem a não comer desta arvore ele não impediu o homem de comer daquele fruto dito proíbido !
Porque ?
Não seria esta a vontade do Pai ?

http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/h%E1+liberdade
(II Coríntios 3,17)
Ora, o Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.

O Espírito do Senhor não habita em Teplos feitos por mãos humanas, mas sim em nossos corações.

http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/sois+o+templo
(I Coríntios 3,16)
Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?

Se quando fomos batizados recebemos o Espírito Santo, e se quando fomos crismados nos foi confirmado que este Espírito Santo habita em nossos corações, então em nós habita a liberdade doada gratuitamente por Deus.

Isto significa que:  Jesus morreu por amor de todos nós, mas somente aqueles que aceitarem este sacrifício e amá-lo de todo coração seguindo e praticando os seus mandamentos, serão salvos.   Pelo contrário aqueles que regeitarem a luz de Cristo já estão condenados.

http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/amaram+mais+as
(São João 3)
18.    Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus.
19. Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.

O Homem é livre, mesmo que seu caminho escolhido seja o do inferno, Jesus não o impedirá assim como não obrigou a Nicodemos e ao jovem rico de seguí-lo, deixou-os ir embora.

Isto não seria liberdade de escolha ?
Isto não seria livre arbítrio ?
Ou você pretende dizer que serei obrigado a entrar no céu contra a minha vontade, logo não preciso me santificar, porque o céu já está garantido ou não seria assim ?

Jesus também disse a seus discípulos:
Acaso vós também quereis ir embora ?
Pois, podem ir, eu não impedirei !

Ir embora para onde ?
Seria para outros Mestres ?
Seria para outros deuses ?
Seria para outras religiões ?
Seria para o Mal ?
Seria para o Mundo ?

Certamente ninguém será obrigado a seguir Jesus ou a doutrina da Santa Igreja Católica, mas certamente quem não seguir irá morrer eternamente, como aquele que comesse o fruto proíbido.

Por outro lado a Bíblia Diz que o anticristo, aquele que é o oposto de cristo irá obrigar a todos os homens a adorá-lo para humilhar o “Verdadeiro Criador”, e quem não adorá-lo será morto para servir de exemplo aos demais, e será um massacre dos verdadeiros filhos de Deus.

Isto sim é falta de liberdade, aliás isto já acontece com as pessoas dominadas pelo mal “Possuidos pelo mal”,

(São Mateus 8,32)
Ide, disse-lhes. Eles saíram e entraram nos porcos. Nesse instante toda a manada se precipitou pelo declive escarpado para o lago, e morreu nas águas.

Os demonios matam as pessoas assim como mataram estes porcos, porque as usam como corpos descartáveis apenas como recipientes ocos e vazios sem o menor valor.
O Maior desejo de um endemoniado é se matar, de preferência enforcado.

Nosso Deus é um Deus de Amor e quem ama não prende.
Não tira a liberdade, e Deus nos quer Livres e não escravos.

Se o homem escrever qualquer texto que contrarie esta verdade estará a serviço de seu mestre, aquele que só sabe escravizar e tirar a liberdade, substituíndo no máximo, como prémio o vício mórbido da dependência.

Dom Marcel Lefebvre fez uma escolha clássica, preferiu morrer excomungado garantindo o Futuro de sua filha a FSSPX do que pedir perdão ao Papa e retornar à casa do Pai.

Mesmo assim usou do seu mais precioso direito e Don de Deus  “A Liberdade”, que nem mesmo o Papa lhe privou dela, como no passado a “*(Santa)*” Inquisição costumava fazer com os desobedientes, acusá-los de heresia e queimá-los na fogueira da “Famosa Igreja pecadora do passado”, já que a Igreja não peca e é perfeita e o Papa é infalível e não erra, saberemos quem era o pecador desta história de trevas quando estivermos no grande julgamento universal e a luz divina iluminar todas as trevas.

Quanto a mim, jamais atirarei uma pedra sequer, seja na Igreja, no Papa, nos Lefevristas, nem mesmo na Cruz de Cristo.  Porque eu sou um pecador, e como pecador me coloco ao lado de Jesus na Cruz lhe pedindo pelo menos uma lembrança apenas.
Pelo que vejo os maiores defensores desta Igreja Santa, são os que mais pecam contra esta santidade, porque acusam o homem mais Santo do mundo de ser o maior Herege do mundo.

Pai perdoa.

Jesus autem dicebat Pater dimitte illis non enim sciunt quid faciunt dividentes vero vestimenta ejus miserunt sortes.

Só não vé esta verdade quem não quer, logo você pode ver que debater é inútil, principalmente se tratando de sedevacantismo.

Vaticano II apenas reafirmou o que Genesis já havia dito, poderia dizer mais, prefiro citar.

http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/3/liberdade
http://www.bibliacatolica.com.br/busca/01/1/livres

Fiquem com Deus.

Estimado sr. Sizenando, o senhor tem o nome do meu avô paterno, que eu não conheci. É-me uma honra conhecer alguém que tem o mesmo nome de um parente próximo. Agradeço a intervenção do senhor, bastante oportuna, na qual não obstante eu precisaria fazer alguns apontamentos, principalmente de cunho histórico. Talvez eu poste algo sobre a Santa Inquisição aqui, em breve. Por enquanto, basta dizer que o tom do comentário do senhor neste ponto é inadequado e injusto para com um acontecimento histórico importante como a Inquisição Romana.

Sobre a pergunta do sr. Sandro, ela é um pouco mais específica, porque se refere ao ensinamento da Igreja sobre temas filosóficos como “a liberdade” e a questão da supressão de alguns “direitos” quando um bem maior passa a ser ameaçado. Pretendo escrever a minha primeira resposta a ele no Domingo, no mais tardar segunda-feira, e então vou detalhar melhor isto que estou falando aqui.

Fique com Deus,
abraços, em Cristo,
Jorge Ferraz

Novas sobre o Summorum Pontificum

Perto de completar um ano de vigoramento, o Motu Proprio Summorum Pontificum vai ser objeto de um documento-instrução da Comissão Ecclesia Dei. A notícia publicada no Portal Petrus é animadora: fala de “muitos bispos e padres desobedientes” e de uma “nota esclarecedora sobre o motu proprio do Papa” que está sendo preparada.

Quem confirmou foi o Mons. Perl, secretário da citada Comissão Pontifícia:

E’ vero, stiamo redigendo un documento-istruzione sulla giusta interpretazione del Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’ che ha liberalizzato la Messa secondo i libri liturgici di San Pio V cosi’ come modificati dal Beato Giovanni XXIII.
[É verdade, estamos redigindo um documento-instrução sobre a justa interpretação do Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’, que liberou a Missa segundo os livros litúrgicos de São Pio V, tal como modificados pelo Beato João XXIII]

Sobre as causas do motu proprio ter sido mal recebido, afirma o secretário:

Oggi, in tutti i campi della società, si è perso il senso dell’obbedienza e del rispetto dell’autorità.
[Hoje, em todos os campos da sociedade, foi perdido o sentido de obediência e de respeito à autoridade]

Sobre o Missal Tridentino e o Vaticano II:

Assolutamente no, il Concilio Vaticano II non ha mai cancellato il messale anteriore. Ritengo che il Papa Benedetto XVI abbia fatto bene a liberalizzarlo, valorizzando così un patrimonio e un gioiello della Chiesa. Non voglio fare una comparazione tra la Messa di Papa Paolo VI e quella anteriore, non sarebbe giusto.
[Absolutamente não, o Concílio Vaticano II nunca cancelou o missal anterior. Acredito que o Papa Bento XVI fez bem em liberá-lo, valorizando assim um patrimônio e uma jóia da Igreja. Não quero fazer uma comparação entra a missa de Paulo VI e a anterior, não seria justo]

Sobre os abusos litúrgicos:

E nessuno riesce ad eliminarli, proprio perchè, come le ho detto, non esiste il senso del rispetto dell’autorità. (…) Si è pensato che il nuovo fosse migliore, che il nuovo sia sempre migliore. Succede così anche nella vita di tutti i giorni, le scarpe nuove vengono considerate meglio di quelle vecchie…
[E ninguém consegue eliminá-los [os abusos], exatamente porque, como eu disse, não existe o sentido de respeito à autoridade. (…) Pensou-se que o novo fosse melhor, que o novo é sempre melhor. Acontece assim também na vida diária, os sapatos novos são considerados melhores do que os velhos…]

E, por último, sobre a FSSPX:

Non sono assolutamente scomunicati coloro i quali assistano ad una Messa della fraternità di San Pio X. La liturgia è valida, anche se loro sono considerati scismatici. Del resto, è valida per i cattolici anche la liturgia degli ortodossi.
[Não estão excomungados, absolutamente, aqueles que assistem a uma Missa celebrada pela Fraternidade São Pio X. A Liturgia é válida, mesmo eles sendo considerados cismáticos. De resto, é válida para os católicos como a liturgia dos ortodoxos]

Todas as traduções são livres.

Quebrando o silêncio

[O] IBP foi criado para criticar o Concílio Vaticano II e celebrar exclusivamente a Missa de sempre.

Muitos de nós da Montfort apoiamos o IBP – e continuaremos a apoiá-lo – sempre que ele cumprir as suas finalidades: criticar o Concílio Vaticano II e defender a Missa de sempre com exclusividade e, portanto, recusando os erros da Nova Missa de Paulo VI.

Agora só nos resta rezar pelo IBP, para que seja fiel aos objetivos que lhe foram incumbidos pelo Vaticano: criticar o Concílio Vaticano II e rezar exclusivamente a Missa de sempre.

Todas as citações acima são do sr. Alberto Zucchi, e foram publicadas hoje no site da MONTFORT. Três vezes ele repetiu que os objetivos do IBP são (i) criticar o Vaticano II e (ii) recusar a “Missa Nova”. É passada, muito claramente, a idéia de que a razão de ser do IBP são estes dois objetivos, e que este é o “carisma” do instituto, é a nota essencial que faz com que ele seja o que é. Fica a impressão de que o IBP existe única e exclusivamente para criticar o Vaticano II e rejeitar a Missa Nova.

Pois bem; tal informação não existe no site do vaticano, não existe no Decreto de Ereção do IBP, não existe em lugar nenhum! Peço encarecidamente, a quem informar possa [óbvio, por meio de fontes oficiais] quanto segue, que se digne fazê-lo:

Primum: se o reconhecimento do rito próprio do IBP como sendo o Rito Romano em sua forma tradicional implica em um direito ou dever de se rejeitar por princípio o Novus Ordo Missae como herético, ilícito, inválido, mau em si, impiedoso, que contém erros, ou coisa parecida;

Secundum: se a tal “crítica construtiva ao Vaticano II” inclui o direito ou dever de afirmar que há heresias nos documentos conciliares tal e qual foram aprovados;

Tertium: se estas são as únicas coisas para as quais foi erigido o IBP.

Já basta de tanta confusão.

A propósito, se alguém tiver acesso aos Estatutos do IBP (em qualquer idioma – a gente dá um jeito de traduzir), seria excelente e encerraria de vez esta confusão toda.

Por que o Papa defende a Tradição?

Artigo publicado na FOLHA (aqui para assinantes e aqui de segunda mão): “Bento XVI resgata tradicionalismo”. A reportagem contém boas informações, mas também algumas besteiras que ameaçam confundir os fiéis quanto à situação atual que atravessa a Igreja. Passo a fazer alguns ligeiros comentários.

[E]m 30 de junho de 1988, o bispo francês Marcel Lefebvre (…) consagrou quatro bispos (…). Ao mesmo tempo, um decreto fulminante de Roma excomungava Lefebvre (morto em 1991) e aqueles novos bispos.

Está errado. Primeiro, porque a Ecclesia Dei não é um “decreto”, e sim um “motu proprio”. Segundo, porque o motu proprio não excomunga Lefebvre (a excomunhão é latae sententiae, segundo o Direito Canônico); apenas declara que ele incorreu em excomunhão automática quando sagrou os bispos sem mandato apostólico.

Seminários da Fraternidade Santa Pio 10 (…)

Mon Dieu! Ninguém revisa as traduções da Folha? O nome da Fraternidade é São Pio X!

Tipicamente europeu, esse modelo de igreja autoritária, antiecumênica e antimoderna, dominada pela figura do santo padre encarregado do sagrado, foi exportado.

O que a reportagem chama de “autoritária” é a Igreja onde o Papa detém a Suprema Autoridade de Governo e de Ensino; “antiecumênica”, é a Igreja que afirma não haver salvação fora d’Ela; “antimoderna”, é a Igreja que se recusa a ser antropocêntrica e permanece teocêntrica. Em suma: é a Igreja Católica de sempre.

Vítima de um jogo interminável de disputas, Bento se viu pressionado a anular as excomunhões de junho de 1988.

Do jeito que o negócio está escrito, dá a entender que o Papa já levantou a excomunhão de Lefebvre! E isso  – a menos que o repórter saiba o que o Papa fez antes que o Vaticano divulgue – não aconteceu.

Em todas as religiões, a liturgia é a expressão de uma fé. Ela não pode ser dissociada da doutrina. Acontece que a direção foi determinada há mais de 40 anos, no concílio Vaticano 2º, mantido por Paulo 6º e João Paulo 2º.

Este é o ponto mais interessante da história toda. É verdade que a Liturgia expressa a Fé e que, portanto, segundo o velho adágio católico, lex orandi, lex credendi: a norma da oração é a norma da Fé. Mas acontece que a Fé da Igreja é, por definição, imutável; de modo que a Liturgia – na essência – também o é. Assim sendo, a Reforma Litúrgica do século XX, não obstante as opiniões de rad-trads e de modernistas, não modificou a Fé da Igreja.

A reportagem, todavia, diz o contrário. Diz que o Vaticano II determinou uma direção para a Igreja, e esta direção – dá a entender o texto – é oposta àquilo que a Igreja sempre ensinou. O texto é adepto da tese segundo a qual o Vaticano II criou uma nova igreja; tese já incontáveis vezes repudiada por Roma.

Hoje, reina em Roma um neoconservadorismo incentivado não tanto pelo papa quanto por grupos que nunca renunciaram à igreja autoritária do passado. A reintegração dos cismáticos corre o risco de ser efetuada ao preço de uma erosão das conquistas dos últimos 40 anos. Seria o triunfo póstumo de Lefebvre.

Vejam a acusação insidiosa: o Papa defende a Tradição não porque ele é o Papa e tem como dever guardar a Tradição, mas… por estar sendo “incentivado” pelos cismáticos da FSSPX! Bento XVI seria um “traidor” da Igreja, mancomunado com cismáticos! A idéia é completamente esdrúxula, mas ameaça encontrar quem a ouça – afinal, hoje em dia, tem tanta gente que engole cada besteira…

A Reforma Litúrgica não modificou a Fé da Igreja – é uma impossibilidade teológica. “Retornar à Igreja pré-conciliar” é uma expressão destituída de significado, pois não se pode retornar a uma coisa que não foi nunca abandonada. A Igreja é a Igreja; pode-se retornar ao latim, pode-se retornar ao báculo com cruz grega, pode-se retornar aos genuflexórios na hora da comunhão, pode-se retornar às vestes papais; mas nem vestes papais, nem genuflexório, nem báculo com cruz grega, nem latim são a Igreja! Se estas coisas ajudam a fazer a Fé da Igreja – a Fé imutável – mais conhecida neste mundo, então que sejam largamente utilizadas! É isto que o Papa está fazendo. O que não podemos é permitir que os cismáticos, só por conservarem algumas coisas da Igreja que abandonaram, “levem os louros” e “assumam a responsabilidade” por estas coisas das quais a Igreja sempre pôde dispôr da maneira que Lhe aprouvesse, posto que, por direito, a Ela – e somente a Ela – pertencem.

“A fogueira tá queimando em homenagem a São João”…

São João dormiu,
São Pedro acordou;
Vamos ser compadres,
Que São João mandou.

Passei o feriado de São João parte em Caruaru, parte em Campina Grande. Nesta última cidade – interior da Paraíba -, fiquei sabendo que, este ano, o Ministério Público proibiu que fogueiras fossem acesas e determinou o pagamento de uma multa para quem as acendesse. Após uma enorme confusão, esclareceu-se que a tradição junina não estava proibida; o problema eram os comerciantes que vendessem “madeira extraída de árvores nativas e que não tivessem a permissão da legislação ambiental para ser comercializada”.

Muitas pessoas, hoje em dia, não sabem o que é tradição. O povo de Campina Grande, sabe. Conversei com algumas pessoas – lá nascidas e lá criadas – e elas me disseram de uma maneira muito simples: “nossos avós faziam assim”. E algumas dessas pessoas já eram avós…

Sinceramente, eu não morro de amores por fogueiras. A fumaça irrita meus olhos, o calor me incomoda um pouco, não consigo ficar muito tempo perto delas. Mas eu já fui criança, e lembro-me de que minha avó fazia fogueiras todos os anos, e que eu adorava montar a fogueira durante o dia, lutar para acendê-la de noite (às vezes chovia e a madeira molhava) e assar milho depois que o fogo baixasse e sobrassem apenas as brasas. Lembro-me de que a simples idéia de não acender a fogueira na véspera de São João seria capaz de fazer a minha avó ter um infarto – segundo ela, se não tivesse fogueira “dava [mau] agouro”. Lembro-me de ter escutado que se acendiam fogueiras porque Santa Isabel, quando São João nasceu, acendeu uma fogueira para avisar à Virgem Maria – Ela morava distante – que o menino havia nascido.

É claro que é superstição associar a existência ou não das fogueiras à sorte ou ao azar, e eu nunca vi em lugar nenhum que Santa Isabel tivesse avisado à Virgem Maria do nascimento de São João por meio de uma fogueira (o relato bíblico, aliás, deixa entrever que a Virgem estava na casa de Zacarias quando João Batista nasceu). Mas isso é o de menos: o importante é que nossos avós faziam assim! Salvo engano, é de Isaac Newton a célebre frase “standing on the shoulder of giants” – algo como “[enxerguei mais longe] estando (i.e., “porque estava”) sobre os ombros de gigantes”. Os “gigantes” foram os que o precederam. Os nossos avós podem até não ser gigantes e, provavelmente, não o são mesmo; mas, se desprezarmos os seus ombros, ser-nos-á possível escalar outros maiores?

Enxerga-se mais longe quando se respeita o que deixaram os antigos; e aprende-se a respeitar o legado dos antigos desde pequeno. Aprendendo a fazer fogueiras com os nossos avós. Há uma sábia pedagogia nestas tradições populares: ainda que fazer fogueiras seja, em si, uma coisa de pouca ou nenhuma importância, o ensinamento que se esconde por trás disso é precioso: guarde aquilo que lhe foi transmitido pelos seus antepassados. E, quem não aprende a guardar as coisas pequenas e irrelevantes, como será capaz de guardar as coisas grandes e importantes? As fogueiras não são importantes! O que é importante é aprender a respeitar os costumes dos antigos – e, isso, as fogueiras de São João ensinam.

E há ainda os compadres de fogueira! Isso não é da minha época e eu só aprendi em Campina Grande, nestes últimos dias. Compadres são uma espécie de familiares, unidos por laços não de sangue, mas de amizade. O padrinho do seu filho é o seu compadre – e, etimologicamente, um “compadre” é um “co-padre”, ou seja, alguém que é uma espécie de pai (padre) junto com (co) outra pessoa. Estes compadres eu já conhecia. Ser compadre é, de certo modo, fazer parte da família. Um dia, creio, duas pessoas quiseram ser compadres e nenhuma das duas tinha filhos para que um pudesse ser o padrinho do filho do outro. Os compadres de fogueira devem ter surgido assim.

Na noite de São João, dois [ou mais] amigos que querem ser compadres “selam” este compromisso repetindo os versinhos em epígrafe enquanto pulam juntos a fogueira de São João. A partir daí, são compadres para sempre, passam a “fazer parte da família”, manifestam publicamente e assumem um “compromisso de amizade” que perdura a vida inteira. “É mais fácil acabar um compadre de batismo” – dizia o paraibano que me explicava essas coisas, na noite de São João – “do que acabar um compadre de fogueira”. E, se não for mais permitido acender fogueiras de São João… como é que as pessoas vão virar compadres? “Quando ele [o sujeito responsável pela proibição das fogueiras] chegar no céu” – continuava o mesmo paraibano – “São João vai dizer: aqui não entra não. Quem mandou acabar com os meus compadres?”. E ria.

Vão dizer que isso é besteira, e que ninguém precisa “pular fogueira” para ser amigo, e que não há nenhum “poder mágico” em versinhos que produza ex opere operato laços de amizades, e tantas coisas mais. É verdade. Mas o poder não está no “ritual”, e sim no respeito à “instituição” do compadrio – e isso também se aprende com os avós. Sempre é possível fazer estudos sociológicos e antropológicos profundos para explicar os laços que unem os compadres… mas, para estudá-los in loco, é mais fácil procurá-los nos amigos pulando juntos as fogueiras juninas. Amizade é outra coisa que se aprende por tradição. E temo que não sejam capazes de aprender isto os que não aprendem, com os avós, a montar fogueiras…

Sancte Ioannes Baptista,
ora pro nobis.