Mais Igreja, mais Nazismo

Às vezes, eu fico pensando se vale a pena continuar insistindo contra uma evidente incapacidade ou má-fé intelectual. Refiro-me à tréplica da UNA sobre a Igreja e o Nazismo, em resposta a um post aqui publicado na semana passada. Alegra-me muito ver o Deus lo Vult! ser chamado de “blog ultracatólico”, honra que não mereço – mesmo o pessoal da UNA usando a expressão em sentido pejorativo.

Alegrias à parte, no entanto, vamos nos deter sobre os “argumentos” utilizados pelos unidos ateus brasileiros. Basta dizer que eles parecem não saber o que é uma petição de princípio, por mais elementar que seja a maneira como ela se apresente. Por exemplo: eu afirmei “que a presença do Papa junto a autoridades políticas quaisquer não significa, sob ótica nenhuma, um apoio irrestrito a estas autoridades”. Dei um exemplo de João Paulo II junto a Fidel Castro. Os ateus – pasmem! – responderam que “a igreja nunca foi pilar da revolução cubana”.

Oras, e por acaso a Igreja foi pilar do regime nazista? Esta é precisamente a tese dos ateus. No entanto, eles não parecem dispostos a prová-la; assumem-na como um a priori indiscutível e argumentam para demonstrá-la como se já estivesse demonstrada, num claro raciocínio circular da pior qualidade possível. Dá para continuar debatendo com gente assim?

O resto do blá-blá-blá (que o Papa visitou a Nicarágua, o Chile, etc) é somente blá-blá-blá que nem tem nada a ver com o assunto ora em discussão (Igreja e Nazismo), nem modifica um milímetro o argumento apresentado, contra o qual os ateus somente conseguiram levantar uma Petitio Principii grosseira.

Foi dito, também, que o homem que aparece com Hitler na foto não é o então cardeal Pacelli, mas sim o núncio Cesare Orsenigo. Quem identifica o homem da foto com o cardeal Pacelli são, entre outros, os sites Segunda Guerra.org e Enciclopedia.pt. Se esta foto não é do cardeal Pacelli ou se não existe nenhuma foto do cardeal Pacelli com Hitler, não faz diferença para o argumento (aliás, o negócio fica ainda mais feio para os detratores da Igreja…); o meu ponto é que é perfeitamente possível que haja tal foto (como há uma foto de João Paulo II com Fidel Castro) sem que isto implique em nenhum apoio da Igreja ao regime nazista. Um encontro do núncio apostólico com o ditador nazista não significa que a Igreja apóie o nazismo.

Sobre a “saudação socialista” eu nem vou comentar, porque o pressuposto aqui – de que seja necessário fazer “saudação” nazista ou socialista ou anarquista ou que seja, para que o fulano seja de fato nazista, ou socialista, ou anarquista ou o escambau – é simplesmente sem nenhum sentido. Do fato dos ateus unidos do Brasil não terem vistos padres fazerem uma desconhecida saudação socialista, não segue que tais padres não sejam socialistas.

E, considerando que haja padres socialistas, não segue que a Igreja apóie o socialismo. Querer postular a inexistência de padres socialistas (como faz a UNA) simplesmente porque não há padres fazendo o gesto com a mão fechada que eles desenterraram é simplesmente falso, contrário às evidências, inconcebível para qualquer pessoa que mantenha um mínimo de senso de realidade. Sim, há padres socialistas, sim, houve padres nazistas, não, a Igreja não apóia o socialismo e não, a Igreja não apoiou o Nazismo.

Queixa-se ainda a UNA da ausência de punição aos nazistas. E, para completar a piada: “ao contrário dos padres ‘moderninhos'”. Gostaria muitíssimo que a UNA elencasse os padres “moderninhos” que foram excomungados pelo Vaticano. O fato é que entre “ausência de punição” e “apoio irrestrito” vai uma distância enorme, à qual os ateus fazem vista grossa para poderem atacar a Igreja. De novo uma petição de princípio, porque o argumento subjacente a esta elucubração é: “a Igreja não puniu os padres nazistas porque apoiava o nazismo”. De novo: que a Igreja apoiasse o nazismo é exatamente a tese dos ateus, que precisa ser provada, e não utilizada como premissa para se provar a si mesma.

E vejam como é engraçada a “história enviesada” que os ateus contam: falam do cardeal de Viena, Theodore Innitzer, que saudou o Anschluss e pronunciou um sonoro Heil Hitler. No entanto, não contam o resto da história: que o cardeal Pacelli obrigou o cardeal Innitzer a voltar a Roma para prestar contas de sua declaração, que ele foi obrigado a assinar uma retratação (publicada em L’Osservatore Romano), e que a casa do cardeal foi invadida pelos nazistas após isso. Acaso pode-se dizer, em sinceridade de consciência, que uma atitude destas é exemplo de apoio da Igreja ao Nazismo? Ou os ateus só “pescam” da história aquilo que lhes convém, varrendo para debaixo do tapete todo o resto?

Outro exemplo: reclamaram os ateus que 1930 (ano em que uma diocese alemã condenou formalmente o nazismo) era “muito cedo”. A Mit Brennender Sörge é de 1937, e já apareceu ateu aqui para dizer que era “muito tarde”, pois nessa época a Alemanha já havia perdido a Segunda Guerra (!). E o apoio da Igreja ao nazismo nos entreatos, onde é que está? Está somente nas premissas dos ateus. Só nas grosseiras petições de princípio. Quando são pedidos para apresentarem provas de que a Igreja apoiou o nazismo, eles simplesmente não as apresentam: ficam só nos padres que fizeram Heil Hitler, na (suposta) ausência de condenações, nas fotos de autoridades eclesiásticas com Hitler e ministros do Reich, etc., etc. O resto, eles simplesmente ignoram. Pode ser levado a sério este jeito incrível de se fazer história?

Sobre o Zentrum, o negócio fica ainda pior. Em primeiro lugar, em 1933 (ano da assinatura da Concordata) não havia “regime nazi” nos moldes de uma ditadura, como o Nazismo é conhecido hoje. Não havendo ditadura, portanto, não há também “o reconhecimento diplomático do regime nazi pelo Vaticano”. E, por fim, é simplesmente falso que, com a Concordata, a “Igreja aceitou cooperar com Hitler e fechar os olhos para os abusos cometidos por ele” – isto não se encontra no texto da concordata e nem em lugar nenhum. É somente mais uma petição de princípio.

E ainda mais uma: dizem os ateus que “[o] livro de Cornwell [o Papa de Hitler] é ambíguo, coloca a igreja como vilã e coitada em certos momento”. Oras, então o livro dá margem para dizer que Pio XII foi o Papa de Hitler e também que ele foi o Papa Anti-Hitler. No entanto, na lógica dos ateus, já que a Igreja apoiou o Nazismo, são somente as partes nas quais a Igreja é apresentada “como vilã” que são fidedignas no relato do Cornwell. Não é assim que se faz história, afinal de contas?

Após os intermináveis raciocínios circulares e histórias contadas pela metade da União Nacional dos Ateus, resta somente uma curiosidade que eu sempre tive: onde estavam os ateus durante o regime nazista e a Segunda Guerra Mundial? Já que perguntar não ofende, quais foram as ações que eles, em grupo ou individualmente, tomaram durante o III Reich?

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

11 comentários em “Mais Igreja, mais Nazismo”

  1. Jorge, não seja injusto com os ateus afirmando que nenhum deles combateu o nazismo, afinal o “bonzinho” Stalin, ateu e lider de um país confessionalmente ateu, lutou contra Hitler :)

  2. Lampedusa,

    Bem lembrado! De fato, registre-se que houve hostilidade aberta dos ateus aos nazistas durante a Segunda Guerra… :)

    Abraços,
    Jorge

  3. Jorge, vou responder à sua pergunta sobre “onde estavam os ateus durante o regime nazista e a II Guerra Mundial”:

    Os ateus estavam COM os nazistas, porque eles eram invariavelmente nazistas e apoiavam o regime sem restrições.

    Que tal o exemplo de Alfred Rosemberg, ATEU NAZISTA, que odiava as religiões e destas, mui particularmente, o Cristianismo? Rosemberg, o “filósofo do nazismo”, ateu anti-religioso bem nos moldes dos atuais ateus imbecis, não ficou indiferente ao “problema” da religião no III Reich, mas sedimentou as bases da antagonização do regime com as Igrejas Cristãs, Católica, principalmente.

    Para o ATEU NAZISTA Rosemberg, o Cristianismo, juntamente com o comunismo bolchevique, era um subproduto desprezível dos judeus e, portanto, deveria, nem segundo ou terceiro momento ser extirpado da sociedade. Esta foi a idéia central abrigada por Hitler, Goering, Himmler, Goebells, Hess e outros anti-religiosos do regime. Para eles e os nazistas de modo em geral, o Cristianismo era algo a ser eliminado no futuro, pois não se compatibilizava com a idealização de raça ariana, calcada esta nos moldes do super-homem nietzschiniano. Hitler chegou a receber de presente a bengala que pertencera a Nietzsche, num simbolismo que o mostrava ser o primeiro representante da nova raça preconizada pelo filósofo.

    Não é á toa, pois, que os nazistas odiavam o Cristianismo, enxergando na religião uma franca ameaça á construção do homem “superior” do III Reich. Não seria possível, segundo sua ótica, ser ariano e cristão.

    Ainda em relação á Igreja Católica, o antagonismo começou desde cedo. Logo após a Concordata, a Igreja atacou firmemente o regime, motivada, de início, pelo programa de controle populacional eugenista, primeiro com as eutanásias, depois com as esterilizações compulsórias e finalmente com os abortos (contando, o regime, com generosas contribuições financeiras da Fundação Rockefeller, uma das que ainda hoje se empenham em financiar o abortismo no mundo. Coincidência, não?).

    As represálias do regime foram duras e vieram sem demora: proibiu-se toda e qualquer manifestação pública da Igreja (alguma semelhança com os ateus laicistas imbecis de hoje?), chegando-se a ordenar a destruição de todas as prensas católicas; criou-se uma campanha de difamação que apresentava a Igreja Católica, a Luterana e todas as demais como “obscurantista”, “inimiga da razão” (alguma semalhança com os ateus cientificistas imbecis de hoje?); perseguiu-se clérigos que não mostravam indícios de apoio ao regime, por mínimo que fosse tal apoio, chegando a Hitlerjugend ter por “missão” atirar pedras em igrejas e fazer achincalhe público de fiéis.

    Em 1937, o Papa Pio XI, contando com a redação do então Cardeal Pacelli, editou a mencionada Encíclica Mit Brennender Sorge, em alemão, atacando frontalmente o regime dos ateus anti-religiosos. Pio XI era, para os nazistas, o “rabino de saia”, epíteto que revela bem o ódio deles pela oposição da Igreja aos seus progamas de “purificação racial”. Pode imaginar cenário mais implausível para a alegada colaboração da Igreja com o nazismo, feita por ateus imbecis, talvez acreditando com isso inverter a verdade contextual que muito se assemelhava ao ateísmo vociferante e estúpido dos dias atuais, como também a coisinhas singelas como o abortismo ostensivo, o cientificismo, a baboseira laicista … Pois é, os nazistas gostavam bastante dessas coisas …

  4. “Os ateus estavam COM os nazistas, porque eles eram invariavelmente nazistas e apoiavam o regime sem restrições”.

    E agora, José?

  5. Que grande alegria de ver o Jorge dando a tréplica a estes ateus, já estava irritado com o Jorge pela demora a respostas pela última objeção vindas daquela gente, mas agora estou mais calmo e feliz, valeu Jorge e não deixe a peteca cair, se não posso te ajudar como convém dando respostas como essas continuarei ajudando com minhas orações e que Maria interceda sempre por você para que as luzes do ESPÍRITO SANTO sempre e cada vez mais te ilumine para defender a Santa Igreja de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

  6. Todo ateu é estulto, mas nem todo estulto é ateu!!

    Em Jesus e Maria!

    Vadlir A. C.

  7. Estes ateus usam da mesma técnica desonesta dos protestantes para difamar a Igreja: Corte & Costura!

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