A cada vinte casais, o Brasil perde um casal

A notícia é do mês passado, mas alterações significativas nestas coisas demoram muito para acontecer e, portanto, ela ainda é sem dúvidas muito atual: taxa de fecundidade no Brasil cai [de novo!] e é menor entre mais jovens e instruídas, segundo notícia de G1. O gráfico apresentado na matéria é assustador:

Como a gente sabe, a taxa de reposição da população é de 2,1 filhos por mulher, e é muito fácil entender o porquê disso: no mundo matematicamente perfeito esta taxa seria de 2 (i.e., estar-se-ia substituindo dois pais por dois filhos, ou seja, mantendo o número total de habitantes intacto), e este 0,1 é necessário para contemplar as exceções (sei lá, pessoas que morrem antes de chegar à idade adulta, talvez). Mas o fato matematicamente incontestável é que 1,9 filhos por mulher não consegue manter nenhuma população. A esta taxa, cada vinte pessoas (= dez casais) só estão deixando dezenove para o futuro; a cada vinte casais, o Brasil perde um casal, o que representa uma perda de no mínimo 5% a cada geração. E ninguém precisa ser gênio para entender que, trocando 100 por 95 ao longo dos anos, um dia a casa quebra.

O gráfico mostra a involução da taxa de fecundidade brasileiro num intervalo de 70 anos, de 1940 até 2010. A queda é vertiginosa e, no Brasil atual, somente a Região Norte mantém uma taxa de fecundidade acima da de reposição. Mas o pior talvez esteja justamente no fato que G1 apresenta logo na manchete: esta taxa de fecundidade é menor entre as mais jovens e mais instruídas.

As mais jovens e as mais instruídas, ou seja, exatamente aquelas que tinham maior obrigação (porque têm maiores possibilidades) de deixar uma contribuição humana mais generosa ao planeta! No entanto, são exatamente estas as que estão na vanguarda da mentalidade anti-natalícia irresponsável. Sempre que eu leio uma notícia assim, não consigo deixar de lembrar do Idiocracy – e de como os nossos maus costumes persistem estupidamente apesar do ridendo castigat mores generalizado a ponto de chegar aos besteiróis americanos.

E a situação é tanto mais angustiante quanto menos se vislumbra, no horizonte, uma possibilidade de reverter este quadro macabro. Taxas de natalidade não são números em máquinas cuja produção pode ser aumentada ou diminuída apertando-se dois botões. No fundo, o anti-natural controle de natalidade exige o cultivo de uma mentalidade egoísta e hedonista que, uma vez enraizada numa sociedade, é muito difícil de ser arrancada. E este já é o mundo em que vivemos: um mundo onde os outros não são bem-vindos porque já nos consideramos auto-suficientes demais. Um mundo onde a nossa adolescência mimada e mesquinha perdura por muitos e muitos anos depois de já termos entrado na vida adulta. Um mundo onde sacrificar um pouco de si em prol do futuro da humanidade simplesmente não faz mais sentido para muita gente. Um mundo que agoniza, porque parece não ter mais em si nem sequer vontade de sobreviver.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

5 comentários em “A cada vinte casais, o Brasil perde um casal”

  1. As vezes acho que a humanidade merece perecer mesmo… os animais ditos “irracionais” são, no fundo, “pessoas melhores” que a raça humana…

  2. O lado bom nisso é que o preços dos alimentos vão diminuir e o risco de uma população maior que a produção de alimentos também. Poderemos receber imigrantes dos países com alta taxa de natalidade e assim não seremos extintos.

  3. A de se levar em conta o seguinte para “entender” o pensamento moderno: as mais jovens e bem instruídas mulheres na maioria das x também possuem condições financeiras melhores do que as menos instruídas. Elas tem um padrão de qualidade de vida mais elevado, algumas estudaram em escolas particulares excelentes e tem acesso à recursos que uma boa parte da população não tem…essas mulheres não querem dar um padrão de qualidade de vida inferior a esse para os seus filhos. Talvez seja daí que venha o “receio” ou “egoísmo” de se abrir para mais filhos. Uma escola particular diferenciada é muito cara em São Paulo, por ex. material escolar, roupas e brinquedos, manter o filho no mesmo nível social dos coleguinhas é extremamente caro…o que por vezes impossibilita a vinda de mais filhos, caso se deseje manter o mesmo “padrão social”. Os pais por muitas x também não desejam trabalhar a vida inteira para sustentar a sua prole, visto que, ter menos filhos (ou não ter nenhum) é extremamente mais benéfico do ponto de vista financeiro. É possível se aposentar mais cedo, viajar mais e ter uma “liberdade” de ir e vir muito mais prazerosa (fora a responsabilidade que também é infinitamente menor).
    Todos os argumentos acima são válidos e irrefutáveis do ponto de vista financeiro e racional se não fosse por um porém: a vontade de Deus. Seguir os mandamentos e a vontade de Deus dá trabalho. Mais até do que cuidar dos filhos. Exige dedicação, esforço, sacrifício, comprometimento e AMOR. Não se segue à Deus honestamente apenas pelo MEDO (atrição) mas sim pelo AMOR. O que falta na sociedade hoje para mudar esse quadro é a amizade com Deus pelo AMOR e a tentativa reta e consciente de fazer o melhor por Deus e para o próximo.Configurar-se com Cristo é necessário. Sem isso, nossas palavras são vazias e viveremos sempre pensando numa utopia de um mundo melhor e mais piedoso.
    É traço marcante da sociedade atual o secularismo desenfreado, o humanismo no lugar do teísmo, a busca por prazer e dinheiro ao invés da busca da santidade. É preciso voltar ao antigo modo de se viver, mas não me parece isso ser possível. O mundo já está tão secularizado, que a cada dia que passa, caminhamos a passos largos para o abismo. As notícias veiculadas pela mídia, os passos claros e concretos do governo (não só no Brasil, mas no mundo) para implantar um sistema ditatorial “comunista” é alarmante. A sociedade tende a negar cada x mais a importância da religião e levá-la a sério. Na minha opinião não há esperança de reversão de quadro -> é daqui pra pior até o Apocalipse… por isso devemos nos conscientizar desses “sinais dos tempos” e nos converter o quanto antes, pescando o máximo número de almas para a fé católica.

  4. Ter uma população estabilizada não é um mal em si mesmo.
    O Brasil ainda não está perdendo casais como o Sr afirma pois embora a taxa de natalidade esteja baixando muito ao mesmo tempo está aumentando a expectativa de vida.
    Mesmo o estado do RS que tem a menor taxa de natalidade do país só começará a ter declinío no total da população por volta do ano 2030 pois até lá o aumento da longevidade vai compensar esse declínio de natalidade.
    Sua preocupação procede em parte pois a tendência de declínio no total da população no Brasil como um todo começará pela da metade desse século.
    Mesmo na Europa onde o indice de natalidade por mulher em alguns países está abaixo de graças ao fluxo migratório a população como um todo está se mantendo estável ma maior parte dos paises.
    A baixa natalidade se registra mesmo entre pessoas provenientes de famílias com muitos filhos e com formação catequética.
    Normalmente estas pessoas estão marcadas por muitas dificuldades que seus pais tiveram para dar condições dignas de vida para seus filhos e se dão conta que em parte as dificuldades pelas quais seus pais passaram se deviam ao grande número de filhos.
    Aponto apenas uma possível causa para esta redução de natalidade pois certamente existem muitas outras.

  5. Não nos esqueçamos da vacinação contra rubéola em 2008. Muitos casais querem filhos e não conseguem. Uma boa porcentagem de casos de abortos espontaneos a medicina ainda não consegue explicar a causa. Penso que muitos deles e também supostas esterilidades são causados por anti-betahcg (ou coisa parecida) decorrentes de vacinações. (Quem não entendeu nada procure os artigos sobre a rubéola neste mesmo blog escritos em 2008).

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