De feminista radical a donzela apaixonada

À primeira vista eu não acreditei! Mas algumas pesquisas na internet me convenceram de que era de fato verdade. O vídeo abaixo me foi enviado por um amigo. Senhoras e senhores, ouçam o discurso de Sara Winter, a ex-representante do Femen Brazil:

Sim, é ela, o seu perfil oficial do Facebook não deixa dúvidas. Toda a revolta de alguns poucos meses atrás se desvaneceu. No fundo, no fundo, a garota só precisava de alguém – um recifense cabra da peste, meu patriotismo não permite omitir – que a tratasse como mulher.

Diante de atitudes como essa, certas pessoas às vezes torcem o nariz, referindo-se de maneira pejorativa a uma certa síndrome de «Madalena arrependida». Só digo uma coisa: há mais mérito em rever as próprias concepções equivocadas do que em se aferrar obstinadamente a posições que não levam a lugar algum. A coerência é uma virtude, sem dúvidas, mas a sua primeira exigência é para com a verdade. Insistir no erro não é “coerência”, é burrice. À srta. Winter os meus cumprimentos pela coragem, e meus votos de verdadeira felicidade na sua vida amorosa recém-inaugurada.

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Os antigos estavam certos. Amor omnia vincit. E isso nunca deixa de nos surpreender.

«Quero Viver! Você me ajuda?»

Avisos ligeiros, mas importantes: ocorre neste momento a 6ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida em Brasília. Ainda não tenho fotos. Quem as encontrar, por gentileza disponibilize aqui. A Marcha reuniu-se na Torre e, de lá, caminha em direção ao Congresso Nacional. O tema deste ano é «Quero Viver! Você me ajuda?», e sobre esta importante mobilização a Dra. Lenise Garcia deu recentemente uma entrevista a Zenit.

Ainda: está confirmada para amanhã (05 de junho) a votação do Estatuto do Nascituro na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. As informações do Brasil Sem Aborto são as seguintes:

Está confirmada para o dia 05/06 a votação na Comissão de Finanças e Tributação do PL 478/07, mais conhecido como Estatuto do Nascituro, como se pode ver pela pauta.

[…]

Pedimos também a sua assinatura para a aprovação do Estatuto do Nascituro.

Se puder, compareça ao Congresso Nacional, para acompanhar a votação. Se não puder ir pessoalmente, acompanhe pelo Twitter do Brasil sem Aborto.

Os dados para entrar em contato com os deputados são os mesmos que já foram publicados aqui. Acompanhemos mobilizados, principalmente em oração, estas importantes batalhas travadas em defesa da vida humana inocente!

50 anos sem João XXIII

Ontem, dia 03 de junho, foi o aniversário de 50 anos da morte do Papa João XXIII. Embora tenha havido uma celebração no Vaticano onde o Papa Francisco homenageou o seu predecessor, encontrei a notícia primeiro em outro lugar: inesperadamente, topei com um post do Rorate Caeli sobre o assunto. O título: «o “Bondoso Papa João” também foi o “Tradicional Papa João”». A foto abaixo também veio de lá, e mostra o Papa celebrando Missa. «A verdadeira Missa do Concílio», provoca o Rorate Caeli.

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O curto post louva a piedade de João XXIII e remete a uma coletânea de meditações sobre o Santíssimo Rosário compostas pelo Bem-Aventurado. Está em inglês, naturalmente, e no site do Vaticano o melhor que consegui foi esta versão em espanhol, que espero seja de proveito para os leitores do blog. Nestes dias tão turbulentos, rezemos com fervor e confiança o saltério da Virgem Mãe de Deus! Rezemos devotamente o Santo Rosário que, como nos ensina il Papa Buono, foi «elevado à condição de grande oração pública e universal em face das necessidades ordinárias e extraordinárias da Igreja santa, das nações e do mundo inteiro» (Il Religioso Convegno, 13).

Cristo, «o Salvador de todos, sobretudo dos fiéis»

Com relação à polêmica – no meu entender desnecessária, como expliquei – envolvendo a recente declaração do Papa Francisco de que Cristo morreu na Cruz do Calvário por todas as pessoas, incluindo os ateus, gostaria de indicar dois textos que o prof. Angueth colocou em seu blog desde a última vez que o mencionei aqui.

O primeiro é uma resposta ao meu texto anterior. Aqui há pouco a se discordar. Vale uma leitura, quando menos pela formulação elegante que o professor fez da tensão entre vontade salvífica de Deus e capacidade humana de rejeitá-Lo, que diz tudo o que eu gostaria de ter dito de um modo muito mais claro e conciso: «Evangelizar é acreditar no “pro omnibus”, mas apenas no sentido de aumentar o número dos “pro multis”». Lapidar.

Sobre o modo como o professor interpreta a referida homilia papal, alegando que ela causa confusão, sou partidário da idéia de que esta confusão é toda ou quase toda causada não pela homilia em si, mas pela repercussão que se faz dela e (principalmente) pela forma como se lhe repercute. Penso que é injusto exigir do Papa (ou mesmo de qualquer pessoa na face da terra!) que se expresse sempre de modo a não permitir aos seus inimigos a manipulação ideológica de suas palavras. E, portanto, penso que a causa católica mais precisa de quem desfaça as confusões do que de quem lhes engrosse o coro dos alardeadores.

O segundo texto é da autoria do pe. Anderson Alves, que os leitores do Deus lo Vult! certamente já conhecem. Traz excertos interessantes do Denzinger sobre o assunto que merecem ser conhecidos, dos quais traduzo só o primeiro:

(Concílio de Arles, 475. Denzinger 160b): «Confieso también que Cristo Dios y Salvador, por lo que toca a las riquezas de su bondad, ofreció por todos el precio de su muerte y no quiere que nadie se pierda, El, que es salvador de todos, sobre todo de los fieles, rico para con todos los que le invocan [Rom. 10, 12]…»

[(Concílio de Arles, 475. Denzinger 160b): «E confesso também que Cristo, Deus e Salvador, em razão das riquezas de Sua bondade, ofereceu por todos o preço de Sua morte e não quer que ninguém se perca. Ele, que é o Salvador de todos, sobretudo dos fiéis, rico para com todos os que O invocam [Rm 10, 12]…»]

Ora, então Cristo é Salvador «sobretudo dos fiéis»? Por que o «sobretudo»? Então é Ele também o Salvador dos infiéis?

Sim e não. Sim, se com isso entendemos que Ele padeceu e morreu também pelos que se perdem; e não, se interpretarmos que mesmo os infiéis se salvam pelo fato de terem um Salvador. A primeira interpretação é o ensino de sempre da Igreja; a segunda, uma heresia tresloucada. Eis aí um excelente exemplo de como é necessário que a Doutrina Católica seja interpretada organicamente. E isto, note-se, num Concílio Local, não numa homilia de cinco minutos improvisada.

Em resumo, não há elementos para sustentar que o Papa Francisco tenha uma visão heterodoxa da Doutrina Católica. Mesmo as acusações de imprudência e de propiciar a confusão por conta de imprecisões terminológicas carecem de razoabilidade. O mundo está contra o Papa, e isso se manifesta inclusive quando o louva e bajula por conta de coisas que ele não disse, não fez e não é. Coloquemo-nos ao lado dele. Rezemos por ele. Estejamos unidos a ele, para que estejamos unidos a Cristo.

Pecado e «opção fundamental» por Deus

Manhã de domingo. E lá estava eu, assistindo a uma determinada aula de Crisma. O tema era “pecado”. Até então, a palestra estava demasiadamente fluida, desencarnada, com um monte de abstrações acadêmicas pairando muito acima do mundo dos fatos onde se desenrola o drama da vida humana, totalmente anódina para qualquer pessoa que a pretendesse empregar com o objetivo concreto de, fugindo do pecado, levar uma vida mais santa. Do que era mesmo que precisávamos fugir? No meio daqueles circunlóquios, era muito difícil de saber.

Lá pelas tantas, o palestrante fala sobre o Juízo Final. Sentencia: no dia do Juízo, diz, Deus não nos vai julgar fazendo uma conta de mercearia, colocando os atos bons de um lado da balança e os maus do outro, para ver qual o que pesa mais. O que vai determinar a nossa sorte eterna vai ser a «opção fundamental» que tenhamos feito em nossa vida. Lá no fundo da mente, acende-se-me uma luzinha vermelha: eu já ouvira isso antes. Acompanho o raciocínio do professor com atenção. Ele fala, fala, fala: ao fim, pode-se interpretar qualquer coisa. Não fico satisfeito. Levanto a mão:

– Professor, então resumindo: existe o estado de Graça, a Graça Santificante, que é a vida de Deus em nós, que obtemos por meio do Batismo, perdemos com o pecado mortal e recuperamos em seguida por meio do Sacramento da Confissão. Se morremos em estado de Graça vamos para o Céu e, se não, vamos para o Inferno. Não é isso?

Ele parece se ofender com a pergunta; diz que não vai responder, porque na faculdade onde ensina é necessário um semestre inteiro para chegar a uma resposta satisfatória sobre isso. Diz que não vai cair nessa pergunta “casca-de-banana” (!) para que depois precise se contradizer. Dou de ombros. Até o final da aula, não pergunto mais nada. Não tenho sequer fôlego para pontuar que “pecado mortal” é aquele que se comete consciente e deliberadamente em matéria grave, e que esta é grosso modo aquilo que está consignado nos Dez Mandamentos. Depois faço a minha parte e explico isso para os meninos. Por enquanto, o palestrante não parece muito aberto ao diálogo.

Mais tarde, em casa, vou procurar onde foi que eu já ouvira essa história de «opção fundamental». Encontro: foi na Veritatis Splendor do Beato João Paulo II. Números 65 e seguintes. Remeto os meus leitores à leitura da íntegra, mas cito aqui somente a seguinte importante síntese:

«[H]á-de evitar-se reduzir o pecado mortal a um acto de “opção fundamental” — como hoje em dia se costuma dizer — contra Deus», entendendo com isso quer um desprezo explícito e formal de Deus e do próximo, quer uma recusa implícita e não reflexa do amor. «Dá-se, efectivamente, o pecado mortal também quando o homem, sabendo e querendo, por qualquer motivo escolhe alguma coisa gravemente desordenada. Com efeito, numa escolha assim já está incluído um desprezo do preceito divino, uma rejeição do amor de Deus para com a humanidade e para com toda a criação: o homem afasta-se de Deus e perde a caridade. A orientação fundamental pode, pois, ser radicalmente modificada por actos particulares. (…)»

Em resumo, se por “opção fundamental” nós entendemos uma certa disposição interior do indivíduo humano que precede aos atos concretos e não necessariamente se modifica à força deles (p.ex., se dizemos que fulano fundamentalmente “ama a Deus” ainda que eventualmente traia a sua esposa, desde que com estes seus adultérios não queira rejeitar explicitamente a Deus), então isso não se pode conciliar com a moral católica. Para esta, o pecado mortal pode ser obtido até por um único ato consciente e deliberado cometido contra a lei de Deus em matéria grave, e este único ato é suficiente para arrastar à danação eterna quem dele não se arrependa.

E vice-versa. Ilustremos quanto foi dito com um casuísmo, tão repulsivo ao nosso palestrante matutino mas ao mesmo tempo tão útil para sedimentar conceitos importantes. Pensemos em São Dimas, o Bom Ladrão. Levou uma vida inteira de crimes e injustiças. No último instante, dependurado na cruz, olha para Nosso Senhor e Lhe pede misericórdia. Ganha o Céu.

Ora, qual fora a sua “opção fundamental” até ser levantado no patíbulo da Cruz? O pecado e a iniqüidade. No instante em que se volta para o Filho de Deus, qual a “opção fundamental” dele? Cristo Jesus. De onde se vê como um único ato é capaz de mudar radicalmente o destino humano. Um homem que optara por ser um criminoso a vida inteira, no instante derradeiro se arrepende e ganha o Paraíso.

E se o homem tem a capacidade de alterar assim tão formidavelmente a sua «opção fundamental» através de um único ato para o bem, também pode fazê-lo para o mal. Assim como há um Bom Ladrão que, sendo ladrão a vida inteira, no instante derradeiro amou a Deus e se salvou, também pode haver um “Mau Cristão” que, sendo verdadeiramente homem justo a vida inteira, ao último suspiro rejeite a Deus e seja condenado. Que ninguém, portanto, se fie presunçosamente na sua opção por Deus do passado e nem se desespere da vida de crimes que porventura tenha levado até então: a cada instante o homem pode decidir-se pelo Céu ou pelo Inferno. Eis os assombrosos prodígios de que é capaz a liberdade humana!

A única «opção fundamental» que nos conta é aquela que fazemos neste exato instante. É aquela que se confunde com a decisão por amar a Deus ou por desprezá-Lo que tomamos em cada ato concreto de nossas vidas. É, em suma, exatamente o que diz a Igreja quando nos exorta a permanecermos na Graça de Deus, evitando o pecado mortal (porque com um único pecado mortal nós perdemos o estado de Graça e nos tornamos merecedores do Inferno) e recorrendo aos Sacramentos (mormente o da Confissão) para que a Morte nos encontre na amizade com Deus. É isso o que se precisa ensinar nas nossas catequeses. Elucubrações teológicas refinadas podem até ser úteis em certas circunstâncias, mas somente se forem feitas sobre uma base catequética extremamente sólida. Sem esta, elas se tornam daninhas e perniciosas. Sem o bê-a-bá do Catecismo, podem acabar fazendo um terrível mal às almas.