Não temos o direito de abandoná-Lo

Deparo-me, vez por outra, com a alegação de que os católicos estão desobrigados de cumprir o preceito dominical caso não disponham de uma missa específica (v.g. uma Missa Tridentina) para assistir. Ora, tal alegação é falsa e ímpia, e demonstrá-lo não é difícil. Porque os que alegam semelhante temeridade fazem-no com base no pressuposto de que tal ou qual missa (v.g. uma repleta de abusos litúrgicos, ou uma Missa Nova, ou mesmo – pasmem – uma Missa Tridentina celebrada de acordo com a faculdade concedida pelo Summorum Pontificum (!)) seja capaz de causar dano à Fé de quem dela participa. Ora:

1. Que uma Missa explicitamente autorizada pela Igreja visível possa em si mesma ser daninha à Fé contraria a infalibilidade da Igreja em matéria litúrgica. Se tal fosse possível, estar-se-ia então desobrigado não só de assistir a determinada Missa, senão todas elas, porque a Igreja, tal qual como A conheceu vinte séculos de Cristianismo, teria deixado de existir.

2. Ainda que se diga, para salvaguardar o munus sanctificandi da Igreja, que a nocividade de tal ou qual Missa é-lhe não intrínseca, mas acidental, ainda assim tal dispensa não pode ser deixada ao alvitre de cada um. Seria o caso da impossibilidade moral de que falam os antigos moralistas, cuja determinação precisa exige i) uma situação concreta; e ii) o juízo da autoridade competente (v.g. o pároco). Se se diz – p.ex. – que “toda missa celebrada de acordo com o Novus Ordo Missae é nociva”, então se recai no ponto 1. acima (uma vez que um acidente que se verifica inalterável em todos os entes de uma determinada espécie não pode de maneira alguma ser tratado como acidente vere et proprie).

3. Ainda: se não for caso de impossibilidade moral, mas meramente de conveniência – digamos, que a alegação seja a de que uma Missa má celebrada predisponha a alma a tratar com desleixo as coisas sagradas etc. -, então das duas uma: ou a pessoa tem consciência de estar sendo conduzida à tibieza, ou é a ela conduzida sem disso ter consciência, et tertium non datur. Se a pessoa não tem consciência do perigo a que (alegadamente) se expõe, então é evidente que não pode pleitear uma dispensa com base numa ameaça que ignora – na verdade, ela não pode nem mesmo imaginar a necessidade da dispensa. Se, ao contrário, a pessoa tem conhecimento o bastante para saber que tal ou qual situação a conduz à impiedade e ao enfraquecimento da Fé, então ela está em condições de resistir a estas influências e, portanto, não ser por elas afetada de modo suficientemente grave para justificar a dispensa. Trata-se aqui, na verdade, de um paradoxo da fundamentação impossível: as pessoas ignorantes que poderiam em princípio ser conduzidas para longe da Fé por conta de certas omissões ou ambiguidades em determinada celebração estão, por conta da ignorância mesma, incapazes de pedir a dispensa ou mesmo de imaginar que ela possa existir; ao contrário, as pessoas que têm suficiente conhecimento litúrgico para identificar aquelas omissões e ambiguidades, pelo fato mesmo de as identificarem, não estão sujeitas a terem a sua Fé por elas enfraquecida.

4. Por fim, se o caso for da ilicitude de se participar dos sacramentos – mesmo válidos e intrinsecamente santificantes – dos não-católicos (alegando-se, v.g., que os que celebram a Missa em tais ou quais condições não possuem a Fé Católica e, portanto, estar-se-ia cometendo uma communicatio in sacris proibida se se lhes assistisse às celebrações), trata-se aqui de donatismo totalmente extemporâneo e injustificado. Santo Tomás de Aquino distingue explicitamente entre os que estão privados de ministrar sacramentos por «sentença divina» (ex sententia divina) e por «sentença eclesiástica» (ex sententia Ecclesiae), e diz que somente das missas destes últimos é proibido ao fiel católico tomar parte:

Porque os hereges, cismáticos e excomungados estão privados do exercício de consagrar por sentença eclesiástica – pelo que peca todo aquele que ouça suas Missas ou deles receba os Sacramentos. Mas nem todos os pecadores estão privados do exercício dessa potestade por sentença da Igreja. De tal modo que, ainda que [alguns] estejam suspensos por sentença divina, não o estão no que diz respeito aos demais [fiéis] por sentença eclesiástica. De onde se segue que seja lícito receber deles a comunhão e ouvir as suas missas até que a Igreja pronuncie a Sua sentença.

Summa, IIIa, q.82, a.9., Resp.

Rejeitem-se, portanto, todos os arrazoados que intentem dispensar por conta própria os católicos do cumprimento de seus deveres religiosos. Mandamento é o que o próprio nome diz: é Mandamento, e é precisamente quando é difícil que o seu cumprimento se torna mais necessário. É particularmente duro ser católico nos dias de hoje; poucas coisas conduzem menos a alma à adoração do que as nossas missas medianas, medíocres de símbolos e repletas de abusos. Poucos ambientes são mais hostis à oração do que as nossas paróquias repletas de palmas, de baterias barulhentas, de leigos no altar. No entanto, é exatamente por ser mais difícil descobrir Nosso Senhor por debaixo da mundanidade eclesiástica que o nosso ato de Fé é mais meritório.

É à obediência da Fé que somos chamados, e não temos o direito de dar as costas à graça de Deus porque a indignidade dos Seus ministros nos ofende. Garanto que muito mais ofende a Cristo, e mesmo assim Ele não hesita em Se doar de novo e de novo debaixo do pandemônio litúrgico contemporâneo. Se Cristo permanece lá, nós não temos o direito de abandoná-Lo. Uma coisa justa e meritória é enxugar o rosto chagado de Cristo; outra, completamente diferente, é debandar do Calvário por não suportar os escarros que lançam sobre Sua Sagrada Face.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

28 comentários em “Não temos o direito de abandoná-Lo”

  1. Antes do “direito” de abandoná-lO há o dever de não ofendê-lO. A própria Igreja diz que é pecado mortal assistir à missa de herege… Quem sou eu para discordar da Igreja?

    Mas obrigada pela deferência… :D

    Um abraço

  2. Giulia, leste com atenção o texto do Jorge? Nota-se pelos comentários de muitos católicos tradicionalistas uma notória incompreensão textual, bem como uma forte dificuldade de prestar atenção ao que se lê, e a indagar o que já foi respondido.

    “De tal modo que, ainda que [alguns] estejam suspensos por sentença divina, não o estão no que diz respeito aos demais [fiéis] por sentença eclesiástica. De onde se segue que seja lícito receber deles a comunhão e ouvir as suas missas até que a Igreja pronuncie a Sua sentença.”

    – Summa, IIIa, q.82, a.9., Resp.

  3. Por ser uma missa que põe em perigo a Fé, equipara-se às missas (válidas) dos cismáticos e dos hereges. A respeito disso, diz o Magistério que “o católico deve abster-se de assistir à Missa válida, mas ilícita, do sacerdote herético ou cismático, ainda que haja a obrigação de ouvir Missa por ser dia de preceito e tenha de ficar sem esta ao agir assim”

    Decreto do Santo Ofício de 7 de agosto de 1704, in “Enciclopedia Cattolica”, verbete “comunicazione nelle cose sacre”, col. 113.

  4. Só a sacrílega comunhão na mão já desobriga o fiel de assistir à Missa. Há um vídeo na internet, no youtube, de Athanasius Schneider, (não me lembro bem exatamente o que ele diz) mas que quando ele era menor, bem antes do CV II, um bispo ou algum outro membro da hierarquia, dissera para ele que a comunhão na mão era inadmissível e que ele não deveria assistir a tais missas.

    Sem falar que em quase a totalidade da missa nova, prevalece a ruptura com a tradição eclesiástica, em tudo aquilo que o concílio liberou, que deveria ocorrer de vez em quando, passou a ocorrer sempre, coisa que qualquer fiel mais instruído observa que a missa nova se parece mais com um culto protestante o que com a verdadeira missa católica.

    Esse texto mais parece chantagem. A missa é o culto de adoração por excelência. Sair dela se sentindo com tristeza e profundo mal estar, desobriga a qualquer católico de frequentá-la. Se o canto sacro fosse decente, com o latim, com o silêncio que deve haver, aí tudo bem. Mas o que vemos é barulheira e mais barulheira.

    Ou se irá dizer que a Igreja é infalível também naquelas permissões que ela deu, o que proporcionou ocasião de tantos abusos? Foi a própria Igreja que não quis ter um culto fixo e permitiu uma série de alterações acidentais, fazendo com cada Igreja celebrasse uma missa totalmente diferente da outra.

  5. Giulia,

    i) tal “perigo à Fé” é questionável (leu meu texto? Perigo como? Intrinsecamente? Per accidens? Mera conveniência? Dependendo do que seja, a resposta varia de “deixe de frescura e vá à Missa” a “estamos todos perdidos porque não há mais Igreja Católica”);

    ii) ainda que houvesse um semelhante perigo possível, a tal “equiparação” ao culto dos cismáticos é invenção tua, completamente cuspida (por favor, me diga onde exatamente o Magistério diz que uma Missa má celebrada equipara-se a uma cismática);

    iii) Sto. Tomás diz que apenas a sentença eclesiástica (de cisma, heresia ou suspensão a divinis por qualquer outra razão) impede o fiel de assistir à Missa dos maus clérigos – e, ao contrário de ti, eu pus o link da fonte em dois idiomas :)

    Abraços,
    Jorge

  6. Pedro,

    Ordinariamente, sentimentos não têm o condão de conferir ipso facto dispensa de preceito.

    Sim, o que vemos nas nossas igrejas é barulheira e mundanidade. Triste verdade. Mas debaixo de toda essa miséria litúrgica Nosso Senhor está escondido, e cumpre adorá-Lo.

    A infalibilidade da Igreja em matéria litúrgica é negativa: o texto da Auctorem Fidei diz que o que a Igreja não pode é «constituir uma disciplina não só inútil e mais onerosa do que o suporta a liberdade cristã, mas também perigosa, nociva e que induza à superstição e ao materialismo». Do resto – uma celebração mais ou menos bonita, mais ou menos solene, mais ou menos expressiva da sacralidade do Mistério etc. – nós não temos nenhuma garantia. Mas também ninguém está dispensado de ouvir Missa só porque o padre A celebra mal. Deus instruía Sta. Catarina a fazer uma fórmula de adoração condicional – “se este sacerdote pronunciou as palavras da Consagração que deveria pronunciar, eu Vos adoro, Senhor” – nas missas mal celebradas ao ponto de poderem ser *inválidas* que a santa tinha à disposição para assistir; jamais insinuou que ela devesse, por conta própria, deixar de ir à Missa.

    Sim, seria muito melhor se o canto fosse decente, se os padres fossem zelosos, se os paramentos fossem dignos, se as rubricas fossem observadas. Seria, sem dúvidas. Mas infelizmente não é a nossa realidade, e temos que cumprir os nossos deveres de cristãos no mundo concreto em que a Divina Providência nos colocou.

    Abraços,
    Jorge

  7. ” Deus instruía Sta. Catarina a fazer uma fórmula de adoração condicional – “se este sacerdote pronunciou as palavras da Consagração que deveria pronunciar, eu Vos adoro, Senhor” – nas missas mal celebradas ao ponto de poderem ser *inválidas* que a santa tinha à disposição para assistir; jamais insinuou que ela devesse, por conta própria, deixar de ir à Missa.”

    Essas “Missas mal celebradas” a que se refere Santa Catarina ocorriam por previsão dos “males” do Concílio Vaticano II ? :)

    Brincadeiras à parte, parece ineludível no texto de Santo Tomás que assistir à Missa celebrada por um sacerdote excomungado é pecado.

  8. Parabéns Jorge, pelo texto.

    Eu vivo isso na pele. Pois na cidade onde habito, o clero da paróquia onde assisto missa é TL. Desses do sacerdote afirmar que devemos lutar para tornar o mundo melhor, até chegarmos no estado do Jardim do Éder, aqui mesmo na terra ( mais ideologia do que isso…rsrsrsrs).

    E mesmo assim, com dor no coração, lágrima na alma e sacrificio de estar ali mesmo, estou com minha esposa todo domingo na missa. Entro mudo e saio calado. Me escondo no canto. Mas Deus sabe que estou ali.

    Sim, já conversei com o pároco sobre isso e nada mudou, nem vai mudar. Mas ele foi muito respeitoso e humano, não agiu com arrogância como muitos. E ele é um bom confessor.

  9. Heitor, o que nos convém nem sempre é o certo.

    A missa nova, por ser uma missa que põe em perigo a Fé, equipara-se às missas (válidas) dos cismáticos e dos hereges. A respeito disso, diz o Magistério que “o católico deve abster-se de assistir à Missa válida, mas ilícita, do sacerdote herético ou cismático, ainda que haja a obrigação de ouvir Missa por ser dia de preceito e tenha de ficar sem esta ao agir assim” (Decreto do Santo Ofício de 7 de agosto de 1704 in “Enciclopedia Cattolica”, verbete “comunicazione nelle cose sacre”, col. 113).

    Portanto, ninguém é obrigado a assistir à missa nova, nem mesmo com o único propósito de cumprir a obrigação de assistência à missa em dia de preceito. Não há obrigação de assistir, mas – pelo contrário – há obrigação de não assistir. Se mesmo assim se assiste, não se cumpre o preceito e se peca contra a Fé.

    No caso de sermos obrigados a assistir à missa nova por ocasião de casamentos, funerais, POR INEVITÁVEIS compromissos familiares ou profissionais etc., nunca devemos participar ativamente nela. Participa-se ativamente comungando, dando as respostas ou dizendo as orações em voz alta, cantando, dando a saudação da paz, recolhendo a coleta, dando esmolas, lendo as Escrituras ou falando do púlpito etc. A atitude deve ser passiva. Recomenda-se permanecer rezando o Rosário (isso não abre brecha para vc ir à missa nova regularmente com o terço na mão).

    Lembre-se sua alma custou a Sangue de um Deus bom. A missa nova não é agradável a Deus. Ninguém pode dizer que não haja a Presença Real de Cristo lá, mas se for assim, seríamos obrigados a ir à MISSA NEGRA, onde pode haver a Presença de Cristo!!!

    Não queiramos nos locupletar de nossas próprias misérias, Heitor. Deus não é bobo.

  10. Giulia, velho… :)

    A missa nova, por ser uma missa que põe em perigo a Fé, equipara-se às missas (válidas) dos cismáticos (…)

    Não, não, não!

    1. A Missa Nova não põe em perigo a Fé.
    2. Ainda que pusesse, a Missa Nova não se equipararia às dos cismáticos (non sequitur grotesco aqui).
    3. Ainda que de algum modo se equiparasse, como os sacerdotes que a celebram não estão suspensos ex sententia Ecclesiae, Santo Tomás de Aquino nos ensina que é lícito assisti-la!

    Tu realmente achas que tua posição vai adquirir validade à força de copies-and-pastes sem critério? Pare de agir como um autômato. Leia o que está escrito. Responda ao que está colocado.

    Ninguém pode dizer que não haja a Presença Real de Cristo lá, mas se for assim, seríamos obrigados a ir à MISSA NEGRA, onde pode haver a Presença de Cristo!!!

    Comparação totalmente disparatada, que só pode ser fruto da não-leitura de tudo quanto estou dizendo aqui. Uma Missa Negra é intrinsecamente ofensiva a Deus, qualificação que não pode ser atribuída à Missa Nova porque Pio VI, lá no século XVIII, já definiu que a Igreja Católica não pode, verbis, “constituir uma disciplina não só inútil e mais onerosa do que o suporta a liberdade cristã, mas também perigosa, nociva e que induza à superstição e ao materialismo”.

    A infalível Igreja de Deus não pode promulgar uma Liturgia nociva às almas! Ora, mas o N.O.M. foi, factualmente, promulgado pela Igreja e para toda a Igreja. Portanto, ou bem o N.O.M. não é nocivo às almas ou bem quem o promulgou não é a infalível Igreja de Deus. Outra opção não existe. Agora que tal parar de copiar-e-colar trechos do teu próprio blog, ler com atenção e responder com seriedade?

    Deus tá vendo, viu?

    Abraços,
    Jorge

  11. Exatamente, Jorge, Deus está vendo, lendo e ouvindo. Até nossos pensamentos. Conhece nosso coração e nossa alma. Vc se obstina no erro.

    A Igreja não erra nunca. Quem disse o contrário, tanto que me reporto aos documentos da IGREJA DE CRISTO, não da igreja conciliar…

    O Vaticano II não é dogmático. Quem disser o contrário desdiz a própria igreja conciliar.

    Boa noite.

  12. Jorge,

    Excelente texto, embora só reafirme o óbvio. É triste de ver pessoas que se recusam a cumprir um mandamento por juízos malsãos. Sobre a comunhão na mão, S. Cirilo de Jesusalém já advertia os fiéis de como deveria ser feita: é só seguir seus passos caso se deseja recebê-la assim. Eu prefiro na boca, mas não posso impôr meus gostos a ninguém.

    Abraço grande,

  13. A comunhão na mão não é uma questão de “preferência” nem “gosto”, Juliano. Quem “impõe” não são pessoas, mas a Igreja. Estude o Catecismo.

    “Juízos malsãos” são frutos da ignorância acerca da Doutrina da Igreja CATÓLICA. Vc nos deu uma prova cabal disso. Estude o Catecismo.

    Estou curiosa pela resposta de Jorge acerca da comunhão na mão, bem ao gosto dos modernistas heréticos que pululam (e pulam) na missa nova.

  14. Juliano,

    Você já leu isto aqui? Aparece na primeira página de resultados do google para a busca de “comunhão na mão” + “Cirilo de Jerusalém” (reconheço, porém, que não era um dos resultados que ficam no alto da tela, e que o trecho a seguir não estava nos primeiros parágrafos do textos onde se encontra, tampouco, daí talvez a dificuldade em descobrir que se está repetindo uma lenda negra mil vezes refutada já desde a década de 70):

    TRADIÇÃO FALSA
    Para adotar a comunhão na mão recorre-se, freqüentemente às Catequeses Mistagógicas de S. Cirilo de Jerusalém (séc. IV) – mas, sabe-se que não são todas autênticas -, e cita-se a passagem: “Aproximando se, pois, [o fiel] não com as palmas das mãos abertas, nem com os dedos separados, mas pondo a mão esquerda debaixo da direita a modo de trono, porque ela é destinada a receber o rei, e com a mão direita côncava, recebe o Corpo de Cristo, respondendo Amém”.
    Os que citam esse texto, já tão romântico, para justificar a adoção da comunhão na mão, não passam desse Amém. Por conveniência? Assim continua o texto: “Depois de teres santificado os teus olhos pela vista do Corpo de Cristo, aproxima-se também do cálice de seu Sangue sem estender as mãos, mas ajoelhado em sinal de adoração e de veneração, dizendo Amém, tu te santificas tomando também do sangue de Cristo. E enquanto tens ainda os lábios úmidos com ele, toca-o com as mãos e depois por elas, santifica os olhos, a testa e todos os outros sentidos… Não vos separeis da Comunhão, nem vos priveis destes mistérios sagrados e espirituais, mesmo se estiverdes corrompido pelos pecados”. (P. G. XXXIII, col. 1123-1126)
    Quem poderá sustentar que um tão extravagante rito tenha sido, mesmo por pouco tempo, habitual na Igreja católica? Além de práticas ridículas, ela incita à comunhão sacrílega. Para lembrar a seriedade e respeito que a Igreja sempre tratou a Sagrada Eucaristia basta lembrar a advertência de S. Paulo na 1.ª Carta aos Coríntios: “Por isso, aquele que comer deste pão e beber deste cálice do Senhor indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque quem come e bebe, sem discernir o Corpo, come e bebe a sua condenação” (11, 27-29).
    Sabe-se que esses ritos extravagantes e até sacrílegos foram introduzidos nas Catequeses de S. Cirilo na gestão de seu sucessor. Muitos pensam no bispo João, um cripto-ariano que foi combatido por S. Epifânio, S. Jerônimo e S. Agostinho. De fato, os arianos, porque negavam a divindade de Jesus Cristo, e pois, a sua presença na Eucaristia, davam a comunhão na mão para significar a sua heresia. Desse rito atribuído a S. Cirilo, diz Leclerq no “Dicionário de Arqueologia Cristã e Liturgia” ser “uma liturgia de fantasia”.Quem a reintroduziu na Igreja não só cometeram um “erro de interpretação histórica”, mas de completa falta de senso pastoral. E tornaram-se responsáveis diante de Deus, por todos os inconvenientes que levaram a Igreja a suprimir tal prática. E por muitos outros que a tendência dessacralizante de nossa época acarreta no sentido de banalizar as coisas sagradas. São, pois, os responsáveis por todos os sacrilégios e profanações daí decorrentes.

  15. Felipe Coelho,

    Obrigado pelo texto, eu o desconhecia. No entanto, minha posição permanece de pé, malgrado a má ilustração. Se o Papa permitiu a comunhão na mão, então sou obrigado a aceitá-lo como uma possibilidade legítima. Eu mesmo não faço uso desse direito, mas defendo até a morte o direito de fazerem pois se trata de uma autorização pontifícia e eu não sou maior que o Pontífice em termos litúrgicos nem posso legitimar ou deslegitimar coisa alguma. “O que ligares na terra…”

    Giulia,

    Agradeço a sugestão de estudar o Catecismo e retribuo o desejo. Boa sorte.

  16. Jorge eu li o link que você indicou acima e li o texto que o Felipe sugeriu ao Juliano. A meu ver é certo que a comunhão na boca e de joelhos é a maneira mais correta, é o mínimo de zelo para aqueles que podem se ajoelhar.
    Porém eu tenho uma observação a fazer: Levando em conta a primeira Missa, a comunhão em pé e na mão poderia não ser um erro. A passagem da 1º Cor.11,27-29 não é clara neste sentido, pois o trecho “aquele que comer deste pão e beber deste cálice do Senhor indignamente…” não especifica postura ao receber. E o trecho “Que cada um examine a si mesmo” remete a uma disposição interior.

    Que te parece este argumento Jorge?

  17. Ygor, veja, a Última Ceia não pode servir de parâmetro para as celebrações litúrgicas pela própria excepcionalidade do evento. Aliás, os Apóstolos eram Bispos recém-ordenados por Nosso Senhor – e ninguém jamais negou que o modo de comunhão dos Bispos fosse diferente do dos fiéis comuns…

    O que me incomoda não é tanto a posição em pé. Sempre se comungou em pé quando problemas físicos quaisquer tornavam dificultoso o ato de se ajoelhar. O que choca e deixa perplexo são mãos não-consagradas tocando o SSmo. Sacramento (era essa a argumentação de Sto. Tomás).

    A comunhão na mão não pode ser um erro em si mesma, porque o Magistério a autorizou e a Igreja, como já explicado, não pode promulgar um rito litúrgico sacrílego. Além disso, quando a Igreja teve a excelente oportunidade de anatematizar a comunhão na mão – no Concílio de Trento – Ela não o fez, e preferiu redigir apenas as seguintes linhas genéricas:

    Na comunhão sacramental sempre foi costume na Igreja de Deus receberem os leigos a comunhão das mãos do sacerdote, e os sacerdotes darem-na a si próprios, quando celebram [cân. 10]. Com razão e justiça se deve conservar este costume como proveniente da Tradição apostólica. (Trento, Seção XIII, Cap. 8).

    No entanto, nas atuais circunstâncias, eu reputo danosíssimo o hábito de comungar nas mãos e acho que todo mundo deve se esforçar para que ele caia em desuso o quanto antes. Não é questão de ser “um erro”, mas sim um enorme inconveniente e uma contra-catequese totalmente injustificada.

    Sem dúvidas a disposição interior é, em última análise, o que conta. Sem dúvidas é possível cometer o sacrilégio de uma comunhão indigna de joelhos e recebendo a Nosso Senhor diretamente na boca. No entanto, a Liturgia é feita de sinais sensíveis, e também a estes importa atentar. Fala-se tanto em mistagogia nos dias de hoje; ora, poucas coisas podem ser tão mistagógicas quanto a posição tradicional de comungar.

  18. A missa nova é o rito ordinário em uso,para toda a igreja do rito latino, o rito na forma extraordinaŕia,é uma concessaõ,concedida pelo Papa emérito Bento XVI,mas ambas as formas,saõ o mesmo rito romano.Isso naõ se discute.

  19. Senhor Jorge, eu admiro sua fé na Igreja e nos seus legítimos ministros atuais. Queria tê-la, porém, por fraqueza ou orgulho, não consigo.

    Eu quero perguntar ao senhor sobre alguns pontos do seu texto que não justificam deixar de dizer que uma missa nova não cumpre preceito. Quando diz: “as pessoas ignorantes que poderiam em princípio ser conduzidas para longe da Fé por conta de certas omissões ou ambiguidades em determinada celebração estão, por conta da ignorância mesma, incapazes de pedir a dispensa ou mesmo de imaginar que ela possa existir; ao contrário, as pessoas que têm suficiente conhecimento litúrgico para identificar aquelas omissões e ambiguidades, pelo fato mesmo de as identificarem, não estão sujeitas a terem a sua Fé por elas enfraquecida.”, parece pensar que todo mundo tem as mesmas forças e consegue compreender o perigo e vencê-lo, ou que não se precisa alertar os problemas. Eu, em meu insignificante pensar, concluo duas coisas do que o senhor disse: Ou o senhor desconsidera a fraqueza dos homens, inclinação ao pecado que a humanidade inteira está mergulhada, e só considera as grandes almas que podem suportar os abusos e ignorar as distrações, colocando assim as “pequenas” almas que, distraídas pelas ilusões do mundo (entre as quais, estão músicas mundanas que não nos elevam a Deus mas nos prende em nós, e não em nossa semelhança com Deus, mas em nosso pecado) como pessoas de segunda classe, que sequer merecem consideração; Ou o senhor se esqueceu de deixar claro em seu texto que todos precisamos da graça de Deus para vencer as tentações e cumprir os preceitos, e que com a missa nova é muito mais difícil receber as graças.

    Ora, se todo mundo fosse igual, não haveria necessidade de Deus se rebaixar, assumir forma humana, nos instruir, nos mostrar a Verdade e nos salvar. Pela razão se poderia deduzir os Dez Mandamentos; porém nem todos o fazem ou conseguem fazê-lo. E, sabendo, também seguiriam os Mandamentos, mesmo no mundo.

    Não faço, de modo algum, acepção de pessoas, mas noto que nem todos conhecem a verdade ou podem conhecê-la através da razão, por algum motivo, principalmente as distrações. Na Missa, hoje somente uma minoria sabe o que se realiza nela, e nós, sabendo e podendo informar os ignorantes sobre o que acontece em toda Missa, não devemos dizer nada e deixar as pessoas ignorantes perderem a fé pouco a pouco ou de uma vez por conta das distrações que nas missas novas existem e que afastam as almas dos que não são tão santos quanto os que conseguem colher os frutos do Santo Sacrifício da Missa até em meio a abusos e profanações?

    Se nem os Apóstolos, salvaguardando São João, suportaram ver Jesus sendo crucificado, e fugiram, que dirá dos pobres e pequenos pecadores como nós tradicionalistas abandonados pelos pastores e ignorantes também traídos por seus pastores, que ainda engatinham na Fé? Eu, por exemplo, fraco, quando vou a uma missa nova cheia de abusos, chego a pecar, a ter maus pensamentos, e a julgar, talvez temerariamente, os sacerdotes, os quais nem sempre profanam a missa por maldade, mas apenas por ignorância e fraqueza em não querer aumentar o zelo pela Liturgia. Como eu, sozinho, posso colher algum bom fruto de uma missa nova cheia de abusos?

    A missa, assim na concepção nova, excluiria não só os ímpios dela participarem recebendo os seus frutos, excluiria também os que querem ser fiéis a Deus e a Ele agradarem mas que, por fraqueza própria, não conseguem, sozinhos, abandonados, colher os frutos que poderiam colher numa Missa autenticamente Católica e somente Católica, que exclui apenas o que é erro e heresia e que nos faz cair.

    O povo simples e ignorante, que não tem nenhuma intenção de abandonar ou enfraquecer a sua fé, devido as novidades e distrações, contra sua vontade, perdem a fé e ficam vulneráveis às seitas, já que em muitos lugares, tem cultos protestantes menos mundanos que algumas missas novas. Esse povo ficaria abandonado, para perecer totalmente?

    É, portanto, fato explícito que a missa nova (o rito) não exprime de forma suficiente os pontos fundamentais da Missa que nos ajudam a melhor compreender a Fé Católica. Muito menos a missa nova consegue nos dar todos os frutos que a Missa Tradicional no Rito Tridentino nos proporciona. Entre uma e outra, sem dúvida, deixar de ir à Missa Tridentina, para ir à nova sabendo que esta não nos favorece intrinsecamente e extrinsecamente como a Tradicional, não cumpre preceito por ser um pecado de presunção, pois se alguém assim optar deliberadamente, deve pensar que consegue vencer sozinho as distrações do mundo, e pode pôr a fé à prova, e pecar ainda mais.

    Os tradicionalistas sabem que a Missa Tradicional, por não conter ambiguidade em exprimir a fé da Igreja e nem se espelhar em exemplos protestantes, é superior à missa nova relativamente ao resultado com as pessoas. Nós, por isso, dizemos aos ignorantes que não se dão conta do perigo à fé que as ambiguidades do rito novo portam, que a missa nova, como está, não cumpre preceito se se puder optar entre ela e a Missa Tradicional inteiramente Católica.

    É claro, no entanto, que as pessoas que não podem assistir a Missa Tridentina cumprem preceito assistindo a missa nova, como também cumpririam numa missa ortodoxa nas mesmas condições.

    E nós tradicionalistas não dizemos que a Igreja errou na Liturgia com o rito novo. Dizemos, sim, que o rito novo é ambíguo, não transmite tão eficientemente a Verdade Católica como o Tradicional, a história nos últimos 50 anos comprova. E a ambiguidade, erro mas não no sentido de contrariar a Doutrina relativa à Missa, leva muitos a perderem a fé, como vemos.

    A missa nova não é herética – herege é quem diz que é -, Dom Lefebvre mesmo disse que não é herética ou inválida. Porém, favorece heresias, não as combatendo. Há negligência das autoridades da Igreja, e resistir a essa negligência não contraria a Igreja.

  20. Senhor Jorge Ferraz, eu fiz um comentário respeitoso, perguntando-lhe sobre algo que gostaria de resposta. Não compreendo porque não foi postado, porém é um direito seu.

  21. Sr. José Carneiro, desculpe. Não achei que você queria resposta para as perguntas (que julguei retóricas) no seu comentário.

    Quanto à primeira, é lógico que temos, todos, a obrigação de ensinar aos católicos o que acontece em toda Missa.
    Quanto à segunda e à terceira, ninguém está sozinho; Cristo prometeu estar conosco todos os dias. Evidentemente usei uma comparação hiperbólica quando aludi ao Calvário; não é porque nenhum dos Apóstolos (à exceção de S. João) assistiu ao Sacrifício Cruento de Cristo que os católicos estamos desobrigados de assistir ao Sacrifício da Missa.
    Quanto à quarta, o mesmo que disse sobre a primeira: todo mundo está obrigado a instruir os outros. É obra de misericórdia. Não é porque alguns nos abandonam que temos o direito de abandonar os outros.

    Abraços,
    Jorge

  22. Nos raríssimos domingos em que não tenho Missa Tradicional em minha diocese, frequento a Missa de Paulo VI celebrada de forma sóbria e correta, com canto gregoriano e respeito às rubricas, como no Mosteiro de São Bento ou na Igreja de Santana do Rio Vermelho, aqui em Salvador. Entretanto, quando tenho a Missa de Sempre, que a tantos santificou e que foi chancelada por um Concílio Dogmático, não hesito em ir nela e apenas nela! Respeito as opiniões discordantes, mas é uma temeridade dizer aos irmãos que se eles não dispõem da Missa Tradicional, não devem ir a missa alguma, mas simplesmente rezar um Rosário! É preciso cumprir o preceito e não se pode esquecer que o cerne da missa é a CONSAGRAÇÃO! Nem D. Lefebvre disse que a Missa Nova é herética (mas, tenho que reconhecer, disse ser HERETIZANTE). Por tanto, evito-a ao máximo, mas não deixo de me aproximar de Nosso Senhor quando não tenho a Missa de São Pio V. Quanto à comunhão nas mãos, acho um péssimo hábito, tendo em vista as admoestações de São Tomás de Aquino. Abraços da Bahia, Jorge!

  23. Senhor Jorge, agradeço pelas respostas. Porém, esclareço que quando falei dos Apóstolos não foi para justificar que podemos abandonar Nosso Senhor, de modo algum. Falei para mostrar que se nem eles conseguiram suportar ver Jesus sendo morto, como nós, que não somos tão grandes, podemos aguentar sem nos escandalizar vendo tantos abusos, alguns que ofendem gravemente a Deus, porque a missa nova permite, ou não impede, que se tirem dela? Essa sim foi uma pergunta retórica, peço eu desculpas por não ter deixado mais claro.

    Quanto as perguntas sérias, o senhor me respondeu bem: “temos, todos, a obrigação de ensinar aos católicos o que acontece na Missa” e “todo mundo está obrigado a instruir os outros”. Eu disse que nem todo mundo é grande e consegue, por si, sem receber a ajuda da Igreja, sem fugir das escravidões do mundo, vencer influências que conduzem ao enfraquecimento da fé. Participar de uma missa em que não conseguimos a graça é muito difícil; e muitos – mas não todos, é verdade – podem se encontrar impedidos moralmente de assistir certos espetáculos profanos que acontecem dentro de missas novas.

    Por isso, não concordo com o senhor quando diz: “a pessoa tem conhecimento o bastante para saber que tal ou qual situação a conduz à impiedade e ao enfraquecimento da Fé, então ela está em condições de resistir a estas influências e, portanto, não ser por elas afetada de modo suficientemente grave para justificar a dispensa.”

    Porém: “O fruto que deriva de uma determinada Missa a um indivíduo não se baseia apenas em sua piedade pessoal ou em sua devoção, que são apenas alguns dos fatores que determinam a quantidade de graça que se recebe. Há outros fatores também que têm um certo peso sobre a eficácia de uma determinada Missa, como a santidade do sacerdote, a glória externa dada a Deus pelo rito, e até mesmo a santidade geral da Igreja em seus membros numa determinada época. Estes fatores externos afetam a quantidade de graça que uma pessoa recebe, de tal forma que se pode obter mais fruto da assistência devota de uma determinada Missa do que de uma assistência igualmente devota, porém de uma Missa diferente.”

    “Em seu magnífico livro, The Holy Sacrifice of the Mass, o Padre Nicholas Gihr escreveu: “Se considerarmos o Sacrifício eucarístico em si … bem como os tesouros inescrutáveis ​​aí encerrados … perceberemos como a Santa Missa possui um valor absolutamente infinito” e, em seguida, um pouco mais adiante acrescentou:

    “Mas é diferente quando o Sacrifício Eucarístico é considerado em sua relação com o homem. A partir deste ponto de vista, a Missa tem como objetivo a aquisição de nossas salvação e santificação, e é, portanto, um meio de graça, ou melhor, uma fonte de graça, trazendo-nos as riquezas das bênçãos celestiais. (…) Os frutos que o Sacrifício da Missa nos obtém de Deus são apenas finitos, ou seja, limitados a um determinado número e a uma medida determinada… O Sacrifício da Missa, portanto, no que diz respeito ao homem, só pode ter uma eficácia restrita e em seus frutos é susceptível apenas de aplicação limitada.“ de http://www.fratresinunum.com/2014/09/01/confusao-em-massa-porque-nem-todas-as-missas-validas-sao-iguais/

    Nas Missas Tridentinas também existem diferenças na quantidade de frutos, mas não como nas missas novas, que mesmo bem celebradas, devido a deficiências no próprio Missal, não são tantos como na Missa Tradicional.

    Pelo menos, é certo, pode haver impedimento moral em muitos casos. Depois, ainda tem o cisma prático e intencional que existe em outros vários casos, pois muitos sacerdotes, em nome do “espírito do concílio”, não seguem o Papa, apesar de não serem cobrados disso como são os tradicionalistas, os quais não são nem cismáticos nem hereges, como se pode provar. Em exemplos de cisma, entretanto, ensina o Magistério: “o católico deve abster-se de assistir à Missa válida, mas ilícita, do sacerdote herético ou cismático, ainda que haja a obrigação de ouvir Missa por ser dia de preceito e tenha de ficar sem esta ao agir assim”, embora possa assistir, em estado de necessidade.

  24. Sr. José Carneiro,

    “Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os padres novos, que não têm mais a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da transubstanciação, para os quais tudo isso não significa mais nada, esses padres novos perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz, e não celebram mais missas válidas; não há mais a Presença Real.”

    Acredito que saibas de quem são essas palavras.

    O problema da missa nova não é o violão, a guitarra, a bateria, a sanfona, o triângulo, o reco-reco, as palmas, os rebolados, a abanação de folhetos.

    O problema é se os padres atuais acreditam realmente e tem a intenção de, em suas missas, tornar presente o Sacrifício da Cruz e aplicar seus méritos às almas.

    Fora as aberrações litúrgicas – fortes evidências de que esta não é a intenção deles – há vários que são, muito provavelmente, hereges.

    No 2o domingo da Páscoa de 2014, por motivos fúnebres, fui a uma missa nova de um santuário da minha diocese. Aliás, fomos eu, esposa e filhos. Na homilia – que versava sobre o relato de São João sobre a aparição do Ressucitado aos discípulos – sem e com São Tomé, o “presidente da assembléia” afirmou que, na realidade, os discípulos “sentiram” a presença Dele, ao invés de o verem de fato – pois quem vê um defunto tem medo e a “sensação” dos discípulos era de “amor e paz”. E o restante seriam alegorias da escritura.

    Tem-se aí o elemento material da heresia: o erro intelectual contrário a fé. Se o cidadão se dá conta de que esta “opinião” dele é contrária ao ensinamento da Igreja, ele é canonicamente herege. Essa consciência da oposição é o que se chama de pertinácia e, numa homilia, ela é praticamente impossível ao ouvinte de se determinar – ainda mais com a formação dos padres de hoje.

    Se nessa mesma missa, o “presidente da assembléia” modifica/improvisa trechos da oração eucarística, troca a palavra sacrifício do “orais irmãos” por eucaristia dentre outras coisas para lá de estranhas, é ou não razoável que o fiel que tem consciência do problema suspeite da validade da missa?

    Por outro lado, essas impressões que eu tive da missa deste dia, acho que foram só minhas mesmo. Minha esposa achou o padre o máximo – moderno e inteligente – e quase totalidade da assembléia queria mesmo era bater palma e balançar folheto.

    Que Deus nos ajude.

  25. Não, não é nada razoável suspeitar da validade da Missa por defeito de intenção.

    O Aquinate:

    RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora aquele que pensa em outra coisa não tenha a intenção atual, tem-na contudo habital e essa basta para haver o sacramento. Assim, o sacerdote que for batizar e tiver a intenção de fazer o que a Igreja faz quando batiza. Por isso se depois, no ato de batizar, o seu pensamento for desviado para outros objetos, o sacramento se perfaz pela virtude da primeira intenção. Embora deva o ministro do sacramento empregar estudo para também ter a intenção atual. Mas isso não depende totalmente do nosso poder porque, quando queremos vivamente aplicar a nossa intenção, começamos a pensar em outras coisas que nela não estão, conforme aquilo da Escri­tura: O meu coração me desamparou.

    E, ainda mais forte, Ludwig Ott:

    Por lo que respecta a la faceta objetiva, basta la intención de hacer lo que hace la Iglesia. Por eso no es necesario que el ministro tenga la intención de lograr los efectos del sacramento que pretende lograr la Iglesia, v.g., la remisión de los pecados. No es necesario tampoco que tenga intención de realizar un rito específicamente católico. Basta el propósito de efectuar una ceremonia religiosa corriente entre los cristianos.

    Abraços,
    Jorge

  26. Por muito menos, São João Maria Vianney deixou de assistir a missa dos padres juramentados.
    Por que eu deveria assistir a uma missa protestantizada?

  27. Ao contrário até: a Missa dos juramentados provavelmente tinha mais respeito às rubricas do que as nossas.

    O ponto é que a qualidade da celebração não exime ninguém de cumprir os Mandamentos da Igreja. Já o cisma, sim…

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