“Princípios e Atitudes” – Dom Fernando Rifan

PRINCÍPIOS E ATITUDES

Dom Fernando Arêas Rifan*

Em meio a tantos pareceres equivocados e diante da possibilidade da reforma do Código Penal descriminalizar o aborto, começando pelos fetos portadores de anencefalia, e a eutanásia, recordamos os princípios da doutrina católica e do direito natural sobre o assunto: A vida humana é sagrada, – não porque as leis e decisões judiciais humanas o determinam, – mas porque desde a sua origem ela encerra a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa relação especial com o Criador. Só Deus é o dono da vida, do começo ao fim; ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir diretamente um ser humano inocente (cf. CIC 2258 – Donum vitae, 5).

A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção até o seu fim natural. Desde o primeiro momento da sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida (cf. CIC 2270 – Donum vitae, I,1). Esses direitos inalienáveis da pessoa devem ser reconhecidos e respeitados pela sociedade civil e pela autoridade política, não dependem nem dos indivíduos, nem dos pais, pertencem à natureza humana e são inerentes à pessoa em razão do ato criador do qual esta se origina (cf. CIC 2272 – Donum vitae, 3).

A criança anencélafa é uma pessoa viva. A sua reduzida expectativa de vida não limita seus direitos e sua dignidade. Por isso, o aborto direto provocado, quer dizer, querido como um fim ou como um meio, em qualquer circunstância, é gravemente contrário à lei moral, pois se trata de tirar diretamente a vida de um ser humano inocente, o que nada pode justificar (cf. CIC 2271). Desde o início, o nascituro é uma pessoa própria, cujo círculo de direitos ninguém deve violentar, nem o Estado, nem o médico, nem mesmo a mãe. Se uma pessoa já não está segura no seio de sua mãe, onde então estará ela ainda segura neste mundo? Proteger a vida inocente pertence às mais nobres tarefas do Estado; se ele se furtar a esta missão, destrói ele próprio os alicerces do Estado de direito (cf. Youcat, 384). Nem ele pode se sujeitar a pressões de quaisquer organismos internacionais. Isso seria contra a sua soberania e o seu dever.

Por isso também, a eutanásia direta, que consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes ou de moribundos, sejam quais forem os motivos e os meios, é moralmente inadmissível (cf. CIC 2277).

Tais princípios e atitudes deles decorrentes provêm não só da doutrina católica, mas do próprio direito natural, da lei natural que obriga a todos os homens, em razão da sua natureza. Assim sendo, exortamos aos católicos, aos nossos políticos e a todas as pessoas de boa vontade e de influência na sociedade que se manifestem aos ministros do Supremo Tribunal Federal em favor da vida e contra qualquer decisão que possa acarretar a liberação do aborto. Se acontecer o mal, não o será com a nossa colaboração ou por causa da nossa omissão.

* Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

O Altar. O Céu.

De Recife para Garanhuns são boas três horas de viagem. Fi-las, ontem, duas vezes: indo e voltando. Seis horas de estrada (um pouco mais, devido às adversas condições climáticas tanto na Veneza quanto na Suíça brasileiras), junto com mais alguns amigos: fui à Cidade das Flores porque, lá, estava acontecendo (terminou hoje) o Encontro Sacerdotal sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum. Alguns padres meus amigos estavam lá presentes; outros, conheci lá. No total, cerca de trinta padres de todo o Brasil reunidos em um congresso sobre a Forma Extraordinária do Rito Romano.

E fui ontem porque o único evento aberto para leigos no referido encontro foi o Pontifical celebrado por Dom Fernando Arêas Rifan, Bispo de Cedamusa e Administrador Apostólico da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Quis estar presente à referida Missa, para agradecer ao Altíssimo por este encontro e pedir-Lhe que ele dê frutos para o bem de toda a Igreja Santa de Deus. Claro que tiramos fotos, mas não as tenho ainda – elas virão (Pacheco?). Por enquanto, as principais imagens são as que ficaram impressas n’alma.

Que, aliás, eu não tenho palavras para exprimir. Não sei o nome de todos os acólitos presentes (cruciferário, “tocheiro”, “candelário”…), nem de todos os sacerdotes que estavam junto ao senhor bispo no Altar (fora o diácono, o sub-diácono e o presbítero-assistente, havia pelo menos mais dois), não sei os nomes de todos os paramentos e objetos litúrgicos que eu vi serem utilizados (entre aqueles, as luvas e as “sapatilhas” do bispo celebrante e, entre estes, a “candela”)… enfim, eu não saberia descrever, até por ignorância das expressões, a celebração que assisti ontem à noite. Sei apenas que foi portentosa.

E, na homilia, Sua Excelência falava sobre a importância de se dar o melhor a Deus. E contou a história do índio que assistia à Primeira Missa celebrada no Brasil (sobre a qual eu já falei aqui) e que, falando a outros recém-chegados, apontava para o Altar e apontava para o Céu. “O melhor comentário sobre a Missa que já vi” – disse ontem Sua Excelência. E eu me sentia então um pouco como aquele índio anônimo que, com tanta naturalidade, provavelmente até sem o perceber, foi o autor de um tão valioso comentário sobre a Santa Missa, que atravessa os séculos sem perder a sua força de expressão. O Altar, o Céu.

Porque não é necessário conhecer a língua, não é necessário entender pormenorizadamente o significado de cada uma das orações, dos gestos e das partes da Missa, não é necessário perceber cada um dos detalhes das funções de cada um dos sacerdotes e acólitos presentes no presbitério. A única coisa necessária é colocar-se humildemente em oração e deixar-se impressionar pelo espetáculo que se desenrola diante dos olhos. O Sacrifício do Filho de Deus. A Presença Real na Santíssima Eucaristia. O Altar. O Céu. E, com isso, colocar-se na presença de Deus, sem saber precisar ao certo se é a alma que se eleva ao Trono do Altíssimo ou se é o Céu que desce até tocar a alma. O que importa é que a alma – digamos – “deixe-se tocar” pelo Sagrado e, desse contacto propiciado pela Liturgia, possa haurir as graças necessárias para viver bem esta vida na Terra, a fim de um dia poder participar das Bodas Eternas do Cordeiro que a Santa Missa de certo modo antecipa. O Altar, o Céu. A Santa Missa. O Céu na terra.

Congresso Eucarístico em Brasília

Foi celebrado um Pontifical em Brasília, por ocasião do XVI Congresso Eucarístico Nacional. Provavelmente é o primeiro Pontifical lá celebrado em décadas. Aliás, é provavelmente o primeiro Pontifical celebrado desde que a Sé foi elevada à dignidade de Arquidiocese, coisa que só se deu com Paulo VI em 1966.

A Archidioecesis Brasiliapolitanus teve a honra de receber o XVI Congresso Eucarístico. Se não me falha a memória, além da Forma Extraordinária do Rito Romano, foram também celebradas missas em diversos ritos orientais. Só por curiosidade, procurei o site do Congresso Eucarístico anterior, o de 2006; mas estava desativado. Encontrei um blog sobre ele, ainda ativo. Lá, encontrei a Programação Geral de 2006, na qual consta até mesmo o nome de J. B. Libânio…

Encontrei a programação das celebrações eucarísticas de 2006. No sábado, houve uma “Celebração Eucarística em Latim”, que eu não sei do que se trata – se o Ordo de Paulo VI em latim, ou se a missa tridentina. Inclino-me pela primeira opção, até porque o Summorum Pontificum não fora ainda publicado. Mas já havia a Administração Apostólica São João Maria Vianney. Já havia quem pudesse celebrar um Pontifical. Por que não foi celebrado?

Este final de semana, em Brasília, Dom Rifan celebrou na presença de oito bispos. Isso me lembra uma coisa que o pe. Clécio comentou no ano passado. Os cardeais sempre puderam usar o Missal Antigo, mas não o usavam. Salvo melhor juízo, os bispos também. Só agora, no entanto, é que nós vemos oito bispos, em assistência pontifícia, em um Pontifical celebrado em um Congresso Nacional. É o “efeito Bento XVI”. Os influxos benéficos deste grande Papa são notórios. Que o Senhor lhe conceda longa vida! Ad utilitatem nostram, totiusque Ecclesiae Suae Sanctae.

Nota da Cúria da Administração Apostólica – sobre D. Rifan e Dilma Rousseff

Fonte: Administração Apostólica São João Maria Vianney

Nota da Cúria da Administração Apostólica P. S. J. Vianney

A propósito da presença do Exmo. Sr. Bispo Dom Fernando Arêas Rifan na inauguração do Centro de Produção Multimídia da Canção Nova em Brasília (DF), no dia 5 de maio de 2010.

A propósito da presença do Exmo. Sr. Bispo Dom Fernando Arêas Rifan na inauguração do Centro de Produção Multimídia da Canção Nova em Brasília (DF), no dia 5 de maio de 2010, a Cúria da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, a pedido do Sr. Bispo, vem esclarecer o que segue:

1) A presença do Sr. Bispo Dom Fernando a essa inauguração, para a qual foi duas vezes convidado, junto com cerca de sessenta outros Bispos, não significou nem significa apoio a tudo o que veicula esse meio de comunicação, como aliás não significou nem significará esse apoio sua presença em quaisquer outras inaugurações de veículos de comunicação a que comparece ou abençoa, por ofício ou educação. Ademais, é por demais conhecida a nossa posição litúrgica na Igreja, conservando como forma ritual própria, concedida pela Santa Sé, o Rito Romano na sua forma extraordinária, nossa identidade e razão da nossa existência.

2) O encontro com a Sra. Dilma Roussef, que, na ocasião, veio até ao Sr. Bispo para cumprimentá-lo e a cujo cumprimento ele correspondeu por educação, foi fortuito e inesperado, considerado pelo Sr. Bispo como estranho e ardiloso por parte de quem a convidou, pois tal presença não constava no convite e, se constasse, o Sr. Bispo não o teria aceitado, para não dar motivo a más interpretações.

3) A foto, em que aparecem o Sr. Bispo e a pré-canditada, não significa qualquer apoio à sua candidatura e muito menos ao seu partido ou programa de governo, como aliás, não significam nem significarão qualquer apoio outras fotos com outros candidatos que eventualmente visitarem ou cumprimentarem o Sr. Bispo, coisa muito comum em épocas pré-eleitorais.

4) A Cúria da nossa Administração Apostólica e seu Bispo, S. Exa. Dom Fernando Arêas Rifan, aproveitam a oportunidade para, até em defesa dos verdadeiros direitos humanos, corretamente sempre defendidos e apoiados pela Igreja, expressar seu total repúdio ao PNDH 3 (Plano Nacional de Direitos Humanos 3) do atual governo, pois, embora contenham boas proposições, que reconhecemos, no entanto sua linha de princípios e grande parte de suas diretrizes, metas e sugestões, expressa ou veladamente, contradizem a moral natural e cristã, especialmente quando pretendem, entre outras posições errôneas, adotar o aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a adoção por casais homoafetivos, a regulamentação profissional da prostituição, a proibição dos símbolos religiosos nos estabelecimentos públicos e a proteção aos invasores de propriedades.

Campos dos Goytacazes, 10 de maio de 2010

Mons. José de Matos Barbosa

Chanceler e Vigário Geral.

Patriotismo

Leiam: Estou velho. Lembrei-me do que escrevi aqui há algum tempo, sobre a Pátria Amada. E lembrei-me também do artigo de Dom Rifan sobre Jesus Cristo Patriota. Patriotismo sadio, sem Teologia da Libertação, sem ecologismos vazios, sem cacoetes de anti-americanismo, sem marxismo cultural. O patriotismo de uma Santa Joana d’Arc, por exemplo…

Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado.

Pensei… Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes?

Pensei mais… Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?

Que Nossa Senhora Aparecida abençoe o Brasil.

Pulchrum

Uma das coisas mais tocantes da história do Brasil foi aquela passagem da carta de Pero Vaz de Caminha, quando ele narra a primeira missa no Brasil. Ele conta que os portugueses chegaram, os padres formaram o altar, prepararam o órgão e começou a missa. Os índios foram chegando e começaram a imitar os gestos dos portugueses. Um detalhe interessante é que durante a missa chegou um outro grupo de índios. Um índio do primeiro grupo, que já estava ali, quando certamente interrogado por um índio do segundo grupo sobre o que estava acontecendo, apontou para a missa e apontou para o céu. Para mim este é o melhor comentário sobre a missa. Apontou para a missa e apontou para o céu: quer dizer, está-se passando a comunicação da terra com o céu. Está-se fazendo uma coisa sagrada. Esse caráter sagrado é que a gente não pode deixar perder na liturgia.

Entrevista de Dom Fernando Rifan publicada em ZENIT.

O Belo, ao lado do Bom e do Verdadeiro, é transcendente. Verum, Bonum, Pulchrum: o Universo é uma catedral, como disse certa vez Plínio Corrêa de Oliveira. Talvez as pessoas não percebam imediatamente o sentido dessas palavras: a Beleza é absoluta, e não relativa, como também a Verdade é absoluta e a Bondade é absoluta.

Nos dias de hoje onde impera a ditadura do relativismo, talvez o Pulchrum tenha sido o transcendental mais duramente atacado. Frases que caíram no inconsciente popular como, p.ex., “gosto é gosto e cada um tem o seu”, junto com a avalanche de coisas horrorosas que foram empurradas às pessoas sob o singelo nome de “arte moderna”, contribuíram de maneira muito eficaz para isso. O resultado foi a perda do “senso estético” e a dificuldade de se compreender como é possível que a Beleza seja absoluta. Hoje em dia, é politicamente incorreto chamar o que quer que seja de “feio”; o que há são “belezas diferentes”.

Um amigo sacerdote disse-me outro dia, quando lhe perguntei sobre o porquê de serem construídas igrejas tão feias – sim, porque o abandono do Pulchrum atingiu desgraçadamente até mesmo a arquitetura das nossas igrejas -, uma coisa muito interessante. Falou que, para constatar que uma igreja antiga era realmente bela, bastava mostrá-la às pessoas. Todas elas, ainda que simples, iriam contemplá-la embevecidas, mesmo que não soubessem explicar cada um dos detalhes que ela continha, e iriam dizer que ela era bonita. Já uma obra de arte moderna, para poder ser contemplada, é necessário um especialista que explique uma série de coisas sem as quais ninguém consegue encontrar nela nada de aprazível. Esta [bem discutível] “beleza” escondida por detrás de um monte de técnicas modernas e paradigmas estéticos que de modo algum são evidentes é característica da arte moderna. E é o contrário de, por exemplo, uma catedral. Nas igrejas que são belas porque são erigidas em honra d’Aquele que é Belo, a beleza é manifesta – não escondida. É ao alcance de todos, e não somente de um grupo restrito de “iniciados” nos arcanos da estética.

E as igrejas são feias porque abandonaram o Pulchrum, abandonaram o Belo. Poder-se-ia falar em uma apostasia arquitetônica generalizada. Se os templos são feios, como se pode esperar que eles conduzam para o Deus que é Belo…? Subverter a arte e esconder a beleza é uma forma de tirar Deus do alcance das pessoas. Deus é encontrado também na beleza das coisas criadas. Privar as pessoas da Beleza é privá-las de oportunidades de elevar o pensamento, ao Deus que é Belo, por meio das coisas belas.

E o mesmo vale para a Sagrada Liturgia. Se a celebração não for bela – “bela” em relação ao Pulchrum que é transcendental, óbvio, e não de acordo com o [mau] gosto de cada um -, ela não ajuda os fiéis a elevarem-se a Deus e, ao contrário, pode até atrapalhá-los. Sim, qualquer semelhança com a “Escola Litúrgica da CAJU” não é mera coincidência, mas não é somente dela que eu estou falando, e sim da liturgia mal celebrada que encontramos em todos os lugares. A citação de Dom Rifan em epígrafe explica bem isso, e faço questão de trazê-la também no original de Pero Vaz de Caminha:

E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. (…) Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles [índios], assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.

Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!

Isto é a beleza da Liturgia, expressão do Pulchrum que consegue ser percebida tanto por portugueses quanto por nativos selvagens. Esta é uma experiência que nós, infelizmente, provavelmente não conseguiríamos repetir hoje em dia, se mostrássemos uma missa católica mediana a alguém de cultura diferente da nossa – e tal coisa é uma tristeza, uma desordem que precisa ser sanada. Precisamos recuperar o senso estético dos católicos, resgatar o Belo da Liturgia, o Pulchrum na Igreja do Deus que é Infinita Beleza. Para que assim Ele possa mais facilmente ser encontrado e adorado como convém a Sua Infinita – e Infinitamente Bela! – Majestade.

Citando rapidamente

1. Em defesa de D. José Cardoso Sobrinho, texto do dr. Rodrigo Pedroso. “Apenas uma pequena minoria se posicionou contra o padrasto pelo crime cometido e menos ainda contra o aborto praticado. A sanha, o ódio, o xingatório se voltaram quase que exclusivamente contra Dom Cardoso Sobrinho e contra a Igreja Católica”. As considerações feitas pelo Dr. Rodrigo não são novas, mas são importantes e estão expostas de forma clara e concisa.

2. Papa está certo, sobre a AIDS. É uma versão em português da matéria aqui citada, “do médico e antropólogo Edward Green, uma das maiores autoridades mundiais no estudo das formas de combate à expansão da AIDS. Ele é diretor do Projeto de Investigação e Prevenção da AIDS (APRP, na sigla em inglês), do Centro de Estudos sobre População e Desenvolvimento da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Uma das instituições educacionais mais prestigiadas do mundo”.

3. O Papa e a AIDS, artigo de Dom Fernando Rifan que está no site da CNBB! “A distribuição de preservativos, como solução para o problema, insinua e inclui como pressuposto a promiscuidade, uma das principais causas da AIDS, convidando ao desregramento sexual. O fim bom não justifica utilizar meios perversos. Evitar a AIDS é ótimo, mas fomentar a promiscuidade é péssimo. Não se estaria utilizando um inibidor para a AIDS – o preservativo – que, em última análise, pode se tornar causa desta mesma doença? E depois chamam de irresponsável a quem dá um grito de alerta. O Papa João Paulo II já havia advertido: “o uso dos preservativos acaba estimulando, queiramos ou não, uma prática desenfreada do sexo”. Propagar a promiscuidade é um meio de propagar a AIDS”.

Inimigos imaginários

O Fratres in Unum publicou os extensos comentários de Dom Fernando Rifan sobre o levantamento das excomunhões dos bispos da FSSPX. São dezoito páginas, que falam sobre assuntos os mais diversos, desde as críticas da Fraternidade quando da criação da Administração Apostólica, passando pela excomunhão de Dom Mayer, até – mais importante – as “QUESTÕES DOGMÁTICAS E ECLESIOLÓGICAS QUE O CARDEAL RICARD DISSE QUE PRECISAM SER RESOLVIDAS PARA TERMINAR O CISMA”.

Ninguém nega a existência de questões teológicas seriíssimas a serem discutidas – e com a máxima urgência – dentro da Igreja; ninguém nega que a Fé Católica é, infelizmente, muitíssimo pouco conhecida neste mundo que tem tanta necessidade do Salvador; ninguém nega que, dolorosamente, contribuem para estas estatísticas não poucos “católicos” de péssima formação. Estou particularmente convencido, no entanto, de que todas essas coisas precisam ser resolvidas do jeito certo, sem “desperdiçar munição” com questões de somenos importância e sem inventar inimigos para engrossar as já enormes fileiras dos inimigos reais contra os quais é mister combater.

Vejo muito isso quando me deparo com alguns comentários mais exaltados de certos católicos que – não tenho dúvidas! – sofrem com a situação atual da Igreja e desejam sinceramente que Ela seja exaltada. De ontem para hoje recebi um email dizendo que Dom Rifan “debandou para o lado modernista de vez”, e pensei cá com os meus botões o que raios poderia significar isso. Talvez fosse uma referência aos comentários que o Fratres publicou… mas, de qualquer modo, incomoda-me tremendamente esta visão grosseira sobre os fatos, segundo a qual são “ilicitilizadas” quaisquer posições que destoem, um mínimo que seja, da cartilha de um certo “tradicionalismo” – as aspas são aqui colocadas pelos motivos já por mim explicados – que pretende ser ele próprio a Coluna e Sustentáculo da Verdade, prescindindo da Igreja fundada por Cristo.

Não vejo necessidade alguma de que Campos e os padres da FSSPX comecem a travar uma guerra agora. Há coisas mais importantes a serem feitas. No entanto, para que tal embate improfícuo seja evitado, é necessário que alguns católicos parem de considerar posições completamente lícitas como se fossem “traições da Fé”. Em particular, remeto à carta do então cardeal Ratzinger a Mons. Lefebvre, de 23 de dezembro de 1982, reproduzida por Dom Fernando Rifan, que pede a assinatura do bispo francês para duas proposições muito simples:

1. Eu, Marcel Lefebvre, declaro minha adesão com religiosa submissão de espírito à integridade da doutrina do Concílio Vaticano II, ou seja, doutrina « enquanto se entende a luz da santa Tradição e enquanto se refere ao perene magistério da propria Igreja (cf. Joao Paulo II, Alocução ao Sacro Colégio, 5 nov. 1979, AAS LXXI (1979/15) p. 1452). Esta religiosa submissão leva em conta a qualificação teológica de cada documento, como foi estatuída pelo próprio Concílio (Notificação dada na 123a Congr. Geral, 16 nov. 1964).

2. Eu, Marcel Lefebvre, reconheço que o Missal Romano, estabelecido pelo Sumo Pontífice Paulo VI para a Igreja universal, foi promulgado pela legítima suma autoridade da Santa Sé, a quem compete na Igreja o direito da legislação litúrgica, e por isso mesmo e em si mesmo legítimo e católico. Por isso, não neguei nem negarei que as missas fielmente celebradas segundo o novo rito sejam válidas e também de nenhum modo desejaria insinuar que elas sejam heréticas ou blasfemas nem pretendo afirmar que devam ser evitadas pelos católicos.

Sinceramente, não consigo ver como tais proposições possam ser “intrinsecamente más”, para que não pudessem de modo algum ser aceitas por católicos sob pena de constituírem uma apostasia ou uma capitulação ao modernismo (muitíssimo ao contrário, não consigo ver nenhum motivo razoável para que elas não fossem, em substância, aceitas). Eu próprio subscreveria (e subscrevo) a declaração acima; e, para que se possa trabalhar eficazmente na solução da crise da Igreja, é de fundamental importância que os católicos não considerem um “modernista” ou um “apóstata” ou um “traidor da Fé” quem fizesse semelhante declaração.