SSPX sobre a viagem do Papa

Traduzido do Rorate Coeli (segundo recebi por email):

Mensagem da FSSPX – Distrito da França

Por ocasião da visita do Sumo Pontífice ao nosso país, declaramos nosso firme compromisso para com a Sé Apostólica. Estamos muito satisfeitos pela vinda do Papa Bento XVI ante a Gruta na ocasião do sesquicentenário das aparições de Lourdes – tão caras ao coração dos franceses e, também, de todos os católicos. Com o Rosário, rezemos à Santíssima Virgem Maria para que o sucessor de Pedro, nesta época em que o governo da Igreja é incrivelmente difícil de ser guardado, possa encontrar em Lourdes iluminação e força para reconhecer, denunciar, e erradicar os erros conciliares que são, em essência, a causa da crise da Igreja.

Oremos para que a fé católica, fora do qual ninguém pode ser salvo, seja dada às almas, e que o Cristo Rei possa reinar, mais uma vez, sobre os países e as sociedades.

Abbot Régis de Cacqueray-Valménier
Superior do Distrito da França

A mensagem havia começado tão bem…

Será a “Missa Nova” intrinsecamente má?

“[A] Igreja sempre teve o poder de, na administração dos sacramentos, salva a substância deles, determinar e mudar aquelas coisas que julgar conveniente à utilidade dos que os recebem ou à veneração dos mesmos sacramentos, segundo a variedade das coisas, tempos e lugares”.
(Concílio de Trento, sessão XXI, cap. 2 [Denz-Sho 1728] apud Rifan, Dom Fernando Arêas, “O Magistério Vivo da Igreja”)

Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, com o Seu Sacrifício na Cruz do Calvário “perdoou[-nos] todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz” (Col 2, 13-14), “isto é, reparou as nossas culpas com a plena obediência do Seu amor até à morte” (Compêndio, 122). O próprio Cristo “[e]stá presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro – «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz» – quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas” (Sacrossantum Concilium, 7) e, por isso, a Igreja celebra a Eucaristia, que é “o próprio sacrifício do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, que Ele instituiu para perpetuar o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos” (Compêndio, 271).

O Sacrifício da Nova Aliança é aquele que – segundo a profecia de Malaquias – é oferecido do nascente ao poente, em todos os lugares (cf. Ml 1, 11) e este sacrifício – ainda segundo a mesma profecia – é puro. Isto posto, e considerando ainda a indefectibilidade da Igreja, “é proposição censurada (…) dizer que a Igreja, regida pelo Espírito de Deus, possa promulgar uma disciplina perigosa ou prejudicial às almas (Cf. Papa Pio VI [1], e Papa Gregório XVI [2])” (Rifan, Dom Fernando Arêas, “O Magistério Vivo da Igreja”).

A questão da Reforma Litúrgica é complexa, delicada e dolorosa. Nas palavras do Santo Padre Bento XVI na Carta que acompanha o Motu Proprio Summorum Pontificum:

[E]m muitos lugares, se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável. Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões. E vi como foram profundamente feridas, pelas deformações arbitrárias da Liturgia, pessoas que estavam totalmente radicadas na fé da Igreja.

Estou convencido da superioridade do Missal Tradicional sobre o Missal de Paulo VI, ao mesmo tempo em que estou igualmente convencido da necessidade de se retomar, na Igreja Universal, a disciplina litúrgica vigente até a reforma do século passado. E é com dor e tristeza que eu vejo algumas pessoas – pretensas defensoras da Tradição da Igreja – utilizarem-se dos tesouros sagrados da Liturgia Católica como arma contra a própria Igreja de Cristo, dificultando assim o acesso dos fiéis verdadeiros a estes tesouros que tão fundamentais seriam para a solução da crise que hoje atravessamos.

A (atual) Forma Extraordinária do Rito Romano não foi praticamente proscrita somente por causa dos modernistas que a odeiam, mas também por causa dos rad-trads que a transformaram em cavalo de batalha contra o Magistério da Igreja. Há na Doutrina da Igreja certas proposições teologicamente certas – como as que foram colocadas acima – e que são frontalmente atacadas por algumas críticas feitas à Reforma Litúrgica de Paulo VI. A Igreja, evidentemente, não pode ceder nestes pontos. Se alguns tradicionalistas fossem mais sensatos e não colocassem sempre juntas uma justa reivindicação (à “missa antiga”) e uma intolerável acusação (à “missa nova”), a crise dolorosa pela qual atravessamos não tardaria tanto a passar. Ao contrário, associando fortemente (e injustamente) a Missa Tridentina a posições inaceitáveis por católicos, os rad-trads acabam por obrigar a Igreja ao difícil e inglório trabalho de dissociar as duas coisas, coisa que não é fácil nem rápida, mas que não pode deixar de ser feita.

Não é admissível afirmar que a Missa celebrada pela quase totalidade da Igreja hoje em dia é herética ou inválida (isso, são poucos os que fazem), mas também não é admissível afirmar que ela seja em si nociva, protestantizante, heretizante ou qualquer coisa análoga! Pelo simples fato de que é proposição condenada afirmar que “a Igreja que é governada pelo Espírito de Deus (…) [possa] constituir uma disciplina (…) perigosa, nociva e que induza à superstição e ao materialismo” [1].

Claro está que uma “missa protestantizante” é nociva. Claro está que uma “missa heretizante” é perigosa. É evidente, então, que aqueles que afirmam ser a “Missa Nova” heretizante ou protestantizante defendem que ela é nociva e perigosa e, portanto, defendem uma posição condenada pela Igreja.

Infelizmente, há muitos que defendem isso. O sr. Orlando Fedeli chama a “Missa Nova” de “modernista e protestantizante” e ainda tem a blasfêmia de insinuar que ela seja um culto ao Diabo:

Sem duvida, Padre Carbonnel tem razão ao dizer que o deus cultuado na Missa de sempre é o Deus transcendente e que o deus da missa nova é o deus imanente no universo e no homem.
Resta saber qual é o deus verdadeiro e quem é o diabo.
[Orlando Fedeli, in “Quando um herege diz a verdade: Confissões do modernista dominicano Jean Cardonnel”]

A Permanência afirma que a “Missa Nova” é intrinsecamente má:

As evidências são copiosas. Como negar, sem má-fé, que é protestantizante o novo rito, não apenas em sua intenção, não apenas no entender dos protestantes, mas naquilo mesmo que o constitui?

Oras, ser “naquilo mesmo que o constitui” e ser “intrinsecamente” são sinônimos, e ser “protestantizante” é, evidentemente, uma coisa má; portanto, o que se diz aqui é que a “Missa Nova” é intrinsecamente má.

A FSSPX diz exatamente a mesma coisa:

[S]e bem que, por si mesma, [a “Missa Nova”] não seja inválida, é realmente má pelo seu equívoco. Fosse ela celebrada pelo mais virtuoso dos padres, fosse ela dita pelo próprio Santo Cura d’Ars, ainda favoreceria a perda da Fé e o pulular das heresias, e constituiria um objetivo ultraje a Deus.

Estas posições não são aceitáveis. Afirmam estes que a Igreja determinou universalmente a celebração de um culto que é intrinsecamente mau. Alardeiam estes, por conseguinte, que as “oblações puras” profetizadas por Malaquias foram corrompidas [ou que se reduziram aos guetos rad-trads, o que é negar a profecia da mesma forma, pois esta fala que o Sacrifício é celebrado em todo o tempo e em todos os lugares]. Quando os defensores de tamanha impiedade, ao mesmo tempo, utilizam a “Missa Tridentina” como estandarte de suas loucuras, é porventura de se espantar que o Vetus Ordo tenha o “rótulo odioso” que desgraçadamente tem?

Os verdadeiros inimigos da Igreja “já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja” (São Pio X, Pascendi). O Papa santo falava dos modernistas, mas hoje em dia os rad-trads associaram-se aos hereges condenados no início do século passado, atacando a Igreja sob uma máscara de zelo. Importa que eles sejam desmascarados, e importa que os tesouros da Igreja sejam resgatados e, arrancados aos inimigos da Igreja, retornem às mãos dos fiéis católicos, para a maior glória de Deus, e para a superação – o mais breve possível! – da crise atual que já foi por muito tempo alimentada pelo conluio dialético entre modernistas e rad-trads. Que a Virgem Soberana consiga-nos esta graça do Seu Filho Jesus o quanto antes, é o nosso sincero desejo e a nossa mais fervorosa oração.

* * *

Notas (retiradas de Rifan, Dom Fernando Arêas, “O Magistério Vivo da Igreja” – renumeradas para se adequar ao presente texto [os números originais são, respectivamente, 78 e 79]):

[1] cf. Papa Pio VI, Const. Auctorem fidei, condenação dos erros do Sínodo de Pistóia, jansenista: “A prescrição do Sínodo… na qual, depois de advertir previamente como em qualquer artigo se deve distinguir o que diz respeito à fé e à essência da religião do que é próprio da disciplina, acrescenta que nesta mesma disciplina deve-se distinguir o que é necessário ou útil para manter os fiéis no espírito do que é inútil ou mais oneroso do que suporta a liberdade dos filhos da Nova Aliança, e mais ainda, do que é perigoso ou nocivo, porque induz à superstição ou ao materialismo, enquanto pela generalidade das palavras compreende e submete ao exame prescrito até a disciplina constituída e aprovada pela Igreja – como se a Igreja que é governada pelo Espírito de Deus pudesse constituir uma disciplina não só inútil e mais onerosa do que o suporta a liberdade cristã, mas também perigosa, nociva e que induza à superstição e ao materialismo – é falsa, temerária, escandalosa, perniciosa, ofensiva aos ouvidos pios, injuriosa à Igreja e ao Espírito de Deus pelo qual ela é governada, e pelo menos errônea” [Denz. 2678]

[2] “Seria verdadeiramente reprovável e muito alheio à veneração com que devem ser recebidas as leis da Igreja condenar por um afã caprichoso de opiniões quaisquer a disciplina por ela sancionada e que abrange a administração das coisas sagradas, a norma dos costumes e os direitos da Igreja e seus ministros, ou censura-la como oposta a determinados princípios do direito natural ou apresenta-la como defeituosa ou imperfeita, e submetida ao poder civil.” (Papa Gregório XVI, Encíclica Mirari Vos, 9 (1932).

Novas sobre o Summorum Pontificum

Perto de completar um ano de vigoramento, o Motu Proprio Summorum Pontificum vai ser objeto de um documento-instrução da Comissão Ecclesia Dei. A notícia publicada no Portal Petrus é animadora: fala de “muitos bispos e padres desobedientes” e de uma “nota esclarecedora sobre o motu proprio do Papa” que está sendo preparada.

Quem confirmou foi o Mons. Perl, secretário da citada Comissão Pontifícia:

E’ vero, stiamo redigendo un documento-istruzione sulla giusta interpretazione del Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’ che ha liberalizzato la Messa secondo i libri liturgici di San Pio V cosi’ come modificati dal Beato Giovanni XXIII.
[É verdade, estamos redigindo um documento-instrução sobre a justa interpretação do Motu Proprio ‘Summorum Pontificum’, que liberou a Missa segundo os livros litúrgicos de São Pio V, tal como modificados pelo Beato João XXIII]

Sobre as causas do motu proprio ter sido mal recebido, afirma o secretário:

Oggi, in tutti i campi della società, si è perso il senso dell’obbedienza e del rispetto dell’autorità.
[Hoje, em todos os campos da sociedade, foi perdido o sentido de obediência e de respeito à autoridade]

Sobre o Missal Tridentino e o Vaticano II:

Assolutamente no, il Concilio Vaticano II non ha mai cancellato il messale anteriore. Ritengo che il Papa Benedetto XVI abbia fatto bene a liberalizzarlo, valorizzando così un patrimonio e un gioiello della Chiesa. Non voglio fare una comparazione tra la Messa di Papa Paolo VI e quella anteriore, non sarebbe giusto.
[Absolutamente não, o Concílio Vaticano II nunca cancelou o missal anterior. Acredito que o Papa Bento XVI fez bem em liberá-lo, valorizando assim um patrimônio e uma jóia da Igreja. Não quero fazer uma comparação entra a missa de Paulo VI e a anterior, não seria justo]

Sobre os abusos litúrgicos:

E nessuno riesce ad eliminarli, proprio perchè, come le ho detto, non esiste il senso del rispetto dell’autorità. (…) Si è pensato che il nuovo fosse migliore, che il nuovo sia sempre migliore. Succede così anche nella vita di tutti i giorni, le scarpe nuove vengono considerate meglio di quelle vecchie…
[E ninguém consegue eliminá-los [os abusos], exatamente porque, como eu disse, não existe o sentido de respeito à autoridade. (…) Pensou-se que o novo fosse melhor, que o novo é sempre melhor. Acontece assim também na vida diária, os sapatos novos são considerados melhores do que os velhos…]

E, por último, sobre a FSSPX:

Non sono assolutamente scomunicati coloro i quali assistano ad una Messa della fraternità di San Pio X. La liturgia è valida, anche se loro sono considerati scismatici. Del resto, è valida per i cattolici anche la liturgia degli ortodossi.
[Não estão excomungados, absolutamente, aqueles que assistem a uma Missa celebrada pela Fraternidade São Pio X. A Liturgia é válida, mesmo eles sendo considerados cismáticos. De resto, é válida para os católicos como a liturgia dos ortodoxos]

Todas as traduções são livres.