“Pedófilos não são excomungados, mas eu fui!”

Depois de tudo o que já foi falado aqui sobre o padre Beto, eu pensava em não mais voltar ao tema do arrogante sacerdote. No entanto, permito-me mais algumas palavras, por conta de um comentário sem sentido que, nos últimos dias, tem ganhado corpo e merece uma resposta.

Ele veio do próprio padre Beto: «Pedófilos não são excomungados, mas eu fui!», choramingou o sacerdote, em um arroubo patético de apelo sentimental vazio. É bem pouco provável que o padre Beto realmente não entenda o porquê das coisas serem assim; o mais verossímil é que ele esteja fazendo uma chantagem emocional barata, para posar de coitadinho ao mesmo tempo em que lança sobre a Igreja a pecha de intransigente e contraditória. Mas vá lá: tenhamos um pouco de paciência com a ignorância ou a cretinice alheia. Exponhamos o discurso do óbvio e expliquemos ao reverendo sacerdote por que sua situação é diferente da dos ditos “padres pedófilos”.

Convém ter em mente, antes de qualquer coisa, que a excomunhão não é um passaporte irrevogável para o inferno. Trata-se de uma pena eclesiástica, em última instância orientada – como aliás todas as penas eclesiásticas – para a salvação das almas. De que maneira?

Ora, os pecados não se dividem em leves, graves e “excomungantes”. Há somente os leves (ou veniais) e graves (ou mortais), e só. Os primeiros são os que mantém a alma em estado de graça e, os últimos, são os que fazem perder a graça santificante; aqueles permitem que se vá ao Céu passando pelo Purgatório e, estes, conduzem ao Inferno. Não há na alma de um assassino (ou adúltero ou ladrão) mais graça santificante do que na de um médico punido com excomunhão, e nem vai menos para o Inferno um católico impenitente do que um herege excomungado. Excomunhão não é, portanto, simples qualificador agravante de condutas pecaminosas. Que coisa é ela, então?

A excomunhão é uma espécie de censura eclesiástica ao mesmo tempo grave e branda. Grave, porque rompe no foro externo a comunhão com o Corpo Místico de Cristo que é a Igreja; branda, porque para ser retirada exige somente um pedido de perdão do excomungado. E os pecados punidos com excomunhão têm geralmente também essa curiosa antinomia: são, ao mesmo tempo, graves em si mesmos e negligenciados por quem os comete. Vejamos alguns exemplos.

Quem é este excomungado? Henrique VIII da Inglaterra. Que crime cometeu? O de separar a igreja anglicana da Igreja Católica. Que importância lhe deu? Nenhuma. Como se sentia? Julgava-se vítima das absurdas pretensões papais sobre o seu casamento, sobre o futuro da família real inglesa.

Quem são estes excomungados? Dom Marcel Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer e os quatro bispos por eles sagrados sem mandato pontifício. Que importância deram à sagração episcopal ilícita? Nenhuma, pois se julgavam vítimas da Roma Modernista.

Quem é este excomungado? O pe. Roy Bourgeois. O que ele fez? Participou de uma tentativa de “ordenação feminina”. Que importância deu ao fato? Nenhuma, pois se julgava vítima da misoginia da hierarquia católica, do secular machismo eclesiástico.

Quem são estes excomungados? Os médicos que realizaram um aborto numa menina de nove anos aqui no Recife. Como se sentiam? Heróis injustiçados que salvaram uma criança dos obtusos e medievais dogmas da Igreja Católica.

Quem, por fim, é este excomungado? O padre Beto, que falsificou a doutrina da Igreja, corrompeu a juventude e, agora, adota um discurso vitimista, nem por instante se arrependendo do escândalo que suas atitudes provocaram e continuam provocando entre católicos e não-católicos.

O que todas essas coisas  têm em comum? São pecados graves, em primeiro lugar; cometidos não por impulso, mas friamente pensados e executados, insistidos mesmo após as admoestações e súplicas da Igreja, em segundo; e, em terceiro, considerados de pouca importância (às vezes nem percebidos como pecados!) por aqueles que os cometem e pelos que lhes são próximos. Em geral, são estas características e não outras as que a Igreja observa quando decide excomungar alguém.

A excomunhão é, assim, uma espada brandida pela Igreja com fins duplamente pedagógicos. Primeiro, para que se arrependa o excomungado, uma vez que os pecados punidos com excomunhão costumam ser de tal natureza que repelem o arrependimento e debilitam a vontade de se reconciliar com a Igreja; e, segundo, para que as outras pessoas percebam-lhes a gravidade (geralmente escondida sob a aparência de heroísmo, martírio, louvável resistência ou coisa análoga) e não se deixem seduzir por eles. E esta finalidade pedagógica da excomunhão se vê com clareza quando se considera que ela encontra o seu término no Tribunal do Sacramento da Penitência, ao qual o excomungado pode acorrer sempre que desejar.

A excomunhão, assim, só persiste enquanto o excomungado não se volta para a Igreja. Aliás, pode-se dizer que ela existe precisamente para constranger quem a recebe a voltar-se para a Igreja. Voltemos, enfim, ao caso atual. Foi excomungado o padre Beto? Mas, ora, se ele quiser, pode perfeitamente ter a sua pena remitida hoje mesmo, bastando para isso correr ao seu bispo e dizer-lhe que aceita, sim, integralmente, a Doutrina da Igreja Católica. No entanto, ele não o faz. Prefere continuar aferrado às suas próprias “reflexões” estúpidas a se render à clareza da Verdade que refulge no ensino da Esposa de Cristo. Está excomungado porque quer ser excomungado, essa é a grande verdade que convém não ser esquecida aqui.

Coisa totalmente diversa ocorre com o padre que viola o sagrado celibato. Primeiro porque o abuso sexual de crianças é em si mesmo coisa horrenda e repulsiva, sem que haja ninguém que o justifique ou defenda. Segundo, porque jamais se teve notícia de algum padre pedófilo que tivesse anunciado “é, eu sou pedófilo mesmo, a pedofilia é uma coisa boa e a Igreja devia refletir melhor sobre isso, porque os tempos mudaram e a gente tem mais é que ser pedófilo mesmo, etc.” – se o fizesse, é certíssimo que seria excomungado tão rapidamente quanto o padre Beto o foi, e pela mesmíssima razão. Querer no entanto equiparar um crime oculto e infame a um pecado glamouroso cometido pública e impenitentemente não passa de um sofisma grosseiro. Não se sabe a quem o padre Beto quer enganar com esse espantalho ridículo; mas o recurso a tal expediente desonesto por parte de um homem presumivelmente inteligente já diz muito sobre o seu caráter.

Como os padres pedófilos não saem por aí alardeando em público a sua pedofilia da mesma maneira que o padre Beto parece ter um prazer depravado em confessar-se publicamente herege, é impossível que ambas as coisas sejam punidas igualmente. Os pedófilos, portanto, só podem ser punidos ao final de um processo canônico próprio. E eles o são: as normae de gravioribus delictis da Santa Sé prevêem que os padres que pecam contra a castidade com menores de dezoito anos ou que recorrem a material pornográfico de menores de catorze anos «seja[m] punido[s] segundo a gravidade do crime, não excluída a demissão ou a deposição». E a demissão [do estado clerical] é mais dura do que a excomunhão, uma vez que esta é retirada pelo simples pedido de perdão do condenado e, aquela, não. Ou seja: o padre Beto pode levantar a sua excomunhão hoje mesmo, mas um padre pedófilo demitido do estado clerical “não pode ser reintegrado entre os clérigos a não ser por rescrito da Sé Apostólica” [CIC 293]! Para o padre Beto voltar a exercer as suas funções basta-lhe confessar-se com o seu bispo (coisa que, repito, ele pode fazer agora mesmo), enquanto que um padre que cometeu pedofilia só volta ao sacerdócio com autorização explícita da Santa Sé – e o sacerdote de Bauru ainda vem reclamar! Ainda tem a cara de pau de insinuar que a sua situação está pior do que a dos pedófilos!

Pedófilos geralmente não são excomungados, padre Beto, porque (ao contrário do senhor) não saem por aí dizendo-se orgulhosos de serem pedófilos. Mas, quando descobertos e julgados, são punidos com mais rigor. O senhor, padre Beto, foi excomungado porque é um vândalo hipócrita que quer ser excomungado: porque gosta mais de contar mentiras em público do que pregar o Evangelho para o qual a Igreja o ordenou. Pedófilos ao menos têm vergonha dos seus crimes, enquanto o senhor, padre Beto, tem orgulho dos seus.

E é por isso que o senhor foi excomungado: porque a excomunhão não é meramente um indicador de gravidade dos pecados, e sim a censura dos orgulhosos. Existe não para dizer que aquele monstro vermelho e chifrudo é o diabo, mas para desmascarar Satanás travestido de anjo de luz. É empregada não para coroar a maldade dos pecados que já são abjetos por natureza, mas para revelar a malícia escondida sob aqueles que parecem inofensivos ou mesmo virtuosos. E é exatamente por isso, em suma, que ela lhe cai tão bem. É exatamente por isso que os verdadeiros católicos estão serenos e agradecidos enquanto essas cretinices do senhor dissipam quaisquer dúvidas que porventura pudessem restar sobre o seu caráter ou a seriedade do seu ministério sacerdotal. É exatamente por isso, em suma, que poucas decisões recentes do episcopado brasileiro foram tão acertadas quanto essa declaração de excomunhão de Dom Ferrari.

A incoerência do relativismo contemporâneo

Mais um texto do pe. Anderson Alves (a se somar aos outros que já foram recomendados aqui), pertinente e atual como de costume. Remeto à leitura da íntegra e apenas trago um curtíssimo excerto – uma frase, somente! – que julgo lapidar:

Da dignidade do ser humano, de fato, não se deduz a verdade de todos os seus conhecimentos, nem a bondade moral de todos os seus atos.

Nestes tempos enlouquecidos onde um padre que se aproveita da Igreja para apregoar em público uma doutrina espúria e contrária a tudo o que a Ela ensina é tratado como vítima enquanto a Igreja que Se defendeu dizendo que ele não fazia parte d’Ela é apresentada como vilã e opressora, convém denunciar abertamente a incoerência do relativismo contemporâneo. Isso faz mal não apenas para a alma, mas também para a inteligência. Acreditar em coisas contraditórias é não somente pecado, mas também defeito intelectual da maior gravidade.

Após corromper a juventude com seus discursos escandalosos, padre Beto é excomungado para a maior glória de Deus

Publico abaixo na íntegra o Comunicado da Diocese de Bauru referente à excomunhão do Reverendíssimo Pe. Roberto “Beto” Francisco Daniel, que escandalosamente divulgou na internet material daninho às almas em matéria sexual e, não aceitando a reprimenda feita pelo seu bispo, Dom Frei Caetano Ferrari, desgraçadamente preferiu o orgulho à humildade, dando mais valor às suas próprias idéias e “reflexões” do que ao ensinamento multissecular da Igreja Católica que é Mãe e Mestra Infalível.

Antes mesmo da excomunhão ser declarada, diz-se que “centenas de fiéis” lotaram a igreja no último domingo (28) para a sua missa de despedida. Entre estes “fiéis” contam-se, por exemplo, «o pai de santo umbandista Ricardo Barreira», segundo a mesma reportagem. Ainda, uma vez que a Missa – toda e qualquer Missa, celebrada pelo Papa em Roma ou pelo mais humilde sacerdote da mais humilde paróquia de vilarejo – é o mesmíssimo Sacrifício de Cristo e como é bastante óbvio que a piedade católica manda procurar nas igrejas não o sacerdote que porventura esteja celebrando a Missa, mas sim Nosso Senhor que no altar é imolado misticamente, cabe perguntar se estes “fiéis” que ontem lotaram a igreja de Santo Antônio realmente merecem esse adjetivo que lhes foi dado pela Folha de São Paulo.

Ao saber da notícia, certamente padecendo comichões e fatigada devido à caça permanente de qualquer coisa que possa servir para denegrir a imagem da Igreja Católica, a Carta Capital não poupou nem a gramática e vomitou uma «excomungação (sic) do clérigo por heresia e cisma»:

excomungacao-carta-capital

Quanto a nós, parabenizamos por sua coragem e seu zelo louvável o bispo de Bauru, Dom Frei Caetano Ferrari, que soube agir com firmeza quando a Fé da Igreja se viu ameaçada e não retrocedeu mesmo tendo contra si a opinião pública anti-clerical. Que saiba Sua Excelência que se os lobos uivam e o inferno vomita impropérios, é porque o golpe foi certeiro e, o alvo, muito bem escolhido. Que a Santíssima Virgem defenda e guarde sempre o seu ministério episcopal.

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Comunicado ao povo de Deus da Diocese de Bauru
sobre o Rvedo. Pe. Roberto Francisco Daniel

mitra-bauruÉ de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de 05 (cinco) membros do Conselho dos Presbíteros.

O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.

A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado.

Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a “demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde deverá vir o Decreto.

Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história.

Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”.

Bauru, 29 de abril de 2013.

Por especial mandado do Bispo Diocesano, assinam os representantes do Conselho Presbiteral Diocesano.

Dictatus Papae – Gregório VII

[Recebido por email, e cotejado com o inglês do Medieval Sourcebook.]

Teses do “Dictatus Papae” do Papa S. Gregório VII (1073-1085), Papa que quebrou arrogância do Imperador Henrique IV. Excomungado duas vezes, foi ao Papa em três dias de penitência pedir perdão.

1 – A Igreja romana foi fundada somente pelo Senhor

2 – Somente o Romano Pontífice pode ser chamado de direito, de bispo de Roma.

3 – Somente ele pode depor ou restabelecer bispos.

4 – Seu enviado precede todos os bispos no Concílio, mesmo se for de grau inferior, e pode pronunciar sentença de deposição de um bispo.

5 – O papa pode depor os ausentes.

6 – Não se deve residir na mesma casa onde moram pessoas que ele excomungou.

7 – Somente ele pode promulgar novas leis, atendendo às exigências dos tempos, formar novas comunidades religiosas, transformar um cabido de cônegos em abadia, ou vice-versa, dividir uma diocese rica ou unir dioceses pobres.

8 – Somente ele pode usar as insígnias imperiais

9 – Somente dos papas os príncipes devem beijar os pés.

10 – Somente o seu nome pode ser citado nas igrejas.

11 – Este nome é único no mundo.

12 – A ele é lícito depor o imperador.

13 – A ele é lícito, se houver necessidade, transferir um bispo de uma sé para outra.

14 – Pode enviar um clérigo de qualquer igreja, lá onde estiver.

15 – Aquele que foi ordenado por ele pode presidir sobre outra igreja, mas não deve manter uma posição subordinada; e tal não deve receber uma posição maior de nenhum bispo.

16 – Nenhum sínodo pode ser chamado geral sem o consentimento do Papa.

17 – Nenhuma norma e nenhum  livro podem ser considerados canônicos sem a aprovação dele.

18 – A decisão dele não pode ser questionada por ninguém, somente ele pode rejeitar a sentença de qualquer um.

19 – Somente ele não pode ser julgado por ninguém.

20 – Ninguém pode condenar aquele que apela para a Santa Sé.

21 – Toda causa de maior relevo de qualquer igreja, deve ser remetida à Santa Sé.

22 – A Igreja romana nunca errou, e segundo o testemunho das Escrituras nunca cairá no erro.

23 – O Pontífice romano, desde que sua eleição tenha sido realizada segundo as regras canônicas, é sem dúvida, santificado, graças aos méritos do bem-aventurado Pedro, assim testemunha S. Enódio, bispo de Pádua (†521); à sua voz se unem a muitos santos Padres, assim como se pode ver nas decretais do bem-aventurado papa Símaco (†514).

24 – Depois de sua decisão , e com sua autorização, é permitido aos súdito apresentar uma queixa.

25 – Mesmo sem recorrer a um sínodo, pode depor um bispo ou receber de novo na igreja aqueles que tenham sido excomungados.

26 – Ninguém deve ser considerado católico se não estiver de pleno acordo com a Igreja Católica.

27 – Ele pode liberar os súditos do juramento de fidelidade ao Soberano, em caso de injustiça.

Fonte: Registrum Gregorii VII,MGH, Ep.Sel. II, n. 55a
(História da Igreja, Roland Frohlich)

Curtas

– Já foi colocado aqui nos comentários, mas merece destaque: Possessões Demoníacas. Ainda o pe. Fortea. Como eu falei antes: o demônio existe, e possessões – ainda que raras – acontecem ainda nos dias de hoje. Destaque para: “Estamos acumulando arquivos digitais [de som, com a voz de Marta, a menina possuída] para que, futuramente, alguma Universidade especializada em idiomas estranhos possa determinar que línguas ela usa. Às vezes ela fala latim, às vezes hebraico, às vezes aramaico, idiomas diferentes”.

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– Aborto, Itália, Governo: italianas grávidas receberão 4.500 euros para não abortar. Não é a Igreja quem está fazendo isso, e a medida tomada pela Lombardia – a julgar pela notícia – não tem conotação religiosa. A questão é, de novo, os incontáveis problemas gerados pelo controle de natalidade. Vale ressaltar: “enquanto esta região italiana procura incentivar os nascimentos, na Espanha o Governo do Partido Socialista (ao qual pertence o presidente do governo José Luis Zapatero) decidiu eliminar os 2 mil e 500 euros do cheque bebê, a ajuda que o governo costumava dar às mães de recém nascidos”…

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As feministas sobre o aborto. Interessante as confissões delas. Show de cretinices, mas que retrata de maneira lúcida a guerra contra a vida travada no Brasil. Um exemplo entre tantos, já no final: “Temos um presidente e ministros de Estado se posicionando contra um arcebispo, no caso da menina violentada que ficou grávida de gêmeos e teve que abortar no ano passado. Então, a palavra deixa de ser sagrada. É preciso atentar para isso como um avanço significativo”.

“A palavra deixa de ser sagrada”! Certamente a feminista quis dizer “proscrita”, mas todo mundo entendeu. Ela quis dizer que a revolta do Estado contra a Igreja – quando Dom José Cardoso declarou a excomunhão dos assassinos dos gêmeos de Alagoinha – abriu uma brecha na discussão pública sobre o assunto. E, nas entrelinhas, disse praticamente que a Igreja é a única muralha sólida que defende as crianças por nascer.

A propósito, o texto é antigo, mas talvez valha a pena: a violência contra a mulher.

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– De acordo com enquete feita pela Ave Maria, a maior parte dos católicos (mais de 50%, neste momento) se identifica com o catolicismo tradicionalista. Para ver a enquete, cliquem aqui (canto inferior esquerdo, em azul).

Comentários ligeiros

Terrorismo contra o DCE da UFRGS. “O Diretório Central dos Estudantes da UFRGS foi vítima de ato criminoso, quando na madrugada desta quarta-feira seu hall de entrada foi incendiado. A ação, assumida por um grupo intitulado ‘Comando de Caça aos Reacionários’, demonstra o desprezo de determinados grupos radicais pela livre escolha dos estudantes da Universidade, pelo patrimônio público e Estado Democrático de Direito”.

Vejam só, Comando de Caça aos Reacionários! Há também um pequeno vídeo no youtube mostrando o estado em que ficou o DCE. Lá, o estudante fala que a chapa vencedora das últimas eleições “é composta por uma maioria de estudantes que não têm vinculo a partidos políticos e principalmente estudantes que querem representar de fato o corpo discente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e não interesses político-partidários ou ideológicos como, infelizmente, vinha ocorrendo nas últimas décadas aqui na Universidade Federal do Rio Grande do Sul”. Interessante a “democracia ideológica” dos revolucionários. Que a Virgem Santíssima possa ser em favor dos estudantes sérios da UFRGS.

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– É do início do mês, mas eu não posso deixar de referenciar o texto da Dicta: “Algo extraordinário está acontecendo”. Sobre o Papa Bento XVI enquanto intelectual: “Com candura e gentileza, Bento XVI mostra que as respostas da Modernidade são insuficientes. Ele valoriza o que elas têm de positivo, não é um adversário, e sim alguém que deseja compartilhar com os outros as soluções mais ricas e abrangentes que sabe possuir. Isso humilha os intelectuais, que julgavam o cristianismo uma caveira à espera de ser enterrada e não admitem que nele possa haver tal vigor. E nada irrita tanto quanto mostrar que somos incompletos; preferimos estar rotundamente errados na grandeza, do que estar na mediocridade de quem ‘não chegou lá’. Por isso, não tenho esperança de que essas censuras injustas terminem tão cedo; se não o conseguirem atacar de uma maneira, descobrirão outra”.

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Uma freira que participou da decisão de um comitê de ética americano para autorizar um aborto em uma mulher “gravemente doente” incorreu em excomunhão latae sententiae, como disse o bispo Thomas J. Olmsted. Leiam lá, porque é interessantíssimo. A mulher estava grávida de 11 semanas e sofria de hipertensão pulmonar, o que acarretaria um altíssimo risco de morte [near-certain risk of death] caso a gravidez fosse levada adiante. Isto foi explicado ao bispo. Mas ele retrucou: “a morte direta de uma criança não nascida é sempre imoral, não importam as circunstâncias, e isto não pode ser admitido em uma instituição que se afirma autenticamente católica”.

“Sempre imoral”, e “não importam as circunstâncias”. Excelente! Enche-nos o coração de alegria encontrar bispos zelosos pela Doutrina da Igreja, e que não estão dispostos a fazer concessões à mentalidade moderna. Que a Virgem Maria abençoe o ministério episcopal do bispo Olmsted. E que Ela consiga bispos assim para o Brasil.

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Padre Demétrio 1: “O último cume”, filme de Juan Manuel Cotelo sobre a vida do pe. Pablo Domínguez, que recentemente faleceu em um acidente de montanhismo.

Na espanha laicista, como muito bem disse o pe. Demétrio! Um corajoso filme sobre a vida de um padre católico. Vejam lá os primeiros cinco minutos do filme, e vejam a abertura: um sacerdote sendo crucificado pela turba enquanto as crianças choram e têm seus olhos fechados, os manifestantes gritam, a imprensa filma e bate fotos. Diz Cotelo: “Os especialistas me disseram claramente: ‘Se hoje crucifico a um sacerdote em público, vou ter êxito, e vão dar-me importantes prêmios’. Se, ao contrário, falo bem de um padre, vão crucificar-me”. Corajoso! Quero assisti-lo.

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Padre Demétrio 2: “Os sacerdotes que abusaram de mim”. Trata-se de um relato assinado por Gustavo Caro. Assim se inicia: “Quanto era muito criança, sem ter consciência, sem liberdade, sem poder defender-me, um deles me fez filho de Deus, herdeiro da Vida Eterna, Templo do Espírito Santo e membro da Igreja, nunca poderei perdoar-lhe por ter-me feito tanto bem”. Sim, estes são a maioria. Que o Ano Sacerdotal possa dar frutos para o sacerdócio, para a Igreja.

O assassinato em Jaboatão dos Guararapes e as autoridades eclesiásticas

Esta bomba explodiu enquanto eu estava viajando. Soube do fato, porque fui informado por telefone; não tenho tempo para fazer considerações mais aprofundadas agora porque, senão, perco a visita às igrejas que estava planejando. Por enquanto, só dois documentos e um comentário.

Os documentos: a entrevista publicada no Diário de Pernambuco, da qual destaco:

Se a menina corre risco de vida, o aborto poderia ser uma opção?

Essa decisão é médica, muito mais do que eclesial.

Mas teria apoio do senhor ou o senhor condenaria essa decisão?

Depende do parecer médico, da situação. Não pode radicalizar também as coisas. Às vezes você faz um ato para defender a vida de uma pessoa, então tem sentido.

Então se a criança grávida corre risco de morrer, o aborto deve ser uma opção a ser pensada para preservar a vida da criança?

Depende dos fundamentos. Se houver um consenso médico, de que o caso é comprovadamente necessário, então claro que aí tem que se pensar. Mas em casos onde é possível levar a gestação adiante, se deve preservar as duas vidas.

O outro documento é uma carta, presumivelmente pública (já que está circulando por emails desde o início da semana), que o coordenador-executivo do Comitê Pernambucano da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto enviou a Sua Excelência. Transcrevo-a na íntegra, abaixo. E, para nossa maior vergonha, o Iraponan nem católico é…

O comentário: um amigo de Recife comentou em outro post que “o que Dom Fernando falou foi bem diferente do que foi publicado (e replicado) nos jornais/sites”. Segundo ele, “[p]arecem estar fazendo com ele o mesmo que fizeram com seu antecessor, editar e distorcer suas palavras para transmitir o que o jornalista/jornal quer, muitas vezes contrário ao que o entrevistado disse”. Ainda não vi os vídeos, mas a hipótese é verossímil e, portanto, é necessário conceder o beneplácito da dúvida. Escrevam a Sua Excelência, sim (dfsaburido@uol.com.br), mas façam-no com caridade. Por doloroso que seja, não se esqueçam de que estão falando com um Sucessor dos Apóstolos.

Peço orações por Olinda e Recife. Estamos precisando.

A carta de Iraponan Arruda segue abaixo.

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Carta Informal

Att. Dom Fernando Saburido

Querido Irmão em Cristo Jesus, Dom Fernando, hoje escrevo com tristeza para falar do caso da criança de 10 anos que foi estuprada pelo padrasto e engravidou , na cidade de Jaboatão-PE, e nos posicionarmos enquanto Comitê pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil sem aborto.

Lamentamos que fato desta natureza venha tomando corpo em nosso Estado, sem que se tome providências no sentido da prevenção. Quando o caso aparece só se enxerga um caminho: Assassinar a criança em gestação dentro da outra criança. Mas parece que seja este o único caminho, Dom Fernando Saburido? Nosso código autoriza o assassinato no caso do estupro, mas é certo a Igreja concordar com a legislação assassina? Não seria o ABORTO um ato de TORTURA e ASSASSINATO, e o nosso código penal afrontador dos princípios da moral CRISTÃ?

Meu caro sacerdote, se o real representante de Jesus se colocar contra os princípios apregoados por Ele, para onde irá tal igreja? Um reino que briga entre si não sobreviverá, disse Jesus. Como defender os princípios da vida se nossos líderes silenciam.

Sem a sua ajuda, meu nobre representante da Santa Igreja, o movimento contra a legalização do aborto em nosso Estado e no Brasil perde o equilíbrio. Grupos como Sim à Vida, da Pastoral Familiar, Associação Jamais Abortar, Grupo Celebre a Vida, Pastoral da Criança, CIRCAPE, AME-EPE, Javé são algumas das mais de 30 instituições formadoras do Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida – Brasil sem Aborto. Todos nós contamos com a postura Cristã, dos nossos representantes e líderes da Igreja.

Não quero aqui ser inoportuno nem indelicado ao comentar a opinião do nobre irmão a cerca do caso acima citado, mas deixo a mensagem bíblica falar em nome dos cristãos de Pernambuco:

O que diz a Sagrada escritura a cerca do ABORTO:

–  Jeremias 1:5 “Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da mãe te santifiquei; às nações te dei por profeta.”

– O mandamento de Deus proíbe tirar a vida em Êxodo 20:13 “Não matarás.”

– Jó 31.15 diz: “Aquele que me formou no ventre materno, não os fez também a eles? Ou não é o mesmo que nos formou na madre?”

– Em Jó 10.8,11 lemos: “As tuas mãos me plasmaram e me aperfeiçoaram… De pele e carne me vestiste e de ossos e tendões me entreteceste”.

– O Salmo 78.5-6 revela o cuidado de Deus com os “filhos que ainda hão de nascer”.

– O Salmo 139.13-16 afirma: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste… Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado, e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe”.

Lucas 1 (39 à 44):

E, naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá,
E entrou em casa de Zacarias, e saudou a Isabel.
E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo.
E exclamou com grande voz, e disse: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre.
E de onde me provém isto a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.

CONCLUSÃO:

Todos esses textos bíblicos acima Dom Saburido, e muitos outros, indicam que Deus não faz distinção entre vida em potencial e vida real, ou em delinear estágios do ser – ou seja, entre uma criança ainda não nascida no ventre materno em qualquer que seja o estágio e um recém-nascido ou uma criança. As Escrituras pressupõem reiteradamente a continuidade de uma pessoa, desde a concepção até o ser adulto. Aliás, não há qualquer palavra especial utilizada exclusivamente para descrever o ainda não nascido que permita distingui-lo de um recém-nascido, no tocante a ser e com referência ao seu valor pessoal.

Esses textos bíblicos Dom Fernando revelam os pronomes pessoais que são utilizados para descrever o relacionamento entre Deus e os que estão no ventre materno, claro que tudo isso o Senhor já sabe.

Esses versículos e outros (Jeremias 1.5; Gálatas 1.15, 16; Isaías 49.1,5) demonstram que Deus enxerga os que ainda não nasceram e se encontram no ventre materno como pessoas. “Não há nada nas Escrituras que possa sugerir, ainda que remotamente, Dom Fernando, que uma criança ainda não nascida seja qualquer coisa menos que uma pessoa humana, a partir do momento da concepção”

À luz do acima exposto, precisamos concluir com muito zelo e carinho meu caro Pastor Católico, que esses textos das Escrituras demonstram a vida humana pertencendo a Deus, e não a nós, e que, por isso, proíbem o aborto. A Bíblia ensina que, em última análise, as pessoas pertencem a Deus porque todos os homens foram criados por Ele. Desta forma, não cabe a um representante cristão dar suas opiniões pessoais quando o assunto é de ordem divina, entende?

Que Deus, meu Irmão Fernando, em sua Santa Misericórdia, continue encontrando espaço no teu coração para fazer brotar, cada dia, a sabedoria, a paz, o amor e fraternidade real.

Paz e Vida!!!!

Iraponan Chaves de Arruda Coordenador Executivo
Comitê Pernambucano da Cidadania Pela Vida- Brasil Sem Aborto

“Na luta em defesa da vida, só temo o silêncio dos bons”

Notícias de Espanha

[Tradução livre de Hispanidad]

Finalmente um bispo heróico e valente confirma o que a Conferência Episcopal (incluindo a Comissão de Doutrina da Fé) não teve a coragem de confirmar: a sanção (assinar com seu punho e sua letra) dada pelo Rei [da Espanha] à Lei do aborto é «cooperação material com o mal».

Hispanidad, lunes, 08 de marzo de 2010

Monsenhor Reig Pla, com coragem e heroísmo, confirmou a Doutrina eterna do Catecismo da Igreja Católica, [parágrafo] 2287: “Quem usa os poderes de que dispõe em condições que arrastem a fazer o mal torna-se culpável de escândalo e responsável pelo mal que, direta ou indiretamente, haja favorecido. ‘É impossível que não venham escândalos; no entanto, ai daqueles por quem eles vierem!’ (Lc 17, 1)”.

Isto é [também] o que SS João Paulo II confirmou em sua Carta Encíclica “Evangelium Vitae”, a respeito da cooperação e cumplicidade com o aborto: “A excomunhão afeta a todos os que cometem este delito conhecendo a pena, incluindo também aqueles cúmplices sem cuja cooperação o delito não se teria realizado”.

Ou o que é o mesmo: o rei, como todo homem submetido à Lei de Deus, deveria ter obedecido antes a Deus do que a Zapatero e às Cortes socialistas: “é necessário obedecer antes a Deus que aos homens” (Atos [dos Apóstolos], 5, 19).

Bravo, monsenhor Reig Pla!

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Enquanto isso, espanholas marcham pela vida. Vejam, há diversas fotos. O evento foi bonito. “A mídia deu ampla cobertura ao evento que teve a presença de 250 jornalistas espanhóis e estrangeiros somente na marcha de Madri – os fotógrafos ganharam um ônibus de dois andares, sem teto, para facilitar o trabalho (foto acima). Todos os quatro maiores jornais da Espanha noticiaram a marcha”.

Deus tenha piedade da Espanha!

En passant

Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus. “No Criador, não há mudança, não há intenções anteriores ou posteriores; na Sua natureza, não há ódio nem ressentimentos, não há lugar maior ou menor no Seu amor, nem antes nem depois no Seu conhecimento. Pois, se todos crêem que a criação começou a existir como consequência da bondade e do amor do Criador, nós sabemos que esta primeira motivação não diminui nem se altera no Criador em consequência do curso desordenado da Sua criação”.

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Este é um post não oficial. “São doze páginas de propaganda política. O que acho interessante é a estratégia de se divulgar algo que ‘não é oficial’ por vias ‘oficiais’. Claro… As instituições fazem isso o tempo todo, mas foi a primeira vez que vi isso acontecer assim, tão… Tão oficialmente!”.

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O silêncio. “[É] pelo silêncio que o homem cria e manifesta a sua força e constrói a mansão das suas virtudes; da prudência, pelo silêncio da discrição e da medida; da temperança, pelo silêncio dos seus sentimentos inconfessados; da força, pelo silêncio da paciência; da justiça, pelo silêncio do juízo; da humildade e do apagamento. Já dentro do templo das virtudes cardeais, é ainda pelo silêncio que o homem é introduzido no santuário das virtudes teologais: da fé, pelo silêncio da razão que reconhece os seus limites e se abre a uma luz mais alta; da esperança, pelo silêncio da expectativa, que, no desprendimento dos bens terrenos, aspira aos bens eternos; da caridade, pela união com Deus na oração e na dedicação aos outros”.

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Não à civilização do grito e do barulho. “O grito é o modo mais eficaz de inibir a auto-reflexão, de impedir que a voz da consciência nos diga o que fazer o que não fazer. Gritando, submetendo-me ao barulho diuturno, vivendo em um ritmo frenético entre trabalho e lazer agitado e, quando estou em casa, com a novela ou o filme ou o jornal sempre ligados, calo a consciência. Impeço-a de me proibir, de me pautar, de me fornecer os dados necessários de uma moral objetiva para meu comportamento. Se a consciência e a moralidade tentam falar comigo, enclausuro-me no barulho para que não ouça sua voz. A suavidade da voz da consciência é nublada pela ensurdecedora algazarra moderna”.

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Rei espanhol poderá ser excomungado. “Segundo o bispo, o monarca não incorrerá em qualquer pena canônica caso assine a nova lei [do aborto]. O bispo destacou que o papel do rei espanhol é peculiar – a ele cabe assinar as leis aprovadas pelo legislativo – e que, portanto, sua situação não deve ser comparada à dos parlamentares. A conferência dos bispos advertira os parlamentares católicos que se votassem a favor do projeto abortista do governo socialista espanhol estariam se colocando fora da comunhão eclesial, o que em bom e velho português se chama excomunhão. […] No meu entendimento, [no entanto,] se o rei da Espanha assina a lei está excomungado!”.

Dois curtas aviltantes

1. Excomunhão imposta por Dom José é desaprovada (para assinantes). “[U]ma pesquisa do Ibope encomendada pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir mostra que 86% dos católicos discordam da decisão tomada pelo então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho”.

Nem sei por onde começar. Não sei se dá para confiar, antes de tudo, nas pesquisas encomendadas (a expressão é excelente!) por estas senhoras. Depois, Dom José não “impôs” excomunhão nenhuma, mas apenas citou a punição automática prevista pelo Código de Direito Canônico, como já foi ad nauseam explicado. Depois, a (má) opinião dos (maus) católicos não faz a menor diferença neste assunto. Depois, o péssimo artigo de dom Rino Fisichella não é (como diz a reportagem) “o Vaticano se pronunciou”. Enfim, é uma péssima matéria, que só serve para lançar sombras à figura do grande Dom José Cardoso Sobrinho e, por extensão, à Igreja Católica.

Enquanto isso, nas notícias relacionadas, jovem conta como fez o próprio aborto. “Essa decisão era minha, de mais ninguém. Sabe a vontade que muita gente tem de ter um filho? Pois bem, eu tinha essa mesma vontade, só que para não ter filho naquele instante”. E, no final da notícia: “Católica, Marina defende o aborto para as mulheres que não queiram ter um filho”. Sim, católica. Como o presidente Lula, as Católicas pelo Direito de Decidir et caterva.

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2. Essa Deus não perdoa, entrevista de Dom Cappio à Veja (via Acarajé Conservador). “O Lamarca é um mártir” – quem o diz é Sua Excelência. E pretende fazer “um santuário para todos os mártires da diocese”.

Para a Igreja Católica, “mártir” é quem é morto por ódio à Fé. Para Dom Cappio, “mártir” é “quem morre em defesa de uma causa justa e derrama seu sangue por valores evangélicos”. Mesmo que a causa “justa” em questão seja a instauração de um regime assassino e condenado pela Igreja, e mesmo que os valores “evangélicos” aqui sejam os da Heresia da Libertação.

Dom Cappio, portanto, não define “martírio” da mesma forma que a Igreja. E é bispo católico. Faço coro ao que perguntou o professor Felipe Aquino: até quando isso ficará sem providências?