Os poderosos e os pequeninos (sobre Nossa Senhora de Aparecida)

Hoje é dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil (é por este motivo que é feriado) e 80º aniversário do Cristo Redentor. Para o Google, contudo, o fato que faz o 12 de outubro merecer homenagem é ser o «dia das crianças e 90º aniversário de Art Clokey». Vêem-se assim as prioridades modernas. Lastimável.

Como que em desagravo a este ultraje, contudo, “Nossa Senhora de Aparecida” (assim, sem hashtag nem nada, com toda a naturalidade que distingue uma tendência espontânea de um twittaço programado) está nos Trending Topics Brasil. Dando mostras uma vez mais de que o povo ainda sabe perfeitamente identificar quais são os valores que merecem ser de fato homenageados, e – a despeito da massiva propaganda consumista – não é capaz de se esquecer do dia da Virgem Aparecida. Mostrando que, apesar das indiferenças dos poderosos, é exatamente como canta o Salmo: «Da boca das crianças e dos pequeninos sai um louvor que confunde vossos adversários, e reduz ao silêncio vossos inimigos» (Sl VIII, 3).

 

Happy Mother’s Day!

Um feliz dia das mães para todas as mulheres que tiveram a generosidade de abrir-se ao dom da Vida!

Neste dia de hoje, rezemos especialmente por aquelas mães que preferiram fugir da maternidade assassinando os seus filhos dentro do ventre e, hoje, não celebram senão o remorso. Que a lembrança do que poderia ter sido possa levá-las ao arrependimento. Que o aborto pare de destruir crianças e mães. Que a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e nossa, interceda por todos nós.

O bêbado e a igreja

Não assisti a Santa Missa hoje às onze horas; lá chegando, fui avisado que não haveria missa porque o pároco estava doente. Na igreja, algumas pessoas entravam para rezar; pedi à Virgem Santíssima, Salus Infirmorum, que olhasse com particular cuidado pela saúde do reverendíssimo sacerdote.

Dia dos pais, almoço em família, domingo corrido; só às sete horas da noite foi que pude assistir missa aqui perto de casa. Tenho o grave defeito de esquecer com excessiva leviandade as más experiências do passado; sempre que vou à referida missa, arrependo-me amargamente. Não que a Liturgia em si seja tão mal celebrada, não que o sacerdote seja um fervoroso adepto da Teologia da Libertação nem nada disso; o problema é que, uma vez que se toma consciência da grandeza da Santa Missa, sofre-se em demasia com pequenas coisas que, em outras épocas, passariam despercebidas. Minha excessiva sensibilidade faz com que nem todos os ambientes propiciem-me a piedade necessária para a assistência frutuosa do Santo Sacrifício. É doloroso, mas é assim que sou.

Incomoda-me o excessivo número de acólitos (e acólitas…) no altar, a música do violão em ritmo dançante, a homilia demasiado longa e cansativa, a feira na qual se transforma a igreja na hora da Pax Domini; e, ao final de tudo isso, o absurdo tempo gasto entre a postcommunio e a bênção final clama aos Céus vingança!

Avisos – tudo bem. Prestação de contas do mês anterior – fora de lugar, mas vá lá. Homenagem pelo dia dos pais – aceite-se. Mas a homenagem tinha que ser um sorteio de lembrancinhas entre os pais presentes, cinco ou seis prêmios, com o padre chamando os números lá do altar e os felizardos, desleixadamente, subindo o presbitério – sob uma chuva de aplausos – para receber o seu brinde? Após todos os sorteios (uns bons dez minutos), uma senhora subiu ao ambão para recitar uma homenagem aos pais. Após, o violeiro começou a fazer a sua própria homenagem: “esses seus cabelos brancos – bonitos; esse seu olhar cansado – profundo”… Engraçado: neste exato momento, uma senhora – de cabelos brancos bonitos e olhar mais cansado do que o normal com a demora da bênção final – levantou-se e saiu da igreja…

Enquanto a música tocava, aconteceu algo espetacular: um bêbado andrajoso entrou na igreja. O cheiro de cachaça era perceptível à distância. Molhou o dedo na água benta, fez uma demorada genuflexão (era notório o esforço despendido neste movimento) e um sinal da cruz lutando contra a ausência de coordenação motora. Levantou-se, apoiando-se no chão, voltou à porta da igreja e fez mais uma genuflexão antes de sair. Algumas pessoas olhavam para ele em tom de censura; eu, ao contrário, olhava-o admirado.

Devem ter percebido, porque não chegaram junto de mim para fazer nenhum comentário depreciativo. A resposta estava na ponta da língua: o bêbado era mais santo do que a maior parte dos que lá estavam (eu próprio, reclamando interiormente pela maçante sucessão de homenagens, em primeiro lugar desta lista): no meio da bagunça mundana dos sorteios e músicas profanas, o bêbado viu que estava na casa de Deus. Enquanto algumas pessoas passavam displicentemente de um lado a outro do altar, o bêbado fazia uma genuflexão profunda (e, no caso dele, o movimento era particularmente difícil!). Enquanto as pessoas conversavam e murmuravam, ele rezava. Quando todos pareciam esquecer o lugar onde se encontravam e o evento que presenciavam, o bêbado entrou na igreja para lembrá-los diante de Quem estavam e como deveriam se portar. Deu o melhor exemplo católico da noite! E não era o Evangelho do dia, mas me veio inevitavelmente à memória: “os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21, 31b)…

Homenagem a Dom José – discurso

[Pronunciamento do reverendíssimo padre Nildo Leal de Sá, pároco da Imbiribeira, ao final da missa de encerramento da festa de São Cristóvão presidida por Sua Excelência Reverendíssima Dom José Cardoso Sobrinho, às 19 horas do último sábado, 1º de agosto de 2009.

Publicação original: Exsurge, Domine!

Texto revisado em 07 de agosto de 2009]

Bonum certamen certavi,
cursum consumavi,
fidem servavi”

– Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé – (2 Tm 4,6)

Excelência Reverendíssima,

Ao se encerrar solenemente a festa de São Cristóvão, co-padroeiro desta paróquia da Imbiribeira, nesta Santa Missa na qual se renovou, de forma incruenta, o Sacrifício Redentor da Cruz, quero, em meu próprio nome e no de todos os meus paroquianos, prestar a V. Excia. um fervoroso preito de gratidão, devoção filial e afeto, não só pelo fato de V. Excia. ter vindo celebrar a Divina Liturgia nesta festa patronal, mas, também, por ser esta uma celebração de despedida, tendo em vista que, dentro de duas semanas, V. Excia. estará entregando ao seu sucessor a cura pastoral desta Arquidiocese.

As palavras do Apóstolo, há pouco citadas, parecem-me descrever um perfeito retrato destes mais de 24 anos em que V. Excia. esteve à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife.

I. “Bonum certamen certavi…”

De fato, quantas batalhas foram travadas ao longo desses anos…. Quantos ataques, injúrias e calúnias a V. Excia. Mas se tratou de um bom combate: o combate pela fé verdadeira, o combate para preservar os bons costumes, para formar um bom clero, para confirmar a todos na fé apostólica, para manter a unidade e a comunhão afetiva e efetiva com o Santo Padre, o Papa, Vigário de Cristo na terra. Em poucas palavras, o bom combate para guardar a fé católica, a fé da nossa Santa Igreja, sem a qual ninguém pode agradar a Deus e se salvar!

Foi, certamente, um duro combate, mas frutuoso, porque ajudou-nos a todos a entender que, acima de tudo, o bispo, como pastor, deve buscar sempre cumprir a lei suprema da Igreja, que é a salvação das almas, ainda que isto implique incompreensões,   desafetos, perseguições. V. Excia. ensinou-nos que não se pode fugir à luta, porque os cristãos, e sobretudo os sacerdotes, são, ontologicamente, outros Cristos, que lutam, que combatem para salvar-se e salvar os outros da tirania do demônio e do pecado e alcançar o céu.

Creio que as palavras ditas por Nosso Senhor, na noite da Quinta-feira Santa, dirigidas especialmente àqueles a quem Ele acabara de ordenar como os primeiros sacerdotes, foram de consolação para V. Excia nos momentos mais difíceis de sua espinhosa missão: “No mundo tereis muitas tribulações. Mas tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

“Ego vici mundum”… Sim, V. Excia. sai vitorioso como o Cristo Crucificado, como São Cristóvão, como os Santos Apóstolos e os mártires de todos os tempos, como o seu mais ilustre predecessor no sólio olindense, o glorioso Dom Vital. Aos olhos do mundo parecem ter sido derrotados, mas empunham a palma da vitória.

II. “Cursum consumavi…”

Dom José, V. Excia. encerra a missão como Pastor desta Igreja Particular. Parte para um merecido repouso. Deixará saudades e frutos que, certamente, serão saboreados ainda daqui há muitos anos. Creio que esta nova etapa na vida de V. Excia. ainda será de grande proveito para muitos, por muito tempo. V. Excia. deixa de ser o Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, mas continuará a ser padre e bispo, “in aeternum”. A nossa paróquia lhe agradece pela especial atenção dedicada a ela, ao criá-la há quase onze anos, e ao estar sempre presente conosco ao longo de todos esses anos, e deseja-lhe muitas felicidades.

III. “Fidem servavi”

Excelência, “in obsequio Iesu Christi” (em obediência a Jesus Cristo) e por causa dessa obediência, a chama da fé resplandece na sua alma apostólica e ilumina a todos nós. Não é exagero de retórica: no céu, V. Excia. terá, certamente, um lugar privilegiado no coro dos confessores da fé  e dos mártires. Espontaneamente, vêm-me à mente as palavras de Nosso Senhor a São Pedro: “Simão, Simão, Satanás te pediu para joeirar-te como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. (Lc 22,31-32).

As portas do inferno se escancararam contra V. Excia., de todos os lados, mas encontraram uma casa, ou melhor, uma fortaleza construída na rocha. A sua fé brilha, invicta. “Vicit Leo de Tribu Iuda”: Venceu o Leão da tribo de Judá. A vitória foi alcançada. V. Excia. guardou a fé, e essa fé venceu os seus inimigos, os inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Sua Santa Igreja Católica.

Parabéns e obrigado, Dom José, amado pai e pastor!

Recife, 10 de agosto de 2009