Papa Francisco: «Extra Ecclesiam Nulla Salus»

Foi na Radio Vaticana (via Fratres in Unum) que eu vi o Papa Francisco comparar a Igreja com uma viúva. A primeira impressão é a de perplexidade. A Igreja de Cristo, que é Mãe e Esposa, Ela, com quem o Seu Divino Esposo prometeu estar todos os dias, até a consumação dos séculos…! Como assim, «viúva»? Sim, sem dúvidas Ela e Mãe e Esposa; mas – diz o Papa – «também a Igreja, num certo sentido, é viúva». E a originalidade da exegese que eu nunca ouvira antes me cativou. Acompanhemos o Romano Pontífice:

O seu Esposo foi embora e Ela caminha na história, esperando encontrá-lo, de encontrar-se com Ele. E Ela será a esposa definitiva. Mas, enquanto isso, Ela – a Igreja – está sozinha! O Senhor não é visível. Há uma certa dimensão de viuvez… Isso me faz pensar na viuvez da Igreja. Esta Igreja corajosa, que defende os filhos, como a viúva que foi ao juiz corrupto para defendê-los, e acabou vencendo. A nossa mãe Igreja é corajosa! Tem a coragem de uma mulher que sabe que seus filhos são seus, e deve defendê-los e levá-los ao encontro com o seu Esposo.

Esta «viuvez da Igreja» manifesta-se no fato do Senhor ter ascendido aos Céus e confiado a Ela o encargo de continuar a Sua obra salvífica. Sim, o Senhor está com a Igreja, Ele está conosco, mas há diferentes modos de se dar a presença de Deus. Ele está presente em todos os lugares – afinal, Ele é Onipresente – enquanto Criador das coisas existentes e enquanto as sustenta no ser. Ele está presente nas palavras da Escritura Sagrada enquanto o autor está presente na sua obra. Está presente, por participação, nas almas dos fiéis que vivem em estado de graça. Está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, substancialmente presente, no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Mas Ele não está corporalmente presente, com o Seu Corpo humano nascido da Virgem Maria, pois este Corpo subiu aos Céu e está sentado à destra de Deus Pai Onipotente, como rezamos no Credo. E esta específica presença nos faz falta: tanto nos faz falta que a História do Cristianismo pode ser resumida nesta tensão entre a Ascensão de Cristo e a Sua Segunda Vinda gloriosa. Tanto nos faz falta que, neste sentido, pode-se dizer que a Igreja vive uma certa «viuvez».

Mas esta «viuvez» não é luto e miséria, não é vergonha e nem indigência: a Igreja, diz-nos o Papa, é uma viúva corajosa e zelosa pelos seus filhos! É uma Mãe que tem a certeza do reencontro definitivo, e portanto luta para levar os filhos d’Ela a encontrarem um dia o seu Pai. É uma viúva sempre preocupada com aqueles que o Seu Esposo lhe confiou, uma viúva que desafia os poderosos deste mundo em favor daqueles que Ela tem a missão de conduzir ao Esposo que partiu para lhes preparar um lugar. Uma viúva, enfim, que tem a sua riqueza nos filhos que possui neste mundo e no Esposo que a espera no seguinte. E que anseia por reunir a todos – Esposo e filhos – no seu seio materno.

E aqui vem a parte mais interessante da homilia pontifícia, pois o Vigário de Cristo repete – mais uma vez de improviso, mais uma vez sem arrodeios e sem dar muitas explicações, simplesmente como quem afirma uma verdade já por demais evidente – que extra Ecclesiam nulla salus, que fora da Igreja não há salvação. Pois ele sentencia assim, totalmente à vontade, sem medo de ferir susceptibilidades ou de provocar polêmicas, que «não existe caminho de vida, não existe perdão nem reconciliação fora da mãe Igreja».

Assim, com estas exatas palavras: fora da mãe Igreja não há caminho de vida, não há perdão e nem reconciliação. Ou como diríamos em outros tempos com outras palavras: fora da Igreja não há salvação e nem santidade, o que é a exata mesma coisa. O único «caminho de vida» que existe está na Igreja, e fora d’Ela portanto todos os caminhos conduzem à morte. A única dispensadora do «perdão» divino é a Santa Madre Igreja e, portanto, fora d’Ela, os pecados não são perdoados. Só n’Ela há «reconciliação», só Ela é capaz de reconciliar o homem pecador com o Deus três-vezes Santo, só no seio d’Ela é possível religar o homem decaído ao Criador e, portanto, só Ela é a Religião Verdadeira.

Assim falou o Santo Padre Francisco, assim sempre falaram os Papas em dois mil anos de Cristianismo. Porque é justamente esta a missão de Pedro: confirmar os cristãos na Fé. E é parte constituinte da Fé Apostólica que não pode ter Deus por Pai no Céu quem não tem a Igreja por Mãe na terra, que a Igreja é a única Arca da Salvação e, fora d’Ela, as pessoas perecem no Dilúvio do pecado. Esta é a nossa Fé, que da Igreja recebemos, que sinceramente professamos. Esta é uma verdade para sempre válida, e que muito nos alegra encontrar com tanta clareza nas homilias pontifícias destes tempos tão confusos em que vivemos. Ouçamos o Papa Francisco! Voltemos para a Mãe Igreja, fora da qual «não existe caminho de vida», fora da qual não se encontra a Cristo, fora da qual não se pode obter a salvação.

Notícias do fim do mundo: casos de família

1. Viúva terá de dividir pensão do marido com a amante, decide juiz em GO. “O juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública de Goiás, Ary Queiroz, decidiu que uma viúva de um funcionário público do estado terá de dividir a pensão que recebe com a amante do falecido marido. A ‘outra’ entrou na Justiça para ter direito ao benefício. Cabe recurso da decisão”.

2. Amante é condenada a pagar US$ 9 milhões por ‘roubo de marido’. “A diretora de escola Anne Lundquist, de 49 anos, se envolveu com Allan Schackelford, de 62, mesmo sabendo de seu casamento de 33 anos. Cynthia, a mulher traída, resolveu levar a amante para os tribunais e venceu a ação num julgamento que durou dois dias”.

3. Escritura Pública reconhece união afetiva a três. “Ela [a tabeliã de notas que lavrou a escritura] conta também que se sentiu bastante a vontade para tornar pública essa união envolvendo três pessoas, já que havia um desejo comum entre as partes, se tratava de pessoas capazes, sem envolvimento de nenhum menor e sem litígio. Internamente não havia dúvida de que as três pessoas consideravam viver como entidade familiar e desejavam garantir alguns direitos”.

O que dizer? Uma vez perdida a referência moral que sustenta a entidade familiar, esta se esfacela em mil pedaços: sendo arrastada para lá e para cá, ao sabor das arbitrariedades individuais. Ora se confundem e se igualam a legítima e a concubina, ora se quantifica monetariamente um adultério, ora se institucionaliza o ménage à trois. Privada de suas sólidas bases, a sociedade adoece e caminha, em vertiginosa velocidade, em direção ao abismo que se recusa a enxergar.

Lembro-me de Santo Agostinho nas suas Confissões (que cito de memória): “senti e experimentei não ser para saber que o pão, agradável ao paladar sadio, é repugnante ao doente, e que a luz, desejada pelos olhos sãos, é odiosa aos enfermos”. Isto que vale para os indivíduos também se aplica às sociedades: basta  uma simples mirada ao redor, basta olhar para a nossa civilização decadente para o constatar com triste clareza.