Padre candidato a prefeito pelo PSOL

Padre Sóstenes é pré-candidato à prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, conforme noticia o BLOG de Jamildo. A mesma notícia é dada em outro site, com um título pior. E, para completar o escândalo, o tal padre pretende concorrer ao pleito por um partido socialista – o PSOL.

[N]inguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” – ensina o Magistério da Igreja. Outrossim, a CNBB lançou um documento para as eleições de 2002: o Documento 67, que não se encontra online no site da CNBB mas pode ser encontrado na internet. Este documento é taxativo ao dizer que “[o]s clérigos são proibidos de assumir cargos públicos que implicam participação no poder civil” (CNBB, Doc. 67, n. 51). E esta proibição não é “da CNBB”, e sim do Direito Canônico, que reza:

Les está prohibido a los clérigos aceptar aquellos cargos públicos, que llevan consigo una participación en el ejercicio de la potestad civil.
(CIC, Cân. 285, §3)

Como se tudo isso não fosse suficiente, o PSOL defende o feminismo, a cultura gay e o ABORTO. Coisas absolutamente incompatíveis com a Doutrina Cristã.

Data vênia, pergunta-se ao padre Sóstenes: Vossa Reverendíssima está ciente de todo o sobreexposto?

“Se você estivesse numa cadeira de rodas…”

Assisti dia desses a um filme intitulado “Instinto Secreto” (Mr. Brooks, 2007). Não é a melhor obra-prima do mundo, mas é um suspense interessante, com situações criativas e que prende bem a sua atenção. A história, contada de maneira bem superficial, é a seguinte: o sujeito, o tal Brooks, é um empresário bem sucedido, casado, pai de família… uma pessoa bem normal. O único “detalhe” – que o torna capaz de ser protagonista da trama – é o fato de ele ser um Serial Killer.

O filme é recheado de coisas interessantes, como os diálogos que o Brooks tem com o “álter-ego” assassino dele, o chantagista que tem umas fotos do último assassinato, a detetive empenhada no caso, a luta que o assassino trava para parar de matar – sim, porque ele mata por ser viciado e não conseguir parar. Mas tem uma cena que corre o risco de passar despercebida na trama, por ser secundária, e que é todavia bastante expressiva.

A filha de Brooks volta para casa, e a polícia está investigando a garota por causa de um assassinato na faculdade. O pai – não sem muitas dúvidas – decide proteger a filha. Qual o plano? Simples: ele procura detalhes do assassinato, vai até a faculdade – fica em uma outra cidade – e mata outra pessoa do mesmo jeito que (supostamente – pois o filme não deixa isso explícito) a filha matou. Dois assassinatos iguais, a polícia vê o padrão, traça o perfil de um serial killer e, como a garota estava em outra cidade na noite do segundo assassinato, a suspeita sobre ela é descartada. Voilà.

Os fins justificam os meios – disse uma vez Maquiavel. E, para justificar a máxima, os homens são capazes de recorrer às mais absurdas situações. Pra salvar a própria filha – que, afinal, pode até estar sendo injustamente acusada -, o pai não deveria fazer tudo o que está ao seu alcance – até matar? A versão atual do dilema, que escutei ad nauseam por ocasião dos infinitos debate sobre as células-tronco, era a seguinte: “se fosse o teu filho numa cadeira de rodas, tu serias a favor das pesquisas”. “Ou então” – às vezes era acrescentado – “tu não amarias o teu filho”.

O problema com esta argumentação é que a resposta à capciosa pergunta vai estar, provavelmente, enviesada, pois a situação é de tal maneira construída que o sujeito vai julgar em favor de si mesmo, defendendo os próprios interesses! E esta “auto-defesa” – até psicologicamente justificável, mas evidentemente falha enquanto apreciação objetiva e juízo isento – é tomada como se fosse a mais nobre expressão da virtude e da solidariedade, porque estaríamos “nos colocando no lugar” das pessoas a quem realmente interessa determinada questão.

“Colocarmo-nos no lugar” de uma parte interessada num resultado específico de uma dada querela é exatamente o que não pode ser feito para quem quiser formar uma opinião justa sobre o assunto em questão, e isso é óbvio. Ninguém pode apreciar um assassinato colocando-se no lugar do assassino; já pensou o advogado dizendo ao juiz “ah, se fosse Vossa Excelência que estivesse no banco dos réus, não ia ser a favor da condenação”? Todavia, contestar esta idéia equivocada nos transforma, incontinenti, em monstros insensíveis aos sofrimentos alheios. A virtude deixa de ser a isenção, e transforma-se no interesse. A atitude correta seria tomar partido. “Se você fosse uma raposa” – é como se dissessem – “ia ser a favor dos saques ao galinheiro”. Oras, mas acontece que, absolutamente, não é isso que está em discussão! Queremos saber se é lícito que as galinhas alheias sejam surrupiadas pelas raposas, e não se as raposas têm motivos para atacar os galinheiros, porque é óbvio que elas os têm!

Em suma, ninguém precisa ter um filho com uma doença incurável para saber a importância que tem para um pai a cura do filho. E, ao mesmo tempo, ninguém pode julgar a licitude de uma questão olhando somente para o próprio filho – real ou imaginado – que esteja doente. Além dos fins, deve-se olhar para os meios; e a moralidade ou imoralidade destes vê-se com mais clareza quando não se está advogando em causa própria. Afinal, de entender os motivos do mr. Brooks a legalizar os assassinatos vai um longo passo. A mesma coisa faz com que seja justificável o desejo das pessoas de buscarem a cura para si próprias ou para as pessoas que amam; mas, mesmo assim, não se justifica a destruição de seres humanos em pesquisas científicas.

Antes de tudo, um forte.

O sertanejo é, antes de tudo, um forte.
(Euclides da Cunha, “Os Sertões“).

Um forte, antes de tudo: assim se expressou Euclides da Cunha, referindo-se ao sertanejo – ao nordestino! -, no seu clássico livro sobre a expedição de Canudos. De acordo com o jornalista, o que impressionava na figura do nordestino era o contraste entre a sua aparência e esta força que se revelava, de maneira súbita, tão logo fosse necessária.

O sertanejo em “Os Sertões” é “desgracioso, desengonçado, torto“. Tem uma “postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente“. É um “homem permanentemente fatigado” e “[r]eflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo“. Todavia, “toda esta aparência de cansaço ilude“:

Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
(id. ibid.)

Ao ler essas linhas e descobrir a surpresa que causa no jornalista encontrar tamanha força de vontade em uma figura de onde parecia que não poderia sair nada, não consigo deixar de imaginar que surpresa, então, não teria o ilustre escritor se se debruçasse um pouco sobre a figura mais simples, mais comum e mais corriqueira que ele poderia encontrar: o cristão. Bem que escreveria, então, e o faria com muito mais propriedade, que o cristão é que é, antes de tudo, um forte.

Acusa-se muitas vezes a religião de ser uma muleta de fracos, engodo de massas, pseudo-consolo para fracas inteligências, e tantas coisas assim parecidas. De fato, o cristianismo tinha tudo para ser uma religião de derrotados. Dentre os seus preceitos, constam coisas como dar a outra face para quem lhe esbofetear e oferecer a túnica para quem lhe roubar a capa. Dentre os seus valores mais básicos, está a noção de que ganhar o mundo inteiro não tem importância nenhuma se se vier a perder a própria alma. Entre as coisas que os cristãos podem esperar, citam-se serem perseguidos e sofrerem tribulações. Até mesmo o seu Fundador – e exemplo máximo a ser seguido – é representado no ápice da derrota, morto vergonhosamente como marginal, dependurado numa Cruz.

Colocadas as coisas desta forma, poder-se-ia esperar, realmente, que o seguidor sincero dessa doutrina fosse um fracassado, um traumatizado, um masoquista, um “Zé-Ninguém”, um “mosca-morta”, um inútil. Todavia, já São Paulo nos ensinava, há dois milênios, o grande segredo que se encontra escondido nessa doutrina: “Porque, quando eu sou fraco, aí é que eu sou forte” (cf. 2Cor 12, 10).

Ao contrário do que se poderia esperar, o Cristianismo venceu o mundo. Produziu não covardes, mas mártires. Construiu não favelas, mas civilizações inteiras. Conquistou não somente os rudes e ignorantes, mas as mais finas inteligências de todos os tempos. Saindo do subterrâneo das catacumbas, elevou-se até o céu com as torres góticas das catedrais medievais. Quem poderia imaginar tudo isso, se olhasse para os Doze homens rudes da Galiléia? Esta transmutação é muito mais portentosa do que a transfiguração do sertanejo fatigado em “titã […] potente“!

O segredo desta grande força motriz do Cristianismo encontra a sua mais eloqüente expressão em dois aspectos da Doutrina Cristã, que se referem à relação do homem consigo próprio e com o seu próximo, e que, reunidos, são capazes de mudar o mundo. Refiro-me ao aperfeiçoamento pessoal e à consciência da vida em sociedade, da qual os cristãos precisam ser fermento. Se uma construção portentosa é feita com material de má qualidade, então todo o edifício irá fatalmente ruir. Se, por outro lado, os melhores materiais do mundo estão jogados no canteiro de obras, eles continuam sendo um monte de entulho sem utilidade. Somente quando os materiais são bons e estão dispostos da maneira correta é que se podem levantar as catedrais.

Para o cristão, então, não é suficiente empenhar-se para a sociedade ser perfeita: ele precisa também cuidar da própria perfeição. Ao mesmo tempo, não é suficiente acumular bens, ciência, virtude, poder: todas essas coisas precisam estar ordenadas para o bem comum. Esmagados estão, pela Doutrina da Igreja, ao mesmo tempo, quer o egoísmo do capitalismo selvagem, quer o totalitarismo do comunismo igualitário. Nem os materiais de construção têm serventia sozinhos, e nem as construções úteis e belas são feitas com um tipo só de material. O homem moderno não percebe essas coisas e, por isso, não consegue erguer catedrais.

Preocupar-se com a sociedade mesmo quando o homem poderia ter tudo, e preocupar-se com o homem mesmo quando a sociedade poderia oferecer tudo: eis a grande fraqueza do cristão e que, ao mesmo tempo, é a sua grande força. Movido por este ideal, o cristão avança ao longo da História. É perseguido, e não se desespera; vê caírem impérios, e ele não se perturba. Por importar-se tanto consigo mesmo até o ponto de desprezar as benesses estatais, e por importar-se tanto com os outros até o ponto de desprezar o sucesso próprio, alguém bem que poderia dizer: – mas, então, este sujeito não se importa com nada!

Engana-se. O cristão, na verdade, importa-se com Deus; e isso é tudo o que importa. “Buscai primeiro o Reino de Deus“, diz o Evangelho, “e tudo o mais vos será acrescentado” (cf Mt VI, 33). A história da Igreja ao longo dos séculos revela o cumprimento desta promessa do Divino Salvador. Os seguidores do Crucificado não são uns derrotados, e sim os heróis da História. Escolhendo caminhar por si próprios quando outros lhes apresentam um caminho largo e fácil de ser seguido, e escolhendo caminhar junto com os outros quando poderiam ir muito mais longe por si próprios, a aparente contradição só pode ser resolvida quando se tem os olhos fitos no Alto: na verdade, nem há paraíso terrestre que os homens possam oferecer, nem há pote de ouro no fim do arco-íris para quem chegar lá primeiro. Há somente a Cruz, e Ela é a única esperança; e, carregá-la, a única alegria verdadeira. Eis a força cristã, eis a vitória por meios adversos, eis o que causa verdadeiramente estupor. Não merece tantos elogios o sertanejo: ser cristão, ah, isso sim – isso é que produz os verdadeiros fortes.

Novo Bispo de Garanhuns

Domingo último, dia primeiro de junho, foi a cerimônia de posse do novo bispo – o 10º bispo da sua história – da Diocese de Garanhuns, Sua Excelência Reverendíssima Dom Fernando Guimarães.

Lá estive. A Diocese de Garanhuns faz parte da Província Eclesiástica de Olinda e Recife, embora seja um pouco distante – quase três horas da viagem. Fui e voltei no mesmo domingo, o que foi cansativo; mas valeu a pena. Não tive a oportunidade de ter muito contato com o senhor bispo; apenas escutei as suas palavras, quer na cerimônia de posse, quer na primeira missa rezada, na praça. Mas ex ungue leonem – pela unha do leão se infere o seu tamanho – e, do que disse Sua Excelência, percebe-se que é um Sucessor dos Apóstolos que faz jus ao roxo que veste.

As coisas que ele disse em sua homilia foram fantásticas – parece-me que ainda o ouço proferi-las! Cito as suas frases de memória, não literais. Podem estar imprecisas num ou noutro ponto, mas o seu sentido é fiel, pois este ficou-me marcado na memória. Certamente, também, minha (falta de) memória trai-me e me faz esquecer algumas palavras do bispo que bem mereciam ser repetidas. Perdoem-me.

“Reafirmo a minha mais absoluta e incondicional adesão ao Santo Padre, o Papa Bento XVI”.

“O papa é Cristo na terra”.

“A vontade do Papa [citando um santo que não recordo] é a vontade de Deus”.

“Estou convencido de que, fora da comunhão com o Santo Padre, nada se constrói na Igreja”.

“Os fiéis têm o direito – repito, o direito – de verem os seus pastores se santificarem”.

“O sacerdote, em virtude do Sacramento da Ordem, identifica-se ontologicamente com Cristo”.

“Os padres não podem tomar a posição de nenhum partido político, porque eles devem ser pastores para todos”.

“Participar da política é uma função própria e específica dos cristãos leigos”.

“Rezem por mim”.

Sim, Dom Fernando, rezaremos! Em agradecimento a Deus por ter nos presenteado com um bispo de tamanha envergadura, e suplicando à Virgem Maria que possa conceder ao novo bispo de Garanhuns todas as graças necessárias para o pastoreio da grei de Deus.

Ave Maria,
gratia plena,
Dominus tecum;
benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus ventris tui, Iesus.

Sancta Maria, Mater Dei,
ora pro nobis, peccatoribus,
nunc et in hora mortis nostrae.
Amen.