Clara Claris Praeclara

8 Ó admirável clareza da bem-aventurada Clara, que quanto mais diligentemente é buscada em pontos particulares mais esplendidamente é encontrada em tudo. 9 Brilhou no século e resplandeceu na religião. Em casa foi luminosa como um raio, no claustro teve o clarão de um relâmpago! 10 Brilhou na vida, irradia depois da morte. Foi clara na terra e reluz no céu! 11 Como é grande a veemência de sua luz e como é veemente a iluminação de sua claridade!

12 Ficava esta luz fechada no segredo do claustro, mas emitia raios brilhantes para fora. Recolhia-se no estreito convento, e se espalhava pelo amplo mundo. 13 Guardava-se lá dentro e manava fora. 14 Pois Clara se escondia, mas sua vida se manifestava; Clara se calava, mas sua fama clamava; trancava-se na cela e era conhecida pelas cidades afora.

15 Nem é de admirar, porque uma luz tão acesa, tão luminosa não podia esconder-se, deixando de brilhar e de dar uma clara luminosidade na casa (cfr. Mt 5,14.15) do Senhor. Nem poderia fechar-se um vaso de tantos aromas, deixando de perfumar e de impregnar com suave odor a mansão do Senhor. 16 Mais, como quebrou com dureza o alabastro de seu corpo no estreito recinto da solidão, o ambiente da Igreja ficou totalmente repleto com o odor (cfr. Mt 26,7; Jo 12,3) de sua santidade.

[…]

43 Para fortalecer o espírito abatendo a carne (porque todos ficam fortes quando o inimigo se enfraquece), usava como leito o solo nu e, às vezes, uns sarmentos, colocando como travesseiro embaixo da cabeça um duro tronco, 44 contente com uma só túnica e um manto de pano grosseiro, desprezado e rude. 45 Servia-se dessas roupas humildes para cobrir seu corpo, usando, às vezes, junto à carne um áspero cilício feito de cordinhas de crina de cavalo. 46 Parca também no comer e discreta no beber, freava-se com tanta abstinência nessas coisas que, por muito tempo, não provou absolutamente nada como alimento de seu corpo em três dias da semana: nas segundas, quartas e sextas-feiras. 47 E também nos outros dias se restringia tanto na limitação do alimento, que os outros se admiravam de que pudesse sobreviver com tão forte rigor.

[…]

71 Alegre-se, então, a Mãe Igreja, que gerou e educou essa filha que, como genitora fecunda de virtudes, produziu com seus exemplos muitas discípulas da religião, formando-as para o serviço perfeito de Cristo com perfeição. 72 Alegre-se também a alegre multidão dos fiéis, porque o Rei e Senhor dos céus levou (cfr. Ct 1,3; Mt 22,1) com glória para o seu alto e preclaro palácio a sua irmã e companheira, que Ele havia escolhido como esposa. 73 Porque também as fileiras dos santos estão festejando juntas, pois, em suas habitações celestes, celebram-se as núpcias da noiva real. 74 De resto, como é conveniente que a Igreja católica venere na terra aquela que Deus exaltou no céu, 75 pois, após diligente e cuidadosa pesquisa, um exame detalhado e uma solene discussão, ficaram bem comprovados sua santidade de vida e seus milagres, 76 ainda que seus atos fossem já claramente conhecidos, tanto aqui por perto como em países afastados, 77 Nós decidimos colocá-la no álbum dos santos, com o conselho e o consentimento comum de nossos irmãos e de todos os prelados, então, presentes na Sé Apostólica, confiando na onipotência divina, por autoridade dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa.

Alexandre IV, bula Clara Claris Praeclara (1255)

Curtas

– Boa notícia número 1: Hospital de NY é processado por obrigar a enfermeira católica a participar de aborto. “[A enfermeira] Cenzon-DeCarlo recordou a seus supervisores que não podia participar do procedimento [de aborto], mas lhe disseram que se não o fizesse seria acusada de ‘insubordinação e abandono do paciente’ que poderia resultar em uma ação disciplinadora e a possível perda de seu trabalho e sua licença de enfermeira. A ADF processou o Mount Sinai por violar o direito à objeção de consciência da enfermeira”. Vamos ver no que vai dar.

– Boa notícia número 2: Los psicólogos de EE.UU. podrán ayudar a combatir los impulsos homosexuales. “La Asociación Americana de Psicología (APA) acaba de admitir que es ético –y puede resultar beneficioso- que los terapeutas ayuden a sus pacientes a rechazar los impulsos homosexuales. Este cambio de rumbo resulta sorprendente, si se tiene en cuenta que hasta ahora la terapia más generalizada entre los psicólogos es la afirmativa, es decir, la que dirige a pacientes con estos conflictos a admitir y desarrollar su orientación sexual”. Enquanto isso, no Brasil, a patrulha da Gaystapo é forte e poderosa – vide Rozangela Justino…

– Convite recebido por email:  Lançamento do Livro do Prof. Elcias Ferreira da Costa (já aqui comentado), “Dom José Cardoso Sobrinho: A vitória da Fé”.

Data: 12/09/2009 (quarta-feira)

Local: Sede da CNBB

Endereço: Rua Dom Bosco, 908, Boa Vista, Recife-PE
(próximo da Rádio Recife FM e ao Supermercado Comprebem)

Horário: 19h às 21h

Entrevista, apologética, desabafo

Entrevista da dra. Rozangela Justino à VEJA: entrevistador extremamente malicioso, mas a psicóloga teve jogo de cintura. “Há no conselho [Federal de Psicologia] muitos homossexuais, e eles estão deliberando em causa própria. (…) Além disso, esse conselho fez aliança com um movimento politicamente organizado que busca a heterodestruição e a desconstrução social através do movimento feminista e do movimento pró-homossexualista, formados por pessoas que trabalham contra as normas e os valores sociais”.

– Artigo do Carlos Ramalhete contra a sanha laicista: São Paulo ou Seu Paulo? “Ver uma ofensa a outras crenças na presença de um crucifixo implica necessariamente em vê-la nos nomes de estados e cidades, nos nomes próprios das pessoas, na organização social do país, nos dias da semana, nos meses, no preâmbulo da Constituição Federal… Querer proibir a presença do crucifixo implica em querer proibir um dado constitutivo da própria nacionalidade brasileira, importar uma noção a nós estranha do que seja a Justiça, o Bem, o certo e o errado. O Brasil não surgiu nem subsiste em um vácuo; temos uma cultura própria, com base lusitana e católica, que independe até mesmo da própria religião seguida por cada brasileiro”.

– Desabafo do Gustavo diante de um artigo escrito por um judeu: Ecumenismo judaico. “Se soubéssemos que nenhum templo de outra religião é tão digno quanto o interior de nossas igrejas: porque nelas está Deus mesmo, em sua totalidade (corpo, sangue, alma e divindade)! Se soubéssemos que nenhum líder religioso de outra religião tem a autoridade de um sacerdote católico: porque este, unindo sua voz à Palavra d’Ele, traz ao altar o Filho de Deus. Se defendêssemos, ainda que ao custo da própria vida, a Mãe de Deus – tão vilipendiada pelos hereges e descrentes”. É verdade, caríssimo, é verdade…

O bêbado e a igreja

Não assisti a Santa Missa hoje às onze horas; lá chegando, fui avisado que não haveria missa porque o pároco estava doente. Na igreja, algumas pessoas entravam para rezar; pedi à Virgem Santíssima, Salus Infirmorum, que olhasse com particular cuidado pela saúde do reverendíssimo sacerdote.

Dia dos pais, almoço em família, domingo corrido; só às sete horas da noite foi que pude assistir missa aqui perto de casa. Tenho o grave defeito de esquecer com excessiva leviandade as más experiências do passado; sempre que vou à referida missa, arrependo-me amargamente. Não que a Liturgia em si seja tão mal celebrada, não que o sacerdote seja um fervoroso adepto da Teologia da Libertação nem nada disso; o problema é que, uma vez que se toma consciência da grandeza da Santa Missa, sofre-se em demasia com pequenas coisas que, em outras épocas, passariam despercebidas. Minha excessiva sensibilidade faz com que nem todos os ambientes propiciem-me a piedade necessária para a assistência frutuosa do Santo Sacrifício. É doloroso, mas é assim que sou.

Incomoda-me o excessivo número de acólitos (e acólitas…) no altar, a música do violão em ritmo dançante, a homilia demasiado longa e cansativa, a feira na qual se transforma a igreja na hora da Pax Domini; e, ao final de tudo isso, o absurdo tempo gasto entre a postcommunio e a bênção final clama aos Céus vingança!

Avisos – tudo bem. Prestação de contas do mês anterior – fora de lugar, mas vá lá. Homenagem pelo dia dos pais – aceite-se. Mas a homenagem tinha que ser um sorteio de lembrancinhas entre os pais presentes, cinco ou seis prêmios, com o padre chamando os números lá do altar e os felizardos, desleixadamente, subindo o presbitério – sob uma chuva de aplausos – para receber o seu brinde? Após todos os sorteios (uns bons dez minutos), uma senhora subiu ao ambão para recitar uma homenagem aos pais. Após, o violeiro começou a fazer a sua própria homenagem: “esses seus cabelos brancos – bonitos; esse seu olhar cansado – profundo”… Engraçado: neste exato momento, uma senhora – de cabelos brancos bonitos e olhar mais cansado do que o normal com a demora da bênção final – levantou-se e saiu da igreja…

Enquanto a música tocava, aconteceu algo espetacular: um bêbado andrajoso entrou na igreja. O cheiro de cachaça era perceptível à distância. Molhou o dedo na água benta, fez uma demorada genuflexão (era notório o esforço despendido neste movimento) e um sinal da cruz lutando contra a ausência de coordenação motora. Levantou-se, apoiando-se no chão, voltou à porta da igreja e fez mais uma genuflexão antes de sair. Algumas pessoas olhavam para ele em tom de censura; eu, ao contrário, olhava-o admirado.

Devem ter percebido, porque não chegaram junto de mim para fazer nenhum comentário depreciativo. A resposta estava na ponta da língua: o bêbado era mais santo do que a maior parte dos que lá estavam (eu próprio, reclamando interiormente pela maçante sucessão de homenagens, em primeiro lugar desta lista): no meio da bagunça mundana dos sorteios e músicas profanas, o bêbado viu que estava na casa de Deus. Enquanto algumas pessoas passavam displicentemente de um lado a outro do altar, o bêbado fazia uma genuflexão profunda (e, no caso dele, o movimento era particularmente difícil!). Enquanto as pessoas conversavam e murmuravam, ele rezava. Quando todos pareciam esquecer o lugar onde se encontravam e o evento que presenciavam, o bêbado entrou na igreja para lembrá-los diante de Quem estavam e como deveriam se portar. Deu o melhor exemplo católico da noite! E não era o Evangelho do dia, mas me veio inevitavelmente à memória: “os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21, 31b)…

Dois pronunciamentos papais

Queridos jovens, vós sois o futuro da Europa. Imersos nestes anos de estudo no mundo do conhecimento, sois chamados a investir os vossos melhores recursos, não apenas intelectuais, para consolidar as vossas personalidades e contribuir para o bem comum. Trabalhar pelo desenvolvimento do conhecimento é a vocação específica da universidade, e exige qualidades morais e espirituais cada vez mais elevadas, diante da vastidão e da complexidade do saber que a humanidade tem à sua disposição. A nova síntese cultural, que nesta época está a ser elaborada na Europa e no mundo globalizado, tem necessidade da contribuição de intelectuais capazes de repropor nas aulas académicas o discurso sobre Deus, ou melhor, de fazer renascer aquele desejo do homem de se pôr à procura de Deus — quaerere Deum — ao qual me referi noutras ocasiões.

[Bento XVI aos universitários do primeiro encontro europeu de estudantes universitários]

* * *

Para quem vem rezar nesta Capela, e em primeiro lugar para o Papa, Pedro e Paulo tornam-se mestres de fé. Com o seu testemunho, convidam a descer às profundezas, a meditar em silêncio o mistério da Cruz, que acompanha a Igreja até ao fim dos tempos, e a acolher a luz da fé, graças à qual a Comunidade apostólica pode estender até aos confins da terra a acção missionária e evangelizadora que Cristo ressuscitado lhe confiou. Aqui não se fazem solenes celebrações com o povo. Aqui, o Sucessor de Pedro e os seus colaboradores meditam em silêncio e adoram Cristo vivo, presente de maneira especial no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

A Eucaristia é o sacramento no qual se concentra toda a obra da Redenção: em Jesus-Eucaristia, podemos contemplar a transformação da morte em vida, da violência em amor.

[Bento XVI na reabertura da Capela Paulina]

Selo Dom José de Ortodoxia Católica

selo_dom_joseO Deus lo Vult! foi contemplado, pelo Veritatis Splendor, com o selo Dom José de Ortodoxia Católica, prêmio recém-criado e concedido “aos blogs católicos que se destacarem na defesa da fé católica, não abrindo mão de o fazer mesmo em face de críticas, etc”. A idéia do Veritatis, conforme expressa no post acima linkado, é promover uma “rede de ortodoxia” na blogosfera católica.

O prêmio não é “transmissível”.  Indicações de blogs merecedores da premiação podem ser enviadas ao VS, que trimestralmente as avaliará e elegerá três blogs aos quais será concedido o selo. Para evitar a replicação indiscriminada do prêmio, o VS publicará periodicamente a lista de todos os blogs premiados.

Quanto a mim, fico muitíssimo feliz com a indicação, por dois motivos. Primeiro, porque considero a escolha do nome do selo felicíssima, uma vez que tive a grande graça de ser – ao longo de virtualmente toda a minha vida – súdito de S.E.R. Dom José Cardoso Sobrinho, tendo a íntima convicção de que, nesta Terra de Santa Cruz, o nome de Sua Excelência é o que mais perfeitamente evoca a idéia de ortodoxia católica. E, segundo, porque é uma grande alegria poder receber o reconhecimento de um apostolado do calibre do Veritatis Splendor, muito maior em anos, em alcance, em número de membros, em comprometimento e em envergadura intelectual do que o Deus lo Vult!.

Espero que esta iniciativa possa servir para fazer com que um número cada vez maior de católicos possa se esforçar na busca da Verdade, no conhecimento do ensino da Igreja e na divulgação da Sã Doutrina Católica. Rogo a Deus que esta rede de ortodoxia possa crescer cada vez mais – atualmente, somos o Wagner, o Gustavo e eu -, e os católicos possam ser cada vez mais conscientes da Fé que professam, ad majorem Dei Gloriam.

Saudades dos pais de outrora

Especial do Diário de Pernambuco: O novo pai. Cinco histórias diferentes: “Pai até debaixo d’água”, “De malas prontas para ser pai”, “Pais com orgulho e sem preconceito”, “Nove meses de espera” e “Os seus, os meus, os nossos filhos”. Só a primeira é que pode ser classificada como um bom exemplo; as demais, são anti-exemplos. Um pai separado na segunda história, duas duplas de homossexuais na terceira e na quarta, um adultério na quinta.

Famílias separadas, famílias misturadas, “famílias” que nem são famílias: é isto que a sociedade atual louva como sendo sinal de progresso e de modernidade! É bonito o sr. João Guilherme mudar-se para São Paulo para ficar perto da filha? Sem dúvidas, é louvável; mas por qual motivo ele abandonou a esposa e a filha? Lembro-me de Gustavo Corção, em seu livro Claro Escuro, falar sobre o divórcio e os filhos nos seguintes termos, duros, mas sinceros (cito de memória e não ipsis litteris): “dizem que um casal que se divorcia está disposto a qualquer coisa para o bem dos filhos. É mentira. Eles estão dispostos a tudo, menos a ficar juntos pelo bem dos filhos”.

O bem dos filhos, jogado às favas nesta avidez de novidades! É bonito ver o amor da jovem Mara pelo sr. Arruda, atual companheiro de sua mãe? Sim, é. Mas vejam o que diz a menina: “Meu pai biológico viaja muito e ele [Arruda] meio que ocupa este espaço e faz a saudade diminuir”. O que passa pela cabeça de um pai, para deixar o seu espaço no seio familiar ser ocupado por um estranho? Com quais valores crescem estas crianças?

No entanto, se tudo isso já é ruim, as histórias dos “pais” homossexuais são péssimas. “Há sete anos, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) concedeu pela primeira vez a um homem solteiro o direito de adotar uma criança”, diz a terceira história. Este homem “solteiro” vivia – e vive até hoje – com outro homem. E o que diz a criança, hoje com sete anos de idade? “Amo meu pai. Ele é a minha paixão. Ele é carinhoso, brinca comigo, joga bola de gude. Ele me ama, e meu outro pai também me ama”.

Não há nomes nos “pais” da quarta história. Só os fatos: “Juntos há cinco anos e casados há dois (?!), eles sempre sonharam em ter um filho”. Conseguiram, numa “adoção à brasileira” (as aspas são da matéria), uma menina. E ela já fala: “A primeira vez que ela falou ‘papai’, há um mês, foi emocionante. Um é pai outro é papai”…

Caricaturas de famílias: é onde muitas crianças estão crescendo e sendo educadas, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Utilizadas como cobaias de experimentos sociais contrários à Lei Natural. E aplaudidos pela cupidez de coisas novas da sociedade que se esqueceu de Deus. Saudades dos homens viris, dos chefes de família, cabeças do lar. Saudades dos pais de antigamente, dos pais que eram – de fato e de direito – pais. Que Deus tenha piedade de nós. E que olhe com particular cuidado por estas crianças, que não têm culpa de serem cobaias das experiências loucas de um mundo sem Deus.

Não importunem os ateus!

Acho que eu já disse aqui outras vezes que é melhor ler besteiras do que ser analfabeto – parafraseando o antigo ditado, segundo o qual é melhor ouvir besteiras do que ser surdo. Por isso, nem reclamo mais (tanto) quando me cai aos olhos uma bobagem do calibre deste texto do sr. Claudio Weber Abramo sobre o direito de não ser importunado.

Trata-se de uma infantil reclamação sobre manifestações religiosas em estádios de futebol, que descamba para a já conhecida intolerância do ateísmo militante. O senhor Abramo não quer ser importunado. Por qual motivo, então, ele importuna os outros despejando lixo na internet? “Um ateu que viva num ambiente repleto de evocações a seres incorpóreos, influências etéreas e exortações à ‘espiritualidade’ não pode deixar de indignar-se com a coisa toda”, diz o articulista. Por que ele não vai à China? Lá deve ser o paraíso dos ateus. Ou o que ele quer é transformar o Brasil em uma ditadura atéia onde ele possa viver sem ser importunado? Mas, aí, os cristãos ficariam incomodados… por qual fantástico motivo estes últimos poderiam ser importunados e ele não?

Por qual motivo as manifestações religiosas dos não-ateus incomodam tanto os – assim intitulados – “livres-pensadores”? Em um artigo do João Pereira Coutinho citado aqui ontem, o português dizia: “Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis”. Cai como uma luva para os ateus: existem pessoas que não acreditam em Deus, e existem aquelas que não acreditam e não querem que os outros acreditem. As primeiras, infelizes e, as segundas, miseráveis. O autor do texto ora citado parece pertencer à segunda categoria.

A justificativa dele para a sua posição? “O que está em jogo no caso da propaganda religiosa é o interesse coletivo. Interessa ao coletivo a disseminação de crenças em seres incorpóreos, influências etéreas e assim por diante?”. Ah, então tá. Como muito argutamente notou alguém numa lista de emails, se amanhã o sr. Abramo decidir que eu não existo, os meus amigos ficam ipso facto proibidos de falar em público de mim, porque não interessa ao coletivo. Não sei qual a razão do articulista achar que ele próprio é de interesse público.

Mas o manancial de bobagens parece inesgotável! Chega a ser frustrante ler que “[i]nteiras bibliotecas foram escritas para demonstrar que religião não é uma boa coisa (…) em particular[,] a ofensa que religiões representam à racionalidade, portanto à compreensão do mundo, portanto à capacidade de alterar o mundo”. As duas primeiras ofensas – à racionalidade e à compreensão do mundo – só podem ser uma piada de péssimo gosto. Tal sentença é, ela própria, uma ofensa à racionalidade. A terceira – ofensa à capacidade de alterar o mundo – pode ser verdadeira e talvez revele, afinal, o motivo profundo do ódio do articulista. Talvez ele esteja insatisfeito com o mundo que existe e deseje “alterá-lo”. Como na antiga União Soviética, quiçá. Só que está historicamente comprovado que o mundo inventado pelos sem-Deus não é bonito. Será que deveríamos repetir os mesmos erros de outora, somente para que o senhor Abramo não seja importunado?

Leitura fortemente correlata: A intolerância dos tolerantes! Ou: derrubem o Cristo Redentor e ponham Descartes no lugar.

Homenagem a Dom José – discurso

[Pronunciamento do reverendíssimo padre Nildo Leal de Sá, pároco da Imbiribeira, ao final da missa de encerramento da festa de São Cristóvão presidida por Sua Excelência Reverendíssima Dom José Cardoso Sobrinho, às 19 horas do último sábado, 1º de agosto de 2009.

Publicação original: Exsurge, Domine!

Texto revisado em 07 de agosto de 2009]

Bonum certamen certavi,
cursum consumavi,
fidem servavi”

– Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé – (2 Tm 4,6)

Excelência Reverendíssima,

Ao se encerrar solenemente a festa de São Cristóvão, co-padroeiro desta paróquia da Imbiribeira, nesta Santa Missa na qual se renovou, de forma incruenta, o Sacrifício Redentor da Cruz, quero, em meu próprio nome e no de todos os meus paroquianos, prestar a V. Excia. um fervoroso preito de gratidão, devoção filial e afeto, não só pelo fato de V. Excia. ter vindo celebrar a Divina Liturgia nesta festa patronal, mas, também, por ser esta uma celebração de despedida, tendo em vista que, dentro de duas semanas, V. Excia. estará entregando ao seu sucessor a cura pastoral desta Arquidiocese.

As palavras do Apóstolo, há pouco citadas, parecem-me descrever um perfeito retrato destes mais de 24 anos em que V. Excia. esteve à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife.

I. “Bonum certamen certavi…”

De fato, quantas batalhas foram travadas ao longo desses anos…. Quantos ataques, injúrias e calúnias a V. Excia. Mas se tratou de um bom combate: o combate pela fé verdadeira, o combate para preservar os bons costumes, para formar um bom clero, para confirmar a todos na fé apostólica, para manter a unidade e a comunhão afetiva e efetiva com o Santo Padre, o Papa, Vigário de Cristo na terra. Em poucas palavras, o bom combate para guardar a fé católica, a fé da nossa Santa Igreja, sem a qual ninguém pode agradar a Deus e se salvar!

Foi, certamente, um duro combate, mas frutuoso, porque ajudou-nos a todos a entender que, acima de tudo, o bispo, como pastor, deve buscar sempre cumprir a lei suprema da Igreja, que é a salvação das almas, ainda que isto implique incompreensões,   desafetos, perseguições. V. Excia. ensinou-nos que não se pode fugir à luta, porque os cristãos, e sobretudo os sacerdotes, são, ontologicamente, outros Cristos, que lutam, que combatem para salvar-se e salvar os outros da tirania do demônio e do pecado e alcançar o céu.

Creio que as palavras ditas por Nosso Senhor, na noite da Quinta-feira Santa, dirigidas especialmente àqueles a quem Ele acabara de ordenar como os primeiros sacerdotes, foram de consolação para V. Excia nos momentos mais difíceis de sua espinhosa missão: “No mundo tereis muitas tribulações. Mas tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

“Ego vici mundum”… Sim, V. Excia. sai vitorioso como o Cristo Crucificado, como São Cristóvão, como os Santos Apóstolos e os mártires de todos os tempos, como o seu mais ilustre predecessor no sólio olindense, o glorioso Dom Vital. Aos olhos do mundo parecem ter sido derrotados, mas empunham a palma da vitória.

II. “Cursum consumavi…”

Dom José, V. Excia. encerra a missão como Pastor desta Igreja Particular. Parte para um merecido repouso. Deixará saudades e frutos que, certamente, serão saboreados ainda daqui há muitos anos. Creio que esta nova etapa na vida de V. Excia. ainda será de grande proveito para muitos, por muito tempo. V. Excia. deixa de ser o Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, mas continuará a ser padre e bispo, “in aeternum”. A nossa paróquia lhe agradece pela especial atenção dedicada a ela, ao criá-la há quase onze anos, e ao estar sempre presente conosco ao longo de todos esses anos, e deseja-lhe muitas felicidades.

III. “Fidem servavi”

Excelência, “in obsequio Iesu Christi” (em obediência a Jesus Cristo) e por causa dessa obediência, a chama da fé resplandece na sua alma apostólica e ilumina a todos nós. Não é exagero de retórica: no céu, V. Excia. terá, certamente, um lugar privilegiado no coro dos confessores da fé  e dos mártires. Espontaneamente, vêm-me à mente as palavras de Nosso Senhor a São Pedro: “Simão, Simão, Satanás te pediu para joeirar-te como o trigo. Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça”. (Lc 22,31-32).

As portas do inferno se escancararam contra V. Excia., de todos os lados, mas encontraram uma casa, ou melhor, uma fortaleza construída na rocha. A sua fé brilha, invicta. “Vicit Leo de Tribu Iuda”: Venceu o Leão da tribo de Judá. A vitória foi alcançada. V. Excia. guardou a fé, e essa fé venceu os seus inimigos, os inimigos de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Sua Santa Igreja Católica.

Parabéns e obrigado, Dom José, amado pai e pastor!

Recife, 10 de agosto de 2009

Recomendações

Dois grandes amigos meus publicaram recentemente livros pelo Clube de Autores. São pessoas que a maior parte dos meus leitores deve conhecer – o Rafael Vitola Brodbeck e o Taiguara Fernandes de Sousa, ambos do Veritatis Splendor – e que dispensam maiores apresentações. Gostaria de escrever uma resenha sobre os livros para apresentá-los, mas a escassez de tempo mo impede, infelizmente. Mas adianto a recomendação: cliquem nas capas dos livros para os adquirir.

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