Anglicanorum Coetibus

Saiu a esperada Constituição Apostólica que estabelece as normas jurídicas sobre as quais está edificado o retorno da Comunhão Anglicana Tradicional à Igreja de Nosso Senhor. Anglicanorum Coetibus é o nome do documento. Veio em “duas partes”: a constituição em si e um conjunto de normas complementares.

O original dos textos pode ser encontrado no site do Vaticano:

Apostolic Constitution Anglicanorum coetibus providing for Personal Ordinariates for Anglicans Entering into Full Communion with the Catholic Church, Benedict XVI.

Complementary Norms for the Apostolic Constitution Anglicanorum coetibus.

O pe. Clécio, do Oblatvs, fez o grande favor de traduzi-los para o português. Que a Virgem Santíssima continua a abençoá-lo. Os textos traduzidos estão disponíveis nos seguintes links:

Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus

Normas Complementares à Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus

Detalhes: o documento foi publicado hoje,  Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, “mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade de Roma e de toda a terra”, e foi assinado “em 4 de novembro de 2009, Memória de São Carlos Borromeu”…

Vale a pena ler também: Interpretação autorizada da CA “Anglicanorum coetibus” do Padre Ghirlanda.

Sobre o Limbo

A existência do limbo das crianças não é dogma de Fé. No entanto, tampouco é uma doutrina descartável, ou uma hipótese medieval caduca, ou uma conclusão teológica equivocada que já não se justifica nos nossos tempos: em minha opinião, o limbo é simplesmente a resposta teológica mais coerente com a Revelação, e talvez a única a respeitar completamente a – agora, sim, dogma de Fé – necessidade do Batismo para a salvação.

A Comissão Teológica Internacional pensa diferente. Há um (já antigo, possui mais de dois anos) documento extenso dela que se propõe a defender a esperança para as crianças mortas sem o Batismo; em minha opinião, um dos piores textos produzidos por esta Comissão e um exemplo do deplorável nível teológico ao qual chegamos nos nossos dias.

O texto não é ruim por ser escrito “às pressas”, nem por ser um texto curto, nem [somente] por considerar apenas algumas poucas partes do problema: na verdade, o que faz o texto ser péssimo é precisamente o fato dele falar, falar, falar e não oferecer nenhuma resposta satisfatória, nenhum novo aprofundamento da questão que tenha um mínimo de embasamento teológico sério e, não obstante, passar a clara impressão de que o Limbo não existe mesmo e as crianças mortas sem Batismo vão direito para o Céu, gozar da eterna companhia d’Aquele que disse “deixai vir a Mim as criancinhas”.

O documento não diz isso expressamente. Ao contrário, afirma em sua introdução que seu objetivo é “motivar la esperanza de que los niños muertos sin Bautismo puedan ser salvados e introducidos en la felicidad eterna”. As palavras são bem escolhidas: “esperança” não é certeza, e “potência” [= ‘puedan ser salvados’] não é necessidade. No entanto, ao final da leitura, a conclusão à qual se chega é, sim, que há “poderosas razones para esperar que Dios salvará a estos niños”: as bem escolhidas palavras da introdução desaparecem na conclusão. É uma pena.

O que se pode falar sobre o Limbo? A Permanência tem dois textos: “O Magistério Desprezado” e “O Limbo”. É o oposto do documento da CTI: a impressão passada é a de que o Limbo existe mesmo e quem não o professa expressamente é um herege. Contra os arroubos de extremismo, é importante repetir que não é dogma de Fé; no entanto, se for para comparar somente os textos da CTI e da Permanência, é óbvio que os tupiniquins são incomparavelmente melhores. Com a clareza que tanto faz falta na teologia contemporânea:

Sobre o destino dessas crianças mortas sem Batismo existem: 1) o ensinamento claro da Sagrada Escritura: “Ninguém pode entrar no Reino de Deus se não renascer da água e do Espírito Santo” (Jo 3, 5); 2) o ensinamento unânime dos Padres (Tradição) sobre a necessidade absoluta do Batismo para salvar-se. Pelágio e seus discípulos que, ao negar a transmissão do pecado original e suas conseqüências, negaram também essas verdades, foram condenados pelo Concílio de Mileto (416) e em seguida pelo Concílio de Cartago (1418), ambos aprovados pelo Papa: “Se alguém diz que as palavras do Senhor: ‘Há várias moradas na casa de meu Pai’ devem ser entendidas no sentido de que no reino dos céus há um certo lugar intermediário ou que existe um lugar qualquer onde vivem felizes as crianças mortas sem Batismo, sem o qual elas não podem entrar no reino dos céus que é a vida eterna, que seja anátema” (Denz. 102 nota 4).

Na minha opinião, só faz sentido questionar a existência do Limbo se se for capaz de oferecer uma resposta teológica adequada à necessidade absoluta do Batismo para a salvação: sentimentalismos infantis do tipo “Deus quer salvar a todos” não valem. Ainda na minha opinião, é muito mais interessante fazer questionamentos sobre a natureza do Limbo.

Por exemplo, como eu conversava há pouco com um amigo: o Limbo é eterno? Caso seja, ele fica no Céu ou no Inferno? Ou existe alguma outra realidade eterna além do Céu e do Inferno? Caso não seja eterno, o que vai acontecer com ele após o Juízo Final? Se ele é eterno e fica no Céu, é possível haver Céu sem visão beatífica? Se ele é eterno e fica no Inferno, é possível haver felicidade natural plena no Inferno?

Ou ainda: as crianças que morreram antes da Vida de Cristo, foram para onde? Para o Limbus Patrum, ou não? Quando Nosso Senhor desceu aos Infernos, levou-as para o Céu junto com os Patriarcas? Ou jogou-as no Inferno? Ou colocou-as no Limbus Infantum recém-inaugurado?

São muitas perguntas cujas respostas eu sinceramente não sei. Talvez os teólogos modernos tenham preferido furtar-se a respondê-las, e fizeram isso varrendo convenientemente o Limbo para debaixo do tapete, já que não é dogma de Fé. O que eles esquecem, no entanto, é que ninguém propôs o Limbo por estar entediado sem nada para fazer. Ao contrário, o Limbo foi proposto como uma tentativa de solução para o problema real e inquestionável da necessidade do Batismo para a salvação: se querem esquecer o limbo, que se debrucem sobre o problema que o motivou! O que não se pode aceitar é que a descrença no limbo termine por provocar – como naturalmente provoca, postas as coisas como foram – uma descrença na necessidade de se batizar. O que não se pode aceitar – e que infelizmente acontece – é que relativizem a importância do Batismo, ao desconsiderarem o Limbo das Crianças.

Senado quer a opinião dos brasileiros sobre o PLC 122/2006

Divulgando, conforme recebi por email. É importante oferecer resistência à ditadura da minoria; é importante que não seja concedido amparo legal à perseguição da Gaystapo.

* * *

O Senado está querendo saber a opinião dos brasileiros sobre o PLC 122 (que castiga toda opinião contrária ao homossexualismo), perguntando se você é a favor ou contra esse projeto. Para votar, vá à enquete deste link:

http://www.senado.gov.br/agencia/default.aspx?mob=0

Os ativistas homossexuais estão votando em massa no “sim”. Ajude a reverter o placar, votando “não” à ditadura gay.

Mobilize-se já! Avise seus amigos e igreja.

Divulgação – V Jornada Tomista de Pernambuco

V JORNADA TOMISTA DE PERNAMBUCO

Recife, 04, 05 e 06 de Novembro de 2009

TEMA

“TOMÁS DE AQUINO E A MÍSTICA MEDIEVAL”

ATIVIDADES

Conferência de Abertura: Prof. Dr. Paulo Faitanin (Univ. Federal Fluminense): “A hierarquia celeste: iniciação à doutrina dos anjos de São Tomás de Aquino”.

ATIVIDADES DAS NOITES

Quarta-feira (04/11):  Conferência –  das 19h às 22h – Auditório do CIRCAPE – Rua do Riachuelo, 105, 10o andar

–   Prof. Dr. Paulo Faitanin  – Univ. Federal Fluminense: “A hierarquia celeste: iniciação à doutrina dos anjos de Santo Tomás de Aquino”.

Quinta-feira (05/11): Comunicações – das 19h às 22h – Auditório do CTCH – 1o Andar – Bloco B – UNICAP

–    Prof. Dr. Ivanaldo Santos – UERN: “O tomismo analítico”.

–    MSc. Nalfran Modesto Benvinda – Doutorando em Filosofia – UFPB/UFPE/UFRN: “As qualidades requeridas na oração a partir do Comentário ao Pai Nosso de Santo Tomás”.

–  Ricardo Evangelista Brandão – Mestrando pela UFPB ; Prof. Dr. Marcos Nunes – UNICAP/INSAF: “Há possibilidade das paixões do corpo afetarem a alma, segundo Santo Agostinho?”

Sexta-feira (06/11):  Comunicações – das 19h às 22h – Auditório do Bloco D – 1o andar  – UNICAP

–    Prof. Dr. Witold Skwara – UFPE: “O tempo qualitativo em Santo Agostinho e o tempo quantitativo em Tomás de Aquino”.

–    Jair Lima dos Santos – Curso de Direito – PIBIC/UNICAP ; Prof. Dr. Marcos Nunes – UNICAP/INSAF: “A Lei Natural em Tomás de Aquino e sua Repercussão na Doutrina Política de Marsílio de Pádua”.

–   Carlos Alberto Pinheiro Vieira – Mestrando em Ciências da Religião – UNICAP; Prof. Dr. Marcos Nunes – UNICAP/INSAF: “O amor como fundamento da ordem social em Santo Agostinho”.

ATIVIDADE DAS TARDES

Quarta a sexta feira (04, 05, 06/11):  minicurso – das 14h às 17h – Sala 005 – Térreo – Bloco G4 – UNICAP

– Prof. Dr. Paulo Faitanin  (Univ. Federal Fluminense): “O único necessário: iniciação à ascética e mística de Santo Tomás de Aquino”

INSCRIÇÕES

(na Secretaria do CTCH – 1o Andar – Bloco B – UNICAP)

Inscrições de Comunicações

As inscrições para apresentação de comunicações (30minutos cada, incluindo debate), vão até o dia 25.10.2009. Para tal, enviar título de trabalho e resumo (com, no máximo, 200 palavras acompanhadas de 3 a 5 palavras-chave) para o seguinte endereço eletrônico: marcos@unicap.br

Inscrições de Ouvintes

(A partir de 19.10.2009, na Secretaria do CTCH – 1º andar – Bloco B – UNICAP)

Para as atividades das noites serão fornecidos Certificados gratuitos a quem tiver freqüência de, pelo menos, 75%

Para emissão do Certificado do Minicurso da Tarde será cobrada uma taxa de R$ 20,00.

Coordenação:

Prof. Dr. Marcos Costa – UNICAP/INSAF e Prof. Dr. Elcias da Costa – Presidente do Instituto Tomista

Realização:

Instituto de Pesquisa Filosófica Santo Tomás de Aquino/CIRCAPE – INSAF – UNICAP

Resposta da Pastoral da AIDS

[Recebi hoje uma resposta do “Assessor Pastoral da AIDS” ao email “sobre moral sexual e campanha contra a AIDS”, que publiquei aqui, e havia também enviado uma cópia para a supracitada Pastoral. Reproduzo-o abaixo na íntegra.

Data venia, não convence. Ele não o afirma com todas as letras, mas deixa claramente entrever que a “informação clara, completa e oportuna” à qual se refere inclui, sim, o incentivo e/ou apoio, ainda que indireto, ao uso dos preservativos. Perguntei-lhe se ele possuía algum material utilizado pela Pastoral para divulgação; caso receba alguma resposta, publicá-la-ei aqui.

Lembro-me das minhas conversas sobre casuística com um sacerdote zeloso meu amigo. “Padre, se eu tenho um amigo não-católico, que vai sair esta noite para o motel com a namorada, e que a forçaria a abortar caso ela engravidasse, eu posso dar-lhe um pacote de camisinhas?”; “Não”. A consulta foi casual, e não sei se há casos equivalentes nos manuais de teologia moral ou nos documentos da Pro Doctrina Fidei, mas a resposta pareceu-me extremamente razoável. Dúvida: o mesmo vale para o caso de contágio com AIDS? IMMO, sim; mas há algum parecer mais abalizado do que o meu?]

Paz e Bem!

Prezado Jorge,

Segue alguns pontos de esclarecimento sobre seus questionamentos das declarações na imprensa sobre a Pastoral da Aids.

1. O discurso da Pastoral da DST/AIDS da CNBB segue o discurso católico, ou é “mais moderado” do que este?

A Pastoral da Aids é um serviço da igreja Católica que atua em sintonia com a CNBB, pois tem como Presidente Dom Eugênio Rixem, e trabalha em respeitando e planejando suas ações de acordo com as diretrizes e definições das dioceses locais. Creio que o discurso e a prática da Pastoral segue a mesma linha evangélica e profetica das diretrizez da CNBB e dos documentos dos bispos elaborados em Aparecida.

“Consideramos de grande prioridade fomentar uma pastoral com pessoas que vivem com HIV/aids, em seu amplo contexto e em seus significados pastorais: que promova o acompanhamento integral, misericordioso e a defesa dos direitos das pessoas infectadas; que implemente a informação, promova a educação e a prevenção, com critérios éticos, principalmente entre as novas gerações, para que desperte a consciência de todos para o controle desta pandemia. Desde a V Conferencia pedimos aos governos o acesso universal dos medicamentos para a aids nas doses necessárias” (DA 421).

2. Caso seja “mais moderado”, é moralmente lícito incentivar (ainda que indiretamente) o uso do preservativo como um “mal menor” no combate à AIDS?

A Pastoral da Aids e o contexto de onde o senhor teve as dúvidas é um contexto e uma discussão de resposta a uma epidemia que passa por via sexual, está no campo de uma doença sexualmente transmissível. Nós atingimos pessoas cristãs, católicas e não católicas, por isso a Pastoral procura em seu trabalho oferecer “informação clara, completa e oportuna” conforme orientou Nosso Papa João Paulo II em documento específico.

3. Ainda, caso seja “mais moderado”, é lícito a um organismo ligado à CNBB ser “mais moderado” do que a Igreja à qual ele, supostamente, serve?

Caro Jorge, o esforço feito pelos cristãos agentes da Pastoral da Aids neste grande desafio de seguir os ensinamentos de Jesus de acolher, ser misericordioso e defender a vida onde ela esteja mais ameaçada é muito grande. Há em todo o agente Pastoral um grande amor a Jesus, um forte respeito a Igreja e um amor misericordioso com o sofrimento e a dor das pessoas. São profetas que agem seguindo fielmente o chamado de Jesus e mantendo a comunhão com a Igreja.

4. Caso as supracitadas informações sejam falsas e a Pastoral da DST/AIDS esteja em perfeita sintonia com o ensino moral da Igreja Católica, a CNBB não vai publicar uma nota desmentindo as informações que estão sendo veiculadas na mídia secular?

Prezado irmão, concordamos com teu pensamento, porém sabemos que parte da mídia tem interesse em polêmicas para que possa vender e de que nada vai mudar pois o motivo das materias é exatamente para criar polêmica, confundir e na maioria das vezes impedir que as pessoas vejam os gestos e trabalho maravilhoso que a Igreja está fazendo a partir dos agentes das Pastorais. É melhor gastar tempo com o trabalho prático e deixar que Deus cuide do resto. Ele sabe o que realmente acontece e seguramente dará força para que como Igreja saibamos continuar corajosos na nossa missão de acolher e acompanhar o doente que sofre.

Cordialmente

Frei Lunardi

Feminismo agressivo e conversão de abortista

Católicos ao redor das igrejas para evitar possíveis ataques; feministas com os seios de fora, jogando garrafas e cuspindo nos cristãos. Foi assim na Argentina, no XXIV Encontro Nacional de Mulheres, que teve lugar em Tucumán entre os dias 10 e 12 de outubro p.p.

Os católicos lá estavam, como no ano passado em Neuquén: “La única voz que se oyó fue la de los católicos rezando mientras [las manifestantes] les interpelaban con blasfemias y provocaciones”. Que a Virgem os recompense.

Enquanto isso, NOTÍCIA MUITO IMPORTANTE: ex-diretora da Planned Parenthood abandona os abortos e se converte em militante pró-vida. “Com receio da repercussão da mudança de Abby, a Planned Parenthood entrou na justiça para garantir que o sigilo de clientes e profissionais da indústria do aborto não sejam prejudicados pelas manifestações das quais Abby possa participar”. Graças a Deus, engrossam as fileiras dos ex-abortistas. Graças a Deus, cada vez mais as pessoas percebem o absurdo que é a defesa do assassinato de crianças inocentes.

Homilia do Dia de Todos os Santos – pe. Antoine, LC

Existe, de facto, uma coragem própria da santidade que é muito mais profunda e radical que as “coragens” do mundo que povoam os nossos ecrãs de televisão ou livros de história. Não todos temos os nervos, a energia interior, a estrutura física e psicológica para realizar grandes façanhas, ao modo como as pintam os livros de aventuras. Tenho um amigo que se dedica a atravessar em solitário o oceano Atlântico. Contou-me todos os sacrifícios que tinha que realizar durante a travessia, contou-me as vezes em que se encontrou entre ondas colossais e conseguiu manter a calma necessária para uma luta de horas contra os elementos… Pensei: “isso não é para mim!”

Mas todos temos tudo o que é necessário para realizar a maior das façanhas: a santidade. E o que é o necessário para isso? Deus, só Deus é necessário. O sangue do Cordeiro, na qual devemos branquear as nossas túnicas. Mas da nossa parte, não é necessário algo? Sim, algo básico e elementar. Aceitar um caminho espiritual com Cristo, andando detrás de Ele e perseverando com Ele. Um caminho muito pessoal, intransferível, uma história única entre Deus e a alma. E onde nos leva tudo isso? A imergir-se no sangue do cordeiro, a compartilhar a experiência de Cristo. A verdadeira coragem é abandonar-se a si mesmo para se reencontrar a si mesmo infinitamente mais enriquecido em Deus.

[…]

Deus permite o crepúsculo das criaturas e dos apoios humanos e materiais, para que entendamos o que verdadeiramente conta: Ele. Cristo mostra-nos de novo como actuar quando exclama, sempre no Calvário e como resposta à sua pergunta anterior: “Pai abandono-te o meu espírito”. Ser santo é isso, é abandonar-se completamente nas mãos de Deus, é pôr nele todas as seguranças, todas as aspirações. Quando tudo parece absurdo na vida ao ponto que até o suicídio parece fazer sentido, a única resposta é o abandono. Ao mesmo tempo, é a resposta fecunda por excelência, porque quando o homem se abandona a Deus, faz entrar precisamente Deus em cena. O homem criado a imagem de Deus torna-se então uma janela transparente por onde irradia com força irresistível o Deus que o seu denso egoísmo escondia.

P. Antoine, LC

Mais textos podem ser encontrados em: Homilias e Orações

Déjà-vu

[Já havia lido, mas não me lembrava; recebi recentemente por email. Todos os grifos são meus. É engraçado como a História parece ser cíclica; e é trágico que os homens de hoje não consigam aprender com o seu passado. Alegremo-nos, no entanto, com pelo menos uma coisa: foi nestas condições que o Cristianismo resplandeceu um dia, é nestas condições que ele pode voltar a resplandecer.]

(…) Mas há algo ainda [além] do que esse deslizar da sociedade para a inércia mortal; ou melhor, há ainda outro fenômeno que anda a par deste, proveniente das mesmas causas e sobretudo do enriquecimento excessivo. A sociedade romana foi atingida na fonte viva que alimenta toda a sociedade: a família está abalada e a natalidade decresce. A mãe dos Gracos tivera doze filhos, mas nos começos do século II serão louvados como uma exceção os pais que tenham três. Evita-se o casamento; porventura a orbitas, o celibato, não traz ao rico todas as vantagens, assegurando-lhe uma fiel clientela de herdeiros expectantes? E de que poderá o celibato privar o homem, se a escravidão lhe proporciona companheiras mais dóceis que as esposas e que se podem renovar à vontade? O aborto e o abandono de crianças assumem proporções espantosas. Uma inscrição do tempo de Trajano dá-nos a conhecer que, de cento e oitenta e um recém-nascidos, cento e setenta e nove são legítimos, e destes, apenas trinta e cinco são meninas, o que prova suficientemente a facilidade com que as pessoas se desembaraçavam das meninas e dos filhos naturais. Quanto ao divórcio, tornou-se tão corrente que já não lhe procuravam sequer qualquer aparência de justificação: bastava o simples desejo de mudança. Que se poderia opor a estas forças de desagregação? Os Estados têm-se mostrado sempre incapazes de recolocar a moral nas suas verdadeiras bases, depois de a terem deixado definhar.

Os dirigentes romanos não estão inteiramente inconscientes do perigo, mas a sua boa vontade mostra-se irrisória perante o conjunto de circunstâncias que arrastam a sua sociedade para a ruína. O exemplo de Augusto é revelador. Multiplicou as leis de intenção altamente moralizadora com o fim de combater o adultério e o divórcio. Quem as tomou a sério? Nem mesmo os da sua família. Aliás, não tinha sido ele que oficializara a preguiça, fundando a prefeitura da Anona (hábito de o Estado distribuir alimentos irá estendendo-se cada vez mais. No século III, para uma população de 1.200.000 pessoas, calcula-se que não haveria menos de 100.000 chefes de família que não se valessem da Anona.), encarregada de alimentar gratuitamente o povo? Periodicamente, veremos os imperadores subsequentes reeditarem essas primeiras medidas, o que prova que foram totalmente ineficazes. Os costumes dissolutos de tantos dos seus senhores, a resignação mais ou menos altaneira com que um Cláudio ou um Marco Aurélio suportam as suas desgraças conjugais, esclarecem a plebe sobre o verdadeiro alcance das medidas legislativas. Nos começos do século III, ao tomar posse do Consulado, Dion Cássio há de encontrar, só em Roma, três mil casos de adultério inscritos no respectivos registro. Pode-se dizer que ainda existe crime, quando ele é universal ou quase universal?

Em todos os tempos e em todos os países, a substituição das tendências naturais do homem pela vontade do Estado é sempre um indício de decadência. Um povo está muito doente quando, para viver honestamente e ter filhos, necessita de prêmios ou de regulamentos. ‘Chegamos a um ponto – dizia já Tito Lívio – em que já não podemos suportar nem os nossos vícios nem os remédios que os poderiam curar’. Quatro séculos mais tarde, São Jerônimo escreverá: ‘São os nossos vícios que tornam os bárbaros tão fortes’. Já não estava nas mãos do imperador ou dos seus juristas restituir à sociedade romana as suas sadias raízes. Tornava-se necessário nada menos que uma mudança radical nos próprios fundamentos da moral e nos seus meios de ação sobre a consciência.

[Texto tirado do volume I, A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires de Daniel-Rops, ex-membro da Academia Francesa. Faleceu em 1965.]