Que soy era Immaculada Councepciou

Hoje é 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes. Uma das mais importantes aparições da Virgem Santíssima. Em Lourdes, Maria Santíssima apresentou-se a Santa Bernadette como sendo “a Imaculada Conceição” – e este, a propósito, foi um dos critérios importantes para o reconhecimento da autenticidade das aparições, uma vez que o dogma era recém-proclamado.

Falou-lhe no dialeto local – que soy era Immaculada Councepciou -, e isso é interessante. Lembro-me de ter lido, infelizmente não lembro onde, algum texto sobre os interrogatórios aos quais foi submetida a jovem Bernadette. Quando questionada sobre se a Virgem Santíssima havia lhe falado em francês, a garota retrucou com uma simplicidade celeste: “claro que não! Por acaso eu entendo francês?”.

A Virgem Santíssima falou em dialeto! Falou mistérios teológicos da mais alta importância a uma garota simples e sem cultura, mas falou-lhe na língua dela. Como não se admirar diante desta Mulher para a qual as barreiras culturais e sociais não significam absolutamente nada? É nossa Mãe, e fala-nos na língua materna. N’Ela, podemos confiar.

Mas falou em dialeto sobre o dogma recém-proclamado. Falando em Lourdes, apontava para Roma. Não Se preocupou com o fato de que Santa Bernadette não entenderia nada; falou-lhe, mesmo assim. Ao contrário do que apregoam muitos dos nossos dias, Ela não Se limitou aos estreitos horizontes da vila no sul da França na qual vivia uma pobre garota. Foi até Bernadette, mas não para mantê-la no mundo; ao contrário, para afastá-la do mundo. Revelou-lhe mistérios profundos. Ordenou penitências rigorosas. Transformou a jovem em uma santa.

Descer até o mundo para elevá-lo – como não pensar no Mistério da Encarnação diante disso? Tornar-Se humano para tornar-nos partícipes da natureza divina, é o que fez Nosso Senhor. E gosto de ver uma paráfrase disso, em Lourdes, como se a própria aparição fosse uma figura do mistério da Redenção, onde o dialeto vulgar usado como “receptáculo” para a expressão do dogma faz as vezes do mundo decaído que recebe a graça do Onipotente.

E é isso o que Ele faz todos os dias com nossas fraquezas: vem até elas, vem-nos apesar delas, mas não para manter-nos nelas. O mundo que foi visitado pelo Onipotente não continuou o mesmo; a jovem de Lourdes que foi visitada pela Virgem não continuou a mesma. Que Ela nos visite também a nós. Falando-nos em dialeto, falando-nos com nossas limitações e apesar delas, mas conduzindo-nos para além delas. Para o alto, para o dogma, para a Fé, sem a qual é impossível agradar a Deus. Que a Virgem Imaculada, particularmente na Sua festa hoje comemorada em toda a Igreja, possa interceder por nós.

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Ver também:

Lourdes Medical Bureau, a equipe médica oficial do Santuário de Lourdes responsável por averiguar as curas miraculosas que lá acontecem.

El mensaje de Lourdes, um texto em espanhol com um resumo das aparições.

– A história de todas as aparições no site da Associação Devotos de Fátima.

As aparições de Lourdes e a mediação universal de Nossa Senhora, por Plínio Corrêa de Oliveira.

Curtas

As maravilhas de uma editora que se diz católica. “É simplesmente incrível como a cada dia que passa os católicos que conhecem a doutrina, a moral e a disciplina oficiais da Igreja se surpreendem com as coisas que encontram nos locais em que tais coisas deveriam ser conservadas naturalmente”. O pior é que, a cada dia, a gente se surpreende menos com essas coisas.

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– Outro exemplo: do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia! É uma revista de liturgia. E tem tanto lixo, de uma ponta a outra do artigo, que eu não sei nem o que comentar. “Nas duas celebrações ficou evidente a relação liturgia e ecologia: as duas celebrações aconteceram em espaço aberto, em contacto direto com a terra e o céu, com o sol e a lua, o ar, as estrelas, a escuridão da noite e a chuva… Os diversos elementos – cestos, vestes, vasos de argila, bombons – foram confeccionados pelas comunidades locais, em projetos de economia sustentáveis… Os textos bíblicos e as palavras (monições, orações, cantos, poemas…) que acompanharam os diversos ritos, faziam clara referência aos elementos cósmicos, ligando o memorial da páscoa de Jesus ao grito da terra, das águas e de toda criação”. Tem horas em que a vontade que dá é a de soltar um palavrão e pronto.

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Apelo aos bispos silenciosos, que [ainda] não assinaram o abaixo-assinado contra o PNDH-3. É simples e rápido. Vão lá.

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Vida: o primeiro instante. É um artigo da conceituadíssima revista de incontestável profundo valor científico, a SUPERINTERESSANTE. Quem tiver estômago para o ler e, depois, comparar com o artigo do Schwartsman que eu comentei aqui na semana retrasada, verá que é praticamente a mesma coisa. Com a diferença de que a revista da Abril publicou o lixo dela em 2005. A Folha, esperou cinco anos para reciclar a porcaria.

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O que Chávez, Zelaya e Lula têm em comum ver com Palpatine? “Atualmente, na América-Latina, observa-se um fenômeno muito peculiar, embora não inovador: utilizam-se de instrumentos democráticos para destruir as bases da democracia, enquanto os líderes se disfarçam como amigos do povo”.

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Uma homenagem ao programa nacional-socialista dos direitos humanos. É uma figura. Cliquem.

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¡Más honestidad, por favor! É de junho passado, mas eu ainda não havia lido. “[H]a de ser obvio por qué demando más honestidad en el presente debate sobre el Concilio. En vez de acusar a otros, incluso al Papa, de desear volver a un pasado anterior al Concilio, habría que aconsejar a todos estudiar sus libros y volver a examinar su posición sobre el Concilio. Porque no todo lo que fue dicho y hecho después del Concilio, fue llevado a cabo en concordancia con el mismo”.

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A situação da Igreja: uma ameaça, uma chance. De Dom Henrique, bispo auxiliar de Maceió Aracaju. “O clero e os religiosos deveriam deixar de lado as ideologias, as teorias pouco cristãs e nada católicas defendidas em tantos cursos de teologia e livros muito doutos e pouco fiéis, e serem mais atentos ao clamor do povo de Deus e aos sinais dos tempos – sinais de verdade, que estão aí para quem quiser ver, e não os inventados por uma teologia ideologizada de esquerda! Além disso, é necessário considerar que a Igreja não é nossa: é de Cristo. Ele a está conduzindo, a está purificando, a está levando onde ele sabe ser o melhor para que seu testemunho seja mais límpido, coerente e puro”.

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Secretária de Educação assina portaria que garante uso de nome social a travestis e transexuais. “Um estudo entitulado Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas, realizado pela Rede de Informação Tecnologia Latino Americana (Ritla), mostrou que a discriminação está presente entre os jovens, na rede pública de ensino do DF. Do total, 16,3% dos alunos com mais de 18 anos, não gostariam de ter homosexuais como colegas de classe. Entre estudantes que têm entre 17 e 18 anos, o índice sobe para 20,5%. Entre os mais novos, com menos de 11 anos, o índice fica em 48,7%. A pesquisa foi realizada com 9.937 estudantes, que foram ouvidos no ano de 2008 em 84 escolas das 14 Diretorias Regionais de Ensino”.

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– E, enquanto isso a Vodafone pede desculpa por mensagem homofóbica publicada por funcionário. Em inglês, com printscreen do tweet que causou a celeuma, aqui.

Exéquias de Alcides

[Divulgando, via Exsurge, Domine!.

Lembrando: a Missa de 7º Dia será celebrada na sexta-feira [12], às 19h, na Matriz da Torre.]

Fonte: UFPE

Nessa quinta-feira (11), a UFPE promove um ato público para homenagear o estudante do curso de Biomedicina da UFPE Alcides do Nascimento Lins, que morreu na madrugada do último sábado, após ser baleado em sua casa, na comunidade Vila Santa Luzia, no bairro da Torre. Às 10h, no hall do Centro de Convenções da UFPE, uma missa em memória de Alcides será celebrada pelo padre Romeu, da paróquia da Torre, da qual o aluno fazia parte.

Logo após a missa, às 11h, ocorrerá o Ato pela Vida, uma caminhada organizada pela UFPE, tendo como entidades convidadas o Hemope (onde Alcides estagiava), UFRPE, UPE, Unicap, Facepe, UNE, DCE, escolas públicas, entre outras.

A concentração da caminhada será no Centro de Convenções da UFPE, no Campus Recife. Os participantes percorrerão a Avenida dos Reitores em direção à Reitoria (sem cruzar a BR-101), passando pela Biblioteca Central, Centro de Artes e Comunicação e encerrando no mesmo local de concentração.

Em abril de 2007, a aprovação de Alcides no Vestibular da UFPE, em um curso bastante concorrido, ganhou a mídia nacional. O momento de felicidade vivido por Alcides e sua mãe, Maria Luiza, foi destacado no Programa Fantástico, da Rede Globo, que mostrou a dura realidade da família do estudante moradora de uma comunidade carente do Recife. A morte de Alcides teve repercussão nacional.

HOMENAGEM – Durante a colação de grau dos cursos do Centro de Ciências Biológicas (CCB), que ocorreu na última segunda-feira (8), o reitor Amaro Lins, a diretora do CCB, Ângela Farias, estudantes e docentes do Centro homenagearam o aluno Alcides do Nascimento Lins.

O reitor e a diretora do Centro destacaram a importância de Alcides como representante dos jovens de escola pública. Os presentes, atendendo a pedido do reitor, fizeram um minuto de aplausos em homenagem ao rapaz. “Temos que ter esperanças de que um dia tenhamos centenas de Alcides, e não apenas um, circulando pelos corredores de nossa Universidade”, comentou a professora Ângela.Os formandos de Biomedicina usaram fitas brancas no braço, simbolizando a paz.

Além do falecimento de Alcides, também foi lembrada pela professora Ângela Farias a morte de Ludmila Meireles, ex-aluna do CCB e mestranda em Tecnologia Ambiental, decorrente de acidente de carro no Complexo de Salgadinho, em Olinda. “Hoje é a missa de 7º dia de nossa ex-aluna do curso de Ciências Biológicas/Ciências Ambientais Ludmila Meireles da Silva e na madrugada desse último sábado, perdemos de forma violenta e brutal o nosso aluno do curso de Biomedicina, Alcides do Nascimento Lins, com apenas 22 anos de idade”, relatou ela.

Tristeza, por favor, vá embora…

Eu sempre achei essa propaganda genial. Sem cenas apelativas, sem músicas de péssimo gosto, sem basear-se exclusivamente em personagens famosos (a presença de Marcos Palmeira é completamente acidental), sem mensagens subversivas, sem nada. Apenas apontando uma característica do brasileiro com a qual todo mundo se identifica: a alegria, o bom humor, a capacidade de encontrar motivos para diversão até mesmo diante das adversidades.

Há quem diga que esse é um dos motivos pelo qual o país “não vai para frente”, porque os brasileiros não conseguem levar nada a sério, estão sempre sorridentes e satisfeitos com tudo e com qualquer coisa, têm a irritante mania de levar tudo na brincadeira. Eu discordo em grande parte. Sem dúvidas é necessário ter seriedade na vida. Mas a alegria, antes de ser um fator conformista de manutenção do status quo, é uma poderosa força para enfrentar as adversidades.

Chesterton termina o seu Ortodoxia falando sobre a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo. Permito-me citar os dois parágrafos completos, uma vez que o escritor inglês sem dúvidas consegue se expressar muito melhor do que eu:

A alegria, que foi a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão. E no fechamento deste caótico volume torno a abrir o estranho livrinho do qual proveio o cristianismo; e novamente sinto-me assombrado por uma espécie de confirmação. A tremenda figura que enche os evangelhos ergue-se altaneira nesse respeito, como em todos os outros, acima de todos os pensadores que jamais se consideraram elevados.

A compaixão dele era natural, quase casual. Os estóicos, antigos e modernos, orgulhavam-se de ocultar as próprias lágrimas. Ele nunca ocultou as suas; mostrou-as claramente no rosto aberto ante qualquer visão do dia-a-dia, como a visão distante de sua cidade natal. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Solenes super-homens e diplomatas imperiais orgulham-se de conter a própria ira. Ele nunca a conteve. Arremessou móveis pela escadaria frontal do Templo e perguntou aos homens como eles esperavam escapar da danação do inferno. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Digo-o com reverência; havia naquela chocante personalidade um fio que deve ser chamado de timidez. Havia algo que ele encobria constantemente por meio de um abrupto silêncio ou um súbito isolamento. Havia uma certa coisa que era demasiado grande para Deus nos mostrar quando ele pisou sobre esta nossa terra. As vezes imagino que era a sua alegria.

A alegria é uma grande dádiva de Deus. Não é irresponsabilidade, não é fuga aos próprios compromissos, não é conformismo nem nada disso: ao contrário, é um verdadeiro tesouro. Permite-nos enfrentar as tribulações da vida mais facilmente. Ouso ir mais além: a alegria permite que haja, no mundo, um reflexo daquilo que, segundo Chesterton, Nosso Senhor escondeu quando esteve por esta terra: a alegria eterna, a verdadeira felicidade.

Mas esta alegria da qual falo não é “publicidade pagã”, i.e., não é algo que se ostenta e se busca como um fim em si mesmo. Não é a alegria vazia e hedonista que tão facilmente encontramos no carnaval, não é uma busca desordenada e desenfreada por prazeres. Como tudo na vida cristã, precisa estar ordenada para Deus; afinal, quem foi que disse não ser possível haver uma alegria ordenada para o Fim Último, para o Deus que – conforme rezamos na Santa Missa – alegra a nossa juventude, laetificat juventutem meam?

Gosto daquela propaganda, porque a alegria lá expressa é inocente. E é a cara do brasileiro que sofre, que tem problemas, mas que consegue manter um sorriso no rosto, consegue encontrar ânimo diante das adversidades. Claro, ela não é perfeita, porque é bastante fácil – principalmente nos nossos dias! – perder Deus de vista e idolatrar o prazer. Mas, quando penso no bom humor brasileiro, eu penso em algo que tem um excelente potencial de ser bem utilizado. Penso em algo que poderia, se bem direcionado, ser um bonito reflexo neste mundo da alegria do Onipotente. Enfim, gosto de pensar que Deus, do alto dos Céus, sorri de volta quando vê um brasileiro, em estado de graça, alegrando-se da forma que sabe tão bem fazer.

ONU e direitos indígenas

Que coisa interessante esta declaração das Nações Unidas sobre o direito dos povos indígenas! De acordo com o Art. 8, 1., em tom imperativo, “os Estados estabelecerão mecanismos eficazes para a prevenção e a reparação de a) todo ato que tenha por objetivo ou conseqüência privar os povos e as pessoas indígenas de sua integridade como povos distintos, ou de seus valores culturais ou de sua identidade étnica (…)”.

Entre os “valores culturais” dos povos indígenas, obviamente estão os seus “valores” religiosos, a saber, o paganismo. Um índio concreto, então, de acordo com a ONU, deve ser eficazmente impedido pelos Estados de receber catequese, uma vez que esta vai, naturalmente, como objetivo e como conseqüência, se Deus quiser, libertá-lo e privá-lo do paganismo. Resta só especificar como serão estes mecanismos eficazes. Censura prévia, talvez; ou proibição das missões católicas em terras indígenas.

Historicamente há registros de um mecanismo indígena extremamente eficaz no impedimento da catequese: a antropofagia, principalmente de missionários. Aliás, sabe-se até que o canibalismo, entre algumas tribos, tinha inclusive função ritual. Já que o artigo 11 da supracitada declaração afirma que “os povos indígenas têm o direito de praticar e revitalizar suas tradições e costumes culturais”, o que inclui “as manifestações passadas, presentes e futuras de suas culturas, tais como (…) cerimônias”, cabe perguntar: as cerimônias de antropofagia também estão entre aquelas que os índios têm o direito de praticar e revitalizar?

Ou o infanticídio, talvez? É sem dúvidas um costume cultural, é inquestionavelmente uma tradição. Aliás, se as crianças gêmeas são uma do bem e a outra do mal, e se não dá para distinguir uma da outra, é perfeitamente coerente seguir os costumes dos antepassados e enterrar as duas vivas. Afinal, nunca se sabe. Lembram-se de Hakani?

É óbvio que todas as culturas não são iguais. É óbvio que existem direitos universais que transcendem as culturas. No entanto, é muito politicamente incorreto admitir isso. Na loucura do mundo moderno que deu as costas para Deus, só o que é possível construir são remendos mal-feitos em uma canoa cujos furos são cada vez mais evidentes.

Sobre isto, apenas citando [e recomendando], é muito interessante este texto do Vanguarda Popular:

O Painel Intergovernamental de Mudanças Culturais e Climáticas (ICCCP , em inglês) declarou seu apoio ao recente anúncio das Nações Unidas de que todas as culturas são igualmente válidas. Expandindo a resolução da ONU, o grupo declarou que os direitos das pessoas são culturalmente definidos e não devem ser baseados em qualquer idéia burguesa ou conceito universal. Eles afirmam que o termo “direitos humanos” já está fora de moda e possui uma conotação racista porque ele impõe um valor a vida humana que algumas culturas não aceitam. Eles recomendam que o termo “direitos multiculturais dos povos” seja utilizado.

Sermão da Sexagésima

Sabeis, cristãos, porque não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque não faz fruto a palavra de Deus? — Por culpa nossa.

[…]

Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus: Qui habet sermonem meum, loquatur sermonem meum vere, disse Deus por Jeremias. As palavras de Deus, pregadas no sentido em que Deus as disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido que nós queremos, não são palavras de Deus, antes podem ser palavras do Demónio. Tentou o Demónio a Cristo a que fizesse das pedras pão. Respondeu-lhe o Senhor: Non in solo pane vivit homo, sed in omni verbo, quod procedit de ore dei. Esta sentença era tirada do capítulo VIII do Deuteronómio. Vendo o Demónio que o Senhor se defendia da tentação com a Escritura, leva-o ao Templo, e alegando o lugar do salmo XC, diz-lhe desta maneira: Mille te deorsum; scriptum est enim, quia Angelis suis Deus mandavit de te, ut custodiant te in omnibus viis tuis: «Deita-te daí abaixo, porque prometido está nas Sagradas Escrituras que os anjos te tomarão nos braços, para que te não faças mal.» De sorte que Cristo defendeu-se do Diabo com a Escritura, e o Diabo tentou a Cristo com a Escritura. Todas as Escrituras são palavra de Deus: pois se Cristo toma a Escritura para se defender do Diabo, como toma o Diabo a Escritura para tentar a Cristo? A razão é porque Cristo tomava as palavras da Escritura em seu verdadeiro sentido, e o Diabo tomava as palavras da Escritura em sentido alheio e torcido; e as mesmas palavras, que tomadas em verdadeiro sentido são palavras de Deus, tomadas em sentido alheio, são armas do Diabo. As mesmas palavras que, tomadas no sentido em que Deus as disse, são defesa, tomadas no sentido em que Deus as não disse, são tentação. Eis aqui a tentação com que então quis o Diabo derrubar a Cristo, e com que hoje lhe faz a mesma guerra do pináculo do templo. O pináculo do templo é o púlpito, porque é o lugar mais alto dele. O Diabo tentou a Cristo no deserto, tentou-o no monte, tentou-o no templo: no deserto, tentou-o com a gula; no monte, tentou-o com a ambição; no templo, tentou-o com as Escrituras mal interpretadas, e essa é a tentação de que mais padece hoje a Igreja, e que em muitas partes tem derrubado dela, senão a Cristo, a sua fé.

[…]

Miseráveis de nós, e miseráveis dos nossos tempos! Pois neles se veio a cumprir a profecia de S. Paulo: Erit tempus, cum sanam doctrinam non sustinebunt: Virá tempo, diz S. Paulo, «em que os homens não sofrerão a doutrina sã. Sed ad sua desideria coacervabunt sibi magistros prurientes auribus: Mas para seu apetite terão grande número de pregadores feitos a montão e sem escolha, os quais não façam mais que adular-lhes as orelhas. A veritate quidem auditum avertent, ad fabulas auten convertentur: Fecharão os ouvidos à verdade, e abri-los-ão às fábulas». Fábula tem duas significações: quer dizer fingimento e quer dizer comédia; e tudo são muitas pregações deste tempo. São fingimento, porque são sutilezas e pensamentos aéreos, sem fundamento de verdade; são comédia, porque os ouvintes vêm à pregação como à comédia; e há pregadores que vêm ao púlpito como comediantes. Uma das felicidades que se contava entre as do tempo presente era acabarem-se as comédias em Portugal; mas não foi assim. Não se acabaram, mudaram-se; passaram-se do teatro ao púlpito. Não cuideis que encareço em chamar comédias a muitas pregações das que hoje se usam. Tomara ter aqui as comédias de Plauto, de Terêncio, de Séneca, e veríeis se não acháveis nelas muitos desenganos da vida e vaidade do Mundo, muitos pontos de doutrina moral, muito mais verdadeiros, e muito mais sólidos, do que hoje se ouvem nos púlpitos. Grande miséria por certo, que se achem maiores documentos para a vida nos versos de um poeta profano, e gentio, que nas pregações de um orador cristão, e muitas vezes, sobre cristão, religioso!

[…]

Estamos às portas da Quaresma, que é o tempo em que principalmente se semeia a palavra de Deus na Igreja, e em que ela se arma contra os vícios. Preguemos e armemo-nos todos contra os pecados, contra as soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra as cobiças, contra as sensualidades. Veja o Céu que ainda tem na terra quem se põe da sua parte. Saiba o Inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus, e saiba a mesma terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto: Et fecit fructum centuplum.

– Pe. António Vieira,
Sermão da Sexagésima

Nota de falecimento

Estudante da UFPE é assassinado a tiros no bairro da Torre. Poderia ser somente mais uma das notícias que estamos acostumados a ver todos os dias; poderia ser somente mais uma estatística. Para mim, no entanto, reveste-se das cores de uma tragédia, porque eu conheço este estudante da Federal.

Conheço o bairro da Torre porque conheço a paróquia da Torre. Vivi lá muito tempo, como catequista, participando do grupo jovem, nas missas. Alcides, conheci no grupo jovem. Meus pais o conhecem. Meus amigos o conhecem. E, esta madrugada, assassinado.

Dentro de casa! Não é verdade que ele estava “na hora errada e no lugar errado”. Estava, pelo que soube, estudando. Entram os bandidos, à procura de um vizinho dele; “não sei”, responde o meu amigo, “só tem tu, vai tu mesmo”, zomba o criminoso. Um tiro na cabeça, outro no peito: foram para matar, sem dar margem para falhas.

Era negro. Era pobre. Mas nunca perdeu tempo com queixumes, e nunca permitiu que os estereótipos da sociedade determinassem o seu futuro. Era esforçado. Alcides do Nascimento Lins foi o primeiro colocado da rede pública quando prestou vestibular em 2007. Cursava biomedicina. Vinte e dois anos. Mais uma vítima. Usquequo, Domine…?

Aos que passarem por aqui, peço que rezem uma ave-maria por Alcides. Aos sacerdotes que me lêem, se virem isso, peço-lhes que se lembrem do jovem Alcides quando estiverem diante do altar do Deus Altíssimo. Que Ele tenha misericórdia do jovem assassinado, e conceda o dom da fortaleza para os amigos e parentes que ficam.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace.
Amen.

Alcides do Nascimento Lins

Homofobia militar

A notícia: Ministro do STM discrimina gay em sabatina. “Indicado para uma cadeira no Superior Tribunal Militar (STM), o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho disse ontem que as Forças Armadas não devem aceitar a presença de gays e sugeriu que eles procurem outras atividades longe dos quartéis”.

A repercussão: o senador Eduardo Suplicy quer que o general seja chamado mais uma vez à CCJ, para explicar como as suas declarações não contrariam a Constituição. Será que o Suplicy vai dar voz de prisão ao general?

Eu concordo, em partes, com a opinião do Reinaldo Azevedo. Mas esta questão me parece ser um pouco espinhosa. Esta discriminação é justa? Em princípio, a vida privada do militar não é um empecilho ao exercício de suas funções nas Forças Armadas… há, no entanto, os problemas apontados pelo Reinaldo e pelo próprio general.

Citando o general, citado pelo articulista da Veja: “Comando, principalmente em combate, tem uma série de atributos e um deles é que o soldado, a tropa, fatalmente não vai obedecer”. Parece-me um argumento bem razoável. Concedamos, para fins argumentativos, que isto seja “homofobia” dos soldados. Qual a solução? Dispensar a tropa e contratar uma mais “moderninha”? Ou simplesmente curvar-se à realidade e, até mesmo por prudência, tirar da posição de comando o indivíduo que não goza do respeito de seus comandados?

E se, ao invés do homossexual, fosse outra coisa? Um bêbado, um adúltero contumaz, ou qualquer outro sujeito cujo comportamento moral seja reprovável e que, minando-lhe o respeito, dificultaria o exercício da liderança dentro das Forças Armadas? Far-se-ia também este escarcéu todo, exigir-se-ia que respeitassem e obedecessem o sujeito ao qual se tem naturalmente uma aversão?

Notem que não estamos falando do “respeito” de tratar a pessoa bem – isso nem entra em questão! Estamos falando da confiança que um subordinado deposita no seu comandante, na lealdade que ele consegue angariar, na liderança que ele exerce. Isso são coisas que simplesmente não podem ser resolvidas “na canetada”. Não podem ser resolvidas por uma lei.

A confiança que um homem deposita em outro não se adquire simplesmente por via legal. Se o sujeito quer ser respeitado, que se dê ao respeito. Sob este aspecto, faz muito sentido o que disse o Reinaldo: “[p]or que eles [os homossexuais] precisam afirmar diante dos seus colegas o que gostam de fazer na cama, entre quatro paredes”? Por mais que esperneiem os gayzistas, não dá para fingir que a homossexualidade é normal. Claro que todo homossexual deve ser respeitado como ser humano, claro que nenhum homossexual pode ser agredido ou assassinado, como vale para todas as pessoas. Mas não é possível forçar as pessoas a que os vejam com admiração, a que aprovem os seus comportamentos morais. Isso a Gaystapo parece não querer ou não ser capaz de entender.

A Gaystapo e a visita do Papa ao Reino Unido

Papa é contra o plano autoritário do Estado Inglês. O post do Ecclesia Una faz referência a uma notícia que saiu em G1, cujo título era “Papa critica projeto de lei britânico contra a discriminação de homossexuais”. A notícia original é da BBC, mas saiu também na Folha e no Estadão. Repercussão ubíqua.

O que o Papa realmente disse está na mensagem aos bispos da Inglaterra e País de Gales em visita ad limina. Não há menção direta à lei que está em votação no parlamento inglês, embora o assunto seja sem dúvidas esse.  A Canção Nova traduziu o texto. O Fratres in Unum também comentou.

Sobre isso, gostaria de reproduzir parte do texto do Ecclesia Una:

Há alguns dias notícia foi publicada na Internet falando dos projetos que andam tentando legalizar na Inglaterra de se ensinar obrigatoriamente educação homossexual. A medida é, sem sombra de dúvida, intolerante. Veja: não estamos falando aqui duma tentativa sadia de pedir respeito aos homossexuais. Estamos falando de uma medida autoritária que visa impor aos alunos de todas as escolas – inclusive as religiosas, conforme atesta esta outra notícia – valores homossexuais. Não é mais um combate à homofobia, é uma tentativa clara e objetiva de se ensinar o homossexualismo em nossas escolas, como se fosse perfeitamente natural e aceitável! Em suma, o combate aqui não é ao preconceito, como expôs o G1, mas à heteronormatividade, ou seja, à idéia de que as relações sexuais moralmente corretas são as que são praticadas entre homem e mulher.

Não se trata de nenhuma novidade. A posição da Igreja é clara e conhecida de todos. O Papa não fez nada além de repetir o ensinamento moral católico que sempre foi ensinado. Não existia, aliás, outra posição que ele pudesse ter tomado. Às vésperas da visita do Santo Padre ao Reino Unido, qual a razão de mobilizar a opinião pública contra o Vigário de Cristo?

É somente provocação? É para indispôr os ingleses contra o Papa e provocar constrangimentos na visita de setembro próximo? Já existe, a propósito, um abaixo-assinado contra ela na internet. E já há ameaças:

Nesta semana, esse grupo [NSS, Sociedade Secular Nacional] lançará uma coalizão denominada “Protesto contra o papa”, integrada por grupos de homossexuais, vítimas da pedofilia de padres, organizações de planejamento familiar e grupos pró-aborto, que pretendem realizar manifestações durante a visita do pontífice.

Esta é a fantástica coerência dos que defendem a “igualdade”. Não aceitam a menor crítica às suas reivindicações anti-naturais, mas não pensam duas vezes antes de organizar protestos contra o líder mundial do catolicismo que lhes vai visitar o país.

Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem

Confesso a minha ignorância da história portuguesa: não conheço Salazar. Sei que os anti-clericais o demonizam. E não saberia indicar nenhum texto que se empenhe em defender a memória do famoso líder português.

Mas esta resposta, dada aos familiares dos soldados portugueses mortos na Guerra do Ultramar, é um espetáculo. A voz no vídeo é do próprio Salazar. Todos os soldados que aparecem são portugueses.

“Sem hesitações, sem queixumes, naturalmente como quem vive a vida, os homens marcham para climas inóspitos e terras distantes a cumprir o seu dever. Dever que lhes é ditado pelo coração e pelo fim da Fé e do Patriotismo que os ilumina. Diante desta missão, eu entendo mesmo que não devemos chorar os mortos. Ou melhor. Havemos de chorar os mortos se os vivos os não merecerem”.