Também é orgulho ser sozinho

Um dos conselhos mais importantes de São Paulo no Novo Testamento é aquele “quem julga estar de pé, cuide para que não caia” que encontramos na primeira carta aos Coríntios. Não obstante, e infelizmente, sempre se encontrou na história da Igreja quem fizesse pouco caso dessa tão fundamental exortação, o que já levou muitas almas à mais terrível ruína.

São Luís de Montfort lamenta n’algum lugar do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem os tantos cedros do Líbano que já caíram miseravelmente por terra devido à imprudência de se julgarem auto-suficientes. Não é sem razão que a espiritualidade católica sempre insistiu na importância de combater não apenas os pecados externos, mas também (e principalmente) os internos, dentre os quais o orgulho ocupa um lugar de infeliz proeminência. Enganar-nos-íamos se pensássemos que este vício anda sempre lado-a-lado com a arrogância manifesta! O orgulho é primariamente interior. Pode perfeitamente reinar no coração de um homem e, ao mesmo tempo, passar despercebido de todos os que convivem com ele.

Decerto não era nisso que pensava a Florbela Espanca quando o escreveu, mas há muita sabedoria naquele seu verso que diz “[q]ue também é orgulho ser sozinha”. A idéia de que somos mais especiais de que os nossos irmãos é sedutora, mas é terrivelmente falsa. A concepção de que podemos fazer alguma coisa de grande por nós mesmo é enganadora – e quantos não caem neste canto-de-sereia! A vaidade de desbravarmos o nosso próprio caminho nesta vida, desprezando a caminhada dos que nos são próximos, já conduziu muitas almas para o abismo.

Aqui é preciso tomarmos cuidado para não cairmos em engano; sem dúvidas cada pessoa tem o direito e até mesmo o dever de escrever a própria história, e o insubstituível protagonismo de cada um na sua própria salvação é uma necessidade que não nos convém nunca esquecer. Não obstante, por meio de um desses aparentes paradoxos que perfazem a complexidade humana, a nossa dimensão individual é inseparável da comunitária e, se é verdade que temos o dever de trilhar o nosso próprio caminho, não é menos verdade que ele deve estar inserido na teia de relacionamentos que o Altíssimo teceu para a nossa existência.

De modo particular, a nossa salvação – individual – passa necessariamente por aquela comunidade de fiéis que Deus estabeleceu no mundo para conduzir os homens à Bem-Aventurança Eterna; passa, necessariamente, pela Igreja de Cristo. Rejeitar a companhia daquelas almas ao lado das quais a Divina Providência determinou que caminhássemos neste Vale de Lágrimas, longe de ser um sadio protagonismo próprio das grandes almas, é orgulho mesquinho que se revela um horrendo sinal de perdição. Querer construir por conta própria um caminho que conduza aos Céus é loucura e, na verdade, é somente a velha tentação original apresentada sob uma nova roupagem. O verdadeiro e legítimo protagonismo que precisamos assumir é o de conferir as marcas da nossa individualidade ao caminho que Nosso Senhor Jesus Cristo já abriu para nós, e não o de buscar por conta própria um outro caminho para o Céu. A Igreja não é uma estrada para o Paraíso ao lado de tantas outras, muito pelo contrário: é o terreno seguro somente dentro do qual é possível ao ser humano abrir o seu caminho para Deus. Podemos ensaiar os nossos próprios passos sim, e temos total liberdade para fazê-los da nossa própria maneira – mas somente dentro do palco que Deus preparou para que fosse possível haver dança. Esforcemo-nos, sim, para salvar a nossa alma, e o façamos com todas as particularidades que nos são próprias; mas somente dentro da Igreja, criada por Deus para que pudesse existir salvação no mundo.

Eu pensava nessas coisas quando li aquela triste notícia segundo a qual Magdi Cristiano Allam, ex-muçulmano batizado por Bento XVI, anunciou ter deixado a Igreja Católica. Eu me lembro do seu Batismo, em uma vigília de Páscoa, no coração do Vaticano, diante de todas as câmeras do mundo; lembro-me de como fiquei feliz com o ex-muçulmano, cujo batismo no Sábado de Aleluia parecia uma resposta a uma das Grandes Orações da véspera. Lembro-me de que – insensato! – pensei que, este, a Igreja não haveria de perder, pois se convertera já na idade adulta e após experimentar os falsos credos, e estas conversões soem ser mais profundas e definitivas.

Infeliz de mim, que estava rotundamente engando! O converso abandonou a Igreja. Por que o fez? Por conta daquilo que ele chamou de “relativismo religioso” e, particularmente, pela suposta legitimação do Islam como verdadeira religião por parte da Igreja Católica. Aqui as coisas começam a ficar mais claras. É óbvio que o Islamismo não é “verdadeira religião”, porque a única religião verdadeira é aquela fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem Verdadeiro. É óbvio que a Igreja jamais “legitimou” o Islam e nem o poderia fazer jamais, porque isso seria trair a Si mesma. Então, do que é exatamente que Magdi Allam está reclamando?

Arriscamos uma resposta. O que o incomoda é a – na visão dele – leniência da Igreja em enfrentar o Islam, o que lhe tira a paz é perceber que a Igreja não combate o islamismo com o denodo que ele julga necessário. Em uma palavra, o seu problema, aparentemente, é um só: a sua conversão à Igreja em 2008 parece ter sido mais para lutar contra Maomé do que para fazer-se discípulo de Cristo. Mais por ódio ao Corão do que por amor a Cruz. E o ódio, embora pareça mais intenso, é também mais inconstante e menos duradouro: o simples ódio a alguma coisa é incapaz de garantir a regularidade devotada que o Cristianismo exige como caminho de vida.

E essa história triste, na verdade, nos deixa ao menos uma preciosa lição: ninguém deve se converter à Igreja por ser contra o islamismo ou o protestantismo, o relativismo ou o esquerdismo, o feminismo ou o homossexualismo, a degeneração moral ou a crise de valores, nada. Vou até mais além: ninguém deve nem mesmo converter-se à Igreja porque os Seus ensinamentos são corretos. Na verdade, deve-se ser católico por uma única e simples razão: para salvar a própria alma, uma vez que sozinho ninguém é capaz de a salvar. Outra espécie de amor à Igreja que não esteja radicado em Cristo, que não seja amor a Cristo por Aquilo que Ele é em Si mesmo, não é amor verdadeiro à Igreja. Semelhante “conversão” (que eu nem sei se se pode chamar assim) não é aquela casa do homem prudente edificada sobre a rocha da qual nos fala o Evangelho. Ao contrário, é frágil construção edificada sobre a areia, cujos alicerces cedo ou tarde irão abaixo por conta das intempéries da natureza – e grande será a ruína de quem fez ali a sua morada.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

74 comentários em “Também é orgulho ser sozinho”

  1. Parabéns pela excelente reflexão, como são todas as outras do blog, ainda mais neste caso porque um blog dito católico – mas que não passa de um propagador de fofocas – insinuando que a saída deste muçulmano da Igreja foi em razão da eleição do Papa Francisco. Que a Virgem Santíssima sempre guarde este apostolado.

  2. Corrigindo, digo estava insinuando que a saída deste muçulmano da Igreja foi em razão da eleição do Papa Francisco

  3. O Sr. Magdi Cristiano Allam lembrou-me outro convertido, todos conhecem um judeu que se converteu a Cristo, mas como tinha seus próprios objetivos e desejava usar a Cristo para atingi-los, não conseguindo, acabou por vendê-lo por trinta moedas.

    Excelente post.

  4. Bravo!
    Textos como esse revigoram nossas forças e nos lembram verdades que as vezes esquecemos, somos católicos porque amamos N.S.J.C. e queremos a salvação de nossa pobre alma.

    Jailson

  5. Disse tudo. Parabéns pelo excelente artigo ! É confortador saber que nem todos perderam a cabeça.

  6. Prezado Jorge, salve Maria.

    O apóstata em questão o fez pela tibieza no combate ao Islã, pela forma pouco católica como esta falsa religião vem sendo combatida desde Paulo VI.

    De fato, é inconcebível para um católico que ainda não perdeu o juízo que seus líderes reverenciem a “religião do livro” osculando-o, rezando em mesquitas com inimigos claros que profanam a divindade de Cristo e que planejam a sua destruição na sociedade, o que só não fizeram AINDA porque não tiveram a possibilidade, o que não demorará para acontecer (pela taxa de natalidade até 2050 o islamismo esmagará os cristãos no mundo, isso é matemática pura e não tem como ser revertido mais).

    Ou seja, esta é mais uma apostasia cujos responsáveis são os papas conciliares, e eles arcarão com esta situação diante de Deus, de quem darão contas, além da apostasia dos milhões de católicos nas últimas décadas em inúmeros países do mundo, tendo estes seguidos para o agnosticismo, gnosticismo, filosofias orientais e principalmente para o protestantismo.

    Está na hora de voltar a combater o islã e as falsas religiões de forma católica, sem a qual é impossível agradar a Deus e conseguir a vitória. Até mesmo os anglicanos que “retornam” o fazem por causa da ordenação de mulheres e de gays, e não pela doutrina desastrada do ecumenismo que não converte ninguém, apenas faz perder os católicos.

    Abraços,

    Sandro

  7. Jorge, Magdi Cristiano Allam percebeu que a igreja pós-conciliar não é séria. Eu não ficarei surpreso se Magdi Cristiano Allam aparecer dizendo que segue uma dessas igrejolas protestantes.

    Que tempos vivemos, não é Jorge! uma igrejola protestante para muitos católicos que abandonam a Madre Igreja tem uma imagem de valentia diante dos inimigos de Cristo Jesus do que a Própria Igreja Católica fundada por Nosso Senhor.

    Se essa igreja pós-conciliar fosse um pouquinho séria, no minimo não faria esses encontros absurdos com seguidores de falsas religiões. No mínimo isso é esperado.

    Como muito lembrou o Sandro, logo os muçulmanos se tornaram maioria nos países europeus, e muito por culpa dos papas pós-conciliares que mantiveram um repeito estranho e criminoso para os inimigos de Cristo e de Sua Santa Igreja Católica.

    Afinal, não foi o clero modernista da igreja pós-conciliar que ajudou a fazer crescer o número de imigrantes ilegais, muitos deles seguidores do islã, nos países europeus dizendo que temos que respeitar as falsas religiões sem precisar convertê-los?

  8. Jorge, Excelente o seu artigo! Até, através de sua exposição se entende mais a fuga dos católicos para as seitas. Mudanças feitas ao sabor das emoções:Contra algo/ A favor de um ponto de vista. Nessa subjetividade, sem consistência a vontade e o propósito não se mantém.Sem o fundamento do cristianismo aceito à luz da razão e da fé em Jesus Cristo aceito como modelo de vida e como ” a palavra de Deus, única verdade em que podemos nos apoiar nesse mundo é impossível esperar o nosso real destino- A Vida Eterna. Obrigada Jorge,

  9. Sandro e Renato,

    O simples fato de Magdi Allam ter sido batizado pelo Papa Bento XVI já é, por si só, prova inequívoca de que o Santo Padre considera, sim, como aliás é óbvio, a conversão à Igreja como necessária também para os muçulmanos.

    E, sinceramente, esperar atitudes diferentes das autoridades eclesiásticas me parece totalmente fora da realidade. Os muçulmanos já são maioria em diversos países e, neles, cristãos são massacrados com uma regularidade perturbadora. A conseqüência mais provável de uma pregação anti-Islã mais veemente por parte do Vaticano, longe da conversão em massa dos filhos de Maomé, seria o recrudescimento das perseguições maometanas.

    Mutatis mutandis, a situação atual afigura-se-me como a de Pio XII diante do nazismo, com não pouca semelhança entre os que acham que os Papas recentes estão de conluio com o Islã e os que chamam Pio XII de “Papa de Hitler”.

    Abraços,
    Jorge

  10. Prezado Jorge, Viva Cristo Rei.

    O que chamei a atenção foi a análise a respeito dos motivos que levaram o infeliz a abdicar da fé católica. Ele o disse claramente: tibieza do clero. Você não aceita o que ele diz, e afirma que ele nunca se converteu verdadeiramente, pois que movido pelo ódio ao islã e não pelo amor a verdade.

    Ora, o que ele diz é tão certo, embora Deus irá lhe cobrar pela apostasia, que teve papa que ensinou que quando o clero se desvia os fiéis vão juntos para o abismo…

    Sobre o fato dele ser batizado, até os modernistas afirmam que o converso deve ser batizado, embora não pelos motivos corretos. Mas neste caso entendo que tanto Bento como Francisco podem compreender o batismo de forma católica.

    Porém, o fato deste senhor ter sido batizado por Bento não significa que este crê ser necessário a salvação pertencer a igreja Católica, até porque penso que ele não ensina isso em lugar nenhum, mas o nega, ainda que tacitamente.

    Inclusive estas citações de Francisco falando sobre Cristo poderiam ser ditas por qualquer pastor protestante. Ele apenas fala de Cristo, o que é bom, mas quero ver ele falar da Igreja como necessária a salvação, afirmando que só os católicos, sejam eles pertencentes ao corpo ou a alma da religião verdadeira, entram no céu.

    Sobre a política ecumênica adotada pela igreja conciliar ela não pode ser comparada a política de Pio XII, e por vários motivos: Pio XII “silenciou” para salvar vidas, e trabalhou para destruir o nazismo, salvando vidas. Caso ele falasse, milhares ou milhões morreriam. Foi uma atitude sábia. Aliás, muito mais do que sábia, foi inspirada pelo Espírito Santo.

    Mas ao tomar tal atitude prudencial ele não se reuniu com líderes nazistas, não confraternizou com eles, não os visitou em seus templos, não disse que o nazismo tinha pontos bons e que a Igreja respeitava este “jeito de viver”, não compactou com os errantes e nem muito menos aprovou suas loucuras, não rezou com eles e nem fez nada que pudesse agradar qualquer tipo de nazista. Como disse, Pio XII salvou vidas.

    Agora, comparemos com Francisco, Bento e outros aí que passaram, e veja que o espírito com o islã é de respeito, de amor, de caridade, de mútua cooperação, de ausência total de condenação, enfim, de apostasia clara, pública e notória da fé católica. Ou seja, estes conciliares trabalham para perder vidas. E a perca é eterna, infelizmente.

    Ora, como sabe você São Tomás diz que rezar sobre o tumulo de Maomé é um exemplo de um ato de apostasia público e notório. Logo, temos centenas ou milhares de atos públicos de apostasia praticados pelos conciliares.

    Sobre o fato de dizer que atualmente os muçulmanos são maioria (o que o levou a comparar o ecumenismo atual com a política de Pio XII), isso nos dá ainda maior razão: durante o Vaticano II estes infiéis não eram maioria na Europa, e foi ali que esta política ecumenista teve inicio, a tal “liberdade religiosa” e o ecumenismo modernista e irenista (vide encontro de Assis I), que resultou no estado calamitoso atual. Assim, foi a doutrina conciliar aplicada que resultou no momento trágico e apocalíptico em que vivemos.

    Termino com uma pergunta que há tempos quero lhe fazer: a bula de Paulo IV diz que todos os bispos que se desviam da fé católica caem de seu cargo. Ainda que você não queira aplicar isso ao papado, não concorda você que vários bispos atuais são hereges e que portanto não são bispos, porque a privação do cargo é “ipso facto”? (conferir também o 188,4 do Código de Direito Canônico).

    O que pensa destas heresias praticadas por centenas ou milhares de bispos ao redor do mundo? São bispos ainda, de acordo com a doutrina católica?

    Abraços,

    Sandro

  11. Sandro

    Por sua própria “lógica”, devemos admitir que João Paulo II foi incomensuravelmente mais corajoso e virtuoso do que Pio XII ante os nazistas e os comunistas, não? Ele não se omitiu ou temeu as consequências de criticar os comunistas e nem ficou “apenas” ajudando no varejo e se omitindo no atacado.

  12. Lampedusa,

    Há quanto tempo, não? Os anos passam e algumas coisas não mudam…

    Pio XII viveu o contexto nazista DURANTE A II GUERRA, quando qualquer palavra dele poderia levar a morte IMEDIATA de milhares ou até mesmo milhões de pessoas. Hitler sabia que nos conventos e outros prédios católicos estavam famílias inteiras de judeus escondidas. Considero pecado contra o oitavo mandamento dizer que Pio XII tenha se “omitido” de qualquer coisa que seja. Logo, este pecado é seu, e não meu, nada prezado. Sugiro que peça perdão publicamente por ter escandalizado os fiéis devotos de Pio XII levantando esta calunia contra ele.

    Já João Paulo II viveu o nazismo, enquanto “papa”, DÉCADAS DEPOIS do encerramento da II guerra mundial, quando falar do assunto seria o mesmo que chutar cachorro morto. O mérito de Karol foi sim ter lutado ante o comunismo, e este fato penso não poder ser negado por nenhum ser humano de boa fé.

    Mas entender que João Paulo lutou contra o comunismo não significa em hipótese nenhuma afirmar que Pio XII tenha se omitido ante ele. Pergunto-lhe: de onde você tirou esta absurda idéia? Ora, em 1949 Pio XII promulgou decreto excomungando qualquer um que apoiasse os comunistas. Veja:

    http://www.montfort.org.br/old/documentos/anticomunismo.html

    Além disso o mesmo Pio XII continuou a emitir condenações contra os comunistas em julho de 1949, condenando todos os que se filiassem aos partidos comunistas, em fevereiro de 1950 excomungando o bispo Dechet, expoente do comunismo no clero, também em 1950, mas no mês de setembro, excomungando propriamente a “juventude comunista” e em 1955 condenou ainda, por duas vezes, como se não bastassem as condenações anteriores, publicações favorecendo o comunismo totalitário.

    Veja como não tem como você falar de “lógica” se não entende um contexto tão simples como este. E ainda que dar lição de moral nos outros!

    Passe bem.

    Sandro

  13. Sandro,

    Sim, realmente os anos passam e as coisas (inclusive você e eu) não mudam…

    Talvez tenha lhe escapado, mas minha comparação foi entre aquilo que você, sub-repticiamente, acusa os Papas atuais de medo diante do islã e a atitude de Pio XII diante dos nazistas. Eu não acuso Pio XII de omissão (apenas disse que pela “sua lógica” deveria acusá-lo), assim como não acuso os Papas atuais de omissão diante do islã. Não uso, ao contrário de você, dois pesos e duas medidas por causa de minha ideologia.

    Você já leu o livro “Conspiração contra o Vaticano”, de Dan Kursman? É provável que nesse livro, escrito por um não católico, você encontre elementos históricos para defender Pio XII além de puras bravatas.

    O perigo para os católicos na Alemanha nazista, na Polônia ou Hungria comunista na década de 80 ou em alguns países islâmicos hoje são comparáveis, se não em número, em natureza.

  14. Lampedusa,

    Pio XII não tinha medo do nazismo, apenas durante a guerra se ele se pronunciasse mais veementemente tal atitude CERTAMENTE causaria a morte de milhares ou milhões de pessoas.

    É difícil entender isso?

    João Paulo II e os outros conciliares realmente não temiam o islã: eles o reverenciavam, isso está claramente tanto nos textos conciliares como nas mensagens deles e outras fontes que podemos usar para provar isso. Ou seja, eles não atacam o islã pela CONVICÇÃO de que esta é uma boa religião, umas das “três monoteístas”, entre outras mentiras.

    É difícil entender isso?

    E note como você tenta a todo custo pegar uma suposta “contradição” minha, porque a você não lhe resta nada, a não ser acusar de contraditórios todos aqueles que o reduzem ao silêncio. E para continuar reduzindo-o ao silêncio basta demonstrar que você é incapaz de dar uma palavra a respeito de Assis I, onde Buda foi colocado sobre o sacrário, você é incapaz de falar algo relacionado a João Paulo II ter beijado o Alcorão, de João Paulo II e de Bento terem rezado no muro das lamentações, em mesquitas e em sinagogas, de Bento ter rezado na igreja de Lutero onde declarou que o maior herege da história é um “homem do evangelho”. Este mesmo Bento também plantou árvore no jardim deste mesmo heresiarca.

    O que a fé católica manda que você faça diante destas situações? Livre-se do absinto e raciocine, meu caro.

    Ou seja, ainda que aja uma contradição minha, algo que você delirantemente pensa e sona em encontrar, isso em nada lhe ajuda, pois como mostrei São Tomás diz que rezar no tumulo de Maomé é exemplo de um ato público de apostasia da fé católica.

    E o que você pode dizer sobre este ensinamento claríssimo de São Tomás e as atitudes dos seus papas?

    Vou esperar aqui pacientemente os seus sofismas,

    Sandro de Pontes

  15. Caríssimo Sandro, viva Cristo Rei!

    Eu acredito piamente que Magdi Allam tenha apostatado por achar o clero atual tíbio frente ao Islã. Do que discordo, e visceralmente, é que isso seja razão para abandonar a Igreja de Cristo! Ainda: esta sua apostasia deixa entrever um problema de fundo na sua conversão, que aparentemente se deu (como eu disse no post) mais para lutar contra o islamismo do que para salvar a própria alma, o que me parece sob qualquer ótica um tremendo erro.

    Quanto a Bento XVI e ao Papa Francisco saberem que é necessário pertencer à Igreja Católica para se salvar, penso que isso deve ser pressuposto, até por ser dito taxativamente pelo Vaticano II.

    Sobre as comparações entre o nazismo e o Islã, parece-me evidente que o crescimento muçulmano nos últimos 50 anos não poderia ser detido se o Vaticano II houvesse renovado solenemente a sua condenação. Mas ainda concedendo que Paulo VI e João XXIII (ou mesmo João Paulo II no início do seu pontificado) tivessem se omitido gravemente ao condená-lo, você ao menos concorda que a situação atual deixa o Papa (quem quer que seja ele) de mãos atadas para dirigir palavras mais duras ao Islã, pois fazê-lo desencadearia terríveis perseguições contra os católicos nos países de maioria muçulmana? E que, portanto, esperar de Bento XVI uma condenação mais dura ao Islã do que o Batismo de um ex-muçulmano na Vigília Pascal é irreal e impraticável, e portanto a queixa de Magdi Allam não tem razão de ser?

    De fato, rezar sobre o túmulo de Maomé é apostasia pública. Por isso que nenhum Papa jamais rezou sobre o túmulo de Maomé e, quando Bento XVI visitou uma mesquita e noticiaram que ele havia rezado, o porta-voz da Santa Sé disse imediatamente que ele não tinha rezado coisa nenhuma, apenas ficado em silêncio enquanto o Imã (ou sei lá o nome da autoridade muçulmana lá) rezava.

    Por fim, sobre a última pergunta:

    Penso que a excomunhão latae sententiae é coisa que atinge o foro interno e não automaticamente o externo, sendo este no qual consiste a jurisdição de ofício eclesiástico (cf. CIC Cân. 130), particularmente a jurisdição sobre uma Igreja Particular que o bispo diocesano exerce.

    Esta, perde «quem publicamente abandonar a fé católica ou a comunhão da Igreja» (CIC Cân. 194, §1, n.2), mas segundo o Direito esta perda só ocorre «se constar por declaração da autoridade competente» (id. ibid., §2). Sem remoção explícita por parte da Santa Sé, então, e salvo melhor juízo, mesmo os prelados propriamente hereges que tenham incorrido na excomunhão automática do Cân. 1364 §1 continuam gozando de poder de governo, quando menos devido ao supplet Ecclesia do cân. 144 §1 (um apêndice ao CIC atual define «erro comum de facto» como «quando por um facto posto, todas ou a maior parte das pessoas presentes erram ao atribuir um poder ou uma faculdade (p. ex.: de jurisdição) para realizar determinado acto», o que, a meu ver, seria precisamente o caso aqui).

    O Código de 1917 aparentemente não tem essa ressalva do atual Cân. 194 §2 [acho que o correspondente é o 188, 4º]. Mas mesmo o Pio-Beneditino fala em só remover o ofício eclesiástico se as monições não surtirem efeito [Cân. 2314, §1., n.2], o que significa aparentemente que mesmo o Codex antigo previa que a perda do ofício não se pode dar à revelia do juízo concreto da autoridade competente. Ainda que se interprete diferentemente, o cânon que fala do supplet Ecclesia (209) tem redação idêntica ao atual e, portanto, a validade dos atos de governo praticados por um bispo sem jurisdição já estava contemplada por Bento XV, e isso me parece resolver o problema.

    Sobre a Cum Ex Apostolatus Officio, penso que ela se referia aos delitos contra a Fé como tais sentenciados pela autoridade competente: i.e., uma vez que fulano tenha sido condenado como herege pela autoridade competente, então ele perde ipso facto todo poder jurisdição.

    Ainda que se interprete diferentemente a bula, penso que a perda de ofício eclesiástico é matéria jurídica e não dogmática, portanto passível de reforma pela autoridade da Igreja.

    Ainda concedendo que a matéria fosse irreformável e um bispo herege de fato perdesse a jurisdição antes mesmo de ser julgado pela Santa Sé, a Igreja supriria a falta de jurisdição de um prelado nessas condições caso todos ou a maior parte dos seus fiéis o reconhecessem como bispo, o que é suficiente para garantir a visibilidade da Igreja e a eficácia de Sua ação para salvar as almas.

    Abraços,
    Jorge

  16. Prezado Jorge, salve Maria.

    Concordo, como sempre, em mais de 90% do que escreveu (como sempre mesmo), mas após perder a mensagem que levei mais de 40 minutos para compô-la agora vou ter que resumi-la. Isso é bom para eu aprender a salvar os escritos, ainda mais quando se tem filhos correndo pela casa prontos a tropeçar no fio da extensão.

    Penso que:

    a) se Paulo VI tivesse condenado o islã isso realmente não teria impedido o crescimento do mesmo mas realço acreditar que uma condenação pública na década de 60 o teria “segurado”, como Pio IX e São Pio IX seguraram o avanço dos progressistas em seus pontificados;

    b) hoje realmente a prudência aconselha a não atacar o islã de forma extrema pelos motivos citados por você, mas também realço que ainda que se desse o contrário os papas conciliares não o criticariam porque VENERAM esta religião, pois que o Vaticano II a reverenciou, bem como todos os papa conciliares que por várias vezes também elogiaram esta religião, a tal “religião do livro”;

    c) penso que você, ainda que tacitamente, me dá razão ao afirmar que Bento XVI “não rezou na mesquita” (ele teria simulado então, como é evidente), porque se lá ele não rezou ele pelo menos teria rezado (e João Paulo igualmente):

    1) no muro das lamentações (o que é inegável), ou

    2) na igreja de Lutero, ou

    3) no encontro de Assis (em especial o primeiro, o mais abominável de todos, quando Buda foi colocado sobre o sacrário), etc…

    4) o próprio beijo no alcorão de Karol é um ato público de apostasia, isso é inegável, pois que o alcorão profana Jesus Cristo e não se pode jamais osculá-lo;

    Sobre a bula de Paulo IV, surpreendeu-me você, com sua inteligência e grande conhecimento, repetir (a meu ver inocentemente) o mesmo erro crasso dos tradicionalistas, eles que não desejam tirar as conclusões práticas de suas afirmações gravíssimas contra aqueles que eles crêem ser cleros legítimos da Igreja (ou seja, afirmar que este clero comete inúmeras heresias públicas).

    Pois bem, fraternalmente exponho que todos os papas e santos que trataram desta questão afirmam o contrário do que você crê. Uma passagem mais explícita sobre este tema retiro da obra de São Roberto Bellarmino, que disse:

    “(…) os Santos Padres ensinam UNANIMEMENTE, não só que os hereges estão fora da Igreja, mas também que estão “ipso facto” PRIVADOS DE TODA JURISDIÇÃO e dignidade eclesiásticas. SÃO CIPRIANO (lib. 2, epist. 6) diz: ‘afirmamos que absolutamente todos os hereges e cismáticos não têm poder e direito algum’; e ensina também (lib. 2, epist. 1) que os hereges que retornam à Igreja devem ser recebidos como leigos, ainda que tenham sido anteriormente presbíteros ou Bispos na Igreja. SANTO OPTATO (lib. 1 cont. Parmen.) ensina que os hereges e cismáticos não podem ter as chaves do reino dos céus, nem ligar ou desligar. O mesmo ensinam SANTO AMBRÓSIO (lib. 1 de poenit., cap. 2), SANTO AGOSTINHO (in Enchir., cap. 65), SÃO JERÔNIMO (lib. cont. Lucifer) (…) O PAPA SÃO CELESTINO I (epist. ad Jo.Antioch., a qual figura no Conc. de Éfeso, tom. I, cap. 19) escreveu: ‘É evidente que permaneceu e permanece em nossa comunhão, e não consideramos destituído, aquele que tenha sido excomungado ou privado do cargo, quer episcopal quer clerical, pelo Bispo Nestório ou por outros que o seguem, depois que estes começaram a pregar a heresia. Pois a sentença de quem já se revelou como devendo ser deposto, a ninguém pode depor’. E em Carta ao Clero de Constantinopla, o Papa São Celestino I diz: ‘A autoridade de nossa Sede Apostólica determinou que não seja considerado deposto ou excomungado o Bispo, clérigo ou simples cristão que tenha sido deposto ou excomungado por Nestório ou seus seguidores, depois que estes começaram a pregar a heresia. POIS QUEM COM TAIS PREGAÇÕES DEFECCIONOU NA FÉ, NÃO PODE DEPOR OU REMOVER A QUEM QUER QUE SEJA. O mesmo repete e confirma SÃO NICOLAU I (Epist. ad Michael).’.

    E também, prezado Jorge:

    “Finalmente, também SÃO TOMÁS ensina (S.Theol., II-II, 39, 3) que os cismáticos PERDEM IMEDIATAMENTE TODA JURISDIÇÃO, e que será nulo o que tentem fazer com base em alguma jurisdição. NÃO TEM FUNDAMENTO o que alguns a isso respondem: que esses Padres se baseiam no Direito antigo, ao passo que atualmente, pelo decreto do Concílio de Constança, só perdem a jurisdição os que são nominalmente excomungados e os que agridem a clérigos. Esse argumento – digo – NÃO TEM VALOR ALGUM, pois aqueles Padres, afirmando que os hereges perdem a jurisdição, não alegam Direito humano algum, que aliás naquela época talvez não existisse sobre a matéria, mas argumentam com BASE NA PRÓPRIA NATUREZA DA HERESIA. O Concílio de Constança só trata dos excomungados, isto é, dos que perderam a jurisdição por sentença da Igreja, ao passo que OS HEREGES JÁ ANTES DE SEREM EXCOMUNGADOS ESTÃO FORA DA IGREJA E PRIVADOS DE TODA JURISDIÇÃO, pois já foram condenados por sua própria sentença, como ensina o APÓSTOLO (Tit. 3, 10-11), isto é, foram cortados do corpo da Igreja sem excomunhão, conforme explica SÃO JERÔNIMO”.

    Sobre a “aceitação” ou “reconhecimento” dos bispos por todos ou pela maioria dos fiéis, seja ele o de Roma ou qualquer outro, tal atitude também deve ser bem compreendida, católicamente compreendida, prezado Jorge.

    Não basta dizer que se aceita o bispo como se ele fosse um “bibelô” ou um “bispo de vitrine” que mantemos somente para dizermos aos outros que temos. Não é nessa atitude pífia e enganadora que está a sabedoria e o ordenamento da Igreja.

    “Aceitar” ou “reconhecer” um bispo significa, muito mais do que nominalmente dizer que tal prelado é de fato bispo da Igreja Católica, OBEDECER-LHE VERDADEIRAMENTE NO QUE DIZ RESPEITO A FÉ, A MORAL E AOS COSTUMES. Daí a vassalagem a que estamos obrigados não somente ao papa mas a nosso bispo. Ensinou o Concílio de Trento:

    960. (…) Portanto, declara o santo Concilio que, além dos demais graus eclesiásticos, primordialmente OS BISPOS, que são os sucessores dos Apóstolos, pertencem à ordem hierárquica e que eles foram — como diz o Apóstolo S. Paulo, — ESTABELECIDOS PELO ESPIRITO SANTO PARA GOVERNAR A IGREJA DE DEUS (At 20, 28)”.

    Ora, quem desobedece em matéria doutrinária ao bispo não o reconhece e não o aceita, ainda que diga exteriormente que este é um bispo legítimo, como os tradicionalistas dizem. Ora, o próprio João Paulo II ao excomungar Dom Lefebvre realçou essa verdade elementar em seus próprios termos:

    “3. Em si mesmo, tal acto foi uma desobediência ao Romano Pontífice em matéria gravíssima e de importância capital para a unidade da Igreja, como é a ordenação dos bispos, mediante a qual é mantida sacramentalmente a sucessão apostólica. Por isso, tal desobediência – que traz consigo uma REJEIÇÃO PRÁTICA do Primado romano – constitui um acto cismático”.

    Portanto, realço ainda mais uma vez: a obediência filial ao bispo não é apenas uma prova deste reconhecimento, mas tal atitude é obrigatória por parte dos fiéis, sem o que o fiel em questão NÃO RECONHECE o bispo, ainda que afirme exteriormente o contrário. É como quando um rei assume o trono, os vassalos imediatamente se consagram a este rei, e esta consagração é verdadeira, e não apenas aparente.

    Assim, os tradicionalistas não reconhecem os papas e bispos conciliares e mesmo você, para se manter fiel a Igreja, não reconhece muitos destes bispos, ainda que diga reconhece-los.

    Abração,

    Sandro de Pontes

  17. Sandro,

    “Pio XII não tinha medo do nazismo, apenas durante a guerra se ele se pronunciasse mais veementemente tal atitude CERTAMENTE causaria a morte de milhares ou milhões de pessoas.

    É difícil entender isso?”

    Sim, é difícil, pois parece claríssimo que Pio XII tinha medo que o nazismo matasse milhares de pessoas se ele condenasse o holocausto. E acho que ele tinha razão em ter medo disso, assim como os Papas atuais têm toda a razão em temer que as populações cristãs em países como a Síria, Iraque, Irã, Paquistão, etc sejam trucidadas se ele emitir uma condenação nos moldes que você parece propugnar.

    ” Ou seja, eles não atacam o islã pela CONVICÇÃO de que esta é uma boa religião, umas das “três monoteístas”, entre outras mentiras.

    É difícil entender isso?”

    Sim, é difícil, pois desconheço declarações do Magistério que digam UNIVOCAMENTE que o Islã é uma boa religião e, por tabela, dado os transcendentais do ser, uma religião que detém a verdade exceto naqueles pontos em que coincida com a fé católica.

    ” E para continuar reduzindo-o ao silêncio basta demonstrar que você é incapaz de dar uma palavra a respeito de Assis I, onde Buda foi colocado sobre o (…)”

    O meu silêncio sobre esses temas é porque eles não estão nessa discussão. Ela se refere tão somente à questão da conveniência ou não dos Papas atuais em emitir uma condenação formal (como se isso fosse necessário, mas, vá lá) contra o Islã hoje e comparar isso com a conveniência de Pio XII ter se calado diante do Holocausto. Trazer esses pontos é tergiversar. Poderíamos, então, questionar a Concordata com o III Reich que fazia alusão ao juramento de lealdade dos clérigos ao Furher ou os inúmeros bispos que lhe foram subservientes ou ao famoso “mas eles me prometeram” de Pio XII à princesa Pignatelli quando ela lhe informou que os nazistas estavam deportando os judeus de Roma ou ao suposto acordo tácito de que o Vaticano não seria invadido se ele se calasse diante dessa deportação, etc. Eu não condeno, nem de longe, Pio XII por isso, mas também não condeno a polidez com que os Papas recentes tratam as demais religiões, todas já sobejamente condenadas.

    “Livre-se do absinto e raciocine, meu caro. (…)Vou esperar aqui pacientemente os seus sofismas,”

    Caríssimo, o porre causado pela leitura de seus texto já está passando. Faça bom proveito de meus sofismas (sic) e eu fico aguardando suas tergiversações e “saídas pela direita” :)

  18. Lampedusa,

    O melhor deste tipo de debate é que o debate em si não serve primordialmente para convencê-lo de seus erros, porque você demonstra pertinácia neles, mas serve para que terceiros possam conhecer aquilo que de fato a Igreja ensina, aquilo que de fato os papas fizeram ou falaram, aquilo que de fato é a realidade, e não aquilo que gostaríamos que fosse. Você:

    “desconheço declarações do Magistério que digam UNIVOCAMENTE que o Islã é uma boa religião e, por tabela, dado os transcendentais do ser, uma religião que detém a verdade exceto naqueles pontos em que coincida com a fé católica”.

    Puxa, você desconhece um texto magisterial que diga com todas as letras que o Islã é uma boa religião? Mas ainda que existisse tal texto você constataria que ele, que este texto, provêm de Satanás ou rebolaria para conseguir dar uma solução, ainda que falsa, ao ensinamento proposto?

    Sem dizer diretamente e com todas as letras que o Islã é uma boa religião, o ensinamento dos papas conciliares sugerem que o islã, apesar de não ser a melhor religião, é uma boa religião, pois que monoteísta e oferecedora de várias virtudes de proveito dos fiéis. A Nostra Aestate ensinou o seguinte:

    3. A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. ADORAM ELES O DEUS ÚNICO, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, PROCURAM SUBMETER-SE DE TODO O CORAÇÃO, como a Deus se submeteu Abraão, que A FÉ ISLÂMICA DE BOM GRADO EVOCA. Embora sem o reconhecerem como Deus (sic), veneram Jesus como profeta, e honram Maria, sua mãe virginal, à qual por vezes invocam devotamente. ESPERAM PELO DIA DO JUÍZO, no qual Deus remunerará todos os homens, uma vez ressuscitados. Têm, por isso, EM APREÇO A VIDA MORAL E PRESTAM CULTO A DEUS, sobretudo com a oração, a esmola e o jejum”.

    E também o parágrafo 841 do catecismo de João Paulo II, que reza:

    “(…) o PLANO DE SALVAÇÃO ABRANGE TAMBÉM AQUELES QUE RECONHECEM O CRIADOR. Entre eles, em primeiro lugar, os muçulmanos, que, PROFESSANDO MANTER A FÉ DE ABRAÃO, adoram conosco o DEUS ÚNICO, misericordioso, juiz dos homens no último dia”.

    Ah, mas acima não está escrito que a religião muçulmana é uma boa religião, não é mesmo? Mas o que é que está escrito acima se não uma ode aos muçulmanos e uma aprovação, ainda que tácita, as coisas boas que eles fazem por causa do islamismo, que é quem fornece estes elementos santificantes?

    Mas não sabe você que a Igreja condena olhar para as coisas boas que existem nas falsas religiões, e que devemos nos ater SOMENTE as coisas más, para condená-las, como de fato a Igreja sempre as condenou? É o que ensina Leão XIII na Satis Cognitum, dando o exemplo da gota de veneno em um copo de leite.

    Ora, como todas as religiões apresentam aspectos positivos, é necessário tratar do assunto com a sabedoria dos céus. Daí a bíblia dizer, desde o antigo testamento e também no novo, que “os deuses dos pagãos são demônios”, entre outras passagens que afirmam EXPRESSAMENTE que não importa qualquer coisa boa que possuam as falsas doutrinas, ou mesmo atitudes boas que pratiquem determinadas pessoas sem fé. Nada disso importa pois tanto as doutrinas como estas pessoas estão exteriormente condenadas, a menos que Deus, e só Ele, consiga uma maneira de fazer com que tais pessoas se salvem.

    Foi o que ensinaram todos os papas que trataram do assunto, menos os conciliares:

    Credo de Santo Atanásio (séc. IV), oficial da Igreja Católica: “Todo aquele queira se salvar, antes de tudo é preciso que mantenha a fé católica; e aquele que não a guardar íntegra e inviolada, SEM DÚVIDA perecerá para sempre (…) está é a fé católica e aquele que não crer fiel e firmemente, não poderá se salvar”.

    Papa Inocêncio III (1198-1216): “De coração cremos e com a boca confessamos uma só Igreja, que NÃO DE HEREGES, só a Santa, Romana, Católica e Apostólica, fora da qual cremos que NINGUÉM SE SALVA”.

    IV Concílio de Latrão (1215), Canon I: “…há apenas uma Igreja universal dos fiéis, fora da qual ABSOLUTAMENTE NINGUÉM É SALVO…”.

    Papa Bonifácio VIII (1294-1303): “Por apego da fé, estamos obrigados a crer e manter que há uma só e Santa Igreja Católica e a mesma apostólica e nós firmemente cremos e simplesmente a confessamos que fora dela NÃO HÁ SALVAÇÃO NEM PERDÃO DOS PECADOS. (…) o declaramos, o decidimos, definimos e pronunciamos como de toda necessidade de salvação PARA TODA CRIATURA HUMANA”.

    Concílio de Florença (1438-1445): “Firmemente crê, professa e predica que NINGUÉM QUE NÃO ESTEJA DENTRO DA IGREJA CATÓLICA, não somente os PAGÃOS, mas também, JUDEUS, os HEREGES e os CISMÁTICOS, não poderão participar da vida eterna e IRÃO PARA O FOGO ETERNO que está preparado para o diabo e seus anjos, a não ser que antes de sua morte se unirem a Ela(…).

    Isso sem falar no Concílio de Trento, que além de condenar e excomungar os inimigos ainda reiterou tudo o que os Concílios anteriores declararam, proferindo: “… nossa fé católica, sem a qual é IMPOSSÍVEL AGRADAR A DEUS…”

    Esta é a fé católica que ninguém pode se desviar, nem o Lampedusa, creia-me.

    Agora apenas para dar um exemplo da prática conciliar relacionada ao ensinamento da Nostra Aetate vejamos o que disseram e/ou fizeram João Paulo II e Bento XVI. Primeiro, Karol disse inacreditavelmente, inaceitavelmente:

    “Possa São João Batista proteger (sic) O ISLÃ e todas as pessoas do Jordão…” (João Paulo II, Homilia do dia 13 de Outubro de 1989 – Fonte: L’ Osservatore Romano, March 29, 2000, p. 2).

    Imagine você que São João Batista protegeria o Islã!!!! Esta declaração é mais uma apostasia pública da fé católica, ou seja, João Paulo II professou uma outra fé que não a nossa. E agora vejamos Bento XVI, que disse:

    “Refiro-me à declaração Nostra aetate, sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. Inicialmente havia a intenção de preparar uma declaração sobre as relações entre a Igreja e o JUDAÍSMO – um texto que se tornou intrinsecamente necessário depois dos horrores do Holocausto (shoah). Os Padres conciliares dos países árabes não se opuseram a tal texto, mas explicaram que se se queria falar do judaísmo, então era preciso dedicar também algumas palavras ao ISLAMISMO. Quanta razão tivessem a este respeito, só pouco a pouco o fomos compreendendo no ocidente. Por fim cresceu a intuição de que era justo falar também doutras duas grandes religiões – o HINDUÍSMO e o BUDISMO – bem como do tema da religião em geral. A isto se juntou depois espontaneamente uma breve instrução relativa ao diálogo e à colaboração com as religiões, cujos VALORES ESPIRITUAIS, MORAIS E SOCIOCULTURAIS deviam ser RECONHECIDOS, CONSERVADOS E PROMOVIDOS (cf. n. 2).

    http://fratresinunum.com/2012/10/10/texto-inedito-de-bento-xvi-recorda-a-abertura-do-vaticano-ii-os-padres-conciliares-nao-podiam-nem-queriam-criar-uma-igreja-nova-diversa-nao-tinham-o-mandato-nem-o-encargo-para-o-fazer-uma-hermen/

    Lampedusa, você sabe os valores espirituais, morais e socioculturais destas religiões citadas por Bento XVI? Desde a poligamia, passando pela segregação das castas até o politeísmo, e isso não é algo para ser ignorado, quais seriam tais valores?

    O que sobra então? A filantropia? Nem isso em muitos casos, pois que alguns crêem que o que está morrendo de fome está pagando pelos pecados de vidas passadas.

    Quais valores sobram então nestas religiões? O voltar-se ao divino? Mas os deuses dos pagãos são demônios. O que sobra então? Uma boa fé de almas retas que lá podem estar? Então não passaria disso, uma boa fé de almas retas que podem lá estar, sendo que tais almas retas somente Deus as conheceria, e não nós, que não somos oniscientes. Então, o que sobraria, quais valores?

    A isso, tenho claro que o judaísmo poderia ser uma exceção sobre diversos aspectos, bem como ramos protestantes (mas neste caso nem todos, porque muitos dos filhos de Lutero não defendem a indissolubilidade do matrimônio, por exemplo, então são imorais).

    E mais uma passagem de Bento: o Jorge não admitiu, mas o fato é que quando visitou a famosa mesquita de Istambul (mesquita “Azul”) Ratzinger confessou sim ter rezado, dizendo taxativamente:

    “Parando por alguns minutos em recolhimento naquele LUGAR DE ORAÇÃO, ME VOLTEI PARA O ÚNICO SENHOR do céu e da terra, Pai Misericordioso da humanidade inteira”.

    http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/2147-na-mesquita-rezei-ao-deus-unico-relata-bento-xvi

    Foi por causa desta confissão explícita (que atesta ato público de apostasia) que até mesmo os modernistas questionaram a licitude de tal oração, o que obrigou Kasper a tentar apagar o incêndio:

    “Não sei o que o Papa pensou durante o momento de silêncio que fez na Mesquita azul: era um recolhimento, uma meditação. E isto se pode fazer (…) Se era uma oração, AO MENOS NÃO ERA UMA ORAÇÃO OFICIAL, não era uma oração pública, porque NÃO SE PODE FAZER”.

    Lampedusa, vendo isso que lhe digo você se voltará contra Bento XVI por constatar o desvio deste senhor, ou se voltará contra mim que apenas cumpro minha obrigação de denunciá-lo? A bíblia amaldiçoa quem chama o justo de ímpio e o ímpio de justo, não deixe de estar atento a este fato. Este é mais um pecado seu, e não meu, que tenho outros, talvez até maiores, mas este eu não tenho, o de proteger os desviados da fé católica!

    Finalizando esta parte relacionada aos seguidores de Maomé, ensinou o Papa Calixto III, sendo este o espírito que devemos manter em relação ao islamismo, que começa a chegar no Brasil (acabam de criar o seu primeiro partido político, bem como a “Liga da Juventude Islâmica”, vá ao Google e pesquise:

    “Eu juro… exaltar a verdadeira Fé, e extirpar a DIABÓLICA SEITA do reprovado e infiel Maomé [Islã] do Ocidente.”

    Puxa, que pena que nada podemos fazer para conter os muçulmanos, pois que desde que eles se mantenham nos “justos limites” não podem ser impedidos de agir em território tupiniquim…mas mantendo-se em justos limites eles poderão crescer e uma vez que o gigante se criou quem irá detê-lo? E você:

    “(…) O meu silêncio sobre esses temas é porque eles não estão nessa discussão. Ela se refere tão somente à questão da conveniência ou não dos Papas atuais em emitir uma condenação formal (como se isso fosse necessário, mas, vá lá) contra o Islã hoje e comparar isso com a conveniência de Pio XII ter se calado diante do Holocausto. Trazer esses pontos é tergiversar”.

    Lampeduza, não creio no que está dizendo: leia a minha primeira mensagem neste post onde o tema que eu abordei e que coloquei em questão foi justamente este!!! Posteriormente o Jorge fez a analogia com Pio XII que eu discordei inicialmente para depois concordar em partes, desde que feitas as devidas distinções. E você:

    “(…) Poderíamos, então, questionar a Concordata com o III Reich que fazia alusão ao juramento de lealdade dos clérigos ao Furher (sic) ou os inúmeros bispos que lhe foram subservientes ou ao famoso “mas eles me prometeram” de Pio XII à princesa Pignatelli quando ela lhe informou que os nazistas estavam deportando os judeus de Roma ou ao suposto acordo tácito de que o Vaticano não seria invadido se ele se calasse diante dessa deportação, etc. Eu não condeno, nem de longe, Pio XII por isso, mas também não condeno a polidez com que os Papas recentes tratam as demais religiões, todas já sobejamente condenadas”.

    Veja: novamente você se omitiu sobre Assis (onde Buda foi colocado sobre o sacrário), sobre Bento elogiar publicamente o heresiarca Lutero e plantar árvore para ele, rezando na igreja dele, sobre João Paulo II ter osculado o alcorão, sobre todos estes terem rezado em mesquitas, sinagogas, no muro das lamentações e em templos protestantes, etc…seu silêncio é uma vergonha, mas não é por causa dele que o trato tão duramente: o trato assim porque você demonstra arrogância e má vontade, ao contrário do Jorge, com quem venho debatendo há anos, sendo que vejo nele o contrário, boa vontade e caridade com todos que dele discordam.

    Sobre Pio XII, tenho que lhe perguntar: você andou fazendo curso de “quebra do oitavo mandamento” com o Fedeli? Lampeduza, ainda que isso que você diz seja verdadeiro trata-se tão somente de QUESTÕES POLÍTICAS, e não questões de fé, moral e disciplina da Igreja, que é o que estamos debatendo aqui.

    Como defender a honra de Pio XII (que claramente não tem a sua estima) tomaria muito tempo, basta eu realçar o seguinte: ainda que você esteja com a razão (não está), mas ainda que esteja, tanto faz, não faz diferença, Pio XII não errou gravemente em matéria de fé, de moral e de costumes.

    Já os conciliares até pediram a São João Batista que abençoasse o Islã, entre outras coisas abomináveis…

    Além do que, o Vaticano II ajudou a acelerar a apostasia dos católicos no mundo todo.

    É isso. Que Deus o abençoe a Maria o proteja.

    Sandro de Pontes

  19. Sandro,

    Que bom que concordamos que não há textos do Magistério que afirmem UNIVOCAMENTE que o Islã é uma boa e verdadeira religião exceto naquilo que ela coincide com a fé católica!

    Não encontro nada no texto de Bento XVI que você citou que não esteja de acordo com o parágrafo anterior. Apesar de não ser o tema que estamos discutindo, é inegável que o islamismo é um contendor aguerrido de outros inimigos mais ferozes, perigosos e importantes do catolicismo: o laicismo, o ateísmo, a indiferença religiosa, a retirada de Deus do espaço público, etc.

    =================================================================

    Realmente teria de concordar com você da total falta de propriedade da afirmação de João Paulo II que você trouxe:

    ““Possa São João Batista proteger (sic) O ISLÃ e todas as pessoas do Jordão…” (João Paulo II, Homilia do dia 13 de Outubro de 1989 – Fonte: L’ Osservatore Romano, March 29, 2000, p. 2).”

    O ÚNICO PROBLEMA É QUE NÃO A ENCONTREI NA HOMILIA CITADA E EM NENHUMA HOMILIA OU DISCURSO DE JOÃO PAULO II NA INDONÉSIA (onde estava na data citada). Encontrei apenas duas referências ao Islã em suas homilias nessa viagem (àquele que é o maior país islâmico do mundo): uma pequena na primeira homilia nesse país e outra mais longa na homilia citada. Essa, apesar de que você provavelmente a julgue errada, nem de perto afirma o que você colocou aqui. Diz o seguinte:

    “The Church in Sumatra is happy that this certitude is shared by all the people of the region: with our Christian brothers and sisters who believe in the same Lord and Saviour Jesus Christ, and also with the followers of Islam who believe in the same good and just God. To them, our Muslim brothers and sisters, I address warm greetings, hoping that we will be as one in praising the Most High God and will work together so that future generations in Sumatra may live in a society marked by respect for God and his commandments. Truly, he is the Lord who loves “ justice and right ”.”

    VOCÊ PODERIA ME TRAZER A FONTE OFICIAL ONDE ESSA FRASE SE ENCONTRARIA?

  20. Lampedusa,

    Já lhe disse a fonte: tal disparte foi dito durante a homilia realizada no dia 13 de Outubro de 1989, tal como foi publicada pelo L’ Osservatore Romano em março do ano 2000.

    Se, posteriormente, como você diz, este trecho já não se encontra mais na homilia, é porque foi retirado pelo escândalo que causava.

    Logo, agora você não irá acreditar em mim…

    A vida continua, companheiro!

    Que Deus o proteja e Nossa Senhora o guarde,

    Sandro de Pontes

  21. Sandro,

    Você tem o link para essa publicação do Osservatore? Não lhe estranha que uma homilia do Papa seja publicada onze anos depois pelo Osservatore Romano? Você tem provas de que o texto original da homilia constante hoje no site da Santa Sé (http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1989/documents/hf_jp-ii_hom_19891013_tuntungan_en.html) foi alterado? Será que não foi o Osservartore que errou ou, pior ainda, a fonte onde você viu isso tenha errado (de má fé ou não)?

  22. Lampedusa,

    claro que não é estranho o L’ Osservatore Romano ter publicado a homilia no ano 2000, pois que em 89 não havia internet e certamente eles estavam fazendo gradualmente a digitação das homilias de João Paulo II para irem publicando-as pouco a pouco.

    Você disse que não encontrou a citação na homilia pesquisada por você, logo, se encontrou a homilia correta, e a citação não está lá, somente pode ter sido retirada.

    Prezado, no ano 2000, pode parecer incrível, mas quase ninguém tinha internet, ainda era “coisa de rico”, apenas a burguesada tinha acesso a rede, que ainda era muito lento e feito com linhas telefônicas e modens da idade da pedra. Eu, claro, não salvei a publicação original, mas me lembro e muito bem da repercussão desta citação, repercutiu no mundo todo, principalmente no tradicionalista, e isso naquela época, há 13 anos.

    Ele disse isso, se não estiver na homilia original é porque retiraram posteriormente, por causa do escândalo. Assim como correram para desmentir que Bento tenha rezado na mesquita.

    Sandro

  23. Sandro,

    Sobre os primeiros pontos, parece-me que são meramente matéria de especulação os possíveis desenvolvimentos do islamismo nas últimas décadas caso a postura da hierarquia da Igreja houvesse sido diferente. E ainda concedendo para argumentar que os últimos Pontífices houvessem sido negligentes nesta seara, penso i) que eles não se tornam menos Papas e nem menos dignos de respeito por causa disso; e ii) que expôr publicamente os seus pecados em nada contribui para a causa católica.

    Sobre a apostasia pública, não tenho acesso à citação original de Santo Tomás mas estou bastante convencido de que ele, é lógico, se refere a prestar publicamente um falso culto a Deus (ou um culto a um falso deus), e não simplesmente a rezar privadamente a Deus em tal ou qual lugar. É esta a razão pela qual a justificativa do Kasper (achei que fosse do pe. Lombardi, mas tanto faz) de que o que Bento XVI fez numa mesquita «não era uma oração oficial» é perfeitamente válida, e o mesmo vale para o Muro das Lamentações, o Pagode japonês ou o que seja. Eu poderia até conceder que isso é dar mau exemplo e provocar escândalo desnecessário, mas certamente não dá para inferir apostasia pública a partir de visitas esporádicas a templos não-católicos. E provocar escândalo é pecado, sem dúvidas, mas o Papa não deixa de ser Papa por isso.

    Sobre a Bula de Paulo IV, eu ainda acho que a questão está longe de ser dirimida. Por exemplo, o Ludwig Ott ensina que «[l]os herejes y apóstatas ocultos siguen siendo miembros de la Iglesia, según la opinión más probable de Belarmino y de la mayor parte de los teólogos modernos (Palmieri, Billot, Straub, Pesch) contra la de Suárez, Franzelin y otros»; se o herege oculto permanece membro da Igreja mesmo sendo herege, por que ele haveria de perder a jurisdição?

    Mas ainda concedendo que ele a perdesse, aplicar-se-ia, como falei, penso, o supplet Ecclesia devido ao [erro de] fato dos leigos o continuarem reconhecendo como autoridade católica. A tese é aliás abraçada pela própria FSSPX, aplicando-a aos bispos cismáticos e afirmando que a Igreja supre a falta de jurisdição deles em atenção ao bem das almas: «alguns teólogos, feitas as devidas precisões, aventam a hipótese de a Igreja suprir tacitamente a jurisdição mesmo para os Bispos ortodoxos cismáticos, a fim de que com a sagração de outros Bispos, além da ordenação de outros sacerdotes, se proveja à necessidade de tantas almas».

    Por fim, a noção de que é preciso «obedecer-lhe [ao bispo] verdadeiramente no que diz respeito à fé, à moral e aos costumes» para que se o reconheça como autoridade legítima é estranha. É perfeitamente possível reconhecer o bispo e pecar, e a exigência de uma Fé impoluta como conditio sine qua non para que se reconheça uma autoridade soa-me nonsense. Para mim, a prova mais evidente de que os católicos (mesmo os maus católicos) reconhecem a jurisdição dos bispos (mesmo dos maus bispos) está no fato de que todos [ou quase todos d]eles sempre recorrem à sua jurisdição naquilo que lhes toca mais diretamente: confissões e matrimônios [e tribunais de nulidade…]. Isto me parece evidenciar um reconhecimento (tácito ao menos) de que fulano de tal é de fato bispo da diocese tal.

    Por fim, saliento ainda que os maus bispos não emitem lá muitas declarações a respeito da Fé, da Moral e dos costumes que os seus fiéis possam acatar ou recusar…

    De minha parte, afirmo-lhe que eu reconheço total jurisdição a qualquer bispo (por herege que seja) regularmente nomeado pela Santa Sé, e não como um “bibelô” mas com todo o significado que esta expressão carrega: ele deve ser reverenciado, devemos beijar-lhe a mão e ajoelharmo-nos aos seus pés, devemos pedir-lhe licença para realizar atividades católicas em sua Diocese, etc., e (principalmente) os casamentos contraídos em sua diocese são válidos, e os padres aos quais ele conferiu jurisdição para confessar têm de fato autoridade para absolver pecados (e eu, conhecendo um seu padre, confessar-me-ia com ele – só ponho a ressalva porque os confessionários modernos têm inúmeros problemas, mas (geralmente) não de jurisdição).

    Abraços,
    Jorge

  24. Lampedusa e Sandro Pontes, a título de informação.

    Consultei o Internet Archive Wayback Machine e não há qualquer diferença entre o documento do primeiro snapshot, de 7 de Fevereiro de 2008, e o documento atual que está no site do Vaticano. Usei o Meld pra fazer a comparação textual (diff).

  25. Prezado Alexandre, viva Cristo Rei.

    Se possível arranje o original publicado no ano 2000, este é o essencial.

    Cordialmente,

    Sandro de Pontes

  26. mandei mensagem a todos os meus amigos que acompanham a questão em diversos lugares do mundo, vamos ver o que eles nos respondem, se alguém tem o original

  27. Alexandre e Sandro,

    1 – há, de fato, uma oração de João Paulo II com palavras parecidas às trazidas pelo Sandro aqui. O Santo Padre assim orou:

    “São João Baptista proteja o Islão, todo o povo da Jordânia e todos aqueles que participaram nesta celebração, uma celebração memorável! Estou grato a todos vós. Muito obrigado!”

    2 – porém, tais palavras não foram ditas em 1989 e nem constam (e nem nunca constaram) da homilia do Papa citada pelo Sandro.

    3 – é provável que o Sandro tenha tirado essa informação de algum site sedevacantista pouco preocupado com a verdade ou com os fatos em si, mas, sim, em demonstrar sua ideologia. Provavelmente esse: http://roberto-cavalcanti.blogspot.com.br/2010/06/joao-paulo-ii-apostata-e-herege.html , pois os dizeres e DADOS são muito assemelhados.

    4 – essas palavras foram ditas por João Paulo II em 21 de março de 2000, durante uma cerimônia na Jordânia, junto ao Rio Jordão, no local onde São João Batista batizou Jesus. E esse é o texto dito por Sua Santidade: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/travels/documents/hf_jp-ii_spe_20000321_wadi-al-kharrar_po.html

    5 – a) sim, a forma como João Paulo II se manifestou foi, a meu ver, inapropriada, pois dá margem, principalmente no Ocidente, a interpretações mal intencionadas e distorcidas, ou, no mínimo, superficiais por parte daqueles que, a priori, irão criticar até um Pai Nosso dito por ele.

    b) sim, qualquer católico estranharia o Papa rezar pela religião islâmica. Sim, a palavra “Islã ou Islão” tem como TERCEIRO no significado no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa “(3) Islamismo”. Porém, o primeiro significado por ele registrado é: “(1) civilização que se desenvolveu tendo como base a fé islâmica” . Por outro lado, esse mesmo dicionário, no mesmo verbete continua: “(2) o conjunto das nações modernas que tem o islamismo como religião predominante”.

    c) a estrutura da frase dita pelo Santo Padre não autoriza o significado (3) – este, sim, herético – , pois como me afirmou um amigo ‘ o movimento da frase só permite esta interpretação: os “que participaram nesta celebração” são membros do “povo da Jordânia”, o qual, a sua vez, é membro do “Islão” (conjunto dos países que professam o islamismo).’

    d) evidentemente, todo esse raciocínio poderia ser substituído, para uma pessoa normal que não tem ódio ao Papa e aberta à verdade, se, num gesto de boa vontade procurasse compreender o contexto no qual essas palavras foram ditas e fosse, humildemente, como faria um filho que ama ao pai, procurar no dicionário uma interpretação ‘católica’ para essa frase. Ou, se quisesse, poderia ir à Wikipedia e ver que lá se diz “”Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião (a jurisprudência islâmica utiliza nesse caso a expressão Dar-al-Islam, “casa do Islão”)”.

    e) julgar essas palavras heréticas seria como dizer que o Papa comete heresia se pedir a São João Batista que proteja o Japão ou a Índia ou o Magreb ou Cuba, pois tais lugares são budistas, hindus, islâmicos ou ateus…

    6 – enfim, como já afirmei aqui não é esse o debate no qual me imiscui com o Sandro (eu queria apenas comparar, como o Jorge fez, o temor de Pio XII e o temor dos Papas atuais ao criticar povos ou governos violentos e contrários aos católicos). Fui pesquisar essa porque realmente a estranhei e achei a informação do Sandro inverossímil, assim como sua interpretação. Do mesmo modo, pareceu-me – perdoem-me o termo – descabido e ridícula a acusação de que o Vaticano forjaria o relato de uma homilia do Papa “no calar da noite”, sem justificar.

  28. Apenas para registrar, o que afirmo no ítem 3 – não é dirigido ao Sandro, pois, como disse, ele fez uso de informação errada de forma acrítica mas, imagino eu, não de má fé. Já quanto a esse Roberto Cavalcanti, ao publicar algo assim, sem conferir ou checar as fontes ou dar outras possíveis interpretações, cabe pouca comiseração.

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