Santo Tomás e o atentado contra Hitler

[Reproduzo um trecho do excelente texto do “Sou conservador e daí?”, sobre as influências de Santo Tomás nas conspirações contra Hitler durante o regime nazista alemão. A história é interessante e, como está dito no texto, dificilmente seria contada hoje em dia; certos assuntos não é interessante promover. No entanto, precisa ser conhecida; as influências benéficas do dominicano medieval estendem-se até os nossos dias de hoje. Isto, por si só, deveria evidenciar que há algo de muito errado com a forma segundo a qual a Idade Média nos é apresentada. Que Santo Tomás interceda por nós.]

Desde setembro de 1942, diante do assassinato em massa de civis e judeus, Von Stauffenberg se declara com intenção de matar Hitler, mas seus amigos levantavam um problema de consciência. A obediência do exército alemão era uma questão de honra e atentar contra o chefe da nação não constituiria uma traição e um pecado grave de assassinato?

Mesmo Stauffenberg confidenciou ao seu antigo amigo da Escola de Guerra, Albrecht Mertzvon von Quirnheim, católico como ele, no dia 13 de julho de 1944: “Estou ciente de que nós vamos enterrar o espírito militar alemão (…). No entanto, devemos agir, pela Alemanha e pelo Ocidente”.

Quanto ao problema de consciência de seus amigos, Stauffenberg respondia com um argumento extraído da Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino (In 2 Sentenças, 44.2.2) para justificar que o tiranicídio é permitido em certas circunstâncias.

Tempo antes, Stauffenberg havia se encontrado com o cardeal de Berlin, o conde Konrad Von Preysing, para discutir a matéria, e o purpurado alemão elogiou a intenção do nobre oficial e não apresentou nenhuma objeção teológica à razão apresentada.

Pedido pela beatificação da Princesa Isabel

Eu vou remeter a dois textos d’O Possível e o Extraordinário: “Quem foi a Princesa Isabel?” e “Prólogo da Beatificação da Princesa Isabel”. Destaco apenas a seguinte frase (do primeiro texto): «A Princesa Isabel herdou da mãe dela o catolicismo ultramontano e era devota de Santa Isabel da Hungria e Santa Isabel de Portugal!»

Era católica devota: eis a importante característica da personalidade da princesa Isabel que, não obstante, é-nos sistematicamente ocultada nas aulas de História do Ensino Médio. Sobre a importância deste fato nos fala o Cônego Manfredo Leite (apud segundo texto acima citado): «é mister reconhecer que o manancial onde se lustrou toda essa perfeição moral de d. Isabel, e onde ela hauriu essas energias para as fecundidades da sua bondade e da sua generosidade, foi incontestavelmente a pureza dos princípios cristãos, aos quais tanto se afeiçoou e com os quais se identificou sua larga existência».

Afinal de contas, é somente com o Cristianismo que se coloca a igualdade fundamental entre os homens, uma vez que «já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus» (Gl 3, 28). E, portanto, se por um lado o Apóstolo manda que os servos obedeçam aos seus senhores (cf. Cl 3, 22), por outro lado escreve “de próprio punho” a um senhor para pedir a liberdade de um escravo (cf. Fl 19). Na verdade, é com o florescimento do Cristianismo que se extingue a escravidão tão largamente difundida durante a Antiguidade. Apenas mil anos depois, com o Renascimento, é que esta prática voltará a ser praticada.

Nada mais natural, portanto, que a Princesa que aboliu a escravidão no Brasil fosse filha da Igreja – da mesma Igreja que, p.ex., durante a Idade Média criou a Ordem de Nossa Senhora das Mercês para libertar os cristãos cativos que caíam sob o jugo dos sarracenos. Nada mais natural, portanto, que o Papa Leão XIII tenha enviado em 1888 uma rosa de ouro para a Princesa Isabel pela promulgação da Lei Áurea. Nada mais natural que fosse o Cristianismo a força motriz por trás da abolição da escravatura no Brasil.

O pedido é pela beatificação de Dona Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, a Isabel do Brasil, nossa Princesa Isabel. Foi entregue a Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, com a seguinte súplica: «solicitamos a Vossa Reverendíssima, a nomeação de um prelado da vossa Arquidiocese para ser o postulador desta causa, que certamente permitirá aos brasileiros conhecerem melhor e a amar mais aquela que muito fez pelo bem do nosso País. Não temos dúvida, de que o acesso aos documentos, às fontes históricas, revelarão uma vida edificante que muito motivará aos brasileiros e de modo especial aos fiéis católicos, a perseverarem na esperança de seguir o caminho de verdade e vida proposto por Nosso Senhor Jesus Cristo, via certa da salvação. E que a Virgem Maria Santíssima, Mãe de Deus e Rainha do Céu, interceda por esta causa, para o bem de todos» – Amen! Que a Virgem Imaculada, padroeira do Brasil, interceda por esta nobre causa. E, se for para a maior glória de Deus, que a última princesa imperial desta Terra de Santa Cruz possa ser honrada nesta pátria com a glória dos altares.

Foi a Igreja quem inventou a saúde pública!

O Sakamoto (sim, ele de novo!) critica a posição católica sobre os preservativos e propõe ironicamente entregar a saúde pública à Igreja. É uma piada. Esta bravata pueril é apenas mais um sintoma da miséria intelectual na qual se encontra o anti-clericalismo moderno: sim, Sakamoto, foi a Igreja quem inventou a saúde pública, ora bolas!

Bastaria ler (p.ex.) o Thomas Woods Jr. para aprender «[c]omo a Igreja criou praticamente todas as instituições de assistência que conhecemos, dos hospitais à previdência» [a propósito, também valeria a pena mencionar a Régine Pernoud, sobre o ensino medieval]. Mas não seria necessário tanto.

Bastaria saber o que é uma Santa Casa de Misericórdia. Bastaria, aliás, saber que Nosso Senhor mandou “curar os doentes” (cf. Mt 10, 8) e que, desde então, o cuidado dos enfermos sempre esteve entre as obras de misericórdia corporal.

Bastaria procurar o verbete “Hospital” na Wikipedia para saber que, após o Concílio de Nicéia, começaram a ser construídos hospitais em todas as dioceses católicas em profusão jamais vista (aliás, convém lembrar que “Hospital”, na França, se diz “Hôtel-Dieu”). E ainda (na mesma Wikipedia) que «[h]istoricamente, os hospitais foram fundados e financiados por ordens religiosas ou indivíduos e líderes caridosos» [cf. também “O hospital medieval como expressão institucional da caridade cristã”].

Bastaria saber quem são os alexianos, ou São Camilo de Lelis, ou Madre Teresa de Calcutá. Bastaria ter lido o Luis María Anson, miembro de la Real Academia Española (em português aqui), falando (há dois anos) precisamente sobre a Igreja e a AIDS. Bastaria saber que existe no Vaticano um Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde e que, em 2006, pertenciam «à Igreja Católica 26,7% dos centros no mundo para tratar os enfermos de Hiv/Sida». E que, de acordo com os dados de maio deste ano, há 117.000 centros da Igreja servindo os doentes de AIDS em todo o mundo.

Enfim, bastaria usar quinze minutos de Google. Bastaria ser menos ignorante e menos preconceituoso! Mas parece que isso é exigir muito de alguns “livres-pensadores” que, na sua patética cruzada anti-religiosa, não conseguem se desvencilhar das trevas de 1789.

Heroísmo católico em Iwo Jima

[A história é espetacular. História de homens de coragem, de sacerdotes do Deus Altíssimo entregues totalmente à sua missão de salvar almas. História de bravura sobrenatural, de cumprimento do dever a despeito de todas as adversidades.

História de quem sabe colocar as coisas na sua perspectiva adequada. Afinal de contas – poderiam perguntar os “sábios” dos dias de hoje -, quem em sã consciência iria se preocupar com uma Missa em uma guerra, no meio de um tiroteio? E a resposta é dada pela bravura do capelão jesuíta: todos os que compreendem o valor da Santa Missa iriam, sim, preocupar-se com ela mesmo no meio de uma guerra. E a coragem deste padre e destes soldados é uma verdadeira tapa no rosto dos católicos mornos dos dias de hoje que, em tempos de paz, não damos a devida atenção ao valor do Santo Sacrifício do Altar…

Fonte: Conservador, e Daí?]

Pe. Suver nasceu em Ellensburg, Washington, no ano de 1907. Formou-se na faculdade de Seattle, em 1924, e foi ordenado padre em 1937. Pouco depois do ataque japonês em Pearl Harbor, ele entrou para a marinha como capelão e foi designado para acompanhar os soldados na batalha de Iwo Jima.

Um dia antes do desembarque na ilha, a tensão aumentava entre os soldados que sentiam a morte se aproximar na medida em que o navio ficava mais perto de seu destino. Eles sabiam que teriam que enfrentar, em breve, mais de 23.000 japoneses liderados por um dos mais capazes generais do Japão. A coragem dos marines seria testada ao máximo.

Alguns fuzileiros foram, então, após o jantar, até a cabine do Pe. Charles Suver para conversar sobre a invasão que ocorreria ao amanhecer. Em certo momento, um jovem oficial disse que se ele tivesse uma bandeira americana, a levaria até o alto do monte e talvez alguém a hasteasse lá em cima.

O tenente Haynes, desafiando o oficial, imediatamente respondeu: “Certo, você leva a bandeira que eu a coloco lá em cima”. Com uma santa ousadia, Pe. Suver acrescentou: “Vocês colocam ela lá em cima e eu celebro uma missa embaixo dela!

Às 5:30 da manhã do dia seguinte, 19 de fevereiro, ainda a bordo do navio (LST 684), o Pe. Suver celebrou uma missa para os fuzileiros navais. Logo após, alguns marines fizeram várias perguntas a ele, especialmente sobre coragem. Então, o sacerdote jesuíta respondeu: “Um homem corajoso cumpre o seu dever, apesar do medo atroz. Muitos homens têm medo, por muitas razões diferentes, mas poucos são corajosos”.

Leia o resto da história aqui.

Curtas

Imagem de Nossa Senhora e Missa na Forma Extraordinária em São Paulo. «Esta imagem é chamada de Imagem Sagrada, pois, estando exposta numa paróquia em Nova Orléans, verteu milagrosamente lágrimas humanas no dia 17 de julho de 1972. Investigação liderada pelo bispo de Nova Orléans concluiu não haver explicação natural para o fenômeno».

Do mesmo texto: «Em silêncio, devotamente e de olhar atento a tudo o que acontecia no altar, aqueles dois mil paulistanos suburbanos provaram-me definitivamente que a missa de São Pio V pode perfeitamente ser rezada para multidões. Embora a grande maioria dos presentes provavelmente nunca tenha assistido à missa antiga, não houve embaraços nem constrangimentos. Apenas alguns poucos presentes sabiam os momentos corretos de ajoelhar-se, levantar-se etc. e estes poucos foram suficientes para conduzir, pelo mero exemplo, a multidão a adotar a postura correta em cada parte da missa. Enganam-se, portanto, os que pensam que o Usus Antiquior é indicado apenas para pequenos grupos, de espiritualidade mais elevada».

A Virgem e a Eucaristia, como no sonho de Dom Bosco! Ambas – assim esperamos! – como um sinal de que as coisas estão melhorando. Como um prenúncio da vitória da Igreja.

Digno de menção, a propósito, o comentário sobre a Forma Extraordinária do Rito Romano. Eu sempre soube que o povo simples é perfeitamente capaz de assistir – e com muitíssimo fruto – a celebração do Santo Sacrifício segundo as rubricas anteriores à Reforma Litúrgica. São apenas os “sábios deste mundo” que, por não possuírem vida espiritual e por não entenderem as coisas de Deus, pretendem que os pobres também não a possuam ou as entendam…

* * *

Luteranos voltam à Igreja CatólicaDeo Gratias, et iterum dico, Deo Gratias! «Todos os membros da ALCC [Igreja Católica Anglo-Luterana] se farão católicos. A diferença de algumas Igrejas Anglicanas, a ALCC não tem “posturas inamovíveis” A ALCC não está interessada em absoluto em “preservar um patrimônio”. Ao contrário, trata-se de uma Igreja profundamente “romanizada”, que trabalha com todas as suas forças para “desfazer” a Reforma, porque considera que foi um trágico erro de proporções épicas, que nunca devia ter acontecido, e procura restaurar a unidade da Igreja segundo os critérios da Igreja Católica. A ALCC não pede para preservar um “patrimônio luterano”. A diferença do patrimônio anglicano, o patrimônio luterano é essencialmente teológico e, ao ter compreendido plenamente as heresias do luteranismo e ao ter aceitado a fé católica, a única coisa que pede e por que reza a ALCC é que se lhe permita “voltar para casa” e entrar na Igreja Católica, como filhos pródigos arrependidos. A única coisa que queremos é nos dissolvermos na Igreja Católica, como católicos normais».

Isto, sim, são os verdadeiros frutos do Ecumenismo: a volta dos filhos pródigos à casa paterna, o retorno das ovelhas tresmalhadas ao único redil do Senhor. Há festa nos Céus. Que, a este exemplo, sigam-se outros e mais outros em profusão.

* * *

– Enquanto isso, Lula chama de bobagem palavras de Nosso Senhor (!!). Sim, senhoras e senhores, o ex-presidente que é “católico a seu modo” abre a boca para blasfemar desta maneira. «Bobagem», disse o ex-presidente, «essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra».

E quem ainda não compreendeu que o Reino de Nosso Senhor não é deste mundo não foi capaz de chegar nem mesmo aos umbrais do Cristianismo. Passagens de uma sabedoria profunda que inspiraram grandes homens ao longo dos séculos são agora transformadas em “bobagem” por esta sumidade sapiencial que é o sr. Luiz Inácio, vergonha do Pernambuco que um dia lutou pela Fé.

O Lula quer um reino aqui e agora, aqui na Terra. Como são mesquinhos e fúteis os desejos do ex-presidente! Para quê tesouros na terra, onde as traças corroem e a ferrugem consome? Contra este materialismo infeliz – digno de pena, inclusive – do Lula, ficam as palavras de São Paulo: «Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima» (1Cor 15,19). Bom faria o Luiz Inácio se meditasse nesta passagem antes de abrir a boca para falar besteiras.

* * *

As mentiras do filme “Ágora”. O filme não é de hoje (se não me engano, a versão brasileira veio com o nome de “Alexandria” e foi – tanto aqui quanto na Espanha – um estrondoso fracasso de bilheteria), mas talvez valha a pena se prevenir. «Não só havia cristãos nas aulas de Hipátia, não só havia bispos cristãos entre seu círculo de amigos, mas havia também teólogos cristãos – Agostinho, Ambrósio e Orígenes, só para citar os mais proeminentes –  e eles eram entusiastas defensores do neo-platonismo. Portanto, retratá-la como a campeã da nobre razão sobre os intolerantes cristãos primitivos é simplesmente ridículo».

* * *

Motivações do terrorista de Oslo são anti-cristãs. Já que o assunto é recente, é bom deixar claro que este indivíduo não tem nada a ver com a “ultra-direita fanática” no mesmo sentido em que a expressão é (pejorativamente) aplicada aos cristãos que valorizam a sua Fé. Excerto:

O terrorista teria fundado, em 2002, em Londres, junto a outros ativistas, a ordem dos Pobres Companheiros de Cristo do Templo de Salomão, inspirado nos graus Templários da Maçonaria.

Esta suposta Ordem estaria aberta “aos cristãos, cristãos-agnósticos e ateus-cristãos”, quer dizer, a todos que reconhecem a importância das raízes culturais cristãs, “mas também “das judaicas e iluministas”, assim como “das pagãs e nórdicas”, por se oporem aos verdadeiros inimigos, o Islã e a imigração.

“Longe de ser um fundamentalista cristão – esclarece Introvigne – Breivik, batizado na Igreja Luterana da Noruega, define-se um ‘cristão cultural’, cujo apelo à herança cristã tem uma função instrumental anti-islâmica.”

As igrejas, segundo o terrorista, não estão dispostas a lutar contra o Islã. Por isso, ele propõe um Grande Congresso Cristão Europeu, do qual nasça uma nova Igreja Europeia e anti-islâmica. E ameaça diretamente o Papa Bento XVI, pois “abandonou o cristianismo e os cristãos na Europa e deve ser considerado um Papa covarde, incompetente, corrupto e ilegítimo”.

A Catedral da Sé Primacial do Brasil

[Agradeço ao Dionísio por me ter mostrado esta preciosidade; cliquem no banner abaixo para acessarem o incrível trabalho do Iuri Peixoto sobre a Catedral da Sé Primacial do Brasil. Além de algumas pinturas do edifício (demolido em 1933), é possível encontrar um texto com a história da Sé e uma belíssima reconstrução tridimensional da Catedral Primaz da Terra de Santa Cruz! Reproduzo, abaixo, o texto na íntegra e algumas fotos. Para as demais, cliquem no banner.

Salvador, a propósito, ganhou ontem um novo bispo auxiliar, o mons. Gilson Andrade da Silva. Que ele possa ajudar na dura tarefa de reconstrução da Sé Primacial. Que São Salvador da Bahia de todos os Santos possa salvar Salvador, salvar a Bahia, salvar o Brasil.]

A antiga igreja da Sé, primeira Catedral do Brasil, demolida em 1933, teve a sua construção iniciada já em 1551, no topo mais alto da cidade antiga, a beira da encosta, com fachada voltada para o mar. Alguns anos depois, no mesmo local, uma nova e maior construção, em pedra e cal, substituiu a primitiva, em taipa. A invasão holandesa, de 1624, a encontrou com uma só torre, uma única porta, retangular, frontão triangular e sem janelas, apenas um óculos, no alto, no típico estilo maneirista, “chão”, português. Esta, assim como todas as demais igrejas da cidade, foi saqueada pelos invasores, que a transformaram num local de culto protestante, sem imagens nem ornamentos. Pela sua posição estratégica, também a utilizaram como local de defesa. Os espanhóis e portugueses, ao retomarem a cidade, em 1625, bombardearam fortemente o local, para desalojar os holandeses, destruindo-a parcialmente. A falta de recursos, após a custosa guerra de reconquista, e a preocupação principal em reforçar as defesas da cidade adiaram a sua reconstrução.

Somente ao final do século XVII a reconstrução, em dimensões bem maiores, em estilo barroco, muito mais imponente que a anterior, foi concluída. Um padre português que aqui esteve em 1709, para participar de um encontro de bispos (sínodo) do Brasil, descreve o templo, talvez com um certo exagero, como “o mais grandioso das Américas”. Tinha então dois andares, duas torres sineiras, frontispício em pedra trabalhada, e frontão, também em pedra, com as típicas volutas barrocas. O seu interior abrigava doze capelas laterais e altar mor, em talhas douradas, barrocas, e forro da nave em abóbada de madeira, pintada em perspectiva ilusionista, de autoria de um dos maiores mestres nesta arte, no mundo, o italiano Baciccio, autor de várias outras obras, do tipo, em Roma. Em ~ 1750 esta Sé, com relógio externo e órgão, doados pelo rei de Portugal, estava em sua plenitude.

A partir dessa época começam uma série de eventos que vão resultar na sua progressiva descaracterização, culminando com a sua demolição, já no século XX. No inverno de 1755, após chuvas torrenciais, parte da encosta a sua frente desmorona, provocando rachaduras na fachada e torres. Dois anos após, a torre direita, do relógio, muito danificada, é demolida até a cimalha (cornija do telhado). Inicia-se assim a sua degradação. Em 1765 estando a, também magnífica, igreja dos jesuítas desocupada, pela expulsão da ordem no Brasil, a sede do arcebispado é transferida para lá, perdendo a Sé a função de Catedral. Desde então a sua manutenção fica a cargo de uma irmandade de poucos recursos. Novos e sucessivos deslizamentos de terra, a sua frente, causam ainda mais danos à igreja. Em 1785 acreditando-se, erroneamente, que o peso da fachada era o que causava os corrimentos de terra, mesmo após ter sido construída uma muralha de contenção na sua base, até hoje existente, decide-se demolir toda a parte superior da fachada, incluindo o frontispício e frontão em pedra e mais a torre esquerda, até então intacta, e o resto que sobrara da torre direita. Por falta de dinheiro e de interesse nunca mais a fachada original seria reconstruída.

Uma nova fachada, muito pobre, foi construída em substituição àquela demolida, e as bases, remanescentes da demolição das torres, foram cobertas por telhadinhos, dando a igreja um aspecto externo bizarro, tosco e deselegante, que persistiu até a demolição final da igreja. Só sobraram da fachada original a parte inferior do frontispício, no entorno das portas frontais. As laterais, o fundo e o interior da igreja mantiveram-se, entretanto, intactos, inclusive as molduras em pedra trabalhada das portas laterais, consideradas por vários especialistas como um dos mais importantes trabalhos em pedra lavrada do Brasil colonial, alem do passadiço coberto que ligava a igreja diretamente ao interior do Palácio Arquiepiscopal, vizinho a ela. Ao final do século XIX a irmandade do Santíssimo Sacramento, então proprietária da igreja, resolve fazer desastrosas remodelações no seu interior, substituindo as talhas barrocas, originais, da maioria dos altares, por outras mais “modernas”, neoclássicas, eliminando duas das capelas laterais e revestindo ainda as arcadas internas, em pedra, com argamassa pintada. O forro, uma das maiores obras artísticas do Brasil colonial, foi também totalmente repintado em azul, se acrescentando a ele um pequeno medalhão decorativo, de mau gosto, no centro.

Ao final do século XIX e início do século XX se inicia no Brasil a reurbanização demolidora, que destruiu todo o centro colonial de São Paulo e de parte do Rio de Janeiro e da maioria das cidades antigas do país. Em Salvador o processo se inicia em 1912, com a abertura da Avenida 7 de Setembro, resultando na demolição de varias igrejas e quarteirões inteiros de antigos casarões. A igreja da Sé, então praticamente abandonada, quase arruinada, resistiu a essa primeira leva de demolição.

Em 1933, um arcebispo e um governador, recém-empossados, pressionados e, dizem, comprados por uma companhia de bondes (a Circular), de capital inglês, em meio a grande polêmica, autorizam a sua total demolição, se declarando progressistas, alegando que a igreja não tinha valor artístico e histórico algum e que os bondes e o “progresso” precisavam de espaço para ali passar. Do vazio resultante da demolição da igreja e de alguns quarteirões de sobrados, próximos à ela, surge a atual Praça da Sé. O arcebispo ganhou de “presente” da companhia de bondes “Circular” uma confortável e espaçosa casa, cercada de amplo terreno, na Praça do Campo Grande, casa essa que ainda hoje existe (área social do edifício “Morada dos Cardeais”).

A demolição da igreja se deu de forma rápida e selvagem, sem a mínima preocupação em preservar quase nada, feita a base de picaretas e marretadas. Toda a cantaria em pedra, lisa e trabalhada, externa e interna, incluindo mármores raros do piso, e lápides centenárias de sepultamentos, foi destruída. Estes materiais, além de todo o madeirame, portas em madeira nobre, trabalhada, janelas, e demais restos da demolição foram jogados numa chácara (Quinta das Beatas), então pertencente à igreja. A área foi, anos depois, invadida por sem tetos, que usaram estes materiais nas construções de suas casas, dando origem ao atual bairro/favela de Cosme de Farias.

Da Igreja da Sé só restam hoje os alicerces, escavados há poucos anos atrás, algumas imagens de santos e objetos sacros que foram distribuídos por outras igrejas e, em parte, reunidos no Museu de Arte Sacra da Bahia, junto com a mesa do altar, toda em prata, e fragmentos de alguns altares.

É essa igreja, desaparecida, que é aqui apresentada na sua feição dos meados do século XVIII, época de seu máximo esplendor, antes das mutilações que sofreu nos períodos posteriores. Esta reconstituição, inédita, só foi possível após exaustivas pesquisas bibliográficas, medições no local e o uso das técnicas mais avançadas de computação gráfica. Esperemos que esta reconstituição contribua para a conscientização da preservação de nosso patrimônio histórico, tão rico e tão dilapidado.

Curtas

Battisti e os conceitos de “justiça”. “Tudo isso significa que consideramos a Itália um país medieval, incapaz de julgar seus cidadãos adequadamente por crimes cometidos em seu território. Já a Justiça brasileira, como sabemos, é exemplar”.

A recente decisão do STF sobre a não-extradição do criminoso italiano é mais um capítulo da triste história da vergonha brasileira, a cobrir de opróbrios esta nação. Que os nossos descendentes nos perdoem!

No mesmo sentido, ouvi ontem e hoje na CBN o Arnaldo Jabor lamentar que a Dilma esteja evitando encontrar-se com a iraniana Shirin Ebadi – segundo o comentarista, por causa da amizade entre Lula e o Ahmadinejad e dos “soviéticos de Brasília”. Aliás, é o terceiro dia seguido que eu ouço o comentário do Jabor, e o terceiro dia seguido em que ele se refere aos “soviéticos” e “bolcheviques” do Planalto…

* * *

Profanação Eucarística na Colômbia: “O Pe. Rodrigo Hurtado, pároco da igreja de San Isidro em Dosquebradas (Colômbia), denunciou que a capela Cristo Salvador foi vítima de um ato sacrílego, pois ladrões ingressaram no templo, furtaram dinheiro e bens valorados em mais de mil dólares, para logo retirar as hóstias do Sacrário, derramá-las no chão, jogar cerveja em cima e pisoteá-las”.

Caberia talvez pensar que foi um ato simples de assalto, onde os criminosos aproveitaram-se da oportunidade para vandalizar o ambiente. No entanto, o sacrilégio apresenta uns requintes de odium fidei tão ímpios que nos levam a pensar se, ao contrário, não foi o assalto uma tentativa de encobrir a profanação…

Rezemos ao Altíssimo em desagravo por este sacrilégio e por tantos outros que ocorrem mundo afora. Que Ele Se compadeça de nós.

* * *

Perito desmente mitos anti-católicos sobre as cruzadas. Leiam lá. Só destaco:

  • Primeiro mito: “as cruzadas representaram um ataque não provocado de cristãos ocidentais contra o mundo muçulmano”.
  • Segundo mito: “os cristãos ocidentais foram às cruzadas porque sua avareza os motivou a saquear os muçulmanos para ficarem ricos”.
  • Terceiro mito: “os cruzados foram um bloco cínico que em realidade não acreditava nem em sua própria propaganda religiosa, senão que tinham outros motivos mais materiais”.
  • Quarto mito: “os cruzados ensinaram aos muçulmanos a odiar e atacar a cristãos”.

A cidade nascida junto à Cruz e a cidade imposta pelos materialistas

Embora longo e de leitura relativamente difícil para quem não é da área, este texto de Roger Scruton vale muito a leitura. Sou um completo ignorante em arquitetura urbana e confesso, envergonhado, não conhecer nenhum dos nomes citados no artigo; não obstante, o articulista tem o mérito de se fazer entender mesmo para quem (como eu) é leigo no assunto.

Porque as coisas que ele fala fazem bastante sentido e todos nós as percebemos, mesmo que não saibamos organizá-las sistematicamente do jeito que ele o faz. Em brevíssimas palavras, o autor fala da arquitetura como uma modalidade de arte intrinsecamente coletiva e que, como tal, não pode estar sujeita aos caprichos grandiloqüentes – e amiúde insanos – daquilo que ele chama de “arquitetos-superstars”, sempre preocupados em elaborar construções novas e totalmente destoantes da paisagem urbana que foi tradicional e organicamente moldada para se adaptar ao estilo de vida de uma população. E os exemplos que ele traz são bastante eloqüentes, como p.ex.:

Glazer é um sociólogo que dedicou à arquitetura e aos seus efeitos sociais uma atenção considerável ao longo dos anos; o seu livro reúne ensaios bem escritos que relatam a sua desilusão crescente com os estilos e arquétipos modernistas. Como muitos socialistas bem-intencionados (coisa que ele era na época), Glazer em princípio foi um entusiasta da mentalidade planificadora que fincou raízes na Grã-Bretanha do pós-guerra e que procurou varrer os cortiços superlotados e insalubres, substituindo-os por torres higiênicas cercadas de espaços onde a população pudesse desfrutar de luz e ar. Essa receita para melhorar a situação da classe trabalhadora das cidades foi mais influenciada por Gropius e a Bauhaus do que por Le Corbusier. Coincidia com o programa socialista, segundo o qual a habitação era responsabilidade do Estado, todos os arquitetos da época tendiam a endossá-la, e parecia oferecer vantagens insuperáveis em comparação com a receita antiga – que em todo o caso era antes um subproduto da liberdade do que uma escolha consciente -, segundo a qual as casas deviam ficar uma ao lado da outra ao longo da mesma rua.

Contudo, Glazer chama a atenção para o fato de a principal oposição ao projeto modernista de habitação não ter vindo dos críticos, mas das próprias pessoas a que esses projetos eram destinados. Para a surpresa dos planejadores, a população resistiu à tentativa de demolir as suas ruas e de eliminar as doenças familiares e domesticadas que grassavam nos seus quintais atulhados. As pessoas não gostavam nada de viver dependuradas no ar, nem de olhar por uma janela e não ver coisa alguma; queriam a vida da rua, queriam sentir a vida ao seu redor e ao mesmo tempo saber que podiam trancá-la do lado de fora ou deixá-la entrar conforme quisessem. Queriam ter os vizinhos ao lado, não acima ou abaixo. E a maioria delas queria uma casa própria, não uma que fosse propriedade da prefeitura e que depois não pudesse ser transmitida  como herança para os filhos. A tentativa de “bauhausizar” a classe operária foi, portanto, rejeitada pelos próprios operários, que nesse caso como em tantos outros se recusaram a fazer o que os socialistas lhes ordenavam até serem coagidos a fazê-lo pelo Estado.

Se é verdade que a arte é veículo transmissor de idéias e de valores, isto se aplica também à arquitetura urbana e a forma como as cidades são organizadas diz muito sobre os seus habitantes. Este texto surgiu em uma lista após alguém perguntar sobre o porquê das cidades medievais possuírem ruas estreitas. A melhor resposta, a meu ver, foi a que incluiu na sua explicação a importância das ruas estreitas de um ponto de vista militar, para facilitar a organização das tropas em defesa da população contra um exército invasor estrangeiro – e, por outro lago, avenidas largas são úteis quando o inimigo a ser combatido é a própria população da cidade, facilitando a movimentação rápida de tropas no interior da malha urbana (o que é exatamente o que se deseja evitar no caso de tropas invasoras)…

Curiosidades históricas à parte, isso me fez pensar na organização tradicional de cidades do interior de Pernambuco (que imagino não serem muito diferentes Brasil afora), onde o centro da cidade é a igreja com uma praça defronte, ponto a partir do qual a cidade cresce organicamente conforme for aumentando o número dos seus habitantes. Mas a pracinha e a igrejinha estão sempre lá, no centro, no início histórico da cidadezinha, como que dando testemunho permanente dos hábitos daquela população: a cidade nasceu junto à Cruz, e é em torno à casa de Deus que ela cresce e se desenvolve.

Contrastando com tudo isso está a arquitetura moderna: com seus prédios horrorosos e seus monumentos sem significado, com o planejamento tomando o lugar do crescimento orgânico, as formas das construções obedecendo aos devaneios de “arquitetos superstars” ao invés de refletirem o estilo de vida da população, e a nudez fria e impessoal dos prédios – em nome da “praticidade” e da “utilidade” – ocupando o lugar da variedade de adornos e ornamentos nas fachadas das casas, os mais espontâneos e diversos possíveis porque enfeitavam construções que, antes de prédios precisando ser úteis, eram lares que precisavam ser vivos. A arquitetura moderna é degradante, é desumana, é atéia. Reflete as tentativas modernas de impôr à paisagem urbana uma ideologia materialista, tentando fazer com que as pessoas, imersas neste ambiente que tesmunha anti-valores de modo tão claro, possam assim assimilar com mais facilidade as ideologias anti-naturais nele refletidas.

Mas só o que se consegue com isso é fazer com que os habitantes sintam-se desconfortáveis em suas próprias cidades, e passem a odiá-las e a desejar fugir delas. A arquitetura moderna é muito bizarra para ser aceita assim, sem resistências, por seres humanos criados para Deus e em cujos corações o Todo-Poderoso gravou de maneira indelével um anseio infinito por Ele próprio. E, forçando a vida em um ambiente desagradável (como acontece o tempo inteiro nas nossas cidades totalmente dominadas por esta “arte” moderna nefanda), não é possível obter senão prejuízos para a própria sociedade. Porque uma vez que – como diz Roger Scruton – “a cidade é o centro da vida social e criativa, (…) se fugimos dela acabamos por refugiar-nos numa solidão estéril”. E, portanto, é extremamente importante “o retorno à ordem natural da arquitetura, que permitirá que voltemos a sentir-nos em casa em um ambiente urbano”.

Gay pré-histórico

A mais nova fraude ideológica travestida de inédita descoberta científica é esta descoberta de um esqueleto de cinco mil anos… de um homossexual!

Isso mesmo, senhoras e senhores. A antropologia e a arqueologia estão já tão evoluídas que são capazes de traçar o comportamento sexual de um ser humano só de olhar-lhe o esqueleto. A matéria diz que a ossada foi encontrada em um sítio arqueológico do neolítico, e o título diz que o homem viveu há cerca de 5.000 anos; três mil anos antes de Cristo e, portanto, ainda na pré-história, embora a Antiguidade seja tipicamente colocada como iniciando-se já em 4.000 a.C.

Mas estas firulas cronológicas não são importantes. O que é absolutamente fantástica é a prodigiosa capacidade destes cientistas de tirarem “conclusões” totalmente contaminadas com a ideologia contemporânea. “Transexual”? “Terceiro sexo”? Sim, dizem eles, esta é hipótese “mais provável” (!). O homem, ao que parece, foi enterrado com utensílios usualmente femininos. A matéria do Telegraph fala de um caso anterior, onde uma guerreira foi enterrada como os homens; se o lobby gayzista tivesse chegado primeiro, a hipótese “mais provável” seria a de que a mulher era lésbica, naturalmente, e não que fora simplesmente uma guerreira que recebeu as honras funerárias dos homens por ter tomado parte em combates.

Este esqueleto de Praga, no entanto, não teve a mesma sorte. A matéria até fala que ele poderia ser um xamã ou um feiticeiro (“witch doctor”), mas isso é pouco provável porque teria que haver acessórios mais ricos na tumba. Como não havia, ergo, ele era gay. Simples assim, sem explicações alternativas mesmo. E há quem veja como um bom sinal o fato das pessoas acreditarem sem pestanejar neste tipo de “ciência”, enquanto duvidam da Igreja! Para mim, isto só é sinal de decadência.