Dois monstros

A Bósnia vive um processo de islamização, diz o Card. Franc Rodé. Os católicos foram os que mais sofreram com a guerra; segundo a notícia citada, “[e]m Sarajevo, cidade de 600 mil habitantes, há apenas 17 mil católicos; na diocese de Banja Luka, antes da guerra de 1991 a 1995, havia 150 mil católicos, agora restam 35 mil”. Há – disse ainda o cardeal -“de fato, uma vontade de islamizar a região de Sarajevo”.

Enquanto isso, no extremo oposto, a França estuda a possibilidade de proibir o uso da burca, e o presidente Sarkozy diz perante o Congresso que ela não é bem-vinda na França, que é um símbolo de servidão e contrária à “idéia da república francesa sobre a dignidade da mulher”.

É de fato preocupante a expansão muçulmana, diante da qual sucumbe apática uma Europa que se esqueceu de suas raízes cristãs. No entanto, também digno de preocupação é o laicismo militante, com o Estado se metendo onde não deve para dizer quais símbolos são religiosos e quais não são, quais adereços as pessoas podem usar e quais elas não podem. Sarkozy não apresenta uma solução para a islamização de Sarajevo, nem tampouco a Bósnia é o remédio para o totalitarismo francês. Diante dos dois monstros, eu sinceramente não sei dizer qual é o que provoca mais medo.

Resposta ao Le Monde

Leiam: Jornal Francês responde ao protesto massivo de católicos indignados. Les agneaux de Dieu peuvent mordre – excelente! Parabéns aos católicos que não tiveram medo de vir a público defender a sua Fé. A todos estes, aplicam-se aquelas palavras de Nosso Senhor no Evangelho: “quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus” (Mt 10, 32).

Aux armes, chrétiens!

Moral Católica e AIDS

Respondendo a uma pergunta sobre a posição da Igreja Católica frente ao HIV/AIDS, considerada por alguns como irrealista e ineficiente, o Papa disse:

“É minha convicção acreditar que a presença mais importante no front da batalha contra o HIV/AIDS é de fato a Igreja Católica e Suas instituições. (…) O problema do HIV/AIDS não pode ser superado com meros slogans. Se a alma está deficiente [if the soul is lacking], se os africanos não se ajudam uns aos outros, o flagelo não pode ser resolvido pela distribuição de preservativos; bem pelo contrário, nós corremos o risco de agravarmos o problema. A solução só pode vir através de um duplo compromisso: em primeiro lugar, a humanização da sexualidade – em outras palavras, uma renovação espiritual e humana que traga uma nova maneira de agir para com o outro; e, em segundo lugar, uma amizade verdadeira, sobretudo para com os que sofrem, uma prontidão – mesmo que seja através de sacrifício pessoal – para sustentar [to stand by] aqueles que sofrem”.
[Vatican Information Service]

É bem sabido que a Igreja se opõe ao uso da camisinha; não – como dizem alguns expoentes da ignorância coletiva – porque “prefere que as pesssoas peguem aids do que usem camisinha”, mas exatamente ao contrário: porque Ela sabe que não se pode combater a AIDS sem que se combata primeiro a promiscuidade. Ela sabe que não existem receitas miraculosas, nem panacéias universais para que vivamos em uma Terra sem males. Ela sabe que a insistência em um erro não pode produzir senão erros ainda maiores.

A Igreja – como disse o Papa – é a presença mais importante no front do combate contra a AIDS. E eu diria ainda mais: é a Única que não atrapalha. A Única que vai ao cerne do problema. O Papa afirma claramente que a mera distribuição de preservativos pode até mesmo agravar o problema da AIDS; por tocar na ferida do ídolo moderno, é atacado com violência (tanto que até mesmo o porta-voz da Santa Sé teve que se manifestar). Ao redor do mundo, a França diz que os comentários do Papa são “uma ameaça” e o “representante no Brasil do órgão das Nações Unidas para o combate à doença (Unaids), Pedro Chequer”, chegou a chamar o discurso do Papa de “genocida”. Permanecem, contudo, no mero jogo de palavras; a posição da Igreja – contra a qual se levantam furibundos todos os Seus inimigos – dá resultados.

Por exemplo, na Uganda, a política “ABC” de combate à AIDS (primeiro, Abstinence; depois, Be faithful e só por fim Condom – a ênfase é dada na abstinência, na fidelidade, e só em último lugar na camisinha) é a única no mundo que tem trazido resultados significativos no combate à AIDS.

Por exemplo, em Washington, o embaixador da Suazilândia incentiva a abstinência na luta contra a AIDS. Olhando para as políticas eficazes da Uganda, a Suazilândia também resolveu aplicá-las e, por isso, para a AIDS, “o contágio de pessoas infectadas caiu de 42,6 por cento em 2004 para 39, 2 por cento este ano”.

Por exemplo, o Population Research Institute, da Universidade Estadual da Pensilvânia, afirmou que “a Igreja Católica desempenha um papel essencial na contenção da epidemia de AIDS na África”. Vale citar:

A Tailândia tem aproximadamente sessenta milhões de habitantes. Lá existem fortes programas divulgados para o uso de preservativos. Em agosto de 2003 existiam no país quase 900.000 pacientes registrados com AIDS e, aproximadamente, 125.000 óbitos por AIDS.

Em 1991, a Organização Mundial de Saúde previu para esse intervalo de tempo cerca de 60 a 80.000 casos registrados de AIDs.

Essa cifra se contrapõe aos filipinos católicos com setenta milhões de habitantes. Entre os filipinos quase não existe propaganda de preservativos.

Em 30 de setembro de 2003 havia naquele país exatamente 1.946 pacientes com AIDS e 260 mortes por AIDS. Essa é uma fração dos 80 a 90.000 casos, os quais a Organização de Saúde havia previsto para as Filipinas no ano 2000.

De onde se vê que a Moral Católica não é uma coisa “irreal” e “ineficiente”. Irreal é esperar que coisas boas advenham de comportamentos morais desregrados. Ineficiente é combater a AIDS incentivando a promiscuidade.  Irresponsáveis são os lunáticos irracionais que têm verdadeira fé na salvação do gênero humano pela borracha. Em defesa das vítimas da AIDS, no entanto, existe a Igreja Católica; e, independente dos ataques que Ela sofra, vai continuar a oferecer auxílio aos que sofrem. Mais uma vez, os fatos mostram que Ela está correta; e o próprio estrebuchar dos Seus inimigos revela-o de modo insofismável.

Fim da viagem do Santo Padre

Senhor Primeiro Ministro, Irmãos Bispos e caros amigos, que Deus abençoe a França! (…) É chegado o momento de partir. Poderei voltar novamente ao vosso belo país? É o meu desejo, um desejo que, no entanto, confio a Deus. De Roma vós continuareis próximos e, quando eu estiver diante da réplica da Gruta de Lourdes, que há mais de um século se encontra nos Jardins Vaticanos, pensarei em vós. Que Deus vos abençoe!
[Cerimonia di congedo, lunedì 15 settembre 2008]

Hoje, dia 15 de setembro, findou a viagem apostólica do Santo Padre à França. A cobertura completa está no (que eu acredito ser o) site oficial da visita do papa, em francês. Unamo-nos à intenção do Santo Padre: que Deus abençoe a França. E que a viagem possa ser proveitosa para toda a Igreja. Que a Virgem de Lourdes possa alcançar, do Seu Filho Jesus, muitas graças para todo o povo de Deus.

Bento XVI e a Conferência Francesa

Do discurso do Santo Padre de ontem aos lobos mitrados à Conferência Episcopal Francesa, domingo dia 14 de setembro de 2008, festa de exaltação da Santa Cruz e primeiro aniversário da entrada em vigor do motu proprio Summorum Pontificum (negritos e sublinhados meus):

El pueblo cristiano debe teneros afecto y respeto. La tradición cristiana ha hecho hincapié desde el principio en este punto: «Los que son de Dios y de Jesucristo, están con el Obispo», decía san Ignacio de Antioquía (Ad Phil., 3,2), que añadía también: «A quien el dueño de la casa haya mandado para la administración de la casa, hay que recibirlo como al que lo ha mandado (Ad Ef. 6, 1). Vuestra misión, espiritual sobre todo, consiste, pues, en crear las condiciones necesarias para que los fieles, citando de nuevo a san Ignacio, puedan «cantar al unísono por Jesucristo un himno al Padre» (ibíd., 4, 2) y hacer así de su vida una ofrenda a Dios.

[…]

Sí, queridos Hermanos en el Episcopado, seguid llamando al sacerdocio y a la vida religiosa, como Pedro echó las redes por orden del Maestro, tras pasar una noche de pesca sin obtener nada (cf. Lc 5,5).

Nunca se repetirá bastante que el sacerdocio es esencial para la Iglesia, por el bien mismo del laicado. Los sacerdotes son un don de Dios para la Iglesia. No pueden delegar sus funciones a los fieles en lo que se refiere a las misiones que les son propias. Queridos Hermanos en el Episcopado, os invito a seguir solícitos para ayudar a vuestros sacerdotes a vivir en íntima unión con Cristo. Su vida espiritual es el fundamento de su vida apostólica. Exhortadles con dulzura a la oración cotidiana y a la celebración digna de los sacramentos, especialmente de la Eucaristía y la Reconciliación, como lo hacía San Francisco de Sales con sus sacerdotes. Todo sacerdote debe poder sentirse dichoso de servir a la Iglesia. A ejemplo del cura de Ars, hijo de vuestra tierra y patrono de todos los párrocos del mundo, no dejéis de reiterar que un hombre no puede hacer nada más grande que dar a los fieles el cuerpo y la sangre de Cristo, y perdonar los pecados. Tratad de estar atentos a su formación humana, intelectual y espiritual, y a sus recursos para vivir. Pese a la carga de vuestras gravosas ocupaciones, intentad encontraros con ellos regularmente, sabiéndolos acoger como hermanos y amigos (cf. Lumen gentium, 28; Christus Dominus, 16). Los sacerdotes necesitan vuestro afecto, vuestro aliento y solicitud. Estad a su lado y tened una atención especial con los que están en dificultad, los enfermos o de edad avanzada (cf. Christus Dominus, 16). No olvidéis que, como dice el Concilio Vaticano II usando una espléndida expresión de san Ignacio de Antioquía a los Magnesios, son «la corona espiritual del Obispo» (Lumen gentium, 41).

El culto litúrgico es la expresión suprema de la vida sacerdotal y episcopal, como también de la enseñanza catequética. Queridos Hermanos, vuestro oficio de santificar a los fieles es esencial para el crecimiento de la Iglesia. Me he sentido impulsado a precisar en el “Motu proprio” Summorum Pontificum las condiciones para ejercer esta responsabilidad por lo que respecta a la posibilidad de utilizar tanto el misal del Beato Juan XXIII (1962) como el del Papa Pablo VI (1970). Ya se han dejado ver los frutos de estas nuevas disposiciones, y espero el necesario apaciguamiento de los espíritus que, gracias a Dios, se está produciendo. Tengo en cuenta las dificultades que encontráis, pero no me cabe la menor duda de que podéis llegar, en un tiempo razonable, a soluciones satisfactorias para todos, para que la túnica inconsútil de Cristo no se desgarre todavía más. Nadie está de más en la Iglesia. Todos, sin excepción, han de poder sentirse en ella “como en su casa”, y nunca rechazados. Dios, que ama a todos los hombres y no quiere que ninguno se pierda, nos confía esta misión haciéndonos Pastores de su grey. Sólo nos queda darle gracias por el honor y la confianza que Él nos otorga. Por tanto, esforcémonos por ser siempre servidores de la unidad.

[…]

Queridos Hermanos en el Episcopado, con alegría y emoción os encomiendo a Nuestra Señora de Lourdes y a Santa Bernadette. El poder de Dios se ha manifestado siempre en la debilidad. El Espíritu Santo ha lavado siempre la suciedad, regado lo árido, enderezado lo torcido. Cristo Salvador, que ha tenido a bien convertirnos en instrumentos para transmitir su amor a los hombres, nunca dejará de haceros crecer en la fe, la esperanza y la caridad, para daros el gozo de llevar a Él un número creciente de hombres y mujeres de nuestro tiempo. A la vez que os confío a su fuerza de Redentor, os imparto a todos y de corazón una afectuosa Bendición Apostólica.

Comento eu: que despedida mais apropriada! Aludir, falando à Conferência Episcopal Francesa, ao Deus que é a solução para toda debilidade, sujeira, aridez e coisas tortas caiu como uma luva!

SSPX sobre a viagem do Papa

Traduzido do Rorate Coeli (segundo recebi por email):

Mensagem da FSSPX – Distrito da França

Por ocasião da visita do Sumo Pontífice ao nosso país, declaramos nosso firme compromisso para com a Sé Apostólica. Estamos muito satisfeitos pela vinda do Papa Bento XVI ante a Gruta na ocasião do sesquicentenário das aparições de Lourdes – tão caras ao coração dos franceses e, também, de todos os católicos. Com o Rosário, rezemos à Santíssima Virgem Maria para que o sucessor de Pedro, nesta época em que o governo da Igreja é incrivelmente difícil de ser guardado, possa encontrar em Lourdes iluminação e força para reconhecer, denunciar, e erradicar os erros conciliares que são, em essência, a causa da crise da Igreja.

Oremos para que a fé católica, fora do qual ninguém pode ser salvo, seja dada às almas, e que o Cristo Rei possa reinar, mais uma vez, sobre os países e as sociedades.

Abbot Régis de Cacqueray-Valménier
Superior do Distrito da França

A mensagem havia começado tão bem…

O Papa e o Summorum Pontificum

Eu havia estranhado a resposta dada pelo Santo Padre a um jornalista, no avião que o levava à França, sobre o Motu Proprio Summorum Pontificum (cuja entrada em vigor completa um ano amanhã). No entanto, o Fratres in Unum traduziu a versão oficial das respostas do Papa, publicadas na Sala de Imprensa da Santa Sé.

A diferença fundamental entre os dois textos está na pergunta. Veja-se:

Na Radio Vaticana: Respondendo a outro jornalista, que lhe perguntou sobre o motu proprio, que permite celebrar a Missa em latim, como um passo atrás ao Concílio (…).
Na Sala de Imprensa da Santa Sé: O que vós dizeis aos que, na França, temem que o Motu proprio `Summorum pontificum’ marque um passo atrás sobre as grandes intuições do Concílio Vaticano II? Como vós podeis tranqüilizá-los?

Ou seja, a resposta do Papa não é uma “consideração particular” sobre o motu proprio que ele julgou necessário expôr; é, ao contrário, uma resposta tranquilizadora provocada por uma pergunta de um jornalista sobre o temor de alguns franceses. Faz toda a diferença.

Viagem do Papa à França

Começou hoje a primeira viagem apostólica do Papa Bento XVI à França. O Sumo Pontífice visitará a terra banhada pelo Reno (e pelo sangue dos católicos durante a Revolução de 1789…) de 12 a 15 de setembro, por causa do sesquicentenário das aparições de Nossa Senhora de Lourdes.

O Missal disponibilizado no site do Vaticano para esta viagem tem quase duzentas páginas. Cânticos em francês e em gregoriano, leituras da Bíblia em alemão, preces em português, árabe, em uma língua africana, polonês, chinês. Nas missas em Lourdes, cânon em latim. A de 15 de setembro, cânon romano. E um apêndice com algumas orações em latim e em francês. Très bien.

Não li nenhuma das mensagens do Santo Padre, pois até agora só as encontrei em Francês. Entretanto, li n’O GLOBO que o Papa pediu para que a França “cultive Deus na sociedade”:

– É importante nos tornarmos mais atentos quanto ao papel insubstituível da religião para a formação da consciência e a criação de um consenso étnico básico com a sociedade – disse o papa em francês fluente.

Os franceses gostam do Papa, segundo a Agência Ecclesia:

Mais de metade dos franceses têm opinião positiva do Papa Bento XVI, segundo uma sondagem de opinião levada a cabo pelo jornal “Le Parisien”.

A sondagem revela que 53% dos franceses em geral partilham desta opinião, um número que sobe para 65% entre aqueles que se declaram católicos. 53% dos católicos e 47% do geral definem o Papa como carismático.

A Rádio Vaticano noticiou o que aconteceu durante o vôo:

Respondendo a outro jornalista, que lhe perguntou sobre o motu proprio, que permite celebrar a Missa em latim, como um passo atrás ao Concílio, o Santo Padre respondeu: “É claro que a Liturgia conciliar renovada é aquela ordinária para a Igreja. O motu proprio é simplesmente um ato de tolerância pastoral para com as pessoas que receberam formação no período pré-conciliar. Portanto, é absolutamente infundado – concluiu – o fato de a liturgia em latim ser um retrocesso na Igreja”.

Rezemos pelo Sucessor de Pedro, Doce Cristo na Terra, para que a viagem possa ser proveitosa, e para que o Sando Padre, aos pés da Virgem de Lourdes, obtenha muitas graças para a Igreja.