Na Bahia, “ao mesmo tempo hóstia e acarajé”?!

Hoje pela manhã eu lia, estarrecido, as histórias de que o Arcebispo Primaz do Brasil celebrara ontem (04/12) uma Missa em Salvador onde eram distribuídos, lado-a-lado, acarajés sacrificados a ídolos e o Santíssimo Corpo de Deus sacrificado à Trindade Santa. Mostraram-me o escândalo em pelo menos três lugares distintos: Terra, Bahia em Pauta e A Tarde Online.

Notei que estes textos pareciam ser todos copiados uns dos outros. Embora houvesse uma ou outra diferença, a parte realmente escandalosa era rigorosamente igual em todos os três:

Pela primeira vez, em 30 anos, um arcebispo-primaz do Brasil celebra a missa campal em homenagem a Santa Bárbara. Dom Murilo Krieger presidiu a solenidade no Largo do Pelourinho, onde foi distribuída ao mesmo tempo hóstia e acarajé, que no candomblé é chamado de acará, ou seja, a comida ofertada à Yansã. Ato que emocionou até os que não têm fé.

Não sei a fonte principal. A notícia em “Terra” cita a sra. Maria Olívia Soares do “Bahia em Pauta”; a reportagem do “A Tarde Online” não cita ninguém, e mostra o texto inteiro como se fosse da sra. Maíra Azevedo. Não conheço nenhuma das duas. Em todo caso, parece-me absurdamente improvável que duas fontes independentes tenham conseguido escrever o mesmíssimo período [qual seja, «onde foi distribuída ao mesmo tempo hostia e acarajé, que no Candomblé é chamado de acará, ou seja, a comida ofertada à Iansã»] referindo-se a um fato inusitado destes.

Como assim, um arcebispo – e o primaz da Terra de Santa Cruz! – distribuindo comidas ofertadas a demônios junto com a Santíssima Eucaristia em uma Missa solene?! A história não tem verossimilhança; se verdade fosse, seria o caso (como apontou um amigo) de transferir Sua Excelência para a diocese de Pasárgada com a máxima urgência. Não era possível que isto tivesse acontecido desta maneira. Alguma coisa estava errada.

Um outro amigo de Salvador disse que esta missa [de Santa Bárbara] ocorre publicamente no centro histórico de Salvador há muito tempo, a despeito do Cardeal Majella não a celebrar. Sobre os acarajés distribuídos junto com a comunhão, ele afirmou desconhecer o fato; disse que o que acontecia era que, no Ofertório, entravam em procissão algumas coisas, entre as quais o acarajé. É estranho entrar com comida durante a Santa Missa, mas em princípio não é ilegal; a Instrução Geral do Missal Romano, no seu número 73., determina que, na procissão do Ofertório,

[a]lém do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro e outros dons, destinados aos pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja. Estes dons serão dispostos em lugar conveniente, fora da mesa eucarística (IGMR 73).

Em princípio, portanto, a comida ofertada aos pobres pode ser solenemente introduzida na Liturgia e, conquanto não seja colocada sobre o altar, não há desobediência às rubricas aqui. Cabe talvez questionar a possibilidade de confundir o povo com esta prática, ou ainda a conveniência de serem tocadas músicas africanas no Santo Sacrifício da Missa (o que aliás é outra coisa), mas não cabe, a partir disso, falar que Dom Murilo Krieger estava distribuindo promiscuamente a Sagrada Eucaristia junto com o Acará de Iansã. Seria, repito, por demais inacreditável.

Ao encontro desta minha incredulidade veio esta nota da Arquidiocese de São Salvador da Bahia sobre o assunto, dizendo com todas as letras que semelhantes afirmações eram inverídicas:

Expressões como “Dom Murilo Krieger presidiu a solenidade no Largo do Pelourinho, onde foi distribuída ao mesmo tempo hóstia e acarajé, que no Candomblé é chamado de acará, ou seja, a comida ofertada à Iansã” (A Tarde on line e Terra Magazine) não favorecem a grandeza do momento por um simples motivo: faltam com a verdade.

Com o desmentido oficial da Mitra de Salvador, portanto, cabe ao(s) autor(es) da malfadada afirmação sobre a suposta distribuição concomitante da Eucaristia e do Acará apresentarem provas de suas assertivas. Senão, estaremos diante daquilo de que fala a nota: de «falta de conhecimento ou má fé de alguns veículos de comunicação presentes na cobertura da Missa de Santa Bárbara» – coisa que seria profundamente de se lamentar mas que, infelizmente, em se tratando da mídia secular, não seria nada de se duvidar.

Mentiras e calúnias para minar a defesa da vida e da família no Brasil

No final do mês passado, o Portal IG publicou uma matéria ridícula na qual dizia que os skinheads recebiam «orientação teórica» dos «seminários promovidos pelo Instituto Plínio Correia de Oliveira (criador da extinta TFP, que defendia a Tradição, a Família e a Propriedade) e [d]o jornalista Olavo de Carvalho». A acusação é um gritante despautério. Concedendo (para argumentar) que skinheads escutem o True Outspeak ou leiam o site do IPCO, é óbvio que eles não recebem “formação teórica skinhead” nestes canais. A insinuação é gratuita e caluniosa.

O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira protestou imediatamente contra este “jornalismo preconceituoso, mentiroso e sem averiguação dos fatos”. Disse o comunicado do IPCO que «[c]abe, pois, ao site Último Segundo, se quiser mostrar sua idoneidade e honestidade intelectual, um desmentido à injusta e descabida informação».

Não sei se o desmentido veio e, aliás, acho que não. Sei que quinze dias depois o Correio do Brasil reescreveu a reportagem (!), com quase as mesmas palavras e repetindo a insidiosa associação entre criminosos, Olavo de Carvalho e a TFP:

Quanto aos autores brasileiros, alguns jovens assistem a seminários promovidos pelo Instituto Plínio Correia de Oliveira (criador da TFP – Tradição, Família e Propriedade) e gostam dos escritos do jornalista Olavo de Carvalho. “Eu não quero dizer que Olavo de Carvalho seja amigo de todos eles por conta disso”, afirma Adriana [Dias, antropóloga da Unicamp].

O problema não é “dizer que Olavo de Carvalho seja amigo” de todos os skinheads. O problema é exatamente estabelecer uma relação (por remota que seja) entre as coisas ensinadas pelo Olavo de Carvalho / Instituto Plinio Corrêa de Oliveira e o neonazismo! Aliás, a despeito de estarem ambos os “autores brasileiros” mencionados juntos nas duas reportagens, é preciso deixar claro que há uma diferença muito grande entre o IPCO e o Olavo. Mas mesmo assim não há sombra de neonazismo em nenhum dos dois.

Eu não sei o que o Olavo ou o IPCO estão fazendo quanto a isso. Recebi pela manhã um email do Instituto pedindo que os leitores protestassem junto ao Correio do Brasil (no espaço de comentários da notícia), e reforço o pedido. Afinal de contas, é uma estratégia canalha vincular a imagem de grupos e indivíduos que defendem os valores tradicionais (como a vida e a família) no Brasil com a de criminosos neonazistas. Nós repudiamos com veemência o aborto, o gayzismo e também o nazismo. Qualquer insinuação de que as coisas sejam diferentes é calúnia barata.

Sobre mocinhos e bandidos

Esta história eu faço questão de contar, só de raiva. Descobri-a hoje à tarde, no Twitter. Aconteceu em Cuiabá, sexta ou sábado que passou.

Uma família estava voltando para casa quando foi surpreendida por uma dupla de assaltantes armados. Fizeram a família de refém, e começaram a vasculhar a casa em busca de objetos valiosos. Trancaram a família no quarto, onde – por obra da Divina Providência – estava guardada a arma de um dos filhos, que era campeão regional de tiro. Ele a carregou e, quanto um dos ladrões entrou no quarto e apontou um revólver para a mãe do rapaz, este atirou nele e o matou. Atirou também no segundo meliante, que infelizmente conseguiu fugir mas logo depois foi capturado pela polícia.

Aí o Diário de Cuiabá pega e noticia este fato da seguinte maneira:

E assim, graças à fantástica magia das manchetes de jornais, a legítima defesa vira assassinato, um assaltante ao qual se ofereceu resistência transforma-se em adolescente assassinato e a vítima do assalto, que teve a coragem de reagir para proteger a sua família, é transformado em atirador assassino.

O absurdo era muito grande para passar incólume. A matéria foi removida do site. Ainda se encontra no cache do Google. Não sei se o responsável por ter colocado esta matéria criminosa no ar foi devidamente expulso do jornal, como seria justo. Sei que, até onde pude notar, o jornal não colocou nenhuma errata, nenhum pedido de desculpas, nenhuma nota indicando o seu erro, nada – simplesmente deu sumiço na matéria como se ela nunca tivesse existido. Também não sei se os responsáveis pela absurda prisão em flagrante do garoto que salvou a vida da sua família serão punidos como devem ser.

Sei, no entanto, que o garoto é um herói – a despeito das atitudes kafkianas das autoridades policiais e da imprensa. E sei que, graças a Deus, não sou o único a considerar os fatos desta maneira – basta olhar a página de comentários do Diário de Cuiabá onde a notícia originalmente estava. A despeito das tentativas “do alto” de inverter a realidade e transformar as coisas no seu contrário, o povo (ainda) tem o juízo no lugar. Graças a Deus.

Padre Lodi n’O Estado de São Paulo

Eu sempre acho interessante a maneira “isenta” como a mídia costuma apresentar as atitudes de pessoas ligadas à Igreja Católica. Uma matéria do Estadão publicada hoje leva por interessante título “Líder de movimento contra o aborto volta a atacar Dilma”. Logo abaixo da manchete: “Pró-Vida, movimento católico dos mais radicais do País, divulga nota na internet criticando governo da petista”.

A matéria refere-se a este texto do pe. Lodi (para quem ainda não leu, eu recomendo) que foi publicado anteontem. Enquanto o texto do conhecido sacerdote é – mais uma vez – excelente, a matéria d’O Estado de São Paulo é sofrível. Vejamos:

O padre Luiz Carlos Lódi, presidente do movimento denominado Pró-Vida, divulgou nota pela internet atacando o governo da presidente Dilma Rousseff.

O nome do movimento não é “Pró-Vida”, e sim “Pró-Vida de Anápolis”. Sinceramente, chamar o movimento só pelo gênero é uma coisa tão idiota quanto se referir ao Banco do Brasil por “Banco” e pretender, com isso, que as pessoas entendam do que se está falando.

O Pró-Vida, sediado em Anápolis, interior de Goiás, é um dos movimentos católicos mais radicais do País contra a descriminalização do aborto

Radical? Por que “radical”? O pró-vida de Anápolis, como todo mundo que acompanha a causa pró-vida no país sabe, só faz repetir integralmente a doutrina moral da Igreja Católica sobre o tema. Ao contrário de outros grupos auto-intitulados católicos, a única “radicalidade” do pe. Lodi é a de não admitir condescendência nenhuma na defesa da vida humana nascente. Este “crime”, no entanto, não é do Pró-Vida de Anápolis. É da Igreja Católica.

Outrossim, o movimento não é “contra a descriminalização do aborto” simpliciter. É contra todos os atentados à família e à vida, o que inclui o aborto, mas também o gayzismo, o divórcio, a pornografia, et cetera.

D. Manoel morreu na semana passada. Seu sucessor, o padre Lódi (sic!), continua em campanha.

Sim, Dom Manoel Pestana faleceu no último sábado; mas não, o pe. Lodi não é o seu “sucessor”. O padre Lodi é um sacerdote, e Dom Manoel Pestana era bispo emérito de Anápolis, e o sucessor dele é Dom João Wilk. O termo “sucessor” tem um significado muito específico dentro da Igreja Católica para que seja razoável esta sua utilização indiscriminada pelos jornais.

Na opinião do padre, essas declarações fariam parte de uma escalada contra a vida, que estaria em curso no País.

“Na opinião do padre” não, cara-pálida! Ou as declarações foram feitas e significam o que elas dizem, ou então elas não foram feitas e aí o padre está inventando. Se elas significam o que de fato significam, então não tem nenhuma “opinião do padre” aqui, e sim o relato objetivo de fatos.

Caso o jornal “não acredite” que o Governo milita contra a vida humana (esforçando-se para aprovar o aborto, a “desconstrução da heteronormatividade” y otras cositas más), então que mostre isso. O padre mostrou que estas são bandeiras levantadas pelo Governo. Como o Estadão tem a cara de pau de chamar isso de “opinião do padre”?

Embora o foco do movimento Pró-Vida seja a luta contra a descriminalização do aborto, a maior parte dos itens abordados no documento distribuído agora refere-se à questão dos homossexuais

Porque, como já foi explicado, o Pró-Vida de Anápolis é (como o próprio nome diz, aliás) uma instituição a favor da vida, e não simplesmente contra o aborto.

Enfim, é esta a mídia que nós temos. Mas acho interessante que tenham se interessado em divulgar o texto do padre Lodi, ainda que de maneira tão cretina. Ao menos, as palavras do padre alcançarão mais pessoas. E, quem sabe, torne-se um pouco menos difícil opôr resistência a esta marcha do Brasil rumo à barbárie que contemplamos atônitos.

Bento XVI e a camisinha II: a cretinice dos meios de comunicação

Sou surpreendido por uma matéria do Gazeta Online que tem o seguinte singelo título: “Vaticano: todos podem usar preservativos para evitar HIV”. A chamada: “Usar preservativos é um mal menor que transmitir o vírus HIV para um parceiro sexual – mesmo que isso signifique que uma mulher evitou uma possível gravidez, disse o Vaticano”. Manchetes análogas podem ser encontradas mundo afora. Como é possível tão universal desinformação?

Recapitulemos. O Papa disse ser possível haver alguns casos em que “a utilização do preservativo [por um garoto de programa] possa ser um primeiro passo para a moralização”. O Papa não disse nem mesmo que estes “podem” usá-los! Daí me vem um jornal dizer que “todos podem usar preservativos”, e ainda afirma ser isto “segundo o Vaticano”?

O Papa não falou sobre o que os garotos de programa podem ou não fazer. Apenas constatou um fato: o prostituto que usa preservativos impõe, de algum modo, limites à sexualidade desregrada. Como o Taiguara escreveu na lista “Tradição Católica”:

O que entendi é que, no caso da prostituta que utiliza camisinha, a significação real do uso da camisinha é completamente diversa do “sexo livre” apregoado: o uso da camisinha pela prostituta tem para ela a finalidade de evitar o contágio da doença venérea ao parceiro; para isso, ela mesma se impõe um limite (que ela pensa ser um limite válido, pois acredita que a camisinha realmente barra o contágio) e, desta feita, o próprio condom, símbolo da liberação sexual, ganha no caso concreto a conotação de um limite, contraria o próprio sexo livre.

Isto não é uma autorização para se usar preservativos. A proposição “garotos de programa podem usar preservativos” simplesmente não se encontra no texto do Papa – este é um fato objetivo contra o qual é impossível tergiversar. De onde tirou então o jornal que “todos podem usar preservativos”?

O impressionante fenômeno só revela uma gigantesca contradição dos inimigos da Igreja. Se, por um lado, postulam que Ela deva ser ostracizada e banida da vida pública das sociedades civilizadas, por outro lado saúdam com ânimo e júbilo esta – alegada! – “mudança de posição” da Igreja sobre os preservativos. Aliás, desejam tanto que a Igreja “mude” de opinião que passam a projetar isso na maneira como fazem jornalismo, por meio de um wishful thinking tão forçado, mas tão forçado, que se transforma em falsificação intelectual pura e simples.

CNBB apóia plebiscito ao qual os bispos dizem não!

No dia 18 de junho p.p., sexta-feira, ao invés de incentivar os fiéis a fazerem penitência em memória da Paixão do Senhor, o site da CNBB publicava uma matéria comunistóide em favor do plebiscito pelo limite de terras. “Pastorais Sociais e Organismos da CNBB confirmam apoio ao plebiscito pelo limite de propriedade da terra e ao Grito dos Excluídos” – era o longo título do artigo que, ao contrário de outros, encontra-se até agora disponível no site da Conferência. À época, eu também comentei aqui sobre o escândalo.

Hoje, foi publicada uma matéria no jornal “Gazeta do Povo” que revela uma outra face da moeda, meticulosamente escondida sob a maneira marxista do site da CNBB enxergar (e, pior ainda, divulgar) a realidade: bispos dizem “não” a plebiscito. Leiam-na na íntegra. Lá, vocês verão bispos como Dom Cristiano Krapf, Dom Aloísio Opperman e Dom Murilo Krieger dizendo claramente que são contrários a este plebiscito! Como isso é possível? Na verdade, o que acontece é que, aparentemente, a CNBB apóia o mesmo plebiscito ao qual os bispos teimam em dizer não! De onde vem tão curioso caso clínico de esquizofrenia?

Queira o leitor bondosamente voltar ao longo e enfadonho título da notícia do site da CNBB, linkada no início do post. Quem é que apóia, afinal de contas, este malfadado plebiscito? A matéria não diz “os bispos apoiam”, e nem “a CNBB apóia”, nem nada do tipo. Com uma malícia ofídica, o que a matéria diz é que as “Pastorais Sociais” e uns anônimos “Organismos da CNBB” apoiam tal plebiscito. Não diz nem que “a CNBB” o apóia, nem que “os bispos” o apóiam, porque seria mentira.

Entendam bem! A CNBB não apóia este plebiscito. Este suposto apoio, dito assim claramente, não está em lugar nenhum (embora também não esteja desmentido… voltamos a este ponto já já). Os bispos em seu conjunto também não apoiam este plebiscito, e fizeram questão de o dizer pública e claramente, como mostra a matéria do “Gazeta do Povo” que eu trouxe acima. Até mesmo Dom Demétrio, que particularmente é favorável à consulta popular, confessa que, na última Assembléia Geral ocorrida em Brasília, embora tenha havido discussões sobre o assunto, “em nenhum momento houve decisão, nem sobre o limite da terra, nem sobre o que fazer com a propriedade excedente”. São palavras de um prelado favorável ao plebiscito!

Nem a CNBB apóia oficialmente o plebiscito, nem os bispos como um todo o apoiam. Mas, então, como explicar que o apoio “oficioso” a esta consulta popular – em assunto sobre o qual a Assembléia Geral da Conferência não chegou a nenhuma decisão, convém lembrar – esteja tão disseminado? Por que a CNBB não o desmente?

Volto ao início do post: o malicioso artigo sobre o apoio das “Pastorais” e dos anônimos “Organismos” da CNBB ao plebiscito – que claramente confunde os leitores – encontra-se até agora no site da CNBB. No entanto, no final do mês passado, o artigo de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini contrário à sra. Dilma Rousseff foi rapidamente retirado do site porque… era a posição particular de um bispo, e não representava a posição da Conferência! É incrível a desonestidade desta gente, mas é isso mesmo: há algumas posições particulares, de alguns prelados, que podem e devem ser veiculadas no site oficial da CNBB, e há algumas outras posições particulares de outros prelados que não podem estar no site de nenhuma maneira e, caso apareçam por lá, devem ser retiradas o quanto antes. E este site duas-caras é – vergonha! – o site oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

E agora, como é que fica? O apoio ao plebiscito é posição oficial da CNBB, ou é posição particular de alguns bispos? Se for posição oficial da Conferência, então nós temos pelo menos quatro bispos mentindo publicamente. Se não for posição oficial da Conferência (e sim opinião pessoal de algum bispo), por qual motivo esta posição pessoal merece destaque no site da CNBB, enquanto que a de Dom Luiz Gonzaga foi rapidamente censurada?

Não deixem de fazer a pergunta inconveniente à assessoria de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: imprensa@cnbb.org.br. Aproveitem e perguntem também (como citou o Marcio Antonio Campos no quadro da matéria do “Gazeta do Povo” – leiam lá) por qual esotérico motivo é permitido mencionar expressamente o nome dos candidatos em alguns tipos de artigos (como na malfadada Análise de Conjuntura sobre a qual eu já comentei aqui e desde fevereiro está no site da CNBB) e não em outros (como no artigo de Dom Luiz Gonzaga que foi censurado). Estou curiosíssimo para saber qual vai ser a resposta.

CNBB desmente: Católicos não têm liberdade para “votar em qualquer candidato” coisa nenhuma

[Publico na íntegra. Parece que, com a CNBB, a coisa ainda funciona – graças a Deus – na base da pressão. A notícia saiu na última sexta-feira e, já hoje, veio a resposta.

Uma certa senhora – que se diz católica e, apesar dos meus reiterados protestos, insiste em me enviar por email todo o lixo com o qual costuma tornar a internet um lugar mais desagradável de se freqüentar – enviou-me um email correlato, que tinha por título “parabéns à CNBB” e no qual estava escrito (com a caixa-alta do original), da lavra da referida senhora: “A CNBB AO ABRIR AS PORTAS A TODOS OS CANDIDATOS, MOSTROU QUE NÓS CATÓLICOS, TEMOS LIBERDADE PARA VOTAR EM QUALQUER CANDIDATO. FOI UM TAPA DE PELICA NO TAL BISPO DE GUARULHOS, QUE PREGA O ÓDIO E A INTOLERANCIA”. Pois é, parece que, agora, o tapa na cara dos “católicos” abortistas foi não de pelica, mas com a mão cheia mesmo…

Fonte: CNBB]

Prezado Senhor Diretor de Redação,

Foi com desagradável surpresa que vi estampada minha fotografia no topo da página A7 da Edição de hoje, sexta-feira, 20 de agosto, com a nota de que eu teria admitido que os católicos votem em candidatos que são favoráveis ao aborto.

Gostaria de expressar, mais uma vez, a posição inegociável da CNBB, que é a mesma do Magistério da Igreja Católica, de defesa intransigente da dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural. O aborto é um crime que clama aos céus, um crime de lesa humanidade. Isso, evidentemente, não significa que o peso da culpa deva recair sobre a gestante. Também ela é, na maioria das vezes, uma grande vítima dessa violência, e precisa de acompanhamento médico, psicológico e espiritual. Aliás, esses cuidados deveriam vir antes de uma decisão tão dramática.

Os católicos jamais poderão concordar com quaisquer programas de governo, acordos internacionais, leis ou decisões judiciais que venham a sacrificar a vida de um inocente, ainda que em nome de um suposto estado de direito. Aqui, vale plenamente o direito à objeção de consciência e, até, se for o caso, de desobediência civil.

O contexto que deu origem à manchete em questão é uma reflexão que eu fazia em torno da diferença entre eleições majoritárias e proporcionais. No caso da eleição de vereadores e deputados  (eleições proporcionais), o eleitor tem uma gama muito ampla para escolher. São centenas de candidatos, e seria impensável votar em alguém que defenda a matança de inocentes, ainda mais com dinheiro público. No caso de eleições majoritárias (prefeitos, senadores, governadores, presidente), a escolha recai sobre alguns poucos candidatos. Às vezes, sobretudo quando há segundo turno, a escolha se dá entre apenas dois candidatos. O que fazer se os dois são favoráveis ao aborto? Uma solução é anular o próprio voto. Quais as conseqüências disso? O voto nulo não beneficiaria justamente aquele que não se quer eleger? É uma escolha grave, que precisa ser bem estudada, e decidida com base numa visão mais ampla do programa proposto pelo candidato ou por seu Partido, considerando que a vida humana não se resume a seu estágio embrionário. Na luta em defesa da vida, o problema nunca é pontual. As agressões chegam de vários setores do executivo, do legislativo, do judiciário e, até, de acordos internacionais. E chegam em vários níveis: fome, violência, drogas, miséria… São as limitações da democracia representativa. Meu candidato sempre me representa? Definitivamente, não! Às vezes, o candidato é bom, mas seu Partido tem um programa que limita sua ação. Por isso, o exercício da cidadania não pode se restringir ao momento do voto. É preciso acompanhar, passo a passo, os candidatos que forem eleitos. A iniciativa da Ficha Limpa mostrou claramente que, mesmo num Congresso com tantas vozes contrárias, a força da união do povo muda o rumo das votações.

Que o Senhor da Vida inspire nossos eleitores, para que, da decisão das urnas nas próximas eleições, nasçam governos dignos do cargo que deverão assumir. E que o cerne de toda política pública seja a pessoa humana, sagrada, intocável, desde o momento em que passa a existir, no ventre de sua própria mãe.

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário Geral da CNBB

Os bons exemplos que não viram notícia

Não sei exatamente qual é a origem desta carta de um sacerdote missionário em Angola – diz a notícia que foi enviada ao The New York Times (não diz a data) que, até o presente momento, não a respondeu. Merece, no entanto, ampla divulgação, porque mostra uma face do sacerdócio que não ganha os louvores da mídia, o reconhecimento da opinião popular – não vira notícia.

Não é só na vida sacerdotal – é em todos os lugares. Os acertos não são reconhecidos da mesma maneira que os erros são condenados. Quase ninguém agradece com a mesma rapidez com que lança pedras. Nos estudos, somos cobrados mais por nossas faltas do que pelas inúmeras presenças; mais pelas poucas reprovações do que por todas as aprovações. No trabalho, os erros que cometemos implicam em reclamações e advertências; os acertos diários e as coisas que sempre fazemos bem não recebem agradecimentos na mesma medida. A vida é assim.

E, em um certo sentido, talvez tenha que ser assim mesmo. Espera-se do estudante que estude, espera-se do profissional que trabalhe, espera-se do sacerdote que seja santo e que santifique. Quando as coisas fogem do que esperamos que elas sejam, é até natural que venham manifestações: o estudo irresponsável, o trabalho mal-feito, o pecado do sacerdote… estas coisas revelam falhas, revelam uma inadequação da realidade ao ideal, ao modelo que se tem e que se almeja. É natural que seja assim: isso nos estimula a nos aperfeiçoarmos cada vez mais. A fazermos cada vez mais melhor.

No entanto, somos humanos, e erramos, e temos necessidade não somente de tapas e reprimendas – mas também de reconhecimentos. Reconhecer o êxito nos estudos, o trabalho – ainda que ordinário – bem feito, ou a resposta generosa à vocação sacerdotal, o testemunho de amor a Jesus Cristo dado por tantas e tantas almas sinceras marcadas indelevelmente pelo Sacramento da Ordem.

E estas existem. Graças a Deus, existem, e existem muitas – leiam o texto acima. E é uma questão de justiça reconhecer o bem que elas fazem, muitas vezes “na surdina”, longe dos olhares dos homens. É necessário contrapôr, ao mau testemunho de uns poucos padres, o exemplo de tantos outros que se esforçam por levar uma vida em conformidade com as promessas que fizeram no dia de sua ordenação. Como eu dizia acima, em um certo sentido, é natural que os erros ganhem mais visibilidade do que os acertos; mas não é natural nem é justo que as coisas sejam julgadas com lentes de aumento nos erros e vista grossa feita aos acertos – que, aliás, são em número incomparavelmente maior.

Sim, o missionário está correto: o bem não vira notícia. Nunca virou. E, aliás, nem é bom que vire – porque o Pai, que está nos Céus e vê o que está oculto, saberá com certeza recompensar a todo bem que foi feito nesta terra. Mas, às vezes, é importante darmos a conhecer o bom exemplo de alguns, não por vaidade, não para buscar louvores do mundo, mas simplesmente por uma questão de Justiça. A Igreja é Santa, e contém em Seu seio pecadores – mas contém também inumeráveis exemplos de santidade, e em uma profusão muito maior do que os que provocam escândalos. É justo que isto seja dito às claras. Logicamente, não é uma tentativa de se minimizar a gravidade dos pecados cometidos por quem deveria ser sempre um “outro Cristo”. Mas é para mostrar que Cristo está na Igreja, também em seres humanos falhos. Para mostrar que não há somente falhas. E – é necessário dizer – quem não enxerga isso não pode se dizer jamais comprometido com a Verdade.

P.S.: Recebi por email a carta original em espanhol, e a encontrei na internet. Foi escrita pelo pe. Martín Lasarte.

CNBB em solidariedade ao Papa

Fonte: CNBB

Nota de solidariedade ao Papa Bento XVI

O povo católico de todo o mundo acompanha, com profunda dor no coração, as denúncias de inúmeros casos de abuso sexual de crianças e adolescentes praticado por pessoas ligadas à Igreja, particularmente padres e religiosos. A imprensa tem noticiado com insistência incomum, casos acontecidos nos Estados Unidos, na Alemanha, na Irlanda, e também no Brasil.

Sem temer a verdade, o Papa Bento XVI não só reconheceu publicamente esses graves erros de membros da Igreja, como também pediu perdão por eles. Disso nos dá testemunho a carta pastoral que o Santo Padre enviou aos católicos da Irlanda e que pode se estender aos católicos de todo o mundo.

Mais do que isso, Bento XVI não receou manifestar seu constrangimento e vergonha diante desses atos que macularam a própria Igreja. Firme, o Papa condenou a atitude dos que conduziram tais casos de maneira inadequada e, com determinação,  afirmou que os envolvidos devem ser julgados pelos tribunais de justiça. Não faltou ao Papa, também, mostrar a todos o horizonte da misericórdia de Deus, a única capaz de ajudar a pessoa humana a superar seus traumas e fracassos.

Às vítimas o Papa expressou ter consciência do mal irreparável a que foram submetidas. Disse Bento XVI: “Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. É compreensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos”.

Essa coragem do Sucessor de Pedro nos coloca a todos em estado de alerta. Meditamos sobre esses atos objetivamente graves, e estamos certos de que – como fez o Papa – devem ser enfrentados com absoluta firmeza e coragem.

É de se lamentar, no entanto, que a divulgação de notícias relativas a esses crimes injustificáveis se transforme numa campanha difamatória contra a Igreja Católica e contra o Papa. Deixam-nos particularmente perplexos os ataques freqüentes e sistemáticos, ao Papa Bento XVI, como se o então Cardeal Ratzinger tivesse sido descuidado diante dessa prática abominável ou com ela conivente. No entanto, uma análise objetiva dos fatos e depoimentos dos próprios envolvidos nos escândalos revela a fragilidade dessas acusações. O Papa, ao reconhecer publicamente os erros de membros da Igreja e ao pedir perdão por esta prática, não merecia esse tratamento, que fere, também, grande parte do povo brasileiro, que  sofre com esses momentos difíceis, e reza pelas vítimas e seus familiares, pelos culpados, mas também pelas dezenas de milhares de sacerdotes que, no mundo todo, procuram honrar sua vocação.

De fato, “a imensa maioria de nossos sacerdotes não está envolvida nesta problemática gravemente condenável. Provavelmente, não chegam a 1% os envolvidos. Ao contrário, os demais 99% de nossos sacerdotes, de modo geral, são homens de Deus, dignos, honestos e incansáveis na doação de todas as suas energias ao seu ministério, à evangelização, em favor do povo, especialmente a serviço dos pobres e dos marginalizados, dos excluídos e dos injustiçados, dos desesperados e sofridos de todo tipo” (cf. Cardeal Cláudio Hummes, 12ºENP).

No momento em que a Igreja Católica e a própria pessoa do Santo Padre sofrem duros e injustos ataques, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil manifesta sua mais profunda união com o Papa Bento XVI e sua plena adesão e total fidelidade ao Sucessor de Pedro.

A Páscoa de Cristo, que celebramos nesta semana, nos leva a afirmar com o apóstolo Paulo: “Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados” (2Cor 4,8-9). Nossa fé nos garante a certeza da vitória da luz sobre as trevas; do bem sobre o mal; da vida sobre a morte.

A imprensa e a internet

Há um “ditado” em informática que diz o seguinte: para fazer uma besteira (o termo não é bem esse, mas preciso torná-lo adequado ao blog), é suficiente uma pessoa. Agora, para fazer uma grande besteira, é preciso uma pessoa e um computador.

A brincadeira me veio à mente quando eu pensava na Reforma Protestante e nos desastrosos efeitos que ela provocou na Europa do século XVI. Eu pensava no papel determinante que a invenção da imprensa desempenhou na propagação das heresias de Martinho Lutero e, por conseguinte, nas proporções que teve a Reforma. E disse para mim mesmo, parafraseando o ditado acima: para se fazer um herege, basta um monge bêbado sem vocação. Para lançar a Alemanha inteira na heresia, no entanto, só com um monge bêbado sem vocação e uma máquina tipográfica.

Não que a invenção da imprensa tenha sido uma coisa ruim. Facilitou o acesso a inestimáveis tesouros culturais antigos, propiciou o aumento da produção intelectual, popularizou escritos aos quais, de outra maneira, dificilmente as pessoas teriam acesso. No entanto, isso não é “um bem em si mesmo”. Depende do que foi feito com os tesouros antigos, do tipo de produção intelectual que foi feita, de qual literatura foi popularizada.

No caso da imprensa (cujo primeiro trabalho foi, ironicamente, a Bíblia de Gutemberg), ela foi terrivelmente usada por Martinho Lutero para espalhar os seus escritos e, assim, angariar adeptos para as suas heresias. Posso cometer alguma injustiça por ignorância histórica, mas tenho a impressão de que, olhando para trás, a partir da Reforma Protestante, os maus frutos da invenção da imprensa são mais visíveis do que os seus bons frutos.

A internet hoje provoca uma revolução análoga àquela que a imprensa provocou outrora. E é possível fazer também paráfrases do ditado ao qual eu me referia no início do post. Uma das que vejo mais claramente é no que se refere à castidade. Para levar material pornográfico para um jovem, um canalha é suficiente; para massificar a pornografia entre a juventude, é preciso um canalha e a internet.

Precisamos dar um melhor uso à internet do que este. E é com muita alegria que eu vejo o potencial positivo que a internet tem, nos sites de defesa da Fé Católica, nas listas de discussão por email, na possibilidade de contato entre pessoas que, de outra maneira, provavelmente jamais se conheceriam. É importante trabalhar e explorar essa potencialidade da rede mundial de computadores. Para, quem sabe, fazermos uma paráfrase enfim positiva do ditado da informática: uma que revele a importância da internet na manutenção e na promoção da Fé Católica durante a terrível crise do final do segundo milênio.