O Sínodo e o homossexualismo: Papa Francisco e o Beato Paulo VI

Como parece que não há até agora nenhuma tradução, oficial ou oficiosa, para nenhuma língua civilizada afora o italiano, do relatório final do Sínodo dos Bispos (no último sábado publicado), ofereço aqui os meus dois tostões com os parágrafos referentes ao homossexualismo:

A atenção pastoral a respeito das pessoas com orientação homossexual

55. Algumas famílias passam pela experiência de possuir, entre seus membros, pessoas com orientação homossexual. A respeito dos que nos interrogam sobre quais cuidados pastorais são oportunos nestas situações, [em resposta] referimo-nos a quanto ensina a Igreja: «Não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogia, nem mesmo remota, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o Matrimônio e a família». Inobstante, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza. «Em relação a eles, evitar-se-á todo traço de discriminação injusta» (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4).

56. É totalmente inaceitável que os pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria, [bem como] que os organismos internacionais condicionem o auxílio financeiro aos países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimônio” entre pessoas do mesmo sexo.

Relatio Synodi, 55-56

Os termos são estes e apenas estes. Não há outros parágrafos; desapareceu toda aquela história de «accettando e valutando il loro orientamento sessuale» e quetais que tanta celeuma provocou na semana passada. No lugar dela, a referência peremptória, clara e cristalina, ao ensino da Igreja: entre as uniões homossexuais e o Matrimônio não é possível estabelecer sequer uma analogia remota. Sumiu a referência às «coppie dello stesso sesso»; em seu lugar, uma referência negativa ao “matrimônio” – com as aspas no original! – «entre pessoas do mesmo sexo», que os organismos sociais não poderiam impôr como condição ao fornecimento de auxílio financeiro aos países pobres.

A mídia, naturalmente, fez o seu burlesco espetáculo: «Vaticano elimina “boas-vindas” a gays em documento final do Sínodo». Uma verdadeira piada. Ora, se as referidas “boas-vindas” forem no sentido de alterar o ensino moral da Igreja, então não as há neste documento final como não havia tampouco no primeiro. Se, ao contrário, trata-se de estar sempre de portas abertas aos pecadores, quaisquer que sejam os seus pecados, então há tantas “boas-vindas” na versão preliminar quanto no relatório definitivo. Em uma palavra: a redação é outra, e a mensagem é a mesma. Contudo, o primeiro texto dava muito mais margem para interpretações tresloucadas do que o último, e portanto é um verdadeiro bálsamo que este tenha saído do jeito que saiu.

E mais: se é regra hermenêutica básica, de qualquer discurso, que as passagens mais ambíguas e vagas sejam interpretadas à luz das mais claras, então o Relatio Synodi determina e especifica o sentido do Relatio post disceptationem na semana passada divulgado. É isso: os parágrafos 50-52 do relatório preliminar diziam exatamente o que eu disse aqui que eles diziam, qual seja,

que os homossexuais «[d]evem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza»; e ainda que, para com eles, «[e]vitar-se-á (…) qualquer sinal de discriminação injusta» (CCE 2358).

Os próprios termos do relatório final foram os que eu usei no post do blog quatro dias antes! Não, isso não significa (necessariamente…) que os cardeais consultam o Deus lo Vult! nas horas vagas para descobrir a melhor forma de redigir um documento eclesiástico. Significa, tão-somente, que o sentido dos textos da Igreja deve ser buscado em referência aos outros documentos correlatos, e não ao desiderato da mídia. Porque a Doutrina Católica, ao contrário dos mass media, não muda ao sabor do momento. Aos incréus perdoa-se que ignorem essas coisas. Os católicos, que temos Fé, não podemos nos prestar a tão deplorável espetáculo.

Uma última coisa: o Papa Francisco beatificou ontem, no Vaticano, o seu predecessor Paulo VI. Na homilia, destacou o seguinte (grifo meu):

Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor.

Não sei se todos conhecem em detalhes a dramática história: uma comissão fora instituída, ainda nos tempos de João XXIII, para estudar a doutrina da Igreja referente à contracepção. A expectativa de que a Igreja flexibilizasse o Seu ensinamento, bem como a pressão para que Ela o fizesse, eram então enormes. De fato,

na primavera de 1967, quatro documentos da comissão vazaram e foram publicados em inglês e francês. Estes documentos revelavam que a maioria dos membros estava a favor de mudar o ensinamento tradicional sobre a anticoncepção e que tinham recomendado isso ao Papa.

A imprensa fez uma festa com os documentos que vazaram. Os católicos do mundo inteiro receberam a impressão de que a Igreja preparava uma “mudança em seu magistério” sobre a questão da anticoncepção. Consequentemente, as esperanças e expectativas falsas se fortaleceram.

[…]

Os documentos deixam claro que, desde o começo da expansão de tal comissão, sob o governo papal de Paulo VI, o secretário-geral da comissão, o sacerdote dominicano Henri de Riedmatten, de acordo com outros membros de igual opinião, estava decidido a persuadir o Papa para que mudasse o ensinamento da Igreja (no referente à anticoncepção).

Quando se votou, em 20 de junho de 1966, dos 15 bispos, membros da comissão que estavam presentes, 9 votaram a favor da mudança. Além disso, 12 dos 19 especialistas teólogos apoiaram a mudança, assim como quase todos os conselheiros legais. Tristemente, inclusive o teólogo pessoal de Paulo VI, Dom Carlo Colombo, deixou claro que ele achava que poderia haver métodos anticoncepcionais em consonância com a tradição moral da Igreja.

No entanto, para a maior glória de Deus, o que veio foi a Humanae Vitae. E o resto da história nós já conhecemos.

Será que ela não se repete? Vejo (P.S.: não fui o único e nem o primeiro a vê-lo) um notável paralelo entre a contracepção na década de 60 e o homossexualismo nos dias de hoje, bem como entre as expectativas anteriormente provocadas nos católicos do século passado e estas, que a mídia contemporânea está tão empenhada em semear entre os descendentes daqueles. Haverá o mesmo paralelo entre Paulo VI e o Papa Francisco? A beatificação de ontem me deu essa esperança. Que o novo Servo de Deus possa olhar com particular zelo pela Igreja que ele precisou capitanear “às vezes em solidão”. Que a sua coragem e clarividência inspirem o Papa Francisco; que ele, pela intercessão do Beato Paulo VI, possa ser um timoneiro prudente – ainda que incompreendido… – a guiar a Igreja de Cristo nessas águas tumultuosas dos dias correntes.

O trono de ouro do Papa e a caridade da Igreja

Voltou a circular no Facebook uma imagem retratando a suposta contradição entre a “opulência” do Papa sentado em um trono (alegadamente) de ouro e a miséria de uma criança passando fome na África. A imagem recente provoca mais comoção, imagino, por conta do olhar da criança: a foto mostra o menino faminto ostentando dois olhos enormes e brilhantes, no melhor estilo Gato-de-Botas, acrescentando assim à (já comovente, é lógico) tragédia uma apelo visual que faz com que seja impossível não se compadecer imediatamente. É uma obra-prima de propaganda, forçoso reconhecer. Contudo, nem tudo o que reluz é ouro e nem toda boa peça publicitária divulga a verdade. Aliás, o que acontece neste caso é exatamente o contrário.

Sobre este assunto já se falou extensamente no ano passado, quando ele surgiu pela primeira vez: no entanto, fez-se uma confusão com as imagens que convém esclarecer. O que se disse anteriormente (e que é verdade) é que nem mesmo a Cathedra Petri, encrustrada n’A Glória de Bernini, é de ouro. A obra do famoso escultor italiano é de madeira revestida por bronze dourado. Contudo, este não é o trono que aparece nas fotos divulgadas no Facebook, como qualquer um que compare as duas imagens pode ver. Aliás, creio que nenhum Papa se senta na Cathedra Petri por óbvias razões ergonômicas: a obra é alta e imponente, e é perceptível que foi confeccionada visando mais a razões estéticas do que ao uso prático quotidiano.

O trono no qual o Papa aparece sentado – e que NÃO é o de Bernini – é o Trono de Leão XIII. Sobre esta confusão falou extensamente o Caos & Regresso no início deste mês, e recomendo a leitura: tanto deste texto quanto do anterior lá linkado, mormente na parte específica sobre as riquezas da Igreja. O que realmente interessa nessa discussão – como eu respondi pela primeira vez a um amigo que me questionou – é que não importa o valor do trono no qual o Papa se senta, uma vez que ele (como aliás todas as riquezas da Igreja) pertence(m) não ao Papa enquanto indivíduo, mas sim à Igreja como um todo. As riquezas da Igreja estão lá não para conforto dos homens, mas para reverenciar a Deus. E o valor delas, conquanto fosse alto, seria ainda assim insuficiente para “comprar” um mundo perfeito porque, infelizmente, o egoísmo humano é maior do que toda a riqueza acumulada pela humanidade e uma terra sem males não está à venda. Portanto,

  1. ainda que o Trono do Papa fosse de ouro maciço, o Papa não poderia vendê-lo porque ele não lhe pertence; e ainda
  2. ainda que o Trono do Papa fosse de ouro maciço e o Papa o derretesse e vendesse, a fome do mundo não ia acabar com isso. Porque dinheiro se gasta e acaba, ao passo em que as pessoas têm fome todos os dias. Isto é tão evidente que dói ter que desenhar.

O que interessa é dizer que a Igreja – ao contrário desta galera que acredita estar colaborando com o futuro da humanidade ao divulgar no Facebook uma peça de propaganda caluniosa – é a maior instituição de caridade do mundo. A gente não costuma divulgar porque caridade é para ser feita sem alarde mesmo, mas existe um Dicastério Romano (o Conselho Pontifício Cor Unum) voltado para a caridade institucionalizada. Os que acham ser uma boa idéia jogar pedras na Igreja Católica, melhor fariam se primeiro dessem uma olhada nos relatórios anuais do Cor Unum. Se não têm coragem de ler textos grandes e em outros idiomas, então tenham ao menos a decência de passar os olhos pelos números organizados em tabelas (mostrando o total de doações e o número de países beneficiados por ano) antes de perguntar cinicamente quantas crianças poderiam ser alimentadas pela venda de uma peça histórica.

O mais trágico é que as pessoas que divulgam estas cretinices, as mais das vezes, não têm coragem de comprar um pão na padaria para dar a um mendigo faminto da rua, e certamente não lhes passa pela cabeça vender o próprio carro (ou o iPhone ou a roupa de marca) para alimentar a criança que passa fome na calçada do seu próprio prédio. No entanto, vêm fazer exigências sem sentido à Igreja Católica. Donde se vê que, na verdade, hipocrisia não é o que está representado na imagem. Hipocrisia existe em quem compartilha uma coisa dessas.

O triste fim do progressismo

Espetacular esta matéria que apresenta um relatório de um grupo anglicano conservador sobre as paróquias da Igreja Episcopal nos Estados Unidos (aqui em português, no Acarajé Conservador). De acordo com a manchete, uma em cada três paróquias episcopalianas desaparecerá dentro de cinco anos. O motivo? Simplesmente porque elas são doutrinariamente liberais.

«Os episcopalianos aprovaram tudo o que os “progressistas” exigiam e mais. Mas isso não atraiu fiéis. No século XVI, o anglicanismo aceitou o clero casado. Em 1930, aceitaram a anticoncepção. Em 1976, os episcopalianos aprovaram o clero feminino. Em 1989, ordenou-se a primeira bispa episcopaliana. Em 1994, proibiu toda terapia para deixar a homossexualidade. Em 2000, aceitou-se o sexo fora do matrimônio. Em 2003 ordenaram como bispo a Gene Robinson, um senhor divorciado, com dois filhos, que vivia «maritalmente» com outro homem (este ano 2011 deixou o cargo). Em 2006 o episcopalianismo admitia o matrimônio homossexual. Em 2010 presumia ordenar em Los Anjos uma bispa lésbica. Em 1 de janeiro de 2011 um bispo episcopaliano casava com pompa midiático a duas sacerdotisas lésbicas episcopalianas, uma delas a famosa militante pro-aborto, Katherine Ragsdale».

Isto não é novidade. O então cardeal Ratzinger já dizia (tenho quase certeza de que é n’O Sal da Terra, mas pode ser também no “A Fé em Crise?”) em resposta àqueles que vaticinavam o fim da Igreja caso Ela não Se abrisse ao mundo moderno: os protestantes já aceitaram tudo e, mesmo assim, continuam perdendo fiéis. É claro que o mundo moderno não pode ser conselheiro em questões espirituais, e é bastante evidente que os “sábios” deste século sem Fé não podem pretender dizer à Igreja de Cristo como Ela deve Se portar para manter o rebanho que Deus Lhe confiou. Na verdade, os que pedem que a Igreja Católica “adapte-Se” aos tempos modernos são exatamente os que querem que Ela desapareça. Como já aconteceu [e está acontecendo] com os protestantes.

As pessoas têm sede de Verdade, de Bondade, de Beleza – de Deus. As pessoas não desejam algo que já encontrem no mundo: no dia em que os católicos entenderem isso, então a Igreja passará a florescer de modo abundante. Houve tempos em que a mensagem do Evangelho podia contar com “concorrentes”, do paganismo pré-cristão ao catarismo medieval, etc. É impressionante que, hoje, alguns ainda se envergonhem de anunciar “de cima dos telhados” a Doutrina de Cristo – hoje, quando as pessoas são empurradas do ateísmo irracional e estéril para um progressismo relativista e, em última instância, também ateu! É um verdadeiro mysterium iniquitatis que muitos ainda hoje queiram fazer concessões ao mundo, quando já estão historicamente demonstrados os fins trágicos aos quais levam os (impossíveis) conluios do Evangelho com o mundo moderno.

A Igreja Católica cresce por atração – por aquela sobrenatural atração que Cristo dependurado no Madeiro da Cruz exerce sobre as almas honestas. Não há “concessão” que precise ser feita aqui. Não existe “especialista” sem Fé que possa ensinar à Igreja como pregar o Evangelho. Não há verdadeiro bem no mundo que se oponha ao que ensina a Esposa de Cristo.

Fundação Ford e aborto

Recebi por email o documento que disponibilizo abaixo, produzido pela Ford Foundation, “condensado do Relatório de 1990 elaborado pelo Dr. José Barzelato e Margaret Hempel”. O relatório ao qual se refere o documento é provavelmente o Ford Foundation Annual Report 1990 (veja-se, p.ex, a página 144 e seguintes). O que recebi e disponibilizo está em português, e eu não sei a quem creditar a tradução; o original Reproductive Health: a strategy for the 1990s também está no site da Fundação.

Não é de hoje que se sabe da ligação entre a Fundação Ford (e outras) e o lobby abortista. O Matheus já trouxe um podcast do Olavo de Carvalho sobre o tema; o padre Lodi já disse há quase nove anos atrás que o CFEMEA era financiado pela Fundação Ford. Este fato é, no entanto, as mais das vezes, desconhecido do grande público ou tomado por teoria da conspiração de ultra-reacionários. Bom, eis aí o documento da Ford Foundation para mostrar, pela milésima vez, o contrário. Cliquem para acessar:

SAÚDE REPRODUTIVA: UMA ESTRATÉGIA PARA OS ANOS 90

Alguns trechos, com grifos meus:

Este relatório está sendo publicado para uma audiência mais vasta na esperança de que outros doadores possam juntar-se a nós no financiamento desta abordagem abrangente da saúde reprodutiva. (p.1)

Encorajados pelo desenvolvimento da pílula e dos DIUs nos anos 60, os pesquisadores e doadores concentraram-se na descoberta de novos e melhores métodos contraceptivos. Como resultado, há mais, e muito mais seguros, contraceptivos disponíveis atualmente do que vinte e cinco anos atrás. (p. 3)

Conforme notado anteriormente, a Fundação Ford desempenhou um papel de liderança na promoção da pesquisa, da discussão política e da oferta de serviços desde que os temas populacionais vieram pela primeira vez ao debate público no final dos anos 50. […] Desde 1952 até o início dos anos 80, a Fundação disponibilizou U$ 260 milhões para estas atividades. (p. 5)

O objetivo será ter, em dez anos, três ou quatro fortes locais de pesquisa e treinamento respectivamente na África, Ásia e América Latina. Estas instituições e seus pesquisadores deveriam trabalhar em parceria com instituições biomédicas em implementação da saúde reprodutiva. Deverão também promover um conceito mais amplo de pesquisa no qual a busca de informação e de conhecimento faça parte do processo de empoderamento das mulheres. Deverão envolver organizações locais e associações de mulheres na implementação de serviços; incluir agentes políticos e provedores de serviços nos programas de pesquisa e treinamento; e, fornecendo dados e participando nos debates públicos, modelar programas e políticas para implementar a saúde reprodutiva e um maior reconhecimento dos direitos reprodutivos. (p. 9)

Relatório técnico sobre a ADPF 54

Publico aqui alguns trechos da intervenção da dra. Elizabeth Kipman Cerqueira, feita à ADPF 54, “na qualidade de técnica indicada pelo Ministério Público Federal que participou da Audiência Pública a convite do sr. Ministro Relator”. Para quem não se lembra, trata-se da Ação que será julgada em breve pelo STF e que versa sobre o aborto de anencéfalos. O texto, conforme explicado pelo dr. Celso Galli Coimbra, está passando despercebido pela grande mídia, a despeito de ter sido redigido em dezembro, protocolado em janeiro e recebido pelo Ministro Relator aos 02 de fevereiro de 2009.

Ele pode ser aqui encontrado na íntegra, em formato .pdf; vale muito a pena a leitura. Consta de apenas dez páginas [a primeira, é meramente protocolar e, da página 12 em diante, são os anexos]. Conheçamos o que está em jogo; defendamos a vida humana indefesa. E que a Virgem de Guadalupe, padroeira dos nascituros, livre o Brasil da maldição do aborto.

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Sobejamente durante esta Ação foi apresentada a situação do feto portador de anencefalia: seu desenvolvimento cerebral está seriamente comprometido, não há terapia possível no momento, talvez seja abortado espontaneamente, poderá acontecer o óbito intra-uterino ou logo após o parto.

Estes fatos são inquestionáveis, como também é fato que esta Ação se refere ao feto vivo; não o podemos igualmente negar. Se a questão tratasse de feto morto não caberia esta Ação, pois a prática médica é livre para atuar diante do óbito fetal intra-uterino conforme as normas éticas, técnicas e jurídicas.

É a verdade que não deve ser manipulado com argumentos sofismáticos ou manobras de raciocínio para levar à confusão: a Ação se baseia na suposição de que a previsão de curta vida justifica liberar as mães para apressar a morte de seus filhos em gestação. Não há dúvidas de que esta liberação agrediria um Preceito Fundamental: o do direito à vida independente do seu tempo de duraçao.

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O termo terapêutico se refere ao tratamento de uma patologia. Na situação em discussão [aborto de anencéfalos], o feto corre risco de morte e o procedimento tem como evidente objetivo antecipá-la, portanto não há objetivo terapêutico para ele.

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As escolas de psicologia mostram que nenhum trauma é satisfatoriamente superado através de outro trauma. É o que acontece na gestação desde o início indesejada ou que se torna indesejada durante a sua evolução. O aborto provocado acrescenta outro trauma muito mais intenso sobre o anterior uma vez que toda mulher sente consciente ou inconscientemente que está determinando o fim da vida de um filho seu.

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Concluímos que:

1. A consideração de morte encefálica não se aplica ao feto e ao recém-nascido portador de anencefalia conforme os protocolos aprovados;

2. A expressão “antecipação terapêutica do parto” não se aplica;

3. A gestação não oferece risco de vida importante para a mãe;

4. O risco do aborto provocado e do parto provocado é maior do que na espera pela resolução espontânea da gestação;

5. Embora nem sempre seja inicialmente identificado, o aborto provocado pode trazer maior tortura psicológica à mãe.