Miscelânea: Esquerda. Corrupção. Politicamente correto.

Três artigos muito oportunos e atuais.

– Cuidado com os pacatos!, escrito há mais de trinta anos. «Quero ser ainda mais concreto. Se a esquerda for açodada na efetivação das reivindicações “populares” e niveladoras com que subiu ao poder; – se se mostrar abespinhada e ácida ao receber as críticas da oposição; – se for persecutória através do mesquinho casuísmo legislativo, da picuinha administrativa ou da devastação policialesca dos adversários, o Brasil se sentirá frustrado na sua apetência de um regime “bon enfant” de uma vida distendida e despreocupada. Num primeiro momento, distanciar-se-á então da esquerda. Depois ficará ressentido. E, por fim, furioso. A esquerda terá perdido a partida da popularidade».

Abaixo a corrupção!, hoje publicado. «O Papa Francisco tem insistido sobre a diferença entre pecado e corrupção, entre o pecador e o corrupto. Segundo ele, pecadores somos todos nós, mas o corrupto é aquele que deu um passo a mais: perdeu a noção do bem e do mal. Já não tem mais o senso do pecado. Os corruptos fazem de si mesmos o único bem, o único sentido; negando-se a reconhecer a Deus, o sumo Bem, fazem para si um Deus especial: são Deus eles mesmos. O Papa lembrou que São Pedro foi pecador, mas não corrupto, ao passo que Judas, de pecador avarento, acabou na corrupção».

– Amestrando proletários, de ontem. Não trata diretamente de política e corrupção, mas fustiga o politicamente correto hoje hegemônico – também (e principalmente) nos nossos governantes. Recomendo muitíssimo uma leitura na íntegra, uma vez que é até difícil escolher um excerto para o ilustrar. Correndo o risco de ser injusto para com o artigo inteiro, arrisco-me por este: «A caricatura do “proletário” como um jumento apedeuta diz mais sobre as patrulhas politicamente corretas do que sobre o proletariado que elas julgam defender. […] O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro».

Quando a polícia chega, o morticínio já está feito

Na sexta-feira passada, um atirador entrou em uma escola infantil dos EUA e matou vinte e seis pessoas (vinte das quais crianças) antes de se suicidar. A escola Sandy Hook fica «na pequena cidade de Newtown, no estado americano de Connecticut».

Uma das vítimas do massacre de Connecticut foi a jovem professora Victoria Soto. Segundo relatos:

victoria-soto

Soto, de 27 anos, reagiu rapidamente quando escutou os disparos no sala de aula vizinha que Lanza havia invadido. Ela disse às 17 crianças que os ruídos eram parte de uma brincadeira e que para ganhar deviam esconder-se nos armários da sala e permanecer em silêncio. Os pequenos a obedeceram.

Segundo diversos meios locais, quando Lanza ingressou na sala de aula, Victoria disse que as crianças estavam em aula de ginástica mas a explicação não convenceu o homicida. Ele abriu fogo contra um dos armários e ela se colocou entre as balas e as crianças para protegê-los, o que terminou custando sua vida.

O Cristianismo da jovem heroína não foi mencionado no mural das vítimas que G1 preparou, para o qual a informação mais relevante sobre a professora é que ela «não tinha filhos e vivia com seu cão, Roxie». O mesmo silêncio se encontra na matéria específica sobre ela. Tratamento bem diferente costuma ser empregado nos casos em que é fácil jogar a pecha de cristão sobre o atirador (p.ex., no caso do atirador maçom da Noruega); nestes, a religião do criminoso parece ser subitamente relevante.

O massacre reacende o velho debate sobre as armas; na última segunda-feira, o João Pereira Coutinho dedicou a sua coluna na Folha de São Paulo ao assunto. Concordo perfeitamente com o articulista quando ele sentencia que «[a] culpa é de Adam Lanza, um psicopata de 20 anos que matou 20 crianças e sete adultos, antes do suicídio clássico. Ele é o responsável. Foi ele quem premiu o gatilho». Discordo, no entanto, quando ele tenta compartilhar a culpa com a mãe do garoto:

Mas Adam Lanza não está sozinho no momento da repartição de culpas: a mãe, igualmente vítima dos crimes do filho, considerava normal ter armas em casa de livre acesso para a descendência.

Mais: de acordo com vários jornais americanos, a começar pelo “New York Times”, a sra. Lanza tinha o hábito saudável de levar os filhos em piqueniques familiares para que todos pudessem descarregar a adrenalina com o seu arsenal doméstico.

Com a devida vênia, a distinção entre o «modesto revólver para defesa pessoal» teoricamente aceitável e os «dois exemplares semiautomáticos –uma Sig Sauer e uma Glock– que deveriam ser reservados, apenas, a policiais e militares» que o psicopata utilizou no crime é bastante irrelevante. O crime não seria menos crime se o indivíduo usasse um revólver no lugar do rifle; aqui, no nosso Realengo, o atirador usou dois modestos revólveres calibre .38, e nem por isso o crime se torna menos bárbaro. À luz da importância da questão qualitativa (se deve ser permitido ou não às pessoas portarem armas de fogo), a quantitativa (uma Glock ou um .38 velho?) perde importância. Aliás, eu não sei nem se esta última existe; a história nos mostra que a reação passional a estas tragédias costuma gerar campanhas pela abolição total das armas de fogo, e não por questiúnculas menores sobre suas características.

A mim, parece-me óbvio que o massacre poderia ser evitado – ou, pelo menos, ter suas proporções reduzidas – se alguém na escola tivesse uma arma (um «modesto revólver» que fosse!) com a qual pudesse abater o psicopata à primeira vítima. Contra os que dizem que defender o cidadão é papel da polícia, peço que olhem para Sandy Hook (e para tantos outros massacres afins que, vez por outra, mancham de sangue os nossos jornais) e percebam isto que se repete com uma regularidade assustadora: quando a polícia chega, o morticínio já está feito. Não poderia jamais ser diferente.

Porque – como diz o J.P. Coutinho ao fim do seu artigo, conquistando mais uma vez a minha concordância – «nem a lei mais razoável do mundo será capaz de parar a criatura mais irrazoável: é a vontade de matar, não o instrumento do crime, que horroriza as consciências sãs». Este é o maior problema. É válido debater maneiras de minimizá-lo; mas dirigir a indignação às armas ao invés de pensar em como se precaver contra os que puxam os gatilhos é errar feio o alvo. Os criminosos não serão extintos à força de restrições legais às armas de fogo. Deve-se pensar no que se pode fazer para evitá-los; e, de preferência, antes que as sirenes da polícia chegando avisem a todos que já se consumou mais uma tragédia.

Qual o valor de um corpo perfeito?

Belíssima história, que reproduzo abaixo do exato jeito que encontrei no Facebook, com a foto e o texto lá postados. Contra o “argumento” de que é fácil ter Fé em Deus quando se tem saúde e bens materiais, dona Maria dá a excelente resposta do testemunho da própria vida. Porque, como nos diz o Apóstolo, se fosse apenas para esta vida que estivesse voltada a nossa esperança, seríamos, dos seres humanos, os mais dignos de pena. A falta de saúde nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva; felizes os que são capazes de perceber esta verdade contemplando a riqueza da criação de Deus! Porque mesmo a dor nos direciona para Ele. Mesmo a deficiência revela a plenitude do Ser Humano à qual aspiramos e a cuja luz somente as nossas limitações fazem sentido.

Não sei se vocês leram este texto do João Pereira Coutinho sobre o culto ao corpo. Caso negativo, façam-no agora. O articulista português expõe impiedosamente a pústula do anti-transcendentalismo moderno:

Se não existe nenhuma continuidade pós-terrena, se tudo que resta é esta passagem breve e incompleta que termina entre quatro tábuas, o olhar humano recentra-se sobre a matéria. Pior: coloca a matéria no altar das antigas divindades e troca as orações e as penitências do passado pelo calvário tangível da malhação matinal. […] Um deus caprichoso e inconstante, sujeito às inclemências da velhice, da doença e da morte. Se existem causas perdidas, o corpo é a primeira delas. Alimentar causas perdidas é um sintoma de demência.

Excelente exposição! E contra esta demência generalizada levanta-se o exemplo de Dona Maria, uma simples senhora de Manaus que nunca terá nesta vida um corpo perfeito. Mas, ao que parece, a sua alma está muito mais sadia e vigorosa do que a de muitos cujos corpos, comparados ao dela, são de uma perfeição olímpica. Na contramão da histeria moderna, esta senhora soube cultivar a própria alma. Aprendamos com ela.

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Fonte: Facebook

Esta é a dona Maria. Ela mora em Manaus e é deficiente de nascença. Como se percebe, ela nasceu sem os braços e as pernas. Todas as terças feiras ela fica na porta do Santuário Nossa Senhora Aparecida participando das novenas perpétuas e pedindo ajuda aos fiéis. E numa conversa que eu tive com com a dona Maria, ela me fez a seguinte confissão: “Meu filho, eu nasci sem as pernas e os braços, mas sou uma pessoa feliz porque o essencial eu tenho: saúde, paz e principalmente fé! Confio muito em Deus e em Nossa Senhora. Sou aposentada, mas peço esmolas porque preciso ajudar a sustentar os meus netinhos que moram comigo e são doentes.” (Dona Maria)

Depois eu fiquei me perguntando: quantas vezes nós reclamamos tanto da vida mesmo tendo saúde, dinheiro, e tantas outras coisas. E ver uma guerreira como esta, na situação que se encontra ainda ajudando a cuidar da família com tanta disposição e alegria!

Realmente a dona Maria nos deixa aqui um exemplo de fé e superação de problemas!

Deus nos mostra por meio dessas pessoas que, por mais que a vida aparenta ter seus grandes problemas, eles só se tornam grandes a medida que permitimos que nossa fé esteja pequena!

Curtas: Crucifixos, Batinas e Outdoor sobre a Santa Missa

Crucificar os crucifixos, por João Pereira Coutinho. “Isso não significa, ao contrário do que pensam os fanáticos do secularismo, que o espaço público deva ser limpo de qualquer exibição de religiosidade. Significa que, precisamente por habitarmos estados seculares, todas as exibições de religiosidade são legítimas”.

Padre, use batina: a ciência recomenda!, no Tubo de Ensaio. “Assim como uma toga significa justiça, um terno caro significa poder e um jaleco de laboratório significa atenção e foco científico, o traje clerical é associado a ‘fé, dedicação e ao compromisso de liderança responsável na comunidade religiosa’, e o líder religioso ‘pode exercer suas tarefas e inspirar seguidores de forma mais efetiva quando usa esse tipo de vestimenta'”.

Outdoor Católico em Votuporanga, por Celito Garcia. “O ato é simples. Sabemos que um outdoor não pode despertar no coração de todos os católicos este fervor eucarístico. Mas é um esforço!”. Abaixo, a bonita foto. Parabéns aos católicos do “Apostolado IGNIS” pela iniciativa! Que ela possa dar frutos neste tempo propício da Quaresma.

Outdoor católico em Votuporanga

Defendendo o Papa

1. Luiz Felipe Pondé, articulista não-católico. “Quando leio as manifestações iradas dessa gente em êxtase porque existem padres que gostam de transar com meninos, sempre imagino como essa gente gostaria de poder gritar em praça pública: ‘Joga pedra na Geni!’. Sempre suspeito que o que move a ‘indignação pública’ é mais a chance de odiar (no caso, os padres tarados) do que de amar (no caso, a justiça) porque ninguém ama tão rápido assim, mas odeia na velocidade da luz. Acho inclusive que, no fundo, rezam (ironia…) para que o número de vítimas dos padres tarados aumente a cada dia. Dessa forma, seu preconceito ‘científico’ contra a Igreja Católica estará supostamente comprovado”.

2. João Pereira Coutinho, articulista não-católico. “É por isso paradoxal e bizarro o comportamento das patrulhas anticatólicas, que revelam ser o contrário daquilo que professam. Elas dizem-se ‘libertas’ da influência apostólica romana. Mas, por palavras ou atos, limitam-se a manifestar uma obsessão com o papa que nem o mais católico dos católicos consegue exibir. Elas querem ‘resgatar’ a sociedade da influência nociva da igreja. Mas são elas próprias que ainda se sentem ‘sequestradas’ por uma instituição à qual reconhecem total ascendência sobre as suas vidas. As patrulhas, sem o papa, simplesmente não conseguiriam viver”.

3. Marcello Pera, senador italiano. “Esta guerra do laicismo contra o cristianismo é uma batalha campal. Se deve trazer a memória o nazismo e o comunismo para encontrar uma similar. Mudam os meios, porém o fim é o mesmo: hoje como ontem, o que é necessário é a destruição da religião. Então a Europa, pagou a esta fúria destruidora, o preço da própria liberdade. É incrível que, sobretudo a Alemanha, enquanto se golpeia continuamente o peito pela recordação daquele preço que ela infligiu a toda a Europa, hoje, que voltou a ser democrática, esqueça e não compreenda que a mesma democracia se perderia se se aniquilasse o cristianismo”.

Mais sobre o Papa e o New York Times

Padres e pedófilos, de João Pereira Coutinho. “No mundo moderno e hipersexualizado em que vivemos, o celibato não é visto como uma opção pessoal (e espiritual) legítima e respeitável. O celibato só pode ser tara; só pode ser um convite ao desvio; só pode ser pedofilia. Esses saltos lógicos são tão comuns que já nem horrorizam ninguém”.

El Papa y los abusos en EE.UU.: lo que el “Times” no cuenta, de Rafael Serrano. “Lo que parece revelar Goodstein por primera vez es la correspondencia entre los obispos y el Vaticano. Ahí se ve que la notificación a la CDF llegó al final, casi veinticinco años después de las primeras denuncias y cuando empezaba a verse próxima la muerte de Murphy. La intervención del dicasterio, en el curso del último año y medio, no habría podido recuperar lo que no se hizo en las dos décadas anteriores”.

Resposta do pe. Renato Leite, ao infame artigo do Hélio Schwartsman da quinta-feira última. “Não se pode concluir outra coisa, a partir da  análise dos fatos, a não ser a existência oportunista de uma campanha difamatória contra a Igreja Católica que tem nos profissionais de mídia, com baixo teor de honestidade intelectual, como é o seu caso, seus instrumentos mais eficazes”.

New York Times se desmente em seus ataques contra o Papa, por Riccardo Cascioli, via ZENIT. “A documentação publicada pelo New York Times desmente a tese segunda a qual o cardeal Joseph Ratzinger não teria sido suficientemente enérgico ao gerenciar o caso de um sacerdote norte-americano culpado pelo abuso de várias crianças. Essa é a conclusão do jornalista italiano Riccardo Cascioli, ao analisar o episódio, em um artigo do dia 26 de março no jornal Avvenire, que apresentamos a seguir”.

Lo que parece revelar Goodstein por primera vez es la correspondencia entre los obispos y el Vaticano. Ahí se ve que la notificación a la CDF llegó al final, casi veinticinco años después de las primeras denuncias y cuando empezaba a verse próxima la muerte de Murphy. La intervención del dicasterio, en el curso del último año y medio, no habría podido recuperar lo que no se hizo en las dos décadas anteriores

Curtas

Oração de Pio XII pelos sacerdotes. “Concedei-lhes, oh Senhor, desprendimento de todo o interesse terreno e que só busquem a vossa maior glória. Concedei-lhes ser fieis às suas obrigações com a pura consciência até ao posterior alento”. Convém rezarmos. Que nos empenhemos em pedir ao Altíssimo pela santificação do clero.

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– Sobre o feriado nacional muçulmano-cristão libanês, no IHU e na Canção Nova. O texto é o mesmo. A parte referente ao Papa: “Recebido em audiência pelo Papa Bento XVI em 21 de fevereiro, logo depois do decreto de criação da festa islamo-cristã, o primeiro-ministro aproveitou seu compromisso a favor da coexistência pacífica entre cristãos e muçulmanos. Os dois chefes de Estado fizeram votos para que ‘através da coexistência exemplar das diversas comunidades religiosas que compõem o Líbano, o país continue a ser uma mensagem para a região do Oriente Médio e para o mundo inteiro'”.

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O Tigre confessa, do João Pereira Coutinho. “A privacidade; a existência de um espaço meu e dos meus, onde a multidão não entra, é talvez a maior conquista da civilização judaico-cristã. Destruir essa barreira sempre foi e sempre será o princípio da tirania”.

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El coma andante gosta mesmo é da Nike, sobre a hipocrisia cubana. “A Nike, não custa lembrar, representa um ícone do ‘imperialismo ianque’, segundo os perfeitos idiotas latino-americanos. Quer dizer então que o ditador pode usar símbolos do capitalismo americano numa boa? Além disso, não há um embargo econômico dos Estados Unidos à ilha-presídio? Onde foi que Fidel comprou este uniforme? Será que o povão cubano, o gado bovino de propriedade dos irmãos Castro, pode comprar um desses também?”. E o Lula lá. Ao lado do ditador. Enquanto um cubano morria após quase três meses de greve de fome.

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“Alcides morreu porque era um negro”. Data maxima venia, senhores sacerdotes, NÃO. Não morreu porque era negro. Não são só os negros que morrem injustamente. Este assassinato específico não teve nada a ver com racismo. Não foi este o porquê da sua morte. Por favor, não desonrem a  memória do meu conterrâneo transformando a tragédia em uma versão racista imbecil da luta de classes socialista.

Alcides morreu por causa do descaso das autoridades públicas com a segurança, porque o Brasil é um país violento, onde os marginais não são punidos como deveriam e onde a população de bem não pode se proteger e nem tem quem a proteja. Aliás, dos dois criminosos que assassinaram Alcides, um é ex-presidiário e o outro, por ser de menor, vai para uma unidade da “Fundação de Atendimento Socioeducativo” – nem sei por quanto tempo, provavelmente por um ou dois anos, e depois vai voltar às ruas. Este é o problema, senhores sacerdotes, e não a cor da pele do meu amigo.

Três Curtas

CNBB reforça pressão por projeto da ficha limpa; no site da Conferência, leio que o Senado deve ouvir “a voz do povo manifestada nas assinaturas recolhidas pelo Movimento que já ultrapassam 1,5 milhão”.

O que é o projeto? Tem um site próprio, onde pode ser encontrada a íntegra da proposta e uma sua versão resumida. A idéia é, entre outras coisas, “aumenta[r] o rol de situações que podem impedir o registro de uma candidatura”.

Entendo a frustração brasileira. No entanto, considero a lei injusta. Acho completamente nonsense que alguém seja punido por ter sido condenado em primeira instância (dado o país no qual vivemos) ou, pior ainda, simplesmente por ter uma denúncia contra si. Este projeto de lei não é inconstitucional?

O problema moral brasileiro é mais grave e não vai ser resolvido “na canetada”. A CNBB teria muito a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa et cetera; infelizmente, o órgão parece não ter idéia de como fazer isso. Rezemos pelo Brasil.

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– No J.P. Coutinho: Relógios e Rousseau. “[O]s suíços resolveram proibir a construção de minaretes islâmicos no seu espaço nacional”.

Uma tão terrível afronta à liberdade religiosa fez os esquerdopatas de todos os naipes rasgarem as vestes, indignados. Mas a parte mais irônica da história toda é posta a descoberto pelo articulista português: “[p]ara quem sempre divinizou a soberania popular, criticar os suíços é coisa de reacionário”.

O “aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei” é mesmo uma coisa fantástica e atingiu um novo patamar no recente caso suíço: se a lei estiver a favor dos inimigos, azar da lei.

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Foi ratificado hoje pela manhã o acordo entre a Santa Sé e o Brasil. Com a cerimônia desta manhã (10 de dezembro de 2009), entra em vigor o acordo.

Mais de um ano após ter sido assinado. Após muito blá-blá-blá dos laicínicos de plantão. “Por parte de la Santa Sede, se lee en un comunicado, participaron en el acto el arzobispo Dominique Mamberti, secretario para las Relaciones con los Estados y por parte de la República Federativa de Brasil, el embajador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, con plenos poderes”.

Vale a pena ler de novo: ACORDO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E A SANTA SÉ RELATIVO AO ESTATUTO JURÍDICO DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL.

Psicologia, índios e cigarros

– O enfoque faz toda a diferença. Lembram da notícia aqui publicada sobre a Associação Americana de Psicologia e o auxílio psicológico para pessoas que queriam refrear os seus impulsos homossexuais? Olhem só como G1 noticiou: Associação Americana de Psicologia repudia ‘conversão’ de gay para hétero! Somente lá no meio do texto é que se pode ler que o relatório “trata com detalhes a questão de como terapeutas devem lidar com pacientes gays que lutam para permanecer fiéis a crenças religiosas que desaprovem a homossexualidade”…

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Após 40 anos, índios do AM retomam cerimônia proibida por religiosos; triste, triste, triste! “A proibição [foi] dos missionários católicos que evangelizaram os índios no século passado. ‘Toda a coisa do índio, danças, vestimentas, a própria língua, era considerada como uma influência satânica’, explica Higino Tenório, líder do povo tuyuka. Com a modernização da igreja, o misticismo indígena deixou de ser pecado, e a cultura começa a ser resgatada”. Não importa o que diga o CIMI; é óbvio que uma cerimônia pagã “que tem chás alucinógenos, ervas estimulantes, benzeduras e invocação de espíritos da floresta” deve ser condenada como o paganismo que é. Infâmia! Beato José de Anchieta, rogai por nós!

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Até tu, São Paulo? Do João Pereira Coutinho, publicado na Folha do dia 18 de agosto. “A última pesquisa Datafolha é sinistra: a esmagadora maioria dos paulistas (88%) aprova a lei antifumo. Só 10% se opõem a ela. Só 2% lhe são indiferentes. Mais irônico é olhar para os fumantes: depois de anos e anos de propaganda e desumanização, eles olham-se no espelho, sentem o clássico nojo de si próprios e até concordam com a lei (77%). Razão tinha Karl Kraus quando afirmava, na Viena de inícios do século, que o antissemitismo era tão normal que até os judeus o praticavam. Péssimo presságio”.

Fumaça e Garoa

Vai entrar em vigor depois de amanhã, sexta-feira, em São Paulo, a nova lei anti-fumo. Não é novidade e eu quase não tenho mais o que comentar sobre o assunto. A esta altura do campeonato, toda insistência parece ser redundante e improfícua: quem ainda não entendeu, não acho que vai ser agora que vai entender.

Por uma dessas ironias do destino, sexta-feira (dia 07 de agosto) vai fazer três anos que o João Pereira Coutinho escreveu que a guerra acabou. O texto é interessante: “A guerra acabou e, de certa forma, vocês, fanáticos, venceram. A luta contra o tabaco nunca foi uma luta pela saúde dos ‘passivos’ (o que seria compreensível). Foi simplesmente uma luta contra a liberdade individual em nome de uma utopia sanitária: os fanáticos não desejam apenas que o fumo não os perturbe; desejam que a mera existência de um fumante também não. É a intolerância levada ao extremo e servida numa retórica simpática e humanista. E agora com cobertura legal”. Não foi a primeira vez que o articulista lusitano escreveu sobre o tabagismo; um ano e meio antes, na mesma Folha de São Paulo, foi publicado “Lauren Bacall, por favor”.

Navegando pelas últimas notícias paulistas sobre o assunto, encontrei uma que merece um comentário: Estabelecimento escapa da lei antifumo em São Paulo. Trata-se da “tabacaria, restaurante e bar Esch Café”, que conseguiu recentemente uma liminar para “continuar recebendo charuteiros, sem precisar cessar a venda de bebidas e comidas, o que não é permitido pela legislação antitabaco”. E o governo do Estado tenta reverter a decisão, e certamente há de conseguir, porque a sanha ditatorial dessa gente não tem limites.

É isto o que está em jogo. Não sei há quanto tempo existe o Esch Café nem nunca lá estive, mas os militantes antitabagistas não querem nem saber. Simplesmente não pode existir uma tabacaria onde se sirva comida e bebida, na cabeça dessa gente. Trata-se de uma intolerância doentia e injustificável. Não tem nada a ver com proteger a saúde dos não-fumantes; afinal de contas, alguém pode me explicar o que raios um não-fumante, preocupado o suficiente com sua saúde a ponto de não desejar passar tempo algum em um ambiente onde haja cigarros, iria fazer em uma tabacaria?! No entanto, um tal antro de perdição simplesmente não pode existir. Dura lex, sed lex, mesmo que não iuxta lex. É lastimável. Com este tipo de raciocínio, não dá para saber onde vamos parar.

Leitura suplementar: O cigarro, os fumantes e os direitos de propriedade.