Oração e doenças, aborto e STF

Saiu no Diário de São Paulo: Estudos mostram que oração ajuda na cura de doenças graves. “Em um estudo com 455 idosos internados, Koenig observou que a média de internação dos que frequentavam a igreja mais de uma vez por semana era quatro dias. Já os que iam raramente ou nunca chegavam a passar até 12 dias hospitalizados. Outra pesquisa, feita pela Faculdade de Medicina de Dartinouth, revelou que a probabilidade de pacientes cardíacos morrerem após a cirurgia era 14 vezes maior entre os que não participavam de atividades religiosas. Em seis meses, 21 morreram. Já todos os 37 que se declararam extremamente religiosos tiveram alta”.

Isso não é evidência de sobrenaturalidade – até porque, até onde me conste, este efeito se observa independentemente da crença do doente, e pode muito bem ter as suas raízes em mecanismos psicológicos. Mas um amigo trouxe uma provocação interessante: se os que crêem são mais facilmente curados de doenças graves do que os que não crêem, será que a seleção natural não vai levar os ateus à extinção?

Enquanto isso, é noticiado que deve sair a qualquer momento a indicação de Toffoli para o Supremo Tribunal Federal, para ocupar a vaga do ministro Menezes Direito. Quem é José Antonio Dias Toffoli? Infelizmente – mas não surpreendentemente -, é mais um abortista. Que teve a capacidade de se dizer “contra o aborto e contra sua criminalização”.

E é “católico praticante”! Há exatamente um ano, eu escrevi aqui no Deus lo Vult! contra quem julga poder se dizer católico e fazer o contrário do que prega a Igreja, como se esta esquizofrenia espiritual fosse a coisa mais normal do mundo. Infelizmente, não há nenhuma novidade no STF: Lula indica mais um abortista, e mais um católico parece fazer parte do fã-clube das Católicas pelo Direito de Decidir. E, segundo o estudo supracitado, o dr. Toffoli parece ter maior expectativa de vida do que um Richard Dawkins da vida. E provavelmente pode fazer muito mais mal do que o nada ilustre cientista. E é “tão” católico praticante quanto o falecido ex-ministro. É impressionante. Tem coisas que só o PT faz por você.

Os limites de um esclarecimento – Mons. Michel Schooyans

[Publico artigo do Mons. Michel Schooyans, membro da Pontifícia Academia para a Vida, já publicado no Exsurge, Domine! ontem, sobre a – aparentemente infindável – polêmica envolvendo o aborto dos gêmeos da menina de Alagoinha e o malfadado artigo do presidente da supracitada Academia, Dom Rino Fisichella, bem como o posterior esclarecimento da Congregação para a Doutrina da Fé. Não consegui encontrar o artigo original; esta tradução, no entanto, foi-me enviada por um sacerdote legionário, que conheço  pessoalmente, o qual sei que não seria leviano em assunto de tão grave importância.

Não sei a data original deste artigo. Há em LifeSiteNews.com o Complete Article on “The Recife Affair” by Political Philosophy Professor Monseigneur Michel Schooyans, publicado em junho p.p., mas anterior ao esclarecimento da Congregação para a Doutrina da Fé (que, a propósito, aqui só fiz citar en passant), posto que este é de julho p.p.; aqui não se trata, portanto, daquele artigo então escrito pelo Mons. Schooyans contra Dom Rino Fisichella, mas sim de um outro, posterior aos esclarecimentos da CDF.

Em todo caso, as questões colocadas pelo membro da Pontifícia Academia para a Vida são relevantes e merecem reflexão. Rezemos pela Igreja.]

OS LIMITES DE UM ESCLARECIMENTO

Mons. MICHEL SCHOOYANS

Professor Emérito da Universidade Católica de Louvain
Membro da Pontificia Academia para a Vida

O artigo da Congregação para a Doutrina da Fé foi em geral recebido com interesse, porém, foi objeto de várias reservas. Eis aqui algumas delas:

1.   O “Esclarecimento” teria se beneficiado em continuar a citação (cf. abaixo) desse mesmo número 89 da Encíclica “Evangelium vitae”: “O respeito absoluto por toda vida humana inocente exige também o exercício da objeção de consciência face ao aborto provocado e à eutanásia. ‘Fazer morrer’ não pode jamais ser considerado como cuidado médico, mesmo se a intenção fosse apenas atender um pedido do paciente: é ao contrário a negação das profissões de saúde, que se definem por um ‘sim’ apaixonado e tenaz à vida”.

2.   Se RF tinha proposto a doutrina da Igreja de maneira correta, por que a CDF teve que recordá-la extensamente?

3. O Esclarecimento sugere que o artigo de RF fora doutrinariamente fiel e que consequentemente, as críticas a seu respeito, eram desprovidas de fundamento e que só poderiam proceder de uma vontade de manipular o texto do arcebispo. Afirmar isso é no mínimo ofensivo aos numerosos bispos e militantes pró-vida que manifestaram seu espanto. A reação imediata dos militantes pró-aborto, entre os quais Frances Kissling, mostra que os militantes pró-vida, atuantes, logo perceberam o perigo de um artigo de tal ordem.

4. O esclarecimento deixa de dizer com clareza que RF se afasta da doutrina da Igreja e por causa disso que a CDF teve que relembrá-la. RF cita a doutrina da Igreja não para segui-la, mas ao contrário, para reforçar sua própria posição: em certos casos, a consciência individual “legítima” a transgressão do direito canônico que, nesse caso, reafirma a moral natural. Em outros termos, RF não cita a doutrina da Igreja senão para dizer que dela podemos nos afastar, desde que a consciência subjetiva assim o solicite. A intenção fundamental, subjetiva, prevalece sobre a lei moral.

5. Ao publicar seu “Esclarecimento” a CDF se colocou numa postura delicada. De um lado, ela se recusa em desacreditar RF. De outro, sabe que a RF executou uma missão patrocinada pela Secretaria de Estado. A esta a CDF não quis desagradar. Na medida em que assim procede, a CDF se coloca em uma situação no mínimo inquietante. Com efeito, ela se arrisca a dar a impressão de dar cobertura à posição de RF. O “Esclarecimento” é portanto portador de confusões e um pouco fora do assunto. Ela escapa do ponto focal da posição de RF: “Os médicos devem sempre seguir a sua consciência”. Essa falha do “Esclarecimento” sem dúvida não escapará àqueles que militam pelo aborto. Podemos esperar para que Frances Kissling e os movimentos pró-aborto tirem proveito da insuficiência dessa resposta para fazer avançar sua agenda.

6. Em resumo, o interesse do “Esclarecimento” é um tanto quanto limitado, na medida em que este não aborda o problema a fundo. O problema, é aquele da autonomia absoluta da consciência individual que não se deve referir a uma lei superior, natural e cristã [1]. Em última análise, o artigo de RF coloca problemas dogmáticos e mais precisamente eclesiológicos. Face à consciência subjetiva, a moral cristã deve ceder lugar. Assim, em nome da liberdade de consciência do médico e da liberdade de escolha das mulheres, é corroído o direito da criança não nascida.

__________________________

[1] O ensino do Vaticano sobre a consciência é exposto notadamente em “Gaudium et spes”, 16; 19, 3; 50, 2; 87; 3; em “Dignitatis humanae”, 3; em “Apostolicam actuositatem”, 5; etc. Cf. também o “Catecismo da Igreja Católica”, em particular os n° 1776-1802 e em numerosas outras passagens.

Notícia ruim, Notícia boa

U.N. Report Advocates Teaching Masturbation to 5-Year-Olds. No material, “crianças de cinco a oito anos de idade aprenderão que ‘tocar e esfregar [rubbing] os próprios genitais é chamado de mastrbação’, e que ‘é possível obter prazer quando se tocam’ as partes íntimas”. Pois é. Criança, Esperança.

Enquanto isso, existe na Espanha a REDMADRE. Fundação “criada em 2007, com o propósito de ativar uma Rede solidária de apoio, assessoria e ajuda à mulher para superar qualquer conflito surgido ante uma gravidez imprevista, em toda a Espanha”.

Não precisamos das porcarias da UNESCO. Entregues à depravada visão de mundo das Nações Unidas, não há esperança para as crianças. Precisamos é de iniciativas como esta da Espanha. Que, infelizmente, não é abraçada pela Rede Globo.

É difícil ser criança em Honduras…

Parece que não se fazem mais crianças como antigamente.

Só dois pontos:

1 – Veja-se quem são as pessoas que estão contra o “Golpe” que derrubou o presidente Zelaya. Faz sentido a mídia tupiniquim tachar ad nauseam de golpista o governo hondurenho?

2 – Quando um niño de 10 años berra a plenos pulmões paso firme hacia la revolución, paso firme hacia el socialismo diante de uma multidão e é ovacionado, eu penso que o mundo está mesmo perdido…

Mater Dolorosa

Virgem das Dores
Virgem das Dores

[Foto: Wikipedia]

Stabat Mater Dolorosa / juxta Crucem lacrimosa / dum pendebat Filius. Dia de Nossa Senhora das Dores. D’Aquela que esteve ao lado da Cruz do Seu Divino Filho. D’Aquela que sofreu na alma a Paixão de Nosso Senhor. D’Aquela que é Co-Redentora nossa.

D’Aquela que não é estranha à humanidade, porque foi humana; d’Aquela que não é alheia ao sofrimento humano, porque sofreu, e como sofreu! A Igreja lembra hoje as dores de Nossa Senhora; lembrando-nos que nem mesmo a Mãe de Deus, Imaculada desde a Sua Concepção, passou por esta terra sem derramar lágrimas.

E, hoje, este Vale de Lágrimas que atravessamos é mais fácil de ser cruzado, porque cá estão também as lágrimas da Virgem Imaculada. Também aqui Ela um dia chorou. Também aqui Ela sofreu; e, se as nossas lágrimas estiverem unidas àquelas vertidas pela Virgem Mãe de Deus, poderemos dar sentido aos nossos sofrimentos. Sofrer é inevitável. Mas Deus pode fazer maravilhas com as lágrimas que são bem choradas.

Dia da Virgem das Dores. Que Ela possa nos consolar. Que Ela nos ensine a permanecer de pé, junto ao sofrimento, sem dele fugir e sem desesperar, em um abandono confiante à Divina Providência. Que, d’Ela, aprendamos o que significa co-redenção. Que, junto a Ela, tomemos consciência do valor do sofrimento. Que este vale de lágrimas que atravessamos gemendo e chorando, orvalhado pelas lágrimas d’Ela, sirva para a nossa santificação e para a maior glória de Deus. Mater Dolorosa, ora pro nobis.

Via-Sacra dos Inocentes

[Encontrado na porta de uma igreja. De uma crueza impressionante.]

QUEM AMA NÃO MATA!

VIA-SACRA DOS INOCENTES

1. CONDENAÇÃO

Eu fui condenado
à morte
antes de ter nascido.
A mim ninguém
me deu amor,
pois a mim
ninguém me quer.

2. JESUS COM A CRUZ

Carregaram-me
com a maldição
de ser indesejado.
Todos me amaldiçoam,
terei de ser
“eliminado”.

3. PRIMEIRA QUEDA

Eu sou um pecado,
“uma queda”.
Ninguém pode
ser obrigado
a carregar o erro
duma gravidez
não desejada!

4. ENCONTRO COM A MÃE

Quão doloroso, Senhor,
foi o teu encontro!
Eu… eu não tenho mãe,
que me encontre
e chore!
Eu estou encarcerado
no ventre de uma mulher
que me manda matar!…

5. O CIRINEU

Alguém ajudou-te
a levar a cruz.
A mim… a mim,
ninguém me ajuda!
O médico dará à mulher
um narcótico
para que ela não sofra
quando eu sofrer a morte.

6. VERÔNICA

Ó quem me dera
uma Verônica
que me consolasse
na minha condenação!
Ninguém sabe
da minha situação!
A “lei” cala
os próprios cristãos!

7. SEGUNDA QUEDA

É fácil
mandar me matar,
enquanto sou pequeno!
Meu pai faz cálculos;
quanto vou lhe custar?
Minha morte
sai mais “barato”!
Daí… tenho que morrer!

8. AS MULHERES

De que te serviram, Senhor,
as lágrimas
das mulheres?
Não puderam impedir
a tua morte!
De que me valem as “leis”?
“Legalizam” a minha morte!

9. TERCEIRA QUEDA

A queda é fatal:
Eu tenho que morrer!
Estão confirmados
os cálculos:
não há lugar para mim!
Não há um pedacinho
de pão para mim
neste vale de lágrimas.
Tenho que morrer!

10. JESUS DESPIDO

A ti despiram-te
dos vestidos.
Eu nunca tive
um vestido!
Apenas a minha pele.
Mas, mesmo assim…
agarram-me
com segurança!

11. CRUCIFICAÇÃO

A ti pregaram-te
numa cruz.
A mim partem-me
em pedaços.
E também “contam todos
os pedacinhos…”
para terem certeza
de que a mãe não fica
com infecção.

12. MORTE NA CRUZ

Tu morres.
Eu também.
Tu és inocente.
Eu também.
Lembra-te de mim,
quando entrares
no teu Reino…,
no teu Reino de Vida Eterna.

13. DESCIDO DA CRUZ

Morto, pudeste
repousar no regaço
de quem nasceste…
mas a mim
renovam-me apenas
a maldição…
Porque serei uma carga
a pesar… na consciência!

14. NO TÚMULO

A ti ofereceram-te
um túmulo.
Para mim apenas
o monturo de lixo!…
Lá esperarei
o juízo final…
quando terei de fazer
o meu depoimento
contra… “meus pais”.

Richard Thaimann

Sobre Castidade

Julgo necessário fazer alguns esclarecimentos motivados pela repercussão que teve um post que cá escrevi ontem, no qual eu citava alguns filmes que possuíam cenas ofensivas à Moral. Julgo aliás primordialmente necessário desfazer um equívoco que me parece o maior de todos: em nenhum momento passou-me pela cabeça relativizar o grave dever moral que possuem os católicos de guardarem a própria pureza e de evitarem as ocasiões de pecado.

Os filmes foram citados não para que fossem assistidos com naturalidade a despeito de possuírem cenas inadequadas. Muito pelo contrário, foram citados como um alerta, para que os incautos saibam o que os espera neles e possam cumprir com o dever que têm de guardar a própria pureza da melhor forma possível.

“Nenhuma virtude” – diz Boulenger (Doutrina Católica, Tomo II, 8ª Lição: 6º e 9º Mandamentos da Lei de Deus) – “tem mais valor do que a castidade, porque ela, melhor do que as outras, é o domínio do espírito sobre a carne, da alma sobre o corpo. Por isso, não é de estranhar que esta virtude, preceito da lei natural muito embora, fique sendo como que apanágio e monopólio da religião católica. É a pura verdade, afirmar que não a conheceu o mundo pagão, e que, hoje em dia, desabrocha e viceja apenas no ambiente do catolicismo”. E nenhuma virtude, eu ousaria dizer, é mais difícil de ser guardada e praticada no ambiente propício à impureza no qual nós somos obrigados a viver hoje em dia.

É natural que a virtude que possui maior valor seja aquela obtida e preservada com maiores esforços. É importante conhecermos bem (1) no que consiste esta virtude, (2) no que consiste a luxúria, que lhe é oposta, e (3) como devemos nos precaver contra a impureza. Falemos sobre estes três pontos, de maneira infelizmente mais sucinta do que seria necessário para os entender bem.

“A castidade é a virtude moral que reprime qualquer ato, interno ou externo, tendente a um prazer sexual desordenado” (Del Greco, Compêndio de Teologia Moral, Tratado VI: Sexto e Nono mandamentos do Decálogo). Definição parecida encontramos em Boulenger, embora mais sucinta: “[a] castidade, ou pureza, consiste na abstenção dos prazeres carnais ilícitos” (op. cit.).

Eu, particularmente, gosto de encarar a castidade sob a seguinte perspectiva: ela é uma virtude humana, no sentido de que exige um corpo e uma alma à qual este corpo precisa estar sujeito. Os anjos podem adorar a Deus, podem reconhecer a Sua infinita Majestade, podem comprometer-se com a Verdade e abominar toda a mentira; mas eles, sendo puros espíritos, não podem oferecer ao Altíssimo a sujeição do corpo à alma, pois não possuem corpo que sujeitar. Por meio da virtude da castidade, nós, homens, podemos oferecer a Deus algo que nem mesmo os anjos podem. Maravilhosa dádiva e gravíssima responsabilidade! Não fosse o homem, Deus não poderia ser honrado com o oferecimento a Ele desta virtude tão valiosa. Cumpre, portanto, que honremos a Deus nos nossos corpos. Cumpre que sejamos castos, e que fujamos de toda impureza.

“A luxúria é o desejo e o gozo desordenado dos prazeres dos sentidos”, conforme Del Greco (op. cit.). Prossegue o mesmo autor: “Essencialmente, consiste a luxúria no prazer venéreo, isto é, na volúpia que a natureza anexa à excitação dos órgãos genitais e à efusão do sêmen da parte do homem e do humor vaginal da parte da mulher”.

Contudo, o Sexto e o Nono Mandamentos da Lei de Deus nos proíbem não somente as más ações, mas também os maus pensamentos e desejos. Por isso, Del Greco vai subdividir a luxúria em “luxúria consumada conforme a natureza”, “luxúria consumada contra a natureza” e “pecados de luxúria não consumados”, entre os quais encontramos os “movimentos carnais” e os “pecados de impudicícia”. Boulenger é mais sucinto e, talvez, mais claro: diz simplesmente que estes dois Mandamentos proíbem as “más ações”, os “maus olhares”, os “escritos e palavras desonestas”, os “maus pensamentos” e os “maus desejos” (op. cit.). Essencialmente, portanto, pode-se dizer que é contrário à virtude da castidade toda a impureza, quer seja externa, quer interna.

É mister, no entanto, diferenciar – sempre – a tentação do pecado, o sentimento do consentimento, a ocasião da falta. Por isso, ambos os autores são concordes em colocar como remédios contra a impureza, em primeiro lugar, a fuga das ocasiões perigosas. Boulenger detalha: “A ocasião se diz remota ou próxima. – 1. Ocasião remota, é a que conduz de modo muito indireto, até à ofensa de Deus. Tais ocasiões enxameiam pelo mundo. Não há como evitá-las sempre, porque se alastram por toda a parte. A melhor boa vontade não o conseguiria. Fugir delas não constitui obrigação. – 2. Ocasião próxima, é a que provoca a tal ponto, que é quase certo cometermos o pecado, se ela não for removida. – 1. A ocasião próxima será necessária de necessidade física ou moral: necessidade física, quando é de todo impossível suprimi-la; necessidade moral, quando a dificuldade é grande. Em ambos estes casos, é preciso lançar mão de todos os preservativos e orações, recepção dos Sacramentos de Penitência e Eucaristia. Renovar, amiúde, o propósito de nunca mais pecar. – 2. Ou a ocasião próxima pode ser afastada, e então, há obrigação imperiosa de removê-la”. (op. cit.).

Claro, todas essas coisas são princípios cuja aplicação concreta em cada caso é que vai distinguir o pecado mortal do venial, e este do não ser pecado. Convém sempre lembrar que, como diz Del Greco, o objeto formal da castidade “consiste na honestidade que refulge da moderação e do freio dos próprios instintos carnais”. Há pessoas que, por causa disso, não gostam de casuística; eu, ao contrário, entendo que as duas coisas podem e devem perfeitamente conviver juntas. Por isso, gosto do Compêndio de Teologia Moral de Del Greco. Falando sobre os pecados externos de impudicícia, ele se demora a descrever uma série de situações: então, “toques aos órgãos genitais do próprio corpo executados sem causa justa e com decorrente excitação venérea, constituem pecado mortal”; “olhares longos e deliberados, sobre os órgãos genitais ou sobre os seios de uma mulher embora cobertos de véus ou tecidos quase transparentes ou sobre pessoas de sexo diferente que executam união carnal, ou sobre pessoa que executa poluções, etc., constituem facilmente pecados mortais, porque excitam ao prazer venéreo”; “falar de coisas torpes, escrever, cantar, ouvir, ler, fazer gestos maus por libido ou com perigo próximo de consentir nestas, ou com grave escândalo, é pecado mortal”; etc. Não se trata de uma “lista de pecados”, mas de um conjunto de diretrizes que ensinam o cristão a levar uma vida moral reta, sem lassidão mas também sem escrúpulos.

Importa, ao final, saber que a pureza é uma virtude importante, que deve ser guardada a todo custo. Importa saber que nós somos vasos de barro carregando um tesouro de valor inigualável, e que todo cuidado é pouco para que não o percamos. Importa conhecermos as nossas próprias misérias e fraquezas, e tomarmos as devidas precauções para enfrentar o mundo corrompido. Como disse o pe. Lodi em uma belíssima palestra proferida em 2004:

Em matéria de castidade – diz a Madre Maria Helena Cavalcanti – não há fortes nem fracos. Há prudentes e imprudentes.

Prudentes são os que, reconhecendo a própria fraqueza, fogem das ocasiões de pecar e agradecem aqueles que os auxiliam com conselhos e exortações.

Imprudentes são os loucos que, embora fracos, insistem em pensar que são fortes, que não cometerão o que os outros já cometeram, que rejeitam as recomendações dos pais e a vigilância de terceiros.

A castidade só se conserva pela prudência. Não é à toa que a Ladainha de Nossa Senhora chama-a de “Virgem prudentíssima”. O imprudente, ainda que ore, ainda que ore muito, acabará por cair, e grande será sua queda.

Que seja em nosso favor a Virgem Prudentíssima. Que Ela, Virgem Castíssima, faça-nos castos.

Filmes em hotel

Semana passada, no hotel, passando os canais da televisão, vi alguns filmes – melhor dizendo, trechos de filmes – que tive vontade de comentar. São, todos, uns mais, outros menos, imorais; mas revelavam algumas coisas verdadeiras de maneira tão nua e crua que merecem ser citados.

Na Globo, passava “Os Sonhadores”. Achei que seria um filme histórico sobre a Revolta Estudantil, mas me enganei: o filme era repleto de cenas explícitas de sexo explícito (a redundância é proposital e necessária), de uma maneira que não me recordo de ter visto no cinema ou na televisão. Escandaloso, mas tem uma cena muito interessante: é quando um dos personagens principais diz a outro (em cuja casa – abastada… – ele está hospedado) que, se ele realmente acreditasse nos livros que lê e nos discursos políticos que faz, estaria nas ruas de Paris e não trancado no apartamento, bebendo os vinhos caros do pai…

Há um outro filme que eu não sei o nome, mas lembro-me da cena. Dois adolescentes, um garoto e uma garota, conversando sobre o seu relacionamento. O rapaz reclama que gostaria de sair com a menina para o cinema, para uma sorveteria, para um baile. A menina, rapidamente, rebate: “isso deveria ter sido antes do sexo, não?”. O rapaz cala-se, pois não tem como contra-argumentar. E eu penso em quantos casos assim não existem nos dias de hoje…

Mas o melhor é um filme que eu assisti quase todo, embora não lembre o nome. A sacada é genial, talvez alguém conheça: trata-se de um “documentário” produzido por um extraterrestre sobre a reprodução humana. O filme mostra a voz do ET explicando todos os passos da vida afetiva de um casal do século XX: o encontro na boate, o telefone perdido, o reencontro, o sexo com contraceptivos, a gravidez acidental, a tentativa de aborto, o casamento. E o hilário é que o extraterrestre explica tudo isso sob uma ótica de reprodução da espécie e, portanto, não consegue entender nada: é impagável ver a narração explicar que, quando se encontram na boate, a mulher está tentando convencer o homem que é fértil e vai lhe dar muitos filhos, enquanto o homem tenta fazer a mulher acreditar que ele é forte e vai proteger e sustentar ela e a prole. Quando os dois viajam para um final de semana nas montanhas e esquecem os contraceptivos, ouvir o ET empolgado dizendo: “ahhh, conception! Finally” é indescritível. Muito provavelmente o roteirista não quis fazer uma crítica aos relacionamentos humanos modernos, mas terminou conseguindo. Ainda bem.