Sobre jovens inglesas e francesas [a respeito da morte de Amy Winehouse]

Foto: AP via G1

A Amy Winehouse foi encontrada morta em Londres hoje. Provavelmente as únicas músicas que ouvi da garota foram as que, indistinguíveis, nos chegam aos ouvidos no meio da poluição sonora das cidades; não seria capaz de me lembrar, agora, de nenhuma delas. Mas o que me espantou foi saber que a Amy, morta aos 27 anos, “seguiu o mesmo roteiro trágico de outros ídolos mundiais da música pop, como Janis Joplin, Kurt Cobain, Jim Morrison e Jimi Hendrix”.

Porque do Nirvana e do The Doors eu sei, sim, algumas músicas. E aí, de repente, a morta precoce da jovem cantora inglesa passa a ter alguma coisa a ver comigo: quando menos, me faz lembrar de algumas bandas que eu escutei na minha adolescência. Faz-me lembrar de algumas mortes pelas quais eu já me interessei. E, em última instância, faz-me pensar na morte, que é coisa muito útil e muito santa de se fazer.

Vinte e sete anos! É a minha idade. E, por mais que a Florbela diga “tenho vinte e três anos! Sou velhinha!”, o fato é que… não é uma vida avançada em anos, da qual se possa dizer que foi longeva. Morrer aos vinte e poucos (ou mesmo aos vinte e muitos) é humanamente uma tragédia, é uma interrupção precoce de uma vida que – como no fundo todos esperamos – poderia ter dado mais a si própria e ao mundo.

Talvez haja quem diga que “foi intensa”. No caso da Amy (ou da Janis ou do Kurt), eu diria antes que foi fútil e vazia. Sim, a garota provavelmente gastou até os vinte e sete anos muito mais dinheiro do que a maior parte de nós vai ser capaz de juntar na vida toda. Mas as coisas do mundo – como fama e dinheiro – naturalmente só fazem sentido enquanto se está no mundo. E a morte trágica e precoce de grandes astros da música parece nos dizer aos ouvidos aquela passagem bíblica segundo a qual é tudo vaidade. É como se ela nos sussurrasse ou, antes, nos gritasse alto para nos despertar de nossa letargia: vê, sic transit gloria mundi. Assim passa a glória do mundo! Morreram Cobain, Morrison, Hendrix, Joplin e Winehouse. Para os seus fãs, ficaram as suas músicas e a saudade; mas para eles próprios, de que valeu?

Talvez digam: “foi intenso!”. Talvez nos citem o Neil Young e nos digam que é melhor queimar de uma vez do que apagar-se aos poucos: it’s better to burn out than to fade away. Enfim, talvez nos digam qualquer coisa; mas, data venia, eu preciso discordar. A nossa vida é potencialmente curta (uma vez que cada um de nós pode morrer hoje mesmo) e, por isso mesmo, ela precisa ser intensa; mas o próprio fato da efemeridade da vida deveria nos fazer pensar no além-vida. “Intensa” é uma vida que se prepara para o futuro; desperdiçar loucamente uma fortuna – os anos de vida – cujo tamanho não se sabe ao certo (mas que sempre nos parece estar ainda “muito longe” de acabar) não é intenso, e sim irresponsável.

Eu conheço uma vida curta que foi verdadeiramente intensa. Não viveu os vinte e sete anos da Amy, mas ainda menos: vinte e quatro anos. Não ganhou o dinheiro de um Kurt Cobain ou de um Jimi Hendrix e nem teve em vida a fama de uma Amy ou de uma Janis, mas soube empregar verdadeiramente bem os seus anos de juventude. Era francesa e se chamava Teresa. E, entre tantas outras coisas, legou-nos versos:

Revesti as armas do Todo-Poderoso,
Sua divina mão dignou-se me adornar;
Doravante, nada me assusta.
Do seu amor, quem pode me separar?
Ao seu lado, lançando-me na arena,
Não temerei nem o ferro, nem o fogo.
Meus inimigos saberão que eu sou Rainha,
Que sou a esposa de um Deus!
Oh, meu Jesus! Guardarei a armadura
Com que me visto ante teus adorados olhos.
Até o entardecer da vida, minha mais bela veste
Serão meus santos votos!

[…]

Se do guerreiro tenho as armas poderosas,
Se o imito e luto com valentia,
Como a Virgem de encantos graciosos,
Também quero cantar, combatendo.
Fazes vibrar as cordas de tua lira
E esta lira, oh, Jesus, é meu coração!
Posso, então, das tuas misericórdias
Cantar a força e a doçura.
Sorrindo, desafio o combate
E, nos teus braços, oh , meu divino Esposo,
Cantando hei de morrer, sobre o campo de batalha,
Com as armas na mão!…

[“Minhas armas”, in “Obras Completas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face”.
pp. 622-624. São Paulo, Editora Paulus, 2002]

A morte no campo de batalha, com as armas na mão: eis o desejo que convém a uma alma jovem! Não a morte em um palco ou – pior ainda – em um apartamento vazio e solitário, desvanecido o glamour após se deixar o palco. Não, isto não é uma vida intensa; a vida de combate preconizada pela santa francesa morta aos vinte e quatro anos é que o é. Que o Altíssimo tenha misericórdia da Winehouse e de tantos outros mortos em condições similares. E que a tragédia ocorrida com a roqueira inglesa faça-nos ver que a vida é curta e, portanto, é fundamental que seja bem vivida.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

17 comentários em “Sobre jovens inglesas e francesas [a respeito da morte de Amy Winehouse]”

  1. Coitada,tinha tudo pela frente,uma voz belíssima,uma excelente técnica vocal e interpretação,mas se enveredou no submundo das drogas e foi só decaindo.Que Deus tenha misericórdia dela.
    Santa Terezinha,minha irmãzinha querida ,nos ajude na caminhada rumo ao céu,vc que tão nova conseguiu chegar dentro do coração de Deus.Interceda por nós,pelos jovens ,crianças ,adultos e idosos,que nós tenhamos uma vida com rumo e sentido: buscando o céu e a vida eterna em Jesus Cristo,caminho,verdade e vida.

  2. Jorge,

    A primeira vez que ouvi essa moça foi por intermédio de meu filho que escutava Rehab.
    Imediatamente o timbre vocal dela me fez lembrar de Billie Holiday.
    Mais a frente a midia nos informava sobre a vida dessa pobre artista e seus envolvimentos com a alcool e as drogas.
    Ano passado ela foi a cantora inglesa que mais faturou no show busnisses.
    Faz alguns anos que deixei de acompanhar cantores e artistas seculares.
    Até mesmo Paul Maccartney e suas piscadelas (he,he) eu não ouço mais.
    No entanto, não tinha como não reconhecer um grande talento nessa moça.
    Hoje, no portal da UOL, vi seu corpo sendo carregado por “meros mortais” envolto num lençol.
    A comparação de Amy com Santa Teresinha é muito bem vinda.
    Enquanto a santa, morta aos 24 anos, sem fama no mundo, ganhou a eternidade ao lado de Deus, a Amy ( pobre Amy) que viveu a glória dos palcos, ganhou o abraço da morte, e ano que vem….ninguem mais se lembrará dela.

  3. “E, por mais que a Florbela diga ‘tenho vinte e três anos! Sou velhinha!’
    Nossa, ela se acha velha com vinte e três anos? Eu vou fazer vinte e cinco anos nas próximas semanas e não me acho velha, me acho até jovem demais. Se bem que tem gente na internet, nos blogs e coisa e tal, inclusive no orkut, que nem me conhece e acha que sou velha só porque defendo os princípios da Igreja, só porque procuro viver minha fé da maneira como deve ser. Tem gente que acha que para ser religioso tem de ser necessariamente velho. No fundo, não passa de preconceito. Só porque sou jovem devo procurar as coisas do mundo, em vez das coisas de Deus? Quando me chamam de velha, até me dá vontade de rir… KKKKKK… Tem gente sem noção mesmo. As pessoas não sabem o quanto estão enganadas…

  4. Ora, a luz que brilha o dobro é aquela que dura a metade.

    Não que eu recomende o estilo de vida da Amy, lógico, mas há casos piores, como o de Santa Bernadette, morta aos 24 anos depois de uma vida vazia, de penitências e reclusão, em nome de uma esperança vã.

    Cada macaco no seu galho, é isso!

  5. “Não que eu recomende o estilo de vida da Amy, lógico, mas há casos piores, como o de Santa Bernadette, morta aos 24 anos depois de uma vida vazia, de penitências e reclusão, em nome de uma esperança vã.”
    ESPERANÇA VÃ? Se ela tivesse visto na vida que levou uma esperança vã não teria suportado tanto sofrimento. A Esperança que ela tinha não era vã. Quem viu e ouviu a bela senhora que nunca a enganou, mas disse, “Te farei feliz, não neste mundo mas no outro,” nunca acreditou que sua esperança era vã; e que importa agora a Bernadete, na glória eterna, que pessoas digitem na era da internet que ela “coitada” morreu por uma esperança vã. Morre em vão quem pensa que tudo o que há para se ter no mundo é fama e poder e quando isto enjoa nem a vida vale mais a pena. É isto que a morte destas estrelas grandiosas do mundo nos transmitem. No mundo na nada é eterno e fama e poder são capazes de tornar vã qualquer esperança.

  6. Concordo plenamente com você, senhor Francisco Silva de Castro, faço minhas a suas palavras. Este Marcus aí de cima não sabe o que diz. A esperança que Santa Bernadette tinha não era vã, só mesmo na cabeça de pessoas como este Marcus. Só morre em vão quem não acredita em Deus, quem pensa que se deve viver de acordo com o que o mundo prega, quem acha que a felicidade está em ter fama, dinheiro e poder. A gente deve buscar aquilo que é eterno. Fique você sabendo, senhor Marcus, que Santa Bernadette não pensava que sua esperança era vã, do contrário jamais teria suportado tanto sofrimento.

  7. Ela é muito fraquinha mesmo. Não aguenta nada.
    Ve se aprende com Ozzy Osbourne

    Cientistas submeterão corpo de Ozzy Osbourne à pesquisas

    Para saber o porquê de Ozzy Osbourne estar vivo até hoje, mesmo depois de injetar, cheirar e fumar todo o tipo de drogas disponíveis durante vários anos, cientistas submeterão o cantor a uma bateria de exames.

    De acordo com o site Sky News, Osbourne, que já está no alto dos seus 60 anos, será um dos escolhidos pela empresa Knome a ter seu genoma mapeado, em uma tentativa de explicar como algumas pessoas que vivem ao extremo conseguem viver mais do que outras.

    “Sequenciando e analisando indivíduos com históricos médicos extremos nos fornecerá um valor potencial científico enorme” – disse o diretor do centro de pesquisas Nathan Pearson. Só assim saberemos o mistério da vida longa e próspera de Ozzy.

    OZZY É O DEMÔNIO ENCARNADO. kkkkk \,,/

  8. “Quem não odeia esse mundo não é digno de mim”… disse Jesus. Porque não fomos criados para morrer, a morte veio por causa da maldade da humanidade, da desobediência. Feliz é quem encontra a ‘Vida’, o tesouro que está escondido na mensagem da Cruz. Aparentemente ‘perdendo a vida’, não vivendo ao sabor deste mundo, mas sendo ‘livres da nossa liberdade’, viveremos numa paz verdadeira, seremos fortes em nossa fraqueza e sábios, não conforme o mundo, mas conforme o Espírito.

    “Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”.

  9. Marcus,

    Tu disseste:

    “Ora, a luz que brilha o dobro é aquela que dura a metade.”

    De onde tiraste esta pérola? É regra geral? Vale para o sol? Se o brilho a que se refere é o sucesso, vale a frase? Se o brilho a que se refere é a vida desregrada e cheia de excessos, dá para comparar com o brilho de um santo?

    Outra coisa: É vã a nossa esperança? PROVE sua afirmação ou volte para o seu galho.

  10. Jorge,eu até entendo o desespero dessas estrelas do rock.Afinal,deve ser extremamente desesperador ter tudo o que deseja e ver que nada o deixa feliz.Afinal,Jesus é a alegria dos homens (como dizia Bach :),e sem ele tudo parece vazio.O prazer sexual vira trivial,o trabalho maçante,a vida um tédio sem fim.

  11. Ygor:

    Tirei do filme Blade Runner. Vale para o sol, sim, estrelas que brilham mais consomem seu hidrogênio mais rápido. Anãs vermelhas duram mais que anãs amarelas, como nosso sol. Nesse sentido, o nosso sol poderia ser acusado de desregrado e perdulário com seu combustível, mas curiosamente, uma anã vermelha não poderia sustentar vida.

    Não quis dizer que a vida só vale a pena com sucesso, popularidade e muita grana no bolso… mas aqui pra nós, porque tantos cristãos e afins buscam essa vida? Quem aqui não queria ser o padre Marcelo, e faturar milhões com musiquinha evangélica?

    Quem pode garantir com certeza que, tivesse se matriculado numa escolinha de formação de boas donas de casa, a cantora em questão não teria sido atropelada por um ônibus aos 17 anos de idade?

    O que fui contra é a tradicional utilização de casos como o dessa cantora pra fazer a velha pregação religiosa… O autor do blog até que foi comedido, há gente pior por aí.

  12. Ontem eu li noutro lugar sobre essa questão de ter “vivido intensamente”. Uma pessoa disse isso.

    Ela foi escravizada ao máximo pela droga. Chegando ao ponto, como noticiado ontem, de tratamento para ela não ser de cortar o uso, e sim substituir por coisas leves como cigarro.

    Ela não viveu nos últimos anos, não fez absolutamente nada, somente serviu à droga.

    Até o Ozzy repudia o que ela fez ahuahauahauaa…

    Fiquei chateado, não pelo fato da artista, pois nem gosto. E sim de ver o quanto chega a miséria e fraqueza humana, uma falta de dignidade absurda. E pior, saber que tem pessoas que defendem a liberação das drogas.

  13. Rapaz, se fosse para eu ser padre, certamente não o seria para “ganhar milhões cantando musiquinhas evangélicas”.

    E imagino que esta opinião seja compartilhada pela maioria dos leitores do Deus lo Vult!.

    Abraços,
    Jorge

  14. Quando ouvi Rehab pela primeira vez, imaginei logo uma cantora negra. Sim, porque aquela voz potente só poderia ser de uma cantora negra.

    E cheguei a pensar se não seria alguma música dos tempos do jazz que eu não conhecia.

    Amy tinha talento. Um talento e tanto em meio a tantas cantoras “iguais” de nossos tempos. Mas faltou a ela cabeça. E apoio. Sim, porque ela ainda se juntou com aquele “marido” maluco dela, e mesmo os pais não souberam reconhecer a doença da filha. Muito triste.

    Só peço a Deus para que a morte dela não seja cultuada. Não se torne uma heroína (com e sem trocadilhos) para seus fãs.

    Pelo contrário, que as pessoas possam refletir sobre essa vida auto destrutiva. Um crítico musical brasileiro disse +/- assim “Deus dá um prazo de validade muito curto aos que querem viver somente dos prazeres da juventude. Aí, a única forma de se manter eternamente jovem é morrendo jovem”.

    Pensar assim é perigoso, pois, sinceramente, ela não morreu “jovem”. O Wagner Moura postou as fotos delas antes da fama, e eu nunca tinha visto. Ela morreu desfigurada, muito pior que um doente terminal, pois a doença você não busca por si só.

    Que Deus tenha misericórdia da alma dela, e dê juízo aos fãs que ficaram.

  15. ao Marcus,

    cara, vc já viu o corpo incorrupto de Santa Bernadette?
    vc leu algo sobre as pesquisas feitas em seu corpo?
    vc já reparou na beleza que irradia através da incorrupção desse corpo?
    já leu algo sobre o prefume e o óleo que exalava (não sei se ainda exala) de seu corpo?

    conhece a história de vida dessa Santa?
    sabe quem a visitou?

    sabe o que aconteceu durante essas visitas?

    sabe sobre a fonte que surgiu?

    e depois disso tudo, conhece algo sobre os milagres catalogados por centenas de médicos, de diversas confissões religiosas e inclusive ateus?

    quanto a Amy, ela realmente cantava muiiiito! muito mesmo, e não só Rehab é uma de suas melhores canções, tem várias outras… porém seu talento, esse dom que Deus lhe deu, não foi bem utilizado… ela se esqueceu de que lhe deu seu talento.

    e faço uma comparação, essa mulher que viveu sem esperanças, tinha já em vida um corpo tal qual um cadaver ambulante, já Santa Bernadete, preste bem atenção Marcus, viveu cheia de esperança, e seu corpo não se corrompeu, tendo hoje depois de morta, um corpo muito mais vivo que o da Amy nos seus últimos momentos de glória mundana.

    Marcus,

    cada macaco no seu galho, vá dá pitaco tosco então nos galhos em que vc anda pulando.

  16. Marcus,

    Eu não desprezo a ciência naquilo que a ciência é eficaz. Minha profissão lida diariamente com as bases da ciência. Agora teorias de estrelas, mesmo que pareçam a nós coerentes, são só teorias. Não dá para afirmar estas coisas como tu fizeste. Você deve ter muita fé na ciência para acreditar nisso!

    Sobre sua pergunta, eu não tenho vocação para Padre, e como disse o Jorge, se eu fosse, não seria para ganhar milhões, muito menos cantando musiquinhas evangélicas. Se muitos cristãos pensam assim, eu não sei. Você deve estar falando dos protestantes da teologia da prosperidade e afins.

    Sobre seu terceiro parágrafo, ninguém sabe, é claro…e não vejo importância nestas hipóteses.

    Concluindo, a única coisa que fez o autor do blog foi tecer um comentário com o viés da fé e para os que têm fé, nada mais! Que mal há nisso?

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