Não obrigamos ninguém a se converter à nossa doutrina

[O excerto abaixo é do século XIII, e contém uma história de que os frades dominicanos provavelmente se utilizaram vezes sem conta em suas pregações públicas, pelas ruas e praças medievais, diante do povo comum. São alguns episódios da vida do Apóstolo São Tiago, o Maior, que, tendo ficado de fora das páginas canônicas das Escrituras Sagradas, foram recolhidos e compilados pela piedade cristã. A leitura é bastante agradável e edificante. Dentre outras coisas, chamo atenção para alguns detalhes: i) a afirmação de que S. Tiago pregou na Espanha enquanto era vivo, tendo obtido lá bem pouco fruto — o que impressiona, dada a devoção espanhola a Santiago que persiste até os nossos dias; ii) o tema, recorrente, do perseguidor que se converte em contato com o santo — mais com o seu exemplo do que com a sua pregação! –, primeiro o mago Hermógenes, depois o judeu Josias; iii) a instrutiva questão demonológica, onde os demônios podem exercer poder sobre os corpos tanto dos conversos (Fileto) como dos pagãos (Hermógenes), sendo contudo impotentes diante dos santos de Deus.

Chama também atenção a afirmação, singela, bruta, direta, que foge totalmente ao lugar-comum que se tem atualmente sobre a Idade Média, daquela verdade fundamental do Cristianismo: os cristãos “não obrigamos ninguém a se converter à nossa doutrina”. Isso está estampado com todas essas letras em um texto medieval da mais alta popularidade, e deveria nos levar a, no mínimo, questionar a alegada “intolerância” cristã da tal “Idade das Trevas” que os detratores do Cristianismo gostam tanto de alardear.]

I. O apóstolo Tiago, filho de Zebedeu, depois da ascensão do Senhor pregou na Judéia e em Samaria e foi para a Espanha onde semeou a palavra de Deus. Mas vendo que não tinha êxito e só havia ganho nove discípulos, deixou ali dois deles para pregar e com os outros sete voltou para a Judéia. O mestre João Beleth diz que Tiago converteu na Espanha somente uma pessoa.

Já de volta à Judéia, enquanto Tiago pregava a palavra de Deus, um mago chamado Hermógenes fez acordo com os fariseus e mandou seu discípulo Fileto encontrar o apóstolo para que, frente a frente com ele, convencesse os judeus de que sua pregação era falsa. Mas como diante de todos, o apóstolo racionalmente o convenceu e realizou muitos milagres, Fileto voltou até Hermógenes aprovando a doutrina de Tiago, contando os milagres que vira e tentando persuadi-lo a também se tornar discípulo. Irado, Hermógenes recorreu então à sua arte mágica para imobilizar Fileto, que não conseguiu se mover de forma alguma, e disse: “Veremos se Tiago pode soltá-lo”. Fileto encarregou um criado de contar a Tiago o que havia ocorrido. Este deu ao criado seu lenço dizendo: “Que ele pegue este lenço e diga ‘o Senhor levanta os oprimidos e livra os que estão atados’”. Logo que Fileto tocou o lenço, os vínculos das artes mágicas de Hermógenes foram rompidos. Fileto insultou Hermógenes e foi à procura de Tiago.

Cheio de raiva, Hermógenes passou a invocar demônios para que trouxessem Tiago e Fileto amarrados, porque queria vingar-se deles para que seus outros discípulos, sabendo o que ocorrera, não o insultassem. Os demônios vieram e dirigiram-se a Tiago vociferando pelo ar: “Tiago apóstolo, tem compaixão de nós, pois ainda não chegou nosso tempo e já estamos ardendo”. Tiago perguntou: “Por que vieram?”. Eles responderam: “Hermógenes nos enviou para que levemos você e Fileto até ele, mas assim que viemos para cá um anjo de Deus nos amarrou com correntes de fogo que nos atormentam enormemente”. Tiago: “Que os anjos do Senhor os soltem. Voltem para Hermógenes e tragam-no até mim amarrado, porém ileso”. Os demônios partiram, apoderaram-se de Hermógenes e amarraram suas mãos às costas, dizendo: “Você nos mandou a um lugar no qual fomos queimados”.

Depois o levaram atado até Tiago, a quem pediram: “Dê-nos poder sobre este homem para que possamos nos vingar por tê-lo ofendido e provocado assim nossas queimaduras”. Tiago: “Fileto está diante de vocês, por que não o prendem?” Eles: “Não temos poder para sequer tocar em uma formiga que esteja em seu aposento”. Tiago dirigiu-se a Fileto: “Conforme o ensinamento de Cristo, vamos retribuir o mal com o bem. Hermógenes prendeu-o, agora o solto”. Isso aconteceu, deixando Hermógenes confuso. Tiago olhou-o e disse: “Vá, você está livre para ir aonde quiser, não obrigamos ninguém a se converter à nossa doutrina”. Hermógenes disse: “Conheço a ira dos demônios, e se você não me der algo que possa levar comigo, eles me matarão”. Tiago deu seu báculo, Hermógenes foi buscar seus livros de artes mágicas e entregou-os para que fossem queimados. Mas Tiago, temendo que o forte odor da fogueira molestasse os desprevenidos, ordenou que os livros fossem jogados ao mar. Depois de fazê-lo, Hermógenes voltou para junto do apóstolo e prostrando-se a seus pés disse: “Libertador de almas, acolhe este arrependido que até agora o difamou, levado pela inveja”. Ele passou a se destacar no temor de Deus e a realizar muitas boas obras.

Vendo os judeus que Hermógenes havia sido convertido pelo zelo de Tiago, passaram a repreendê-lo por pregar Jesus, o crucificado. Ele no entanto recorreu às Escrituras, mostrou nelas as evidências do advento e da paixão de Cristo e muitos passaram a crer. Abiatar, que era sumo sacerdote naquele ano, sublevou o povo, que se apoderou de Tiago, amarrou uma corda em seu pescoço e o conduziu até Herodes Agripa, que mandou degolá-lo. Quando o conduziam ao local de decapitação, um paralítico que jazia estendido no caminho pediu ao apóstolo que lhe concedesse saúde. Tiago disse: “Em nome de Jesus Cristo, por cuja Fé sou conduzido à decapitação, levante curado e bendiga ao seu Criador”, e imediatamente o paralítico se levantou curado e bendisse ao Senhor.

O escriba chamado Josias, que havia colocado a corda no pescoço de Tiago e a puxava, ao ver isso se jogou a seus pés e pediu que ele o recebesse como cristão. Vendo isso, Abiatar agarrou Josias: “Se não maldisser o nome de Cristo, farei que você seja degolado junto com Tiago”. Josias: “Maldigo-o e maldigo todos os seus dias. Bendito seja o nome do Senhor Jesus Cristo pelos séculos!”. Abiatar ordenou que o esbofeteassem e mandou um mensageiro a Herodes solicitando permissão para decapitá-lo com Tiago. Quando iam ser degolados, Tiago pediu ao carrasco uma botija com água com a qual batizou Josias. Imediatamente suas cabeças foram cortadas e o martírio deles consumado. A decapitação do bem-aventurado Tiago aconteceu no dia 25 de março, quer dizer, na data da anunciação do Senhor. Seu corpo foi trasladado a Compostela em 25 de julho, mas seu sepulcro ficou pronto apenas em janeiro. A Igreja determinou 25 de julho como a época mais conveniente para celebrar universalmente sua festa.

JACOPO DE VARAZZE.
Legenda Áurea: vidas de santos. Trad. Hilário Franco Júnior.
São Paulo : Companhia das Letras, 2003. PP. 562-564

Patena de vidro do século IV descoberta na Espanha

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Patena do século IV, recentemente descoberta na Espanha. 175 gramas de vidro em 2mm de espessura. Na peça, vê-se claramente a imagem de Cristo acompanhado por dois apóstolos. Uma patena (objeto litúrgico onde, na Missa, se depõe a Eucaristia, o Corpo de Cristo), na Espanha (a mais de três mil quilômetros de Jerusalém), nos anos trezentos (bem pouco tempo depois, portando, do Edito de Milão). Era assim que o Cristianismo Primitivo celebrava a Liturgia. O resto é tagarelice anti-clerical.

Os homens conseguem reconhecer – e valorizar – a beleza artística sim!

Todos devem ter visto aquela senhora que destruiu uma pintura do século XIX na sua tentativa de restaurá-la. Como eu comentei com uns amigos então, era evidente que a idosa não queria escarnecer de Nosso Senhor nem nada do tipo: claro estava que ela agiu com a melhor das intenções, cheia de boa-vontade. O que faltou foi, precisamente, alguém que lhe chamasse à realidade e lhe dissesse, caridosamente, que ela estava fazendo uma grande besteira. O que faltou foi alguém que afastasse o “yes, you can!” moderno que certamente ressoava em seus ouvidos para lhe dizer “não, querida, tu não podes”.

A história me fez lembrar imediatamente do início do “Ortodoxia” de Chesterton, onde ele critica o chavão vigente de que as pessoas que acreditavam em si mesmas estavam fadadas ao sucesso. O inglês diz (com uma clarividência impressionante) precisamente o oposto: as pessoas que acreditam em si mesmas estão é no hospício. De novo: não tenho dúvidas de que Cecilia Giménez acreditava na sua capacidade de restaurar a pintura espanhola… e aí deu no que deu. Faltou alguém que a fizesse duvidar um pouco de si. Faltou alguém que, com um pouco menos de respeito humano, recusasse a ajuda – evidentemente inadequada – da boa idosa.

Um detalhe, contudo, merece um pouco mais de ênfase: a história virou piada mundial e a pobre senhora se transformou rapidamente em motivo de chacota. Ora, isto tudo serve para demonstrar que as pessoas conseguem sim distinguir entre uma obra de arte bonita e uma ridícula. O pecado desta “restauração” não foi simplesmente ter imposto à obra anterior um outro estilo artístico diferente, mas o de fazer um desenho grosseiro, tosco e disforme, cuja feiúra a comparação com o Ecce Homo original só fazia acentuar.

Lembrei-me do assunto quando vi, hoje, esta imagem comparativa e provocativa no Facebook: a “restauração” que ganhou notoriedade recentemente e uma capa de um livro de um conhecido artista católico, o Cláudio Pastro. A semelhança é inegável; mas da sra. Giménez a gente pode ao menos dizer que ela fez o melhor que pôde.

Que o lamentável episódio espanhol possa servir para lançar um pouco de luz sobre este vergonhoso “relativismo estético” dos nossos dias que não poupa nem mesmo as nossas igrejas. Foi perdida a pintura de Elías García Martínez, mas não necessariamente o nosso bom gosto. Aliás, esta é uma excelente oportunidade para que o possamos afirmar em público e defender com coragem.

Curtas: aborto frustrado, Gaystapo e a homofobia-de-pensamento, mensagem aos congressistas contra o aborto dos anencéfalos e fotos de criança anencéfala no Facebook

Médico falha aborto e juiz condena-o a cuidar da criança. A história é bizarra: um aborto foi mal-sucedido e a mãe só o percebeu quando a gestação já estava avançada a ponto de não lhe ser mais possível abortar legalmente. “A jovem mãe de 22 anos processou o médico e, numa sentença inédita, o tribunal de Palma de Mallorca condenou agora o clínico, o hospital e também as seguradoras envolvidas a indemnizar a mãe em 150 mil euros, por danos morais, e ainda a cuidar financeiramente da criança até que cumpra a idade de 25 anos”.

É tão surreal que eu achei ser hoax. Mas está também no La Razón, no El Mundo e no El País. Alguém vai contar para esta criança que ela é sustentada pelo seu verdugo frustrado? Aliás, uma mãe dessas tem porventura condições de ter a guarda do filho?

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Comercial da Nova Schin pode ser retirado do ar por incentivar homofobia. “No anúncio, um homem travestido de mulher é objeto de piada entre um grupo de amigos. A ABGLT pede a retirada do filme do ar imediatamente”.

Mas a cereja do bolo vem depois: «Atualmente, o conceito de homofobia não se refere apenas a agressão física ou assassinato contra a população LGBT. Segundo a ABGLT, o conceito é mais amplo: “A homofobia (…) transcende a hostilidade e a violência contra LGBT e associa-se a pensamentos e estruturas hierarquizantes relativas a padrões relacionais e identitários de gênero, a um só tempo sexistas e heteronormativos”».

Entenderam? Homofobia é crime de pensamento! A Gaystapo está, portanto, confessadamente empenhada em criminalizar um tipo de pensamento. Não é o suficiente não agredir (física ou verbalmente) homossexuais; ninguém pode sequer não gostar de gays! São essas as pessoas que estão sendo eleitas como padrões normativos para a sociedade. É evidente o risco que nós corremos. É fundamental deter esta sanha totalitária dos adoradores do vício contra a natureza.

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– Não deixem de ver este formulário para envio de mensagens aos congressistas. “Para que sua voz chegue aos Congressistas só é preciso preencher o formulário abaixo e clicar em “Enviar”, este simples gesto vai contribuir para que o Brasil salve muitos nascituros acometidos de anencefalia”. É simples e prático. Faça com que os parlamentares do seu estado saibam a sua posição a respeito da eugenia recém-legalizada no Brasil.

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Facebook se desculpa por apagar fotos de bebê com anencefalia. “A rede social Facebook pediu desculpas a Heather Walker, após ter apagado repetidamente suas fotos e inclusive seu perfil, logo depois que ela postou fotos do seu bebê que nasceu com anencefalia e faleceu oito horas depois do parto”. Obtivemos esta pequena vitória, cuja repercussão pode ser – afinal de contas – bem positiva. Mas é evidente que ainda há muito por fazer. O caminho é longo e importa começá-lo a trilhar imediatamente! Ajude-nos Deus. Que Ele nos socorra com presteza.

Padre cancela batizado ao descobrir que padrinho era “casado” com outro homem

Eu vi uma notícia interessante que merece alguns rápidos comentários: Padre católico espanhol impede batizado ao descobrir que padrinho é gay. A notícia me trouxe um misto de alento e de desespero.

Primeiro, a justificativa da mãe da criança é francamente estapafúrdia:

“Perguntaram se pais e padrinhos estavam batizados e confirmados. Depois se todos estávamos casados e respondemos que sim. Nunca pensamos que teríamos que avisar que ele era casado, mas com um homem. As normas, ele cumpria”, explicou ela.

Sério? Jamais passou pela cabeça desta senhora que o fato do candidato a padrinho ser sodomita público (nos dois sentidos – de notoriedade e legalidade civil) era relevante? Ela nunca pensou em dizer este “detalhe” nas entrevistas preparatórias para o Batismo? Será que esta senhora tem alguma noção de que a Doutrina Católica condena os atos homossexuais? Será possível que ela nunca tenha ouvido falar que os padrinhos têm que ser exemplo de vida para os seus afilhados? Será que ela não se apercebeu de que um pecador público, ao contrário de ser “exemplo de vida”, é na verdade um escândalo ambulante?

E ainda vem dizer que o sujeito cumpria as normas! O que significa esta declaração? É um cinismo farisaico (ah, casado ele era, mas você não perguntou se ele era casado com alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto!) ou é uma demonstração preocupante de esquizofrênica alienação da realidade (ela de fato não sabia que a Igreja condena os atos homossexuais)?

Segundo, a família disse que ia levar o caso aos tribunais. Como assim, “aos tribunais”? O que ela pretende? Acaso ela espera que o Estado obrigue a Igreja a batizar o menino com um padrinho sodomita? Ou será que ela vai pedir (o que considero mais provável) “danos morais” pelo constrangimento… que ela própria causou?

A Igreja tem as Suas próprias regras e, francamente, não dá para alegar desconhecimento. Por exemplo, todo mundo sabe que a Igreja não aceita segundas núpcias. Suponhamos que fulano seja casado na Igreja, separe-se e queira casar de novo. Aí fulano vai para a Igreja, faz tudo “certinho” e, quando perguntam se ele é solteiro, diz que sim. Quando chega a papelada, percebem que ele já é casado. O padre diz que não vai celebrar o casamento. Aí fulano dá um piti e diz que cumpriu todas as normas, pois perguntaram se ele era casado e não se já tinha sido casado alguma vez na vida. Isto faz sentido para alguém?

Tremenda má fé desta gente que quer impôr à Igreja o seu próprio padrão de (i)moralidade! Não estamos falando de uma seita obscura, estamos falando da Igreja cuja Doutrina moral é amplamente conhecida. E, antes que venham com as “argumentações” de que outras faltas morais seriam “toleradas” com mais benevolência, a resposta é não. Se a madrinha fez um aborto e ninguém sabe (a não ser os mais próximos), o padre não tem como adivinhar isso. Se a madrinha é dona de uma clínica de aborto, e isto é público e o padre toma conhecimento, isto é um escândalo e ela não pode ser madrinha. Se o padrinho “pula a cerca” e trai a mulher com uma vizinha e algumas pessoas no prédio sabem e comentam, o padre não tem como adivinhar. Se ele abandonou a mulher para morar com a vizinha tendo inclusive um segundo casamento civil, isto é um escândalo público e o padre tem mais é que negar este candidato a padrinho mesmo. Custa acreditar que isto seja difícil de entender!

Por fim, causa alento que o padre tenha deixado de lado todo o respeito humano e cancelado a cerimônia, bem como que o bispo o tenha apoiado:

A polêmica provocou uma resposta pública do arcebispado, que enviou um comunicado apoiando o padre e advertindo que um padrinho católico precisa ter uma vida “congruente”.

A nota cita o Código de Direito Canônico, cânon 874, que descreve os requisitos para os padrinhos de batismo: “deve ser católico, estar confirmado, ter recebido o santíssimo sacramento da Eucaristia e levar uma vida congruente com a fé e a missão que vai assumir”.

Esta fidelidade deste prelado católico e esta santa intransigência do cura de almas não passarão despercebidas d’Aquele que habita os Céus. Os nossos parabéns aos representantes da Igreja que, na contramão das tendências modernas, não abdicaram de sua fidelidade a Cristo. Que neste Natal o Menino Deus os possa confirmar na Fé Católica, no estreito e difícil caminho que conduz aos Céus. E que a atitude deles inspire outros, a fim de que as almas não se percam pela desorientação daqueles que as deviam conduzir.

Vota Valores

Recebi via HazteOir.org, a quem pertence a iniciativa pelo Vota Valores. O objetivo (segundo a própria descrição do vídeo no Youtube) é fazer «[u]na campaña para conseguir que los partidos se comprometan con la vida, la familia y la libertad».

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=-eAhHxinv1U

Em novembro próximo – mês que vem – haverá eleições na Espanha. Esta campanha consiste justamente em conscientizar os eleitores de que a defesa dos valores morais é o mais importante e urgente caminho para que o país saia da crise. Porque nada es más crucial para el futuro de España que la defensa de la vida y la famila.

A Espanha também tomou parte das marchas dos “Indignados” de 15 de Outubro (fotos aqui). A situação é insustentável. É urgente ordenar a (justa) indignação para que sejam atacados os verdadeiros problemas. Não existe problema econômico que não tenha raízes em um problema moral, e nem a melhor economia imaginável é capaz de construir sozinha um mundo no qual se valha a pena viver.

O problema é de valores. E “valores”, aqui, não se referem a cifras. Dentro de poucos dias celebraremos a festa de Cristo Rei. Que Ele reine. Que nos socorra sem demora.

“A juventude do Papa” – Por Claudemir Júnior

A Juventude do Papa

Calor de rachar, por vezes superando a casa dos quarenta graus Celsius. Ambiente seco a ponto de provocar uma sede quase constante. Estas eram as condições climáticas nada convidativas da cidade de Madri no último mês de agosto, quando a bela capital da Espanha acolheu cerca de dois milhões de jovens do mundo inteiro para a XXVI Jornada Mundial da Juventude. Somem-se a isso ouros dois fatores: o desconforto causado pelo caminhar apertado entre multidões, em termos de número, típicas de grandes blocos carnavalescos do Brasil; e as alardeadas ameaças de protestos promovidos pelos inimigos da religião, infelizmente cada vez mais numerosos numa Europa que vem aos poucos abandonando as raízes cristãs que fundamentam a sua existência. Observando tal contexto desfavorável, qualquer um de nós é levado a imaginar o ar de preocupação e esgotamento estampado nos rostos daqueles jovens peregrinos que ousaram embarcar nesta aventura. Não foi bem isso o que ocorreu, no entanto. Muito pelo contrário.

Pondo por água abaixo as expectativas dos que levaram em consideração apenas as limitações humanas diante das dificuldades e das intempéries da natureza, o que se viu foi um espetáculo da Fé Católica, um verdadeiro testemunho público de amor a Cristo e à Sua Igreja diante de uma Europa secularizada. O que se viu foi uma multidão de jovens – e nem tão jovens assim – aparentemente incansáveis, sempre com um sorriso no rosto e dispostos a suportarem grandes dificuldades para estarem ao lado do Vigário de Cristo na Terra. E não foram poucas as provações: aos que quiseram ver o Papa passar de perto, nove ou dez horas de espera foram necessárias para garantir um bom lugar junto à passarela por onde desfilaria o papamóvel; uma tempestade cheia de raios – acompanhada de uma ventania que trazia consigo bastante poeira – aguardava os jovens na noite da vigília para a Missa de Envio com o Papa.

Comitiva recifense em Madrid: Adriana Rocha, Jorge Ferraz, Humberto Carneiro, Poliana Pacheco e Claudemir Pacheco

Tudo para estar alguns instantes ao lado do Sucessor de Pedro. Instantes que tornaram desprezíveis os sacrifícios suportados por horas a fio. Algo incompreensível aos olhos dos que ainda não receberam o dom da Fé, pois, como diria o Apóstolo, “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras, nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar” (ICor 2, 14).

Ouvir a voz suave do Doce Cristo na Terra (cf. Santa Catarina de Sena) é uma graça de incalculável valor. Frágil por conta da idade e tímido por conta de seu temperamento, Bento XVI é eloquente, fala ao coração e, principalmente, ao intelecto. Instiga profundas reflexões com suas palavras claras e firmes. Ao jovial e performático Bem-Aventurado João Paulo II juntavam-se multidões para vê-lo; a Bento XVI juntam-se as multidões para ouvi-lo falar.

E ele foi ouvido. Até mesmo os arredios meios midiáticos – que até então apenas valorizavam e exageravam as poucas e tímidas manifestações laicistas que quase passavam despercebidas pela multidão de peregrinos – deram o braço a torcer e passaram a destacar o alcance das mensagens do Papa e a atenção que os jovens dedicavam a ouvi-la.

Ele falou, mas também calou. E com ele dois milhões de jovens em pleno sábado à noite no enorme aeroporto [desativado] de Quatro Ventos. Foi após a tempestade, quando o Santo Padre convidou o Dono da festa a estar presente. O silêncio foi ensurdecedor. E todos se puseram de joelhos na terra molhada ou no asfalto a adorar Nosso Senhor Sacramentado. Ele, o Homem-Deus, era o verdadeiro motivo pelo qual jovens de diversos países abandonaram o conforto de seus lares para viverem a loucura de testemunhar, em torno do Santo Padre e diante do mundo inteiro, um amor incondicional Àquele que nos amou primeiro. O Deus que é a “Alegria da nossa juventude” (cf. Sl 42).

Até mesmo o renomado escritor Vargas Llosa, Nobel de Literatura e agnóstico confesso, rendeu-se à beleza e à força deste testemunho. Logo após a JMJ de Madri, em artigo intitulado “La fiesta y la cruzada” (A festa e a cruzada), proferiu as palavras que seguem: “Crentes e não crentes devemos alegrar-nos por isso com o que aconteceu em Madrid nestes dias em que Deus parecia existir, o catolicismo parecia ser a religião única e verdadeira, e todos como rapazes bons caminhávamos mão dada com Santo Padre em direção ao reino dos céus”.

Que juventude é esta capaz de arrancar tão elevadas palavras de um agnóstico? Que juventude é esta capaz de tornar tímidos, quase irrelevantes, os gritos histéricos dos que querem banir Deus da sociedade? Quem são estes que, de diversos povos e culturas, unem-se para manifestar a mesma Fé, a Fé Católica e Apostólica? Tais questões foram já respondidas no grito de guerra que ressoou em Madri durante uma semana inteira: “Esta es la juventud del Papa!” (Esta é a juventude do Papa!).

“Queridos jovens, para descobrir e seguir fielmente a forma de vida a que o Senhor chama cada um de vós, é indispensável permanecer no seu amor como amigos. E, como se mantém a amizade se não com o trato frequente, o diálogo, o estar juntos e o partilhar anseios ou penas?” (Bento XVI, em discurso interrompido pela tempestade na Vigília de Oração com os Jovens)

José Claudemir Pacheco Júnior é recifense e analista de sistemas.
Casado e pai de uma filha, esteve com a esposa [Poliana, na foto] em Madrid no último mês de agosto para tomar parte da JMJ 2011

Las meninas de Pablo Picasso

Nas minhas recentes andanças espanholas, encontrei-me em Barcelona – bela cidade que eu não conhecia. No meio do meu roteiro turístico, visitei entre outras coisas o recomendado Museu Picasso de Barcelona – “centro de referência para o conhecimento dos anos de formação de Pablo Ruiz Picasso”.

Eu não sou crítico de arte (aliás, sequer entendo de arte) e, portanto, não é nesta condição que escrevo estas linhas. Quero apenas registrar as impressões que os quadros do conhecido pintor espanhol provocaram em mim, um simples observador leigo e ignorante. Mais especificamente, alguns quadros da série Las Meninas que ocupavam a última sala do museu. Para fins desta análise, trago dois aqui.

O primeiro, de outubro de 1957, retrata Isabel de Velasco, María Bárbola i Nicolasito Pertusato. O segundo, de novembro do mesmo ano, traz Isabel de Velasco i María Bárbola. Ambos encontrados neste catálogo virtual do Museu. Seguem abaixo, nesta ordem:

O meu primeiro impulso diante dos quadros foi o de tentar associar as meninas representadas nos dois quadros aos nomes que constavam no título da obra. Faltava uma garota; o segundo quadro, portanto, representava duas das três garotas do primeiro quadro, e uma delas ficara de fora. Quem estava faltando?

Tal processo aparentemente banal se mostrou bastante demorado, para minha grande frustração. As duas meninas do segundo quadro pareciam-me completamente diferentes das três meninas do primeiro. A do segundo quadro que tinha um sinal no queixo (a da direita) não me parecia estar no primeiro; a que tinha “uma lua em cima do nariz” no primeiro quadro (a da direita) não me parecia estar no segundo. Para mim, a que tinha cabelos cacheados no segundo quadro (a da esquerda) não estava no primeiro, e a que tinha “cara de coruja” no primeiro (a do meio) não estava no segundo. Desconcertado, quase julguei ter matado a charada ao notar que “a de rosto quadrado” (a da esquerda) do primeiro quadro não estava no segundo; mas a resposta me pareceu insuficiente.

Foi quando li de novo os títulos dos quadros e percebi que a ordem em que os nomes apareciam provavelmente indicava a ordem em que apareciam as meninas, da esquerda para a direita. Portanto, nos dois quadros, a da esquerda era Isabel de Velasco. María Bárbola era a do meio no primeiro quadro e a da direita no segundo. A que faltava, ergo, era Nicolasito Pertusato. Faltava a garota da direita.

Olhei e olhei novamente para os dois quadros, tentanto encontrar algum indício de que a garota faltante era mesmo a de vermelho. E foi quando eu, embaraçado, percebi: a de vermelho. No primeiro quadro havia verde, azul e vermelho. No segundo, só verde e azul. A garota que estava no primeiro quadro e não estava no segundo era portanto a de vermelho.

A de vermelho! Pensei depois na possibilidade caridosa de que Picasso fosse sinesteta e enxergasse coloridos os nomes das meninas. Mas, naquele momento, o que pensei foi no grande absurdo que é as pessoas serem identificadas pela cor da roupa que utilizam. Na hora eu pensei que os quadros diziam que as meninas não tinham individualidade, distinguindo-se umas das outras tão-somente por coisas exteriores (no caso, as roupas) – talvez uma farda, um número ou um crachá. Eu procurara em vão traços fisionômicos similares (como formato do rosto, olhos, cabelo) para distinguir as meninas, e devia ter desde o início procurado pelas cores dos vestidos.

Na verdade, o que eu vi nestes quadros foi justamente uma arte de vanguarda no pior sentido possível: uma preconização (e em tom laudatório) da supremacia do exterior sobre o interior, das personalidades diluídas e escondidas sob as vestes, as fardas. Vi o nonsense de um mundo onde não era possível identificar os indivíduos senão pelos adereços que eles ostentam, como se Isabel de Velasco pudesse passar a ser María Bárbola bastando que, para isso, trocasse o seu vestido verde por um azul.

E percebi também, temeroso, que o mundo moderno caminha exatamente nesta direção. Assustei-me com a possibilidade de que talvez nós cheguemos um dia a este extremo de impessoalidade retratado nos quadros de Picasso! E este mundo preconizado naquelas telas parecia-me terrivelmente feio, ainda mais feio do que a “arte” disforme e mal-feita nelas contida.

E os servos do Rei da Glória calaram os escravos do Príncipe das Trevas

Eu quero escrever bastante coisa sobre a recente Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, à qual tive a grande honra de estar presente [aliás, para quem ainda não viu, há um proto-relato meu publicado pelo Wagner Moura]. Tenho esbarrado na falta de tempo, nas pendências acumuladas, no sono bagunçado pelo fuso horário; contudo, quero aproveitar para fazer um rápido comentário sobre um aspecto do evento que, a despeito de ter (aparentemente) ocupado um grande espaço da mídia local, não tem a relevância que parece à primeira vista. Refiro-me aos protestos contra o Papa feitos pelos anti-clericais espanhóis.

A foto abaixo foi a capa do El Mundo da quinta-feira passada, 18 de agosto de 2011. Era o dia da chegada do Papa à Espanha. Na véspera, ocorrera em Puerta del Sol um embate entre militantes laicínicos e os jovens que voltavam da Plaza de Cibeles, onde estavam ocorrendo atividades da JMJ. Não estive presente a este momento glorioso. Um amigo o presenciou e disse que iria escrever um relato, que estou aguardando. Enquanto isso, quero falar do que eu ouvi e do que eu não vi, eu que lá estive durante estes dias incríveis.

A imagem é belíssima! Reparem no contraste entre a serenidade da jovem que beija o crucifixo e o ódio desesperado de Satanás que avança sobre ela, com a mão em riste à moda italiana. É a diferença entre os servos do Rei da Glória e os escravos do Príncipe das Trevas. Entre os que amam a Deus e os que O odeiam. Não tive a graça de participar deste momento sublime; mas enchi-me de alegria por esta peregrina anônima que, diante de uma horda de demônios, apenas beijou a Cruz de Cristo. Encontrei-me nela, e nesta atitude dela eu vi a atitude de todos os católicos – milhares, centenas de milhares, milhões – que estávamos em Madrid por estes dias, para dar testemunho público da Fé em Cristo. A despeito das perseguições e das incompreensões que porventura sofrêssemos.

Não era outra a razão pela qual nós ali estávamos. Queríamos nos dizer católicos, queríamos encontrar o Vigário de Cristo e queríamos ouvir as suas palavras para nós. Queríamos cerrar fileiras junto a ele, e mostrar a uma Europa descristianizada a vitalidade da Igreja de Cristo em Seus jovens – que somos não somente o futuro da Igreja, mas também o presente da Igreja. E a imponência deste Gigante impressionou os inimigos de Deus. As ruas e praças da cidade, as lojas e as estações de metrô tomadas por uma infinitude de católicos fizeram Madrid estremecer. Tremeram os inimigos de Cristo, que O julgavam já moribundo. Tremeram, quando viram as multidões acorrerem à capital da Espanha atendendo ao chamado do Doce Cristo na Terra.

Tremeram, e vacilaram, e não fizeram senão gestos tímidos e irrelevantes cuja única repercussão digna de nota foi a que lhes concedeu desproporcionalmente a mídia anti-católica. Como eu disse acima, eu quero falar também sobre o que eu não vi, e o fato é que eu não vi nada de manifestações atéias e laicínicas que merecessem o menor destaque. Eram sempre de uma tremenda insignificância. Não ousaram adentrar nos eventos da Jornada: limitaram-se a colar pequenos cartazes cretinos [havia uns dizendo que good catholics use condoms], que nós simplesmente arrancávamos. Limitaram-se a fazer pichações ínfimas, que nós as mais das vezes sequer víamos. Limitaram-se a ensaiar as referidas agressões em Puerta Del Sol, que foram rapidamente controladas pela polícia espanhola (ver também este vídeo aqui). Em suma, os (tíbios) desgostosos com a visita do Papa eram mentirosos, vândalos e baderneiros. Nada mais.

Em contrapartida, ao final da jornada, até a mídia laicista foi forçada a reconhecer os méritos da JMJ 2011. Vejam esta coletânea de artigos da imprensa espanhola rendendo-se a Bento XVI. Os mesmos órgãos de imprensa que reclamavam dos gastos públicos com a Jornada, que rasgavam as vestes exigindo a laicidade do Estado e que vaticinavam terríveis protestos contra a visita do Sumo Pontífice foram obrigados a reconhecer o grande êxito da JMJ. No final das contas, opondo um sereno beijo num crucifixo aos gritos histéricos dos inimigos da Igreja, os católicos calamos a mídia anti-clerical espanhola! Este é um feito que não pode ser subestimado. Esta é uma vitória que não pode ser menosprezada. Este é um evento que precisa ficar na história.

Outro aviso

Nunca pensei que teria tantas dificuldades para me conectar na Espanha! Mas peço a paciência de todos.

Teoricamente, eu já deveria estar no Brasil agora, mas perdi o vôo de ontem. Entre perder o vôo e perder a missa de fechamento da JMJ, optei alegre e satisfeito pelo primeiro – e não me arrependi. A minha única pena foi a de não ter feito a cobertura “em tempo real” que eu gostaria de fazer; mas temos fotos e boas lembranças para compartilhar assim que possível.

Chego no Brasil amanhã, se o bom Deus permitir. Desejem-me boa viagem! Ontem, ao final da Santa Missa, a bênção pontifícia foi extensiva àqueles que são caros aos que estavam presentes em Cuatro Vientos. E gosto de pensar que Deus é rico em misericórdia e, portanto, não Se importaria em me deixar inflar esta lista. Os meus amigos (inclusive os virtuais), as pessoas com quem eu esporadicamente converso por aqui e até mesmo aqueles que me lêem sem que eu sequer saiba: vós me sois caros! E podeis vos julgar abençoados, pelo Sucessor de Pedro, na pessoa deste pobre blogueiro que, nos últimos dias, esteve na capital da juventude católica do mundo.

Hasta luego!