A liberdade de expressão e os seus limites

Um leitor do Deus lo Vult! deixou, aqui, o seguinte comentário:

Sobre a liberdade de ofender e escarnecer, como se pode definir que alguém foi ofendido ou escarnecido se os pontos de vista são tão diferentes? Essa batalha que deve ocorrer no âmbito civil e com critérios muito claros. Pois muitos do movimento gay também consideram ofensivo que representantes das igrejas apareçam na TV bradando que os homossexuais são pecadores, pode-se evocar a liberdade de expressão nesse caso ou estamos diante de um outro limite para a liberdade de expressão?

Penso que o assunto merece um post à parte.

Antes de qualquer coisa, o problema, a nível teórico, se resolve de maneira muitíssimo simples: a rigor, a única liberdade que existe é «a liberdade fundamentada sobre a verdade» (Paulo VI, Mensagem para o 9º dia mundial das comunicações sociais, 19 de abril de 1975). A fórmula de Pio XII (Miranda Prorsus, Parte Geral, “Liberdade de Difusão”), por sua vez, é bastante intuitiva e pode nos ser muito útil nesta seara:

[A] verdadeira liberdade consiste no uso regrado da difusão daqueles valores que ajudam ao aperfeiçoamento do homem.

Assim, o único discurso que pode pretender propriamente um “direito” à existência em sociedade é, portanto, o discurso verdadeiro e bom. A mentira, o erro e o engano não podem ter um direito infrene à livre-proliferação em público, e não tem o menor cabimento conceder às verdades e às fábulas o mesmo status social. Enquanto este princípio generalíssimo não for assimilado, não se vai conseguir resolver a contento o problema da «liberdade de expressão» nas sociedades complexas contemporâneas.

Deve ser buscado o «aperfeiçoamento do homem», pois bem. Em teoria, está perfeito. A nível mais concreto, contudo, a questão se impõe com contornos mais complicados a partir do momento em que diferentes pessoas não conseguem entrar em mútuo acordo a respeito de qual seja, especificamente, o discurso verdadeiro e qual o falso, qual o pernicioso e qual o útil. O socialismo matou milhões de pessoas ou é o responsável por avanços civilizacionais de outro modo inalcançáveis? A democracia representativa brasileira contemporânea é eficaz para reproduzir fidedignamente a vontade política dos cidadãos, ou é um instrumento de manipulação demagógica concebido e executado para atender a interesses particulares inconfessáveis? A religião verdadeira é a Católica Apostólica Romana ou é o Islão? Como saber qual dos discursos é verdadeiro e proveitoso,  e qual é falso e daninho? Onde está a verdade?

Evidentemente, não se negam as dificuldades existentes para identificar quem está com a razão em cada caso concreto. É óbvio que a verdade a respeito de toda e qualquer coisa não é imediatamente evidente a toda e qualquer pessoa. Há, no entanto, maneiras civilizadas e inteligentes de minimizar esta contingência:

1. Via de regra, descobrir o que não é verdade é mais fácil do que identificar o que é verdade, e existem muitos casos em que fazê-lo está ao alcance de qualquer pessoa. Por exemplo, diante de alguém que apresenta o punho cerrado e pergunta “o que tenho na mão?”, pode ser bastante difícil descobrir o que a mão fechada esconde; não obstante, é facílimo dizer, com bastante segurança, o que ela não esconde. Diante de tal indagação, alguém pode não saber responder ao certo se o que está na mão do interlocutor é uma moeda, uma tampa de caneta ou um piolho-de-cobra; mas qualquer um consegue dizer, com bastante segurança, que o que está lá não é uma jaguatirica, um capacete de moto tamanho padrão ou a Grande Muralha da China.

As questões que interessam à sociedade são um pouco mais complicadas do que este exemplo ilustrativo, é verdade, mas mesmo entre aquelas é possível encontrar vastos territórios de coisas que inequivocamente não «ajudam ao aperfeiçoamento do homem», para usar a fórmula de Pio XII. Por exemplo, a imensíssima maior parte das pessoas há de concordar que a proposta de acabar com a pobreza exterminando fisicamente os pobres é totalmente inadmissível, e está disposta até mesmo a conceder que a veiculação pública de semelhante ideia possa e deva ser inibida pelos poderes públicos. No atual estado de coisas, aliás, não faz o menor sentido alguém protestar contra a “imposição de limites à liberdade de expressão”: em qualquer lugar civilizado do orbe ela já tem limites, aceitos pacificamente pela esmagadora maioria dos membros da sociedade.

2. Dada a intrínseca contingência humana e a (conseqüente) natural e inevitável falibilidade de tudo o que ele produz – inclusive julgamentos -, nenhum tema pode ser “indiscutível” em absoluto. Futebol, política e religião, tudo, há que se discutir sim. No entanto, duas coisas precisam ser aqui observadas. Por um lado, qualquer assunto só é discutível em razão inversa à solidez que ele estabeleceu na sociedade: isso significa que as coisas com as quais virtualmente todo mundo concorda precisam de novos e fortes argumentos para serem colocadas em discussão, enquanto aquelas que encontram maior resistência social para se disseminar têm exigências argumentativas mais modestas (*). Por todo lado, “discutir” significa se utilizar de um discurso racional argumentativo para convencer o interlocutor de uma determinada tese: a simples peça publicitária (pior ainda, enganosa), a ofensa gratuita, a desmoralização do “oponente” e coisas parecidas estão fora do escopo dessa discutibilidade universal de todas as coisas aqui apresentada.

[(*) No Brasil atual, note-se, ocorre justamente o contrário: coisas evidentíssimas e que gozam de ampla aceitação popular, como por exemplo que o aborto é moralmente condenável e não deve ser aceito, discute-se com a superficialidade das escalações da seleção brasileira, o tempo todo, em todos os foros possíveis e imagináveis. Por sua vez, a uma coisa de que ninguém (a não ser uma meia-dúzia de ditos intelectuais) se convence, que não haja diferença alguma entre o casamento vitalício e monogâmico entre o homem e a mulher e a mera união entre dois homens ou duas mulheres, quer-se conceder ares de indiscutibilidade, chegando até mesmo à criminalização do contraditório…]

Duas implicações decorrem daqui: inexiste um direito de ofender, uma vez que toda e qualquer discussão deve ser construída sobre as bases da argumentação racional e não de ofensas gratuitas; e ao mesmo tempo ninguém tem um direito de não ser ofendido, um vez que o detentor de uma ideia não pode alegar “ofensa” para coibir uma refutação intelectual, racionalmente fundamentada, daquela ideia. Abrem-se, assim, as portas para o futuro e o progresso, ao mesmo tempo em que se protegem as conquistas civilizatórias já historicamente adquiridas.

3. Por fim, é necessário que haja instâncias de decisão para apaziguar os ânimos e arbitrar possíveis discussões entre cidadãos que possam surgir, mormente nos casos-limites (“ah, isso é ridicularizar a minha crença!”, “não, senhor, trata-se de emprego de reductio ad absurdum para demonstrar racionalmente a falsidade da sua tese”…). Tais instâncias necessariamente serão uma espécie de elite intelectual, comprovadamente hábeis na arte de aplicar os princípios acima elencados na solução de conflitos concretos; e precisarão, igualmente, ser dotadas de legitimidade moral para fazer valer as suas decisões sobre os contendedores, i.e., precisarão exercer, em quanto maior medida melhor, uma autoridade natural sobre a sua esfera de “jurisdição”.

Em observância ao princípio da subsidiariedade, é preferível que tais instâncias se multipliquem em diversos níveis – familiar, condomínio/bairro, comunidade, município, região metropolitana, estado etc. -, preservando assim características e valores locais ao mesmo tempo em que se evita a ingerência de pretensos iluminados na autodeterminação dos legítimos agrupamentos sociais intermediários. Começa-se a discutir religião, assim, dentro de casa, e não nos jornais das metrópoles. São os grupos de pais que decidem a respeito da educação de seus filhos, e não os ministros de Brasília.

À luz de todo o exposto, por fim, responde-se ao comentário que deu origem a este post da seguinte maneira:

  • identifica-se a ofensa, primeiramente, pelo critério da evidência: um discurso argumentativo a respeito do que quer que seja é uma coisa, e a veiculação de peça publicitária aviltante é outra coisa completamente distinta;
  • nos hard cases, é necessária a intervenção de uma instância superior, o mais localizada possível, e que (evidentemente) goze de autoridade sobre todas as partes envolvidas no litígio, a fim de discernir se se trata de exercício adequado da liberdade de expressão ou não;
  • o critério para a difusão pública de discursos não é o “movimento gay” e nem ninguém “sentir-se” ou deixar de se sentir “ofendido”, e sim se a mensagem veiculada ajuda «ao aperfeiçoamento do homem» ou não; isso se determina, mais uma vez, pelos critérios supramencionados da racionalidade do discurso e do prestígio (ou falta de prestígio) social de que gozam as teses em lide.

Concordo que é muito difícil obter consenso entre pessoas diferentes; tal, contudo, torna-se completamente impossível se a discussão e o debate racional são socialmente desestimulados. É bem provável que a plena concórdia a respeito de tudo seja inalcançável; penso, no entanto, que existem amplas margens para consensos substanciais a respeito de um grande número de coisas – para a obtenção dos quais é contudo necessário, mais uma vez, que a discussão pública, séria e honesta seja cada vez mais incentivada e não tolhida. Um mundo perfeito é sem dúvidas impossível, mas isso não dá a ninguém o direito de desistir de trabalhar por um mundo um pouco melhor do que este que está aí: em direção a este objetivo, sim, nós podemos e devemos caminhar com valentia e determinação.

Judeu sobre Pio XII: “ele, de fato, salvou muitos milhares de vida”.

Em tempos de deputado Big-Brother destemperado cuja erudição é comparável à dos leitores de “Contigo” e “Tititi”, ao menos o bom jornalismo ainda está atento. Saiu hoje na Gazeta do Povo um artigo de Gary Krupp sobre Pio XII que merece ser lido e divulgado, impresso e afixado nas paredes da Câmara dos Deputados e nos murais de avisos dos cursinhos de pré-vestibular.

O Jean Wyllys é militante homossexual de fama devida a um Reality Show da Globo, e atacou recentemente o Papa por conta de um alegado “apoio da Igreja ao extermínio de judeus por nazistas”. Já o Gary Krupp é um judeu, fundador da Pave The Way Foundation, e escreveu que, com base em “mais de 76 mil páginas de documentos originais” publicadas nos últimos anos, “[a] evidência é avassaladora em favor de Pio XII e prova que ele, de fato, salvou muitos milhares de vidas”.

A diferença entre as posições assumidas por um e outro é gritante, só comparável à enorme descrepância de credenciais entre o presidente de uma fundação que se preocupa em publicar milhares de páginas de documentos originais e o deputado gay que vomita frases de efeito no Twitter e, quando contrariado, bloqueia os seus interlocutores. E o Gary Krupp ainda faz uma proposta aos céticos:

Você duvida? Por que não faz uma experiência por conta própria? Examine os arquivos de jornais, procure cada artigo escrito sobre Pio XII e os judeus entre 1939 e 1958. Você não encontrará um texto negativo sequer. Aqueles que realmente viveram durante a guerra e foram testemunhas oculares dos esforços da Igreja Católica sabem a verdade. E o que tornou esses esforços ainda mais heroicos foi o fato de a Igreja agir mesmo cercada por forças hostis e infiltrada por espiões. A Igreja salvou vidas sem se beneficiar da segurança daqueles que, em comparação, estavam em Washington, Londres ou outros lugares e não fizeram nada. Como foi possível?

Eu ajudo: o acervo de jornais antigos do Google está aqui.

E, às vésperas do Ano-Novo, faço os mesmos votos do fundador da PTWF: “Que 2013 seja o ano em que a verdade finalmente vença as mentiras e que a reputação desse grande defensor da humanidade seja recuperada”. Cada um faça a sua parte para que isto aconteça! Mesmo a despeito dos recorrentes chiliques dos militantes homossexuais e de toda a caterva dos inimigos levianos da Igreja Católica.

Sobre a Liberdade Religiosa e o desenvolvimento doutrinário harmônico da Doutrina Católica

Um leitor publicou no Deus lo Vult! hoje de manhã o link para um texto do Cum ex Apostolatus Officio onde são tecidas críticas bem ásperas a um novo texto do Papa Bento XVI ao qual eu próprio já fizera referência recente aqui no blog. A análise que o Sandro de Pontes faz é radicalmente diferente da minha; sobre o assunto, vale escrever alguns parágrafos.

A acusação principal do texto é a de que o Papa teria confessado «que o Vaticano II realmente não possui a mesma doutrina que foi ensinada desde a revolução francesa até Pio XII» no tocante à liberdade religiosa. Para fins de organização das idéias, o texto do Papa em litígio é este aqui. Sobre ele, vale dizer quanto segue:

– Como eu já tive a oportunidade de dissertar em outras ocasiões, para mim parece claro que a doutrina exposta na Dignitatis Humanae tem por objeto o (por falta de termo melhor) “Estado Natural”, i.e., o Estado considerado em suas formas mais básicas e primitivas, e não se refere (a não ser en passant) ao Estado Confessional.

– Ao contrário, a totalidade dos textos do Magistério pré-conciliar que versam sobre as relações entre a Igreja e o Estado tem diante dos olhos a realidade histórica do Estado Católico e, portanto, trata sempre sobre um tipo específico de Estado, e não sobre “o Estado em si”.

– Parece-me óbvio que, embora exista o «dever moral» – lembrado pela DH! – «que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo», é fato inconteste que nem todos os homens e sociedades cumprem com este dever e, portanto, existe a realidade factual dos Estados que não reconhecem a Igreja Católica como Religião Verdadeira.

– Assim como até mesmo os homens que não são católicos estão sujeitos aos ditames do Direito Natural, do mesmo modo também os Estados que não são católicos precisam se sujeitar a alguns princípios naturais (mas não naturalistas) da organização das sociedades. Estes princípios obviamente precisam ser mais gerais do que aqueles pelos quais se deve pautar o Estado Confessional Católico. E são estes os princípios que o Magistério do século XX passou a desenvolver (de modo particular na Dignitatis Humanae).

– Por definição, o mais geral é mais abrangente do que o mais específico e, portanto, o que é exposto na DH com relação aos deveres do Estado em matéria religiosa é, sim, realmente, mais amplo e genérico do que o que foi dito por outros Papas com relação aos deveres do Estado Católico. Isto é óbvio e não poderia ser de maneira diferente. Dizer que os princípios específicos “não são mais válidos” (ou qualquer coisa do tipo) porque foi feita (aliás pela primeira vez) uma exposição dos princípios gerais é uma maneira equivocada de interpretar um ensinamento da Igreja que, por definição, só faz sentido se for entendido de maneira orgânica e à luz da totalidade do Magistério.

– Como o “Estado Natural” é um fenômeno moderno, parece-me natural que os documentos do Magistério mais antigos não o tenham abordado diretamente; com o seu surgimento, parece-me igualmente natural que fosse necessário à Igreja debruçar-Se sobre ele.

– Assim, a “insuficiência” da doutrina precedente à qual se refere o Papa decorre simplesmente da (virtual) inexistência deste “Estado Natural” antes do advento do fenômeno do Estado Moderno, da mesma maneira que se poderia falar de uma “insuficiência” da doutrina sobre os juros antes do desenvolvimento da economia ou de uma “insuficiência” da doutrina sobre o respeito devido aos embriões humanos antes do advento da embriologia. Não existe nenhum texto do “magistério pré-conciliar” que trate especificamente dos Estados não-católicos, sendo possível encontrar sobre o assunto apenas determinações esparsas.

– Mesmo entre estes ensinamentos esparsos que é possível recolher nos textos do Magistério pré-conciliar, o que se tem é uma doutrina que, longe de contradizer o ensinamento moderno, vai harmonicamente ao encontro daquilo que se diz na Dignitatis Humanae. Por exemplo, Pio XII na Ci Riesce:

Uma outra questão, essencialmente diferente, é esta: pode-se estabelecer como norma em uma comunidade de estados – ao menos em certas circunstâncias – que o livre exercício de uma prática religiosa ou moral que possua validade em um dos estados-membros não seja prejudicado em todo o território da comunidade de nações por leis nacionais ou medidas coercitivas? Em outras palavras, a questão que se coloca é se nestas circunstâncias [o] “non impedire” ou a tolerância é permitido e se, por conseguinte, a repressão positiva nem sempre é um dever.

Aduzamos a autoridade de Deus. Poderia Deus, embora Lhe fosse possível e fácil reprimir o erro e o desvio moral, em alguns casos escolher o “non impedire” sem com isso contradizer a Sua infinita perfeição? Seria possível que em certas circunstâncias Ele não desse aos homens nenhum mandamento, não impusesse nenhum dever e nem mesmo comunicasse o direito de impedir ou reprimir o que é errôneo e falso? Um olhar sobre as coisas como elas são nos dá [sobre isso] uma resposta afirmativa. A realidade nos mostra que o erro e o pecado existem no mundo em grande medida. Deus os reprova, mas Ele permite que existam. Por conseguinte, a afirmação “o erro religioso e moral deve sempre ser impedido, quando é possível, porque a tolerância deles é imoral em si mesma” não é válida absoluta e incondicionalmente.

Além disso, Deus nem mesmo deu à autoridade humana tal absoluto e universal mandato em matéria de fé e moralidade. Semelhante ordem é desconhecida das convicções comuns da humanidade, da consciência cristã, das fontes da Revelação e da prática da Igreja. Omitindo aqui outros textos escriturísticos que poderiam ser aduzidos para demonstrar este argumento, Cristo na parábola do joio [e do trigo] dá o seguinte conselho: deixe o joio crescer no campo do mundo junto com a boa semente [do trigo], em vistas da colheita (cf. Mt 13, 24-30). O dever de reprimir o erro moral e religioso não pode, assim, ser uma norma última de ação. Ele deve ser subordinado a normas maiores e mais gerais, que em algumas circunstâncias permitem, e até mesmo talvez pareçam indicar como uma melhor política, a tolerância aos erros a fim de promover um bem maior.

Pio XII, Ci Riesce, V

– Nada exige que estas “algumas circunstâncias” sejam sempre uma exceção histórica. É perfeitamente possível e razoável defender que a modernidade, infestada de Estados não-católicos e hostis à Igreja em um mundo globalizado, constitui-se uma dessas “circunstâncias” nas quais a tolerância aos erros é não somente legítima como pode inclusive ser a melhor política a ser adotada.

– Não existe, portanto, nenhuma contradição entre a doutrina tradicional das relações entre a Igreja e o Estado e a liberdade religiosa pregada pela Dignitatis Humanae. Aquela se refere ao Estado Católico e, esta, ao Estado considerado em sua “forma natural”. Aquela estabelece a melhor maneira de se cumprir um dever moral e, esta, orientações práticas a serem exercidas em circunstâncias específicas.

– Por fim, é importante notar – como lembrou o Sandro de Pontes em seu texto – que o próprio Papa Bento XVI disse, textualmente, que os Padres Conciliares «não podiam nem queriam criar uma fé diversa ou uma Igreja nova». Assim sendo, a interpretação de que ele teria “confessado” precisamente aquilo que nega no seu próprio texto com veemência é no mínimo temerária, e não deveria (ao menos por uma questão de respeito intelectual ao escritor cujo texto se está analisando) ser tão prontamente assumida como se fosse um fato auto-evidente. Ao contrário, a prudência exige que se esgotem primeiro as outras alternativas possíveis (mesmo que não sejam as mais simples ou mais imediatas) antes de se acusar alguém de contraditório ou mentiroso.

Apontamentos sobre as Escrituras Sagradas e inerrância bíblica

A propósito de alguns comentários recentes sobre as Escrituras Sagradas feitos aqui no blog, aproveito o ensejo para esclarecer:

– A inspiração do Espírito Santo deu-se nos autores originais e em relação aos textos originais, inexistindo no geral a “inspiração do tradutor” e – com muito mais razão! – uma suposta “inspiração” de traduções apócrifas e desautorizadas das Escrituras Sagradas como o são as traduções protestantes.

– Inexistindo ou sendo difícil o acesso aos originais, o Concílio de Trento (e, repetindo-o, a Divino Afflante Spiritu de Pio XII) afirma «que devem reconhecer-se “como sagrados e canônicos os livros inteiros com todas as suas partes conforme se costuma ler na Igreja católica e estão na antiga Vulgata latina” (Concílio de Trento, Sessão IV, decr. l; Ench. Bibl ., n. 45)» (DAS 1).

– Assim sendo, a inerrância bíblica não se estende a todas as traduções e a todos os manuscritos, mas é característica dos textos originais (por desconhecidos que sejam nos dias de hoje, e ainda que tenham sido perdidos) e, para fins práticos, da Vulgata latina, como ensina o mesmo Pio XII: «esta autoridade preeminente ou autenticidade da Vulgata decretou-a o concílio não principalmente por motivos de crítica, mas antes pelo uso legítimo que dela se fez na Igreja durante tantos séculos; uso que prova estar ela, no sentido em que a entendeu e entende a Igreja, completamente isenta de erros no que toca a fé e aos costumes; de modo que, como a mesma Igreja atesta e confirma, se pode nas disputas, preleções e pregação alegar seguramente e sem perigo de errar» (DAS 14).

– Este lugar proeminente ocupado pela Vulgata não desmerece os textos originais; o estudo deles é não apenas legítimo como também encorajado, mas em estreita colaboração com a Vulgata e jamais em oposição a ela. Ainda Pio XII: «[n]em a autoridade da Vulgata em matéria de doutrina impede, – antes nos nossos dias quase exige – que a mesma doutrina se prove e confirme também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras» (id. ibid.).

– A inerrância bíblica deve ser entendida em sentido absoluto, e não apenas em um “sentido espiritual” (p.ex., que as Escrituras Sagradas apenas não contenham “erros contra a fé”). Assim pontifica Pio XII remetendo a Leão XIII: «Enfim é absolutamente vedado “coarctar a inspiração unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio escritor sagrado errou”, pois que a divina inspiração “de sua natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma necessidade com que Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta é a fé antiga e constante da Igreja”» (id., 3).

– A esse respeito, peço vênia para uma citação um pouco mais longa de Leão XIII na Providentissimus Deus:

[N]ão é absolutamente permitido restringir a inspiração só a algumas partes da Sagrada Escritura, ou admitir que o mesmo autor sagrado tenha errado. Com efeito não se pode admitir o método dos que resolvem essas dificuldades sem hesitar em conceder que a inspiração divina se aplique às coisas que dizem respeito à fé e aos costumes e [a] nada mais, julgando erradamente que em se tratando do verdadeiro sentido dos trechos escriturísticos, não se deve tanto procurar o que Deus possa ter dito, mas antes sopesar o motivo pelo qual o tenha dito. Com efeito todos os livros, na sua integridade, que a Igreja recebe como sagrados e canônicos em todas as suas partes, foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo, e, portanto, é impossível que a inspiração divina contenha algum erro, que ela, pela sua própria natureza, não somente exclui até o mínimo erro, mas o exclui e rejeita tão necessariamente, como necessariamente Deus, verdade suma, não pode, da maneira mais absoluta, ser autor de algum erro.

Essa é a antiga e constante fé da Igreja, definida também com sentença solene pelos Concílios Florentino e Tridentino e, finalmente, confirmada e declarada mais expressamente no Concílio Vaticano [I] que assim decretou, da maneira mais absoluta: “É preciso ter como sagrados e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, como são elencados pelo decreto do mesmo Concílio (Tridentino) e como se encontram na antiga edição [da] Vulgata latina. E a Igreja os tem como sagrados e canônicos, não porque, compostos unicamente pelo talento humano, tenham sido depois aprovados por sua autoridade, e tampouco pelo simples fato de conter a revelação sem erros, mas porque tendo sido escritos sob a inspiração do Espírito Santo, têm Deus como autor”. Por isso não tem valor aqui dizer que o Espírito Santo teria tomado alguns homens como instumentos para escrever, como se algum erro possa ter escapado não certamente ao autor principal, mas aos escritores inspirados. (…) Conseqüentemente deriva que os que admitem que nos lugares autênticos dos Livros sagrados se possa encontrar algum erro, certamente estes ou pervertem a noção católica da inspiração divina ou fazem o próprio Deus autor do erro. Todos os Padres e doutores estavam de tal modo convencidos [de] que as Cartas divinas, assim como foram compostas pelos hagiógrafos, estão absolutamente imunes de todo erro, que não poucos daqueles trechos que parecem apresentar alguma coisa de contrário ou diverso (isto é, quase os mesmos trechos que agora são propostos como objeções sob o nome de ciência nova) procuraram de maneira não menos sutil e religiosamente compô-los e conciliá-los entre si, professando à humanidade que aqueles livros, quer inteiramente, quer nas suas partes singulares, eram igualmente inspirados divinamente e que o próprio Deus que falou por meio dos autores sagrados não pôde absolutamente inspirar algo falto de verdade. Sirva para todos o que o próprio Agostinho escrevia a Jerônimo: “Eu, com efeito, confesso à tua benevolência que aprendi a prestar tal veneração e honra somente aos livros das Escrituras, que já são chamados canônicos, e que creio firmissimamente que nenhum dos seus autores tenha cometido erro algum ao escrever. E se, por acaso, encontrasse neles alguma coisa que parecesse contrária à verdade, não tenho a mínima dúvida de que isso dependa ou do códice defeituoso, ou do tradutor que não interpretou retamente o que foi escrito, ou que a minha mente não conseguiu entender” (PD, 41-42).

– Não obstante, o verdadeiro sentido das Escrituras Sagradas encontra-se nos modos de dizer próprios dos tempos e lugares nos quais foram escritos os diferentes livros sagrados. Ensina Pio XII: «Ora, qual o sentido literal de um escrito, muitas vezes não é tão claro nas palavras dos antigos orientais como nos escritores do nosso tempo. O que eles queriam significar com as palavras não se pode determinar só pelas regras da gramática e da filologia, nem só pelo contexto; o intérprete deve transportar-se com o pensamento àqueles antigos tempos do Oriente, e com o auxílio da história, da arqueologia; etnologia e outras ciências, examinar e distinguir claramente que gêneros literários quiseram empregar e empregaram de fato os escritores daquelas épocas remotas. De fato os antigos orientais, para exprimir os seus conceitos, nem sempre usaram das formas ou gêneros de dizer de que nós hoje usamos; mas sim daqueles que estavam em uso entre os seus contemporâneos e conterrâneos. (…) Nenhum dos modos de falar de que entre os antigos e especialmente entre os orientais se servia a linguagem para exprimir o pensamento, pode dizer-se incompatível com os Livros Santos, uma vez que o gênero adotado não repugne à santidade e verdade de Deus. Advertiu-o já o doutor angélico com a sua costumeira perspicácia por estas palavras: “Na Escritura as coisas divinas nos são apresentadas ao modo usual, humano”. Como o Verbo substancial de Deus se fez semelhante aos homens em tudo “exceto o pecado”, assim também a palavra de Deus expressa em línguas humanas assemelhou-se em tudo à linguagem humana, exceto o erro» (DAS 20).

– Portanto, «não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo falando de coisas físicas “se atém ao que aparece aos sentidos” como escreveu o Angélico, exprimindo-se “ou de modo metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação ordinária mesmo pelos maiores sábios.” De fato “não era intenção dos escritores sagrados, ou melhor – são palavras de santo Agostinho [-] do Espírito Santo que por eles falava, ensinar aos homens essas coisas – isto é, a íntima constituição do mundo visível – que nada importam para a salvação”. Esse princípio “deverá aplicar-se às ciências afins, especialmente à história”, isto é, refutando “de modo semelhante os sofismas dos adversários” e defendendo das suas objeções a verdade histórica da Sagrada Escritura. Nem pode ser taxado de erro o escritor sagrado, “se aos copistas escaparam algumas inexatidões na transcrição dos códices” ou “se é incerto o verdadeiro sentido de algum passo”» (DAS 3).

– Por fim, cabe lembrar que «a Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita» (Dei Verbum, 12); e, portanto, «não menos atenção se deve dar, na investigação do recto sentido dos textos sagrados, ao contexto e à unidade de toda a Escritura, tendo em conta a Tradição viva de toda a Igreja e a analogia da fé» (id. ibid). O Magistério da Igreja permanece a única instância competente para precisar, sem possibilidade de erro, o verdadeiro sentido [de qualquer parte] das Sagradas Escrituras.

“O trabalho dignificado” – Dom Fernando Rifan

[Mais um dos excelentes artigos semanais de D. Fernando Rifan. À véspera do Primeiro de Maio, vale a pena refletir sobre o papel do trabalho humano dentro de uma antropologia de cunho cristã: ele não tem nada a ver com uma relação do tipo “oprimido-opressor” de dicotomia tão simples quanto errônea, e nem se reduz à maldição que nos foi lançada após o pecado dos nossos primeiros pais. O trabalho é participação na obra de Deus de criação e manutenção do mundo, e é – também – sob esta ótica que ele precisa ser encarado. Não apenas como “um” meio de santificação, mas como o meio que a Providência escolheu para que a maior parte de nós se santificasse. Que São José possa interceder por nós e providenciar.]

O TRABALHO DIGNIFICADO

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

 

Dia 1º de maio celebramos a festa de São José operário, patrono dos trabalhadores. Desejoso de ajudar os trabalhadores a santificar o seu dia, já mundialmente comemorado, o Papa Pio XII instituiu a festa de São José operário, modelo do trabalhador. De origem nobre da Casa de Davi, ganhando a vida como simples carpinteiro, São José harmoniza bem a união de classes que deve existir em uma sociedade cristã, onde predominam a justiça e a caridade.

O trabalho é obra de Deus. Deus, ao criar o homem, colocou-o no jardim do Éden para nele trabalhar. O trabalho existe, portanto, antes do pecado. Depois deste, passou a ter a conotação de penitência, pois adquiriu uma nota de dificuldade e o necessário esforço para desempenhá-lo: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3,19).

Assim, o trabalho tem o aspecto natural necessário para o nosso sustento e o aspecto adicional de penitência, pois ele contraria nossa tendência, exacerbada pelo pecado, à preguiça e ao relaxamento. O trabalho é algo muito digno e nobre, seja ele qual for, desde que seja honesto e nos encaminhe para Deus, seu autor.

O trabalho é também expressão do amor.  “A expressão quotidiana deste amor na vida da Família de Nazaré é o trabalho. O texto evangélico especifica o tipo de trabalho, mediante o qual José procurava garantir a sustentação da Família: o trabalho de carpinteiro. Esta simples palavra envolve toda a extensão da vida de José. Para Jesus este período abrange os anos da vida oculta, de que fala o Evangelista, a seguir ao episódio que sucedeu no templo: «Depois, desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso» (Lc 2, 51). Esta submissão, ou seja, a obediência de Jesus na casa de Nazaré é entendida também como participação no trabalho de José. Aquele que era designado como o ‘filho do carpinteiro’, tinha aprendido o ofício de seu ‘pai’ adotivo. Se a Família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas, é-o analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro. Na nossa época, a Igreja pôs em realce isto mesmo, também com a memória de São José Operário, fixada no primeiro de maio. O trabalho humano, em particular o trabalho manual, tem no Evangelho uma acentuação especial. Juntamente com a humanidade do Filho de Deus ele foi acolhido no mistério da Encarnação, como também foi redimido de maneira particular. Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o trabalho humano do mistério da Redenção” (B. João Paulo II, Ex. Apost. Redemptoris Custos).

“Trata-se, em última análise, da santificação da vida quotidiana, no que cada pessoa deve empenhar-se, segundo o próprio estado, e que pode ser proposta apontando para um modelo accessível a todos: São José é o modelo dos humildes, que o Cristianismo enaltece para grandes destinos; é a prova de que para serem bons e autênticos seguidores de Cristo não se necessitam grandes coisas, mas requerem-se somente virtudes comuns, humanas, simples e autênticas.”

                                 *Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

A tortura, a Moral, a Santa Inquisição, o Magistério, o Catecismo e muito mais

Gostaria de fazer referência a um texto muito bom traduzido pelo Acies Ordinata e ontem publicado. E trata-se de uma interessantíssima situação: por um lado concordo inteiramente com a motivação do artigo, de refutar pretensas “contradições” no Magistério pré-conciliar para fazer frente aos tradicionalistas não-sedevancatistas. No entanto, e como sabem todos os que me lêem, discordo visceralmente da posição sedevacantista, adotada pelo autor do artigo e por seu tradutor.

E publico este post também por outro motivo: na introdução do referido texto acima, é feita uma menção a um excerto do livro do João Bernardino Gonzaga aqui publicado recentemente, na qual insinua-se constituir este uma espécie de defesa de uma contradição no Magistério da Igreja no tocante ao tema da tortura. Quanto a isso, (1) não posso falar com certeza pela posição de J. B. Gonzaga, mas a mim não me parece que ele adopte esta posição; e (2) por mim, de quem posso falar com segurança, quero deixar claro que nunca pretendi afirmar nem insinuar que o Magistério Se houvesse contradito no tema da tortura, mas tão-somente, por um lado, afirmar, do ponto de vista católico, que a tortura empregada pela Inquisição possuía uma série de características que a distinguiam quer da tortura dos nossos tempos, quer daquela praticada no contexto onde surgiram os tribunais do Santo Ofício; e, por outro lado, do ponto de vista anti-clerical, pôr a descoberto o gritante anacronismo – mesmo prescindindo de um ponto de vista espiritual – que existe na condenação simpliciter da Santa Inquisição por conta do emprego da tortura.

Eu não me recordo de já ter dito isso aqui expressamente, mas já disse em conversas privadas que não julgava a tortura “intrinsecamente má” – mas, ao contrário, dependente quer de sua definição, quer das contingências históricas concretas. De fato, o Catecismo da Igreja Católica diz quanto segue sobre o assunto:

2297. Os raptos e o sequestro de reféns espalham o terror e, pela ameaça, exercem intoleráveis pressões sobre as vítimas. São moralmente ilegítimos. O terrorismo ameaça, fere e mata sem descriminação; é gravemente contrário à justiça e à caridade. A tortura, que usa a violência física ou moral para arrancar confissões, para castigar culpados, atemorizar opositores ou satisfazer ódios, é contrária ao respeito pela pessoa e pela dignidade humana. A não ser por indicações médicas de ordem estritamente terapêutica, as amputações, mutilações ou esterilizações directamente voluntárias de pessoas inocentes, são contrárias à lei moral (63).

2298. Nos tempos passados, certas práticas de crueldade foram comummente adoptadas por governos legítimos para manter a lei e a ordem, muitas vezes sem protesto dos pastores da Igreja, tendo eles mesmos adoptado, nos seus próprios tribunais, as prescrições do direito romano sobre a tortura. A par destes factos lastimáveis, a Igreja ensinou sempre o dever da clemência e da misericórdia; e proibiu aos clérigos o derramamento de sangue. Nos tempos recentes, tornou-se evidente que estas práticas cruéis não eram necessárias à ordem pública nem conformes aos direitos legítimos da pessoa humana. Pelo contrário, tais práticas conduzem às piores degradações. Deve trabalhar-se pela sua abolição e orar pelas vítimas e seus carrascos.

Catecismo da Igreja Católica

O Catecismo Romano, ao que me consta, silencia sobre o assunto. E a posição do atual Catecismo, contextualizada nos tempos em que vivemos, é no meu entender indistinguível daquilo que já havia sido dito por Pio XII (apud J.S. DALY, Pretensas Contradições do Magistério – Tortura e muito mais!, 2005; trad. br. por F. Coelho, São Paulo, blogue Acies Ordinata, abr. 2010, http://wp.me/pw2MJ-q2):

A instrução judiciária deve excluir a tortura física e psíquica e a narco-análise, antes de tudo porque lesam um direito natural mesmo se o acusado é realmente culpado, e além disso porque com demasiada frequência dão resultados errôneos

Ora, não havendo – como reconheço não haver, pelos motivos muito bem explicados no texto do Daly – contradições entre a Ad Exstirpandam e o Papa Pio XII, segue-se que também não as há entre estes dois textos e o Catecismo da Igreja publicado em 1992.

Reproduzo também, por fim, o trecho do referido artigo onde é feita menção ao Theologia Moralis de Santo Afonso de Ligório sobre o tema:

Convém abrir um livro sério de teologia moral e estudar um pouco o pensamento da Igreja sobre a tortura. Quem escolher Santo Afonso (Theologia Moralis, livro V, [art. III] nn. 202-5 – é o livro de teologia moral mais aprovado) aprenderá que a tortura é intrinsecamente ilícita salvo em certas condições extremamente limitadas:

1. A culpabilidade deve já ter sido estabelecida com certeza moral;

2. O sofrimento aplicado não deve ser insuportável a ponto de fazer até mesmo um inocente se acusar;

3. Numerosas categorias de pessoas estavam isentas de toda a tortura;

4. Toda a confissão assim obtida era inutilizável a menos que fosse livremente confirmada, sem tortura, no dia seguinte;

5. Se a tortura não obtivesse resultado, não se poderia recorrer a ela novamente.

Aí estão as condições de trabalho da Inquisição. Encontram-se expostas de modo similar no célebre Malleus Maleficarum. Ora, visivelmente, aquilo que Nicolau I condena não se assemelha a isso em nada. E a leitura do contexto das palavras de Pio XII confirma que tampouco ele falava de um tal uso da tortura. “Não é raro que elas cheguem exatamente às confissões almejadas e à condenação do acusado, não por ser ele culpado de fato, mas por sua energia física e psíquica estar esgotada…” A regra que Pio XII deseja ver imposta é a de Nicolau I. Ele não fala de maneira alguma de um emprego da tortura tão limitado e condicionado, a ponto de ela não ser contrária à lei moral, e no qual ninguém mais pensa.

Ressalto, finalmente, que a referência a estas condições limitadas está presente – embora não de maneira tão esquemática – no texto do J. B. Gonzaga aqui reproduzido anteriormente. E, somente como aviso aos navegantes (e antecipando as pedradas que virão), é óbvio que nem eu, nem o J. S. Daly e nem o Felipe Coelho estamos fazendo apologia da tortura ou propondo uma lei de iniciativa popular que a re-introduza no ordenamento jurídico brasileiro. Quem entender semelhante coisa, peço por gentileza que releia este texto e todos as referências antes de vir aqui com comentários indignados e descabidos.

Curtas

Oração de Pio XII pelos sacerdotes. “Concedei-lhes, oh Senhor, desprendimento de todo o interesse terreno e que só busquem a vossa maior glória. Concedei-lhes ser fieis às suas obrigações com a pura consciência até ao posterior alento”. Convém rezarmos. Que nos empenhemos em pedir ao Altíssimo pela santificação do clero.

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– Sobre o feriado nacional muçulmano-cristão libanês, no IHU e na Canção Nova. O texto é o mesmo. A parte referente ao Papa: “Recebido em audiência pelo Papa Bento XVI em 21 de fevereiro, logo depois do decreto de criação da festa islamo-cristã, o primeiro-ministro aproveitou seu compromisso a favor da coexistência pacífica entre cristãos e muçulmanos. Os dois chefes de Estado fizeram votos para que ‘através da coexistência exemplar das diversas comunidades religiosas que compõem o Líbano, o país continue a ser uma mensagem para a região do Oriente Médio e para o mundo inteiro'”.

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O Tigre confessa, do João Pereira Coutinho. “A privacidade; a existência de um espaço meu e dos meus, onde a multidão não entra, é talvez a maior conquista da civilização judaico-cristã. Destruir essa barreira sempre foi e sempre será o princípio da tirania”.

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El coma andante gosta mesmo é da Nike, sobre a hipocrisia cubana. “A Nike, não custa lembrar, representa um ícone do ‘imperialismo ianque’, segundo os perfeitos idiotas latino-americanos. Quer dizer então que o ditador pode usar símbolos do capitalismo americano numa boa? Além disso, não há um embargo econômico dos Estados Unidos à ilha-presídio? Onde foi que Fidel comprou este uniforme? Será que o povão cubano, o gado bovino de propriedade dos irmãos Castro, pode comprar um desses também?”. E o Lula lá. Ao lado do ditador. Enquanto um cubano morria após quase três meses de greve de fome.

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“Alcides morreu porque era um negro”. Data maxima venia, senhores sacerdotes, NÃO. Não morreu porque era negro. Não são só os negros que morrem injustamente. Este assassinato específico não teve nada a ver com racismo. Não foi este o porquê da sua morte. Por favor, não desonrem a  memória do meu conterrâneo transformando a tragédia em uma versão racista imbecil da luta de classes socialista.

Alcides morreu por causa do descaso das autoridades públicas com a segurança, porque o Brasil é um país violento, onde os marginais não são punidos como deveriam e onde a população de bem não pode se proteger e nem tem quem a proteja. Aliás, dos dois criminosos que assassinaram Alcides, um é ex-presidiário e o outro, por ser de menor, vai para uma unidade da “Fundação de Atendimento Socioeducativo” – nem sei por quanto tempo, provavelmente por um ou dois anos, e depois vai voltar às ruas. Este é o problema, senhores sacerdotes, e não a cor da pele do meu amigo.

Mais Igreja, mais Nazismo

Às vezes, eu fico pensando se vale a pena continuar insistindo contra uma evidente incapacidade ou má-fé intelectual. Refiro-me à tréplica da UNA sobre a Igreja e o Nazismo, em resposta a um post aqui publicado na semana passada. Alegra-me muito ver o Deus lo Vult! ser chamado de “blog ultracatólico”, honra que não mereço – mesmo o pessoal da UNA usando a expressão em sentido pejorativo.

Alegrias à parte, no entanto, vamos nos deter sobre os “argumentos” utilizados pelos unidos ateus brasileiros. Basta dizer que eles parecem não saber o que é uma petição de princípio, por mais elementar que seja a maneira como ela se apresente. Por exemplo: eu afirmei “que a presença do Papa junto a autoridades políticas quaisquer não significa, sob ótica nenhuma, um apoio irrestrito a estas autoridades”. Dei um exemplo de João Paulo II junto a Fidel Castro. Os ateus – pasmem! – responderam que “a igreja nunca foi pilar da revolução cubana”.

Oras, e por acaso a Igreja foi pilar do regime nazista? Esta é precisamente a tese dos ateus. No entanto, eles não parecem dispostos a prová-la; assumem-na como um a priori indiscutível e argumentam para demonstrá-la como se já estivesse demonstrada, num claro raciocínio circular da pior qualidade possível. Dá para continuar debatendo com gente assim?

O resto do blá-blá-blá (que o Papa visitou a Nicarágua, o Chile, etc) é somente blá-blá-blá que nem tem nada a ver com o assunto ora em discussão (Igreja e Nazismo), nem modifica um milímetro o argumento apresentado, contra o qual os ateus somente conseguiram levantar uma Petitio Principii grosseira.

Foi dito, também, que o homem que aparece com Hitler na foto não é o então cardeal Pacelli, mas sim o núncio Cesare Orsenigo. Quem identifica o homem da foto com o cardeal Pacelli são, entre outros, os sites Segunda Guerra.org e Enciclopedia.pt. Se esta foto não é do cardeal Pacelli ou se não existe nenhuma foto do cardeal Pacelli com Hitler, não faz diferença para o argumento (aliás, o negócio fica ainda mais feio para os detratores da Igreja…); o meu ponto é que é perfeitamente possível que haja tal foto (como há uma foto de João Paulo II com Fidel Castro) sem que isto implique em nenhum apoio da Igreja ao regime nazista. Um encontro do núncio apostólico com o ditador nazista não significa que a Igreja apóie o nazismo.

Sobre a “saudação socialista” eu nem vou comentar, porque o pressuposto aqui – de que seja necessário fazer “saudação” nazista ou socialista ou anarquista ou que seja, para que o fulano seja de fato nazista, ou socialista, ou anarquista ou o escambau – é simplesmente sem nenhum sentido. Do fato dos ateus unidos do Brasil não terem vistos padres fazerem uma desconhecida saudação socialista, não segue que tais padres não sejam socialistas.

E, considerando que haja padres socialistas, não segue que a Igreja apóie o socialismo. Querer postular a inexistência de padres socialistas (como faz a UNA) simplesmente porque não há padres fazendo o gesto com a mão fechada que eles desenterraram é simplesmente falso, contrário às evidências, inconcebível para qualquer pessoa que mantenha um mínimo de senso de realidade. Sim, há padres socialistas, sim, houve padres nazistas, não, a Igreja não apóia o socialismo e não, a Igreja não apoiou o Nazismo.

Queixa-se ainda a UNA da ausência de punição aos nazistas. E, para completar a piada: “ao contrário dos padres ‘moderninhos'”. Gostaria muitíssimo que a UNA elencasse os padres “moderninhos” que foram excomungados pelo Vaticano. O fato é que entre “ausência de punição” e “apoio irrestrito” vai uma distância enorme, à qual os ateus fazem vista grossa para poderem atacar a Igreja. De novo uma petição de princípio, porque o argumento subjacente a esta elucubração é: “a Igreja não puniu os padres nazistas porque apoiava o nazismo”. De novo: que a Igreja apoiasse o nazismo é exatamente a tese dos ateus, que precisa ser provada, e não utilizada como premissa para se provar a si mesma.

E vejam como é engraçada a “história enviesada” que os ateus contam: falam do cardeal de Viena, Theodore Innitzer, que saudou o Anschluss e pronunciou um sonoro Heil Hitler. No entanto, não contam o resto da história: que o cardeal Pacelli obrigou o cardeal Innitzer a voltar a Roma para prestar contas de sua declaração, que ele foi obrigado a assinar uma retratação (publicada em L’Osservatore Romano), e que a casa do cardeal foi invadida pelos nazistas após isso. Acaso pode-se dizer, em sinceridade de consciência, que uma atitude destas é exemplo de apoio da Igreja ao Nazismo? Ou os ateus só “pescam” da história aquilo que lhes convém, varrendo para debaixo do tapete todo o resto?

Outro exemplo: reclamaram os ateus que 1930 (ano em que uma diocese alemã condenou formalmente o nazismo) era “muito cedo”. A Mit Brennender Sörge é de 1937, e já apareceu ateu aqui para dizer que era “muito tarde”, pois nessa época a Alemanha já havia perdido a Segunda Guerra (!). E o apoio da Igreja ao nazismo nos entreatos, onde é que está? Está somente nas premissas dos ateus. Só nas grosseiras petições de princípio. Quando são pedidos para apresentarem provas de que a Igreja apoiou o nazismo, eles simplesmente não as apresentam: ficam só nos padres que fizeram Heil Hitler, na (suposta) ausência de condenações, nas fotos de autoridades eclesiásticas com Hitler e ministros do Reich, etc., etc. O resto, eles simplesmente ignoram. Pode ser levado a sério este jeito incrível de se fazer história?

Sobre o Zentrum, o negócio fica ainda pior. Em primeiro lugar, em 1933 (ano da assinatura da Concordata) não havia “regime nazi” nos moldes de uma ditadura, como o Nazismo é conhecido hoje. Não havendo ditadura, portanto, não há também “o reconhecimento diplomático do regime nazi pelo Vaticano”. E, por fim, é simplesmente falso que, com a Concordata, a “Igreja aceitou cooperar com Hitler e fechar os olhos para os abusos cometidos por ele” – isto não se encontra no texto da concordata e nem em lugar nenhum. É somente mais uma petição de princípio.

E ainda mais uma: dizem os ateus que “[o] livro de Cornwell [o Papa de Hitler] é ambíguo, coloca a igreja como vilã e coitada em certos momento”. Oras, então o livro dá margem para dizer que Pio XII foi o Papa de Hitler e também que ele foi o Papa Anti-Hitler. No entanto, na lógica dos ateus, já que a Igreja apoiou o Nazismo, são somente as partes nas quais a Igreja é apresentada “como vilã” que são fidedignas no relato do Cornwell. Não é assim que se faz história, afinal de contas?

Após os intermináveis raciocínios circulares e histórias contadas pela metade da União Nacional dos Ateus, resta somente uma curiosidade que eu sempre tive: onde estavam os ateus durante o regime nazista e a Segunda Guerra Mundial? Já que perguntar não ofende, quais foram as ações que eles, em grupo ou individualmente, tomaram durante o III Reich?

Mais sobre Nazismo

Como o pessoal da UNA parece não ter o que fazer, resolveram ressuscitar um post do Deus lo Vult! de mais de três meses atrás, falando (a UNA) sobre as hipocrisias e as mentiras religiosas no tocante à atuação da Igreja Católica durante o III Reich.

Os “argumentos” dos ateus resumem-se, quase todos, a ironias infantis e sem graça do tipo “a igreja é inocentinha… nunca foi comparsa dos nazis…” e outras besteiras.

Por exemplo: é óbvio que a presença do Papa junto a autoridades políticas quaisquer não significa, sob ótica nenhuma, um apoio irrestrito a estas autoridades. Assim, por exemplo, João Paulo II foi a Cuba e se encontrou com Fidel Castro, e tem foto dos dois juntos. Isso significa, por acaso, que a Igreja apóia o comunismo cubano?

Quando isto foi comentado, o assunto era uma famosa foto em que Pio XII, então ainda Cardeal Pacceli, aparece junto com Hitler. O contra-argumento da UNA é o seguinte: “curiosamente não vi estes padres fazendo saudação socialista”. Resta explicar qual seria a “saudação socialista” que eles estavam esperando ver. Ademais, eu também não vi o cardeal Pacelli fazer Heil Hitler.

Quanto ao fato de que houve católicos, inclusive padres e bispos, que apoiaram o regime de Hitler, nós não o negamos. Apenas repetimos o óbvio: isto é a posição particular destes católicos, e não da Igreja. Os padres acaso faziam Heil Hitler em obediência a alguma ordem da Igreja? Onde está essa ordem? Onde está a bula papal ou o decreto da Congregação para os Bispos que determina que os padres façam saudações nazistas sempre que virem passar os oficiais de Hitler?

Engraçado também é o seguinte: “três anos antes que Adolf Hitler subisse ao poder, a arquidiocese de Mogúncia condenou de forma pública o Partido Nazista”, e isto simplesmente não é levado em consideração pelos detratores da Igreja. “Ah”, dirão os anti-clericais raivosos, “isto é somente uma diocese pequena dentro da Alemanha, e esta condenação nunca foi tornada oficial para a Igreja como um todo”. Ué, e daí? E quando acusam a Igreja de cumplicidade com o Nazismo ostentando, aos borbotões, as fotos de clérigos simpatizantes do Nazismo, que não chegam nem mesmo a ser a posição oficial de uma Diocese minúscula? Por que usam dois pesos e duas medidas?

Outrossim, a Reichskonkordat não fala, em nenhum momento, em “Nazismo”, em “Nacional-Socialismo”, em permissão para que os católicos votem em partidos nazistas, nem em nada do tipo. Trata de alguns direitos da Igreja em território alemão. Aliás, quando ela foi assinada, nem havia ainda o Nazismo como um sistema político totalitário, que só se configurou no ano seguinte, em 1934 – e esta informação encontra-se até mesmo na Wikipedia. Qual é, portanto, a relação da Concordata com os descalabros nazistas?

Um argumento do mesmo nível seria o seguinte: o Vaticano assinou recentemente uma concordata com a República Federativa do Brasil, e o governo brasileiro é a favor do aborto. Ergo, deveria dizer um ateu, a Igreja apóia o aborto. Mas ele não ousa expôr este sofisma tão cretino… por quê? De novo, dois pesos e duas medidas. Esta é a honestidade atéia.

Por fim, e a título de curiosidade, vale a pena ler esta seleção de frases tiradas do insuspeito “O Papa de Hitler” de Cornwell, entre as quais destaco:

[A]pesar das confiantes declarações de Hitler, o VATICANO não era absolutamente favorável ao Partido nazista. A Santa Sé não endossava o nazismo implícito ou explícito do nacional socialismo.

[…]

Os nazistas consideraram a encíclica [Mit Brennender Sorge] como um ato subversivo. As empresas que colaboraram na impressão do documento foram fechadas, muitos dos seus empregados foram presos.

[…]

L’Osservatore Romano é condenado pelos fascistas, exemplares destruídos, jornaleiros espancados. Finalmente Pacelli foi emboscado em Roma, em conseqüência ele tornou-se um prisioneiro voluntário dentro do Vaticano.

[…]

[O] plano de Hitler [sobre isto, vejam também aqui] para seqüestrar Pacelli…

Eis o Papa de Hitler! Os ateus, para serem coerentes, deveriam acrescentar mais uma acusação à Igreja Católica: que Ela, além de apoiar o Nazismo, era radicalmente masoquista.

Duas de ZENIT

Presidente da CNBB destaca vitalidade da Igreja no Brasil. “Dom Geraldo recordou que Bento XVI, ‘em um encontro que tivemos recentemente’, disse que ‘a Igreja no Brasil possui uma extraordinária vitalidade, e por isso nós louvamos a Deus'”.

Não sei o que o Papa disse, nem quando, nem onde. Não sei a quê, exatamente, o Sumo Pontífice se referia. No entanto, as declarações feitas pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil simplesmente não condizem com a realidade brasileira ou, quando condizem, não são sinais de “vitalidade”, senão de decrepitude.

Tal vitalidade estaria expressa “na multiplicidade de iniciativas das pastorais específicas, dos movimentos eclesiais, do vigor de nossas dioceses, da riqueza de nossas comunidades”. Que pastorais? A CPT que apóia vândalos? O CIMI que é conivente com o infanticídio indígena? A da DST/AIDS, que é “mais tolerante” em matéria sexual do que o Vaticano? “Multiplicidade”, sem dúvidas, mas isso sozinho não significa qualidade; um corpo cheio de múltiplas doenças não possui vigor nem vitalidade.

E mais: este “vigor” da Igreja no Brasil seria fruto “do esforço imenso de integração e de unidade pastoral que representa a CNBB” e da “credibilidade de que goza a Igreja Católica no Brasil”! De que a CNBB se esforça, não há dúvidas. Que tais esforços sejam realmente direcionados para a maior glória de Deus, a salvação das almas e a exaltação da Santa Madre Igreja, é extremamente discutível, para dizer o mínimo. Quanto à Sua “credibilidade”, basta ver como os poderes públicos e a imprensa tratam a Igreja. Basta ver a consideração com a qual foi recebida a posição católica no caso das CTEHs, ou no do aborto da menina de Alagoinha…

Após esta notícia nonsense, no entanto, leio uma que é muito boa: foram encontrados filmes que revelam a ajuda de Pio XII às vítimas da II Guerra Mundial. Excelente! Quero-os no youtube.

É possível ver “a residência de Castel Gandolfo, aberta aos refugiados”; “como o Papa converteu as grandes salas do palácio apostólico em dormitórios para mulheres e crianças refugiados”; “as imagens da Praça de São Pedro e da Basílica de São João de Latrão, onde por indicação do Papa se criaram refeitórios para dar de comer à população que atravessava a penúria da guerra”. Os anti-clericais fazem um tremendo estardalhaço histérico quando exibem fotos de prelados saudando Hitler. Gostaria muitíssimo de saber o que vão fazer quando virem a casa do Papa cheia de refugiados de guerra.