Curtas: divórcio no Brasil, medidas pró-vida, Dom Evaristo Arns e o esvaziamento das igrejas, erro médico salva bebê

Brasil tem recorde de divórcios em 2011. «O número de divórcios chegou a 351.153, um crescimento de 45,6% em relação a 2010, quando foram registrados 243.224».

A razão? Naturalmente, o afrouxamento das exigências para o divórcio. «Conforme a pesquisa, um dos fatores foi a mudança na Constituição Federal em 2010, que derrubou o prazo para se divorciar, tornando esta a forma efetiva de dissolução dos casamentos, sem a etapa prévia da separação».

Pode-se argumentar que estas pessoas já não estavam vivendo um “casamento de verdade” mesmo, e que o fim do prazo legal para o divórcio só fez diminuir a burocracia necessária para regulamentar de direito uma situação que já existia de fato. Data venia, discordo. Casamento tem muito mais a ver com responsabilidade do que com os cônjuges “sentirem-se bem”, “amarem-se romanticamente” ou qualquer outro critério subjetivo do tipo. O casamento existe enquanto não se desiste dele; e conferir facilidades à desistência conjugal, longe de meramente regulamentar uma situação de fato, é contribuir positivamente para o fim do casamento – e, por conseguinte, para a banalização de um dos pilares necessários à vida em sociedade.

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– É antiga, mas merece dois tostões: “Proibir o aborto está longe de ser uma medida pró-vida”. «Eu nunca vou chamar de “pró-vida” alguém que faz piquete contra o programa Planned Parenthood e que faz lobby contra as leis relacionadas ao controle de armas regido pelo senso comum».

O que dizer? São comparações descabidas em cima de comparações descabidas! Ninguém é a favor da destruição ambiental ou do morticínio por armas de fogo. As bandeiras são pelo (verdadeiro!) desenvolvimento sustentável, que resguarda a primazia do homem na escala de valores da natureza, e pelo exercício do direito à legítima defesa, que dá a cada um a capacidade de proteger a si próprio e aos seus. Ao contrário, o aborto é a destruição direta de um ser humano. Causa espécie que existam pessoas incapazes de distinguir entre um espantalho e uma reivindicação literal!

Bem característico da qualidade argumentativa do texto é este período aqui: «O respeito pela santidade da vida, se você acredita que ela começa no momento da concepção, não pode terminar no nascimento». Oras, em primeiro lugar, ninguém “acredita” que a vida começa na concepção. Nós sabemos, com sólido e inabalável fundamento científico e filosófico, que a união dos gametas masculino e feminino produz um novo ser, distinto da mãe e pertencente à espécie humana. Isto é um fato, não uma coisa na qual se “acredita”. Se os “pro-choice” defendem que certos seres humanos são mais passíveis de proteção do que outros, que assumam abertamente as suas posições. Mas não venham querer jogar fatos objetivos e incontestes para o cômodo terreno das crendices e opiniões.

Em segundo lugar, é bastante óbvio que ninguém que é contra o aborto afirma que os cuidados com o ser humano devam terminar no momento do nascimento: isto é só mais um espantalho grosseiríssimo do sr. Thomas Friedman. Mas para quem tem o admirável dom de escrever um texto falacioso do primeiro ao último parágrafo, tal sofisma deve brotar com a naturalidade de um cacoete involuntário e incontrolável. Talvez ele nem perceba; mas isso, embora possa talvez escusá-lo da patifaria intelectual, não transforma esta tagarelice em argumento que deva ser levado a sério.

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– Dom Evaristo Arns admite que suas homilias esvaziavam a igreja. Simplesmente faço coro [p.s.: ao trecho abaixo que é d’O Catequista, e não de D. Arns]:

O crescimento das igrejas evangélicas se deu, em grande parte, graças ao bla-bla-blá marxista dos padres da Teologia da Libertação. O fiel ia pra paróquia querendo ouvir palavras de vida eterna, e, em vez disso, tinha que aturar um sermão enfadonho contra o “capetalismo”, sobre os oprimidos etc. (tudo muito teórico e distante da realidade do povo, pra variar). Um belo dia, cedendo ao convite de um amigo crente, o sujeito resolvia dar uma passadinha no culto, e o que ele via? Um pastor falando das coisas de Deus, falando de Cristo, explicando as coisas da Bíblia… Opa, finalmente!

E aí, entre uma paróquia transformada em filial do partido comunista e uma igrejola cheia de gente histérica, mas que, ao menos, ainda lembra que Jesus existe, com quem vocês acham que o povo simples fechava?

Estes resultados são tão deprimentes quanto previsíveis. O povo simples tem sede de Deus e, portanto, não se deixa engabelar facilmente pelo materialismo grosseiro e estéril da Teologia da Libertação. Foram às seitas protestantes para beber água suja, sim, mas muitas vezes forçados pelas circunstâncias eclesiásticas católicas – onde nem sequer água barrenta lhes davam. Foram à pocilga comer o farelo dos porcos porque, para vergonha nossa, nas paróquias só lhes davam pedras para comer.

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Erro médico salva bebê prematuro. Há «um código ético seguido pelos hospitais do Reino Unido que diz que os médicos não devem se esforçar para manter vivos esses bebês prematuros». E então aconteceu o seguinte:

Mas Maddalena sobreviveu, e, quando foi pesada, a balança marcou 1 libra (aproximadamente 453 gramas), número considerado razoável que fez com que os médicos decidissem agir para mantê-la viva. Acontece que a bebê pesava, na verdade, apenas 382 gramas, e uma tesoura esquecida em cima da balança havia aumentado seu peso. Se não fosse por isso, provavelmente eles teriam seguido o código e deixado os esforços de lado.

Ela sobreviveu e agora já está em casa. Um amigo perguntou que espécie de código de ética é este que proíbe os médicos de se esforçarem para salvar a vida de bebês prematuros; a perplexidade dele é plenamente justificável. É o tecnicismo colocado acima do mais elementar respeito à vida humana frágil e indefesa! E ainda querem nos fazer acreditar que estamos evoluídos. Ao contrário, parece-me bastante óbvio que o progresso moral não acompanhou o extraordinário desenvolvimento técnico que alcançamos. E é claro que a técnica é uma coisa muito boa, mas ela é um meio que se deve orientar ao bem do ser humano. Afinal de contas, se isto for esquecido, de que nos serve a técnica? Mais vale um médico sem perícia e sem tecnologia preocupado em salvar uma criança prematura do que um que, embora possua excelentes habilidades e tecnologia de ponta, prefira deixar um bebê frágil morrer sem cuidados! E a saúde moral de qualquer sociedade está fortemente relacionada ao quanto ela percebe que esta proposição é evidente.

Miscelânea ligeira: eleições, células-tronco, crônicas de um Brasil Comunista e sínodo heterodoxo no RS

– A propósito do comentário que eu fiz aqui mais cedo sobre o terceiro vereador mais votado da cidade do Recife não ter sido eleito (quando o foram outros que tiveram um terço dos votos dele), interessante a coluna do Ramalhete da semana passada, que eu ainda não lera e que fala sobre o mesmo assunto. «As campanhas [eleitorais brasileiras] são pessoais; mais pessoais, impossível. Cada candidato explicita suas propostas, faz suas promessas, beija pessoalmente as bochechas de centenas de criancinhas. Mas o cargo não é dele. É ele que é escolhido; a população percebe a eleição como sendo a escolha de um candidato. O voto dado, contudo, vale mais ou menos de acordo com o coeficiente eleitoral do partido. Um candidato que pertença a um partido pequeno – leia-se um partido que já não esteja no poder – precisa de muito mais votos que um que pertença a um partido grande».

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Homenagem ao japonês Shinya Yamanaka, pesquisador responsável pela descoberta das células-tronco pluripotentes induzidas. «“Se a investigação com células-tronco embrionárias é a única maneira de ajudar os doentes, acho que temos que fazer isso. Mas, ao mesmo tempo, é um sentimento natural, quero evitar a utilização de embriões humanos”, declarou certa vez o professor Yamanaka».

Simples. Agindo de modo a ser impossível acusar-lhe de obscurantista cristão e, ao mesmo tempo, evitando desprezar os limites éticos como infelizmente sói fazer grande parte dos cientistas fundamentalistas irreligiosos, o dr. Yamanaka fez mais pelo avanço da ciência do que todos os bilhões gastos em fraudes políticas, propagandas apelativas enganosas e financiamentos obscuros em pesquisas fadadas ao fracasso. A ele, o nosso obrigado.

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Reconstruindo Cristo no Brasil comunista: e se Luís Carlos Prestes tivesse sido vitorioso na Intentona Comunista? «Prestes veio a falecer em 7 de março de 1990, desapontado com a queda do Muro de Berlim, o Nobel para Gorbachev e o fim do futebol arte. O Cavaleiro da Esperança se tornou o líder mais tempo à frente de um país, 55 anos, recorde imbatível. Seu concorrente direto, Fidel Castro, ficou “míseros” 49 anos. Apenas um político da República do Maranhão, José Sarney, pode ainda quebrá-lo».

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– Congresso dissidente no Brasil equipara o Concílio Vaticano II com a teologia marxista da liberação (!). Mais do mesmo. Mas é bom registrar: «A realização do evento recebeu a desaprovação pública e explícita da Diocese de Ciudad del Este (no Paraguai) liderada por Dom Rogelio Livieres. Em um texto publicado na sexta-feira 5 de outubro afirmam que esta diocese “une-se à preocupação da Santa Sé diante do Congresso Continental de Teologia que se realizar[á] entre os 7 e 11 de outubro no Brasil”». A hegemonia satânica, graças ao bom Deus, começa a ser quebrada. A voz do bom senso, graças ao bom Deus, torna a fazer-se ouvir.

Sobre os recentes dados do IBGE referentes à queda do número de católicos no Brasil

Sobre o último censo do IBGE que mostra uma “queda recorde de fiéis [católicos] no Brasil”, caberia fazer algumas ligeiras observações.

1. Como o Reinaldo apontou, a outra possível leitura dos dados do IBGE é a de que a esmagadora maioria (86,8%) dos brasileiros ainda são cristãos. Cabe, portanto, lembrar o lado cheio do copo.

2. A missão da Igreja Católica não é “ser popular”, e o Seu sucesso é medido pela fidelidade intransigente à Doutrina legada por Seu Divino Fundador – e não por métricas de IBOPE nem por taxas estatísticas de crescimento aplicáveis a empresas ou a bolsa de valores. E, no quesito “fidelidade”, a Igreja de Cristo vai muito bem, obrigado.

3.  Como disse alguém recentemente, a Igreja não está perdendo “fiéis”, e sim infiéis. Os fiéis, graças a Deus, continuam n’Ela. Esta diminuição do número de católicos não implica em uma diminuição da Sua força ou da Sua ação na sociedade porque os que saíram são, precisamente, os que já nada faziam por Ela.

4. A Igreja não tem problema em ser pequena. Historicamente, a propósito, Ela foi minoria (perseguida inclusive) por incontáveis vezes. Mesmo nos momentos de relativa tranqüilidade e de exuberante desenvolvimento do catolicismo, o número de católicos convictos sempre foi e sempre vai ser muitíssimo menor do que o de batizados mais ou menos indiferentes à questão religiosa. A preocupação da Igreja é e sempre foi com a qualidade dos Seus fiéis, e não com a quantidade deles.

5. A evidente maior causa desta diminuição do número de católicos no Brasil é a adoção, por parte de algumas autoridades religiosas, de uma política de “boa convivência” com o mundo que termina degenerando, na prática, na negação da identidade católica. Catolicismo superficial e meloso (= “shows-missa”, “Jesus-amigão”, “fé-auto-ajuda”, etc.) e marxismo putrefato transvestido de doutrina católica (= “Teologia da Libertação”) são os grandes rombos no casco da nau da Igreja no Brasil responsáveis pela maior parte desta sangria de católicos.

6. Com todos os ataques que a Religião Verdadeira sofre nos dias de hoje, o que é verdadeiramente impressionante é que mais da metade dos brasileiros ainda tenham a coragem de se afirmarem católicos diante de um agente do Governo!

Num mundo onde o que é passageiro e efêmero é exaltado quase ao ponto da idolatria (à guisa de exemplo, eu soube recentemente que alguém teve a idéia fantástica de imprimir livros que se auto-destroem (a tinta desaparecendo e as páginas ficando em branco) depois de dois meses), torna-se admirável que ainda haja pessoas dispostas a guardar a Fé legada pelos cristãos dos tempos passados. Contra as tormentas atuais, o que permanece firme como rocha é a clareza daquela promessa de Cristo a São Pedro: non praevalebunt! A cultura do efêmero, por sua própria pregação inconseqüente e irresponsável, há de passar: afirmar isso chega a ser redundante. E então a Igreja há de vicejar novamente sobre os escombros da modernidade falida. Por fim, triunfará o Imaculado Coração da Virgem como Ela prometeu. Façamos cada qual a nossa parte, enquanto esperamos no Senhor. Dias melhores virão, é certo.

Exemplo de idiotice TL: Cristo, o trabalhador rejeitado!

O infame “cantor” Falcão disse certa feita que “a besteira é a base da sabedoria”. A antológica frase – “antológica”, claro está, porque digna de uma anta – é o título de um dos seus álbuns. Ao humorista brasileiro, contudo, a gente pode ao menos dar um desconto e dizer que ele está deliberadamente procurando fazer piada, que ele não leva a sério as bobagens que diz. Coisa muito diferente ocorre quando estamos tratando de uma publicação religiosa de renome e alcance nacional.

Trata-se – sim, é ele de novo – d’O Domingo, semanário litúrgico-catequético da Paulus. Desta vez, eu não vou falar das colunas que são publicadas no final [uma delas, aliás, miraculosamente, está boa: a de D. Angélico Bernardino, que tem por título “sejam santos”], mas da primeira coisa que eu ouvi quando a Missa estava por começar. Trata-se do comentário que, no jornalzinho, encabeça os “Ritos Iniciais”, e que é lido imediatamente antes da procissão de entrada. Ontem isto ressoou dentro da Igreja enquanto os fiéis estavam piedosamente esperando a Santa Missa iniciar. O comentário diz, verbis, o seguinte:

Jesus foi rejeitado em sua própria terra por ser trabalhador e filho de Maria, mulher simples da aldeia de Nazaré. Hoje continua sendo rejeitado em tantas pessoas empobrecidas e excluídas da vida social. Celebrando a sua páscoa, somos convidados a aceitar o fato de que Deus nos fala por meio dos simples, fracos e pobres.

O Evangelho da Missa de ontem é o sexto capítulo de São Marcos (v. 1-6), que fala sobre o profeta que não é aceito em sua terra. Obviamente, há um sem-número de meditações que podem ser feitas a partir desta perícope evangélica; à guisa de exemplo, o Presbíteros traz hoje tanto um roteiro homilético quanto uma homilia de D. Henrique Soares, o Evangelho Quotidiano trouxe ontem algumas palavras do Beato João XXIII sobre o “Filho do Carpinteiro”, há a própria Catena Aurea já citada, etc. Comentários a serem feitos, havia-os aos borbotões. No entanto, O Domingo me sai com esta história de que o problema que os judeus tinham com Nosso Senhor era porque Ele era trabalhador!

Cáspita, como assim Nosso Senhor foi rejeitado por ser “trabalhador”? E Ele deveria ser o quê para que fosse bem aceito, desocupado? E que misteriosa característica proletariofóbica específica dos judeus de Nazaré é esta, uma vez que é especificamente lá (e não em outros lugares) que os Evangelhos narram a rejeição de Cristo? E o que as palavras de Nosso Senhor – sobre um profeta não ser bem aceito em sua terra – têm minimamente a ver com esta suposta rejeição trabalhista com a qual O Domingo quer engabelar os seus leitores?

Os fiéis católicos que vão à Santa Missa não merecem esta idiotice. Eles têm o direito de ouvir a palavra de Deus em sua interpretação autêntica e frutuosa que só a Igreja de Cristo é capaz de fornecer, e não esta baboseira estéril de fazer corar qualquer professor de literatura ou de garantir uma reprovação sumária em qualquer avaliação de interpretação de texto. Os fiéis vão à Igreja porque querem ser edificados pela Doutrina Católica, e não enganados com esta empulhação marxista pseudo-católica já velha e putrefata que se esqueceu de que morreu e insiste em assombrar o mundo.

Veja-se como a ideologia é agora colocada acima da hermenêutica mais elementar: de onde foi tirada esta exegese louca de que Cristo foi rejeitado por ser trabalhador? O quê, no texto ou no contexto, dá margem para que seja feita semelhante inferência? Tudo isto só porque Nosso Senhor foi chamado de “carpinteiro” pelos judeus? Ora, por este modus interpretandi obtuso, a gente pode dizer que Herodíades era uma vegan fanática enrustida e pediu a cabeça de São João Batista porque este cometia o terrível crime de comer os gafanhotinhos que são criaturas de Deus.

E ainda concedendo que houvesse nesta única palavra – “o carpinteiro” – alguma conotação depreciativa (que claramente não se depreende do texto bíblico), há tão farto material a respeito do porquê do Messias não ser aceito e é tão eloqüente – prolixa até – a Doutrina Cristã sobre o assunto que é indiscutivelmente uma falcatrua e uma empulhação querer enquadrar a rejeição de Cristo em Nazaré num esquema estúpido de luta de classes onde os trabalhadores são oprimidos e marginalizados! É verdadeiramente impressionante o volume de besteira que a gente é obrigado a ouvir nesta vida; e  (ao contrário do que o Falcão poderia insinuar) não há nenhuma propriedade transmutadora de alquimia retórica capaz de fazer brotar alguma sabedoria desta infamante miséria intelectual.

Os fantasmas da Teologia da Libertação ainda assombram Campinas; mas os verdadeiros católicos estão atentos e agem rapidamente

Neste sentido, amados Irmãos, vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos[,] de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas seqüelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas. Suplico a quantos de algum modo se sentiram atraídos, envolvidos e atingidos no seu íntimo por certos princípios enganadores da teologia da libertação, que se confrontem novamente com a referida Instrução, acolhendo a luz benigna que a mesma oferece de mão estendida; a todos recordo que «a regra suprema da fé [da Igreja] provém efetivamente da unidade que o Espírito estabeleceu entre a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, numa reciprocidade tal que os três não podem subsistir de maneira independente» (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 55). Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras de Santa Cruz.

Bento XVI,
Ad Limina dos bispos das regionais Sul-3 e Sul-4 da CNBB
5 de dezembro de 2009

Eu já ouvi a história de mais de uma fonte; conto-a de um modo imperfeito, provavelmente confundindo alguns detalhes, mas a reproduzo íntegra em suas linhas gerais. Certa feita, nos idos do Brasil da década de 70 ou 80, um líder de alguma “comunidade oprimida” (índios, ou imigrantes, não lembro bem) foi se reportar a um certo bispo da Teologia da Libertação para informar-lhe de que a sua comunidade estava abandonando a Igreja Católica (que tivera presença atuante por meio das CEBs na tal comunidade) para abraçar alguma seita pentecostal. E justificou: “Excelência, nós agradecemos pela defesa dos nossos direitos, pela consciência política, pelas lutas por condições mais dignas, por tudo isso; mas estamos indo embora porque precisamos de Deus, e aqui não O encontramos”…

Ora, mas acontece que a finalidade da Igreja é a salvação das almas uma a uma, e não outra (como disse o Papa Bento XVI aqui, na Catedral de São Paulo). Uma religião sem Deus não se pode pretender verdadeira religião, uma práxis que não tenha por objetivo principal a salvação das almas e a glória de Deus não se pode pretender católica, uma teologia que promove uma visão de mundo apenas horizontal e natural não se pode pretender legítima teologia da Igreja. Tudo isto me parece bastante evidente.

Eu lembrei da história (e das recentes palavras do Santo Padre que vão em epígrafe) quando li um artigo recentemente publicado no site da Arquidiocese de Campinas sobre a Teologia da Libertação. Em particular, logo ao ler a primeira frase do artigo: “Quando pároco na paróquia São Judas Tadeu, na Vila Lemos, tive a grata satisfação de ter um contato com as comunidades daquela paróquia, muito marcadas pela presença querida das CEBs, que beberam da Teologia da Libertação e deram seus frutos, como disse o evangelho do domingo passado… «Um deu cem, outro 60 e outro 30…»”. E eu sinceramente não consigo entender como é possível, em pleno século XXI, haver quem ainda defenda os frutos podres da malfadada Teologia da Libertação.

Trata-se provavelmente da teologia mais reiteradas vezes condenada pela Igreja nas últimas décadas! Da Libertatis Nuntius ao discurso do Papa acima citado, de Leonardo Boff a Jon Sobrino, estamos falando de uma posição constante da Igreja – frontalmente contrária à Teologia da Libertação – repetida de modo claríssimo por anos e anos a fio e, infelizmente, ainda encontrando no Brasil os ouvidos surdos de fiéis (ou, muito pior ainda, de pastores) que preferem seguir as próprias fábulas à doutrina segura enunciada pelo Vigário de Cristo.

E isto ainda hoje, a despeito de todos os tristes frutos que esta visão marxista do Cristianismo já entregou à sociedade e à Igreja. A TL não dá incentivos à caridade (aliás, ela nem sabe o que é isso), e sim (quando muito!) à filantropia barata. Não forma líderes cristãos preparados para espalhar sobre a terra “o doce odor de Cristo”, e sim sindicalistas. Não salva o homem do pecado, e sim do seu “patrão” (ou – para ser ainda mais impessoal e anti-natural –  “das elites”, ou “do capitalismo”, ou “do neo-liberalismo”, ou de qualquer besteira parecida da qual se queira lançar mão). Não inflama a esperança dos homens acenando-lhes com a promessa do Céu, e sim com a de uma utopia materialista de uma sociedade justa, igualitária… e impossível. Destrói as vocações, em tudo discorda da Doutrina da Igreja, promove a desobediência, as rebeliões e as divisões, propaga uma visão paupérrima de Cristo e da Igreja, solapa a religião em suas bases, aprisiona os homens no mais estéril materialismo… Em suma, de todos os frutos da Teologia da Libertação que se podem dizer verdadeiramente frutos dela (i.e., que sem ela não seriam obtidos), não há um único que se salve. Com a condenação explícita da Igreja e com o triste testemunho factual de seus abundantes frutos podres… qual a razão da insistência nesta teologia inquestionavelmente fracassada?

Voltemos ao artigo publicado no site da Arquidiocese de Campinas. Logo em seguida a ele, está publicada uma (justíssima!) nota da Assessoria de Comunicação Social da Arquidiocese censurando o texto. Nela, se pode ler: “Faz-se mister recordar que os canais editoriais oferecidos (jornais, sites e rádios) expressam o pensamento da Arquidiocese de Campinas, que os selam. (…) Por isso, advertimos a veiculação do referido artigo que em canais da Arquidiocese faz apologia da Teologia da Libertação, condenada pelo Magistério da Igreja em diversos documentos”.

E, para além de quaisquer querelas sobre “liberdade de expressão” ou respeito às opiniões de terceiros, é exatamente isto o que interessa: na Diocese, o Bispo é sentinela responsável por velar pela integridade da Fé. Os canais oficiais disponibilizados pela Arquidiocese devem, forçosamente, fazer eco ao pensamento da Arquidiocese – que deve ser o pensamento da Igreja, em particular do Santo Padre, hoje Bento XVI. Estando para além de qualquer dúvida razoável a inequívoca condenação de Roma – por diversas vezes, repitamos – à Teologia da Libertação, por qual motivo uma sua apologia deveria ser permitida nos meios de comunicação católicos?

A Igreja existe para salvar as almas: recordemos as palavras do Vigário de Cristo. E, para a salvação das almas, é mister o emprego dos meios necessários: em particular, é importante não permitir que uma teologia daninha, estéril e incontáveis vezes condenada pela Igreja tenha livre veiculação pelos meios de comunicação oficiais da Igreja. Outra, aliás, não é a disposição do Direito Canônico: após dizer que os pastores da Igreja devem procurar usar os meios de comunicação social (CIC 822, §1), fala logo em seguida sobre a importância de velar para que, nestes, seja transmitida a doutrina íntegra: “para preservar a integridade das verdades de fé e dos costumes, os pastores da Igreja têm o dever e o direito de velar para que nem os escritos nem a utilização dos meios de comunicação social provoquem dano à fé ou aos costumes dos fiéis cristãos; (…) e também de reprovar os escritos nocivos à retidão da Fé ou aos bons costumes” (CIC 823 §1).

Diante de todo o exposto, resta parabenizar a Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Campinas pelo pronto cumprimento do seu dever, ao reprovar um artigo daninho à Fé Católica – uma vez que este fazia apologia de uma teologia herética e já por diversas  vezes condenada. Que os outros pastores possam seguir-lhe o exemplo! E, no mais, rezemos para que as palavras do Bispo de Roma possam receber melhor acolhida por aqui, nesta Terra de Santa Cruz; que ela possa, liberta das raízes envenenadas da Teologia da Libertação, fazer jus ao próprio nome e oferecer o quanto antes a Deus e à Santa Igreja os frutos – verdadeiros! – de santidade que, pela intercessão da Virgem de Aparecida, o Altíssimo espera receber de nós.

Diplomacia Vaticana: documento confidencial sobre a viagem do Papa Bento XVI ao Brasil

[O Wikileaks vazou recentemente um documento da diplomacia vaticana sobre a visita do Papa Bento XVI ao Brasil em 2007. Segue abaixo uma tradução (feita às pressas e provavelmente cheia de erros) dos seus pontos mais importantes. Todos os negritos são meus.

É interessante ver a gritante discrepância entre as preocupações da Santa Sé e a dos representantes da Igreja Católica nos países da América Latina. Enquanto o Papa está preocupado com a Fé e com a Moral, os bispos discutem política. Enquanto a Santa Sé condena e reitera a condenação à Teologia da Libertação, constata-se que (desgraçadamente) esta praga volta a crescer no Novo Mundo. Enquanto os bispos estão preocupados com questões ambientais, o clero encontra-se em uma situação deplorável.

O Papa preocupa-se com o Brasil e com a América Latina. Os documentos mostram que Roma está ciente dos problemas principais – dos verdadeiros problemas – que assolam a Igreja latino-americana, e que se empenha em saná-los. Mas é mister a boa vontade dos líderes locais. Ouçamos o Papa, e confiemos no Vigário de Cristo – que nos conhece, que se preocupa conosco, que olha por nós, que certamente reza por nós.]

— SUMÁRIO —

1. O Papa Bento XVI viaja para o Brasil entre os dias 9 e 13 de maio [de 2007], para abrir uma sessão plenária do Conselho do Episcopado Latino-Americano e Caribenho (CELAM). Os três encontros continentais mais recentes (Colômbia em 1968, México em 1979 e República Dominicana em 1992) forneceram diretrizes para a Igreja Católica na região para muitos anos à frente. Este encontro em Aparecida parece que vai fazer o mesmo. As questões mais importantes na agenda incluem o crescimento do Protestantismo, pobreza, compromisso civil [civil engagement], questões familiares e o meio-ambiente. Sobretudo, em aparições antes da conferência e no seu discurso de abertura do encontro, o Papa Bento XVI espera reavivar a fé no Brasil e na América Latina, restabelecendo a força da Igreja nesta terra de coração católico [in this Catholic heartland]. Ele pretende provar que, a despeito de sua atenção para a Europa, para o Islã e outras questões, a América Latina continua sendo um foco para a Santa Sé. Destaques da agenda do papa apareçam no parágrafo dezessete. Fim do sumário.

[…]

— Por que o Brasil? —

4. A viagem ao Brasil e o encontro do CELAM oferecem ao Papa uma chance de demonstrar o seu interesse nesta região, e de colocar a sua marca na América Latina. É sua tarefa reconectar-se ao povo. O Brasil – e muito da América Latina – é como um território de missão, disse [o Monsenhor Stefano] Migliorelli, usando a terminologia católica para terras que não foram sistematicamente expostas à Fé. “Nós temos que abordá-lo como evangelização – começando do zero”, ele continua. E o Brasil é a chave para a Igreja da América Latina, Migliorelli nos disse, tanto por causa do gigantesco número de católicos que há lá quanto pelo fato de que – da perspectiva católica – ele sofre muitos dos problemas (seitas evangélicas, pobreza, desafios ambientais) que se podem ver em outras partes da região. Quando se encontrou com cardeais sul-americanos dois anos atrás, foi o próprio papa Bento XVI quem escolheu o local do encontro, dizendo ao grupo que ele queria realizá-lo no santuário mariano mais popular do Brasil.

— Valores familiares e questões políticas —

5. Em encontros preliminares e mensagens que antecederam o encontro do CELAM, o Papa focou principalmente em questões internas da Igreja, como promoção vocacional de candidatos ao sacerdócio e a defesa dos ensinamentos morais católicos sobre o casamento e a vida da família. Os bispos da região foram mais políticos em suas discussões prévias. Em suas aparições antes do início da conferência, o Papa tem mais chances de se focar em questões amplas de fé e moral, enquanto a sua mensagem para a conferência pode se tornar mais concreta, refletindo as preocupações dos bispos. Sua mensagem irá sem dúvidas estabelecer o tom do resto da conferência, um alto funcionário do Vaticano nos disse. “Os bispos não será capazes de tomar um caminho diferente depois do Papa estabelecer as suas prioridades”, acrescentou.

6. Abaixo, nós delineamos alguns dos temas que servirão como pano de fundo para as intervençoes do Papa, e os tópicos sobre os quais ele e os bispos vão tratar.

— Crescimento do Protestantismo —

7. Quando [o Papa] João Paulo II fez sua primeira viagem ao Brasi, em 1980, os católicos contavam com cerca de 89 por cento da população. De acordo com o censo de 2000, eles caíram para 74 por cento, com o total em algumas das maiores cidades chegando a menos de 60 por cento. A cada ano, milhões de católicos latino-americanos deixam as suas igrejas para se juntar, majoritariamente, a congregações evangélicas – um abandono encorajado ativamente, de acordo com a Igreja Católica, pelos pastores destes novos rebanhos. De acordo com uma análise, enquanto a Igreja Católica se concentra em “salvar almas”, a maior parte das igrejas evangélicas enfrentam problemas do dia-a-dia enquanto inventam apenas as demandas doutrinárias necessárias para satisfazer a sede de misticismo da América Latina. O Papa João Paulo II descreveu sua atividade como “sinistra”. Uma das principais tarefas do Papa Bento XVI será redespertar a comunidade católica e encorajar a resistência àquilo que ele chamou de “roubo” feito pelas “seitas” [“poaching” by “sects”].

— O “perigo” da Teologia da Libertação —

8. Outra importante questão contextual da visita é o desafio à Igreja tradicional que a Teologia da Libertação desempenha. O Papa João Paulo II (ajudado pelo papa atual quando ele era o Cardeal Ratzinger) fez enormes esforços para acabar com esta análise marxista de luta de classes. Ela veio a ser promovida por um significante número de clérigos e leigos católicos, os quais – em um compromisso político – algumas vezes sancionaram a violência “em favor do povo”. A forma mais ortodoxa da Teologia da Libertação, que tomou o partido dos pobres e oprimidos, submeteu-se a uma leitura reducionista [do Evangelho] que o Vaticano procurou corrigir. De um modo geral o Papa João Paulo II derrotou a “Teologia da Libertação”; no entanto, nos últimos, viu-se um ressurgimento dela em várias partes da América Latina.

9. Esta questão veio à tona novamente em março, quando a Congregação para a Doutrina da Fé (território familiar [old stomping grounds] do Papa Bento XVI) emitiu uma nota criticando escritos do sacerdote Jon Sobrino sobre Jesus Cristo. Sobrino, um jesuíta que trabalhou por muitos anos em El Salvador e que foi um dos mais conhecidos teólogos da libertação da América Latina. A publicação da notificação do Vaticano tão perto do evento de Aparecida foi uma mensagem clara para a Igreja na América Latina. Migliorelli diz ainda: “nós não planejamos apresentar” [to bring up] A Teologia da Libertação em nenhuma das intervenções papais. “Todo mundo sabe a situação”, continuou ele. A chave é simplesmente para que o clero seja treinado de forma mais eficaz para explicar a posição da Igreja para o povo, concluiu.

— Miséria clerical [Clerical Woes] —

10. Sem dúvidas, disse Migliorelli, a crise dos clérigos é um fator importante na região. A escassez de sacerdotes em muitas partes da América Latina é de longe pior do que aquela nos Estados Unidos. De acordo com alguns cálculos, há dez vezes menos padres per capita do que nos Estados Unidos. E ainda pior, lamenta-se Migliorelli, é que o nível de educação deles é freqüentemente muito baixo, e eles freqüentemente não adotam os padrões de disciplina clerical (celibato, celebração regular dos sacramentos, etc.). Embora o Papa Bento XVI vá dedicar-se aos leigos nesta viagem, Migliorelli admite que a questão dos clérigos também exige atenção.

[…]

— Deterioração da Sociedade —

12. Na preparação do encontro do CELAM, os bispos latino-americanos expressaram suas preocupações sobre a “deterioração” geral da sociedade em suas regiões. O presidente da Conferência dos bispos da Guatemala, Alvaro Ramazzini Imeri, lamentou a violência social onipresente e descreveu “sociedades que tentam seguir estilos de vida de consumismo e hedonismo”, com pouca atenção para a justiça social. Desafios referentes à criminalidade, migração e educação estarão entre as questões que os bispos da região discutirão em Aparecida, e irão indubitavelmente encontrar seu caminho (pelo menos em traços largos) nas observações do Papa. Para a Santa Sé e para os bispos, muitas destas doenças podem ser atribuídas à dissolução das famílias e à falta de atenção aos “valores morais”. O Papa e os bispos irão certamente fazer da família uma peça central de suas observações.

[…]

— Hot Spots —

14. O Monsenhor Angelo Accattino, MFA da Santa Sé no CELAM e em muitos países latino-americanos, reconheceu as preocupações e o interesse da Santa Sé em pontos chave da América Latina como Cuba e a Venezuela. Mas este não é o lugar, ele disse, para se debruçar sobre o que ele chamou de “questões políticas”. Ele disse que o Papa não vai comentar sobre líderes controversos, e que não achava que os bispos regionais devessem agir de modo diferente. Se nós pudermos ajuda a Igreja a rejuvenescer com esta visita, será assim mais fácil tratar de outras questões (e líderes), Accattino disse. Quando pressionado, ele reconheceu que em Cuba e na Venezuela as questões em jogo eram baseadas em direitos humanos – terreno fértil para o Papa e os bispos. Ele sustentou, no entanto, que o Papa só iria orientar claramente sobre as questões mais amplas [the pope would steer clear of all but the broadest questions].

[…]

— Comentário —

16. Quatro bispos dos EUA – incluindo maior homem da Igreja americana no Vaticano, o cardeal William Levada – irão participar da Conferência do CELAM, o que sugere que ela possa ter impacto até mesmo para além das fronteiras da América Latina. A participação de um cardeal canadense também enfatiza a visão da Santa Sé de solidariedade nas Américas. A Santa Sé tem colocado grande ênfase na viagem, antecipando que ela será um momento importante neste pontificado. Fontes nos dizem que o Papa Bento XVI tem-se isolado nos últimos dias, para se dedicar totalmente à finalização de seus discursos, que serão entregues em Português. No final, a viagem será um sucesso se Bento XVI for capaz de reacender o entusiasmo para a Igreja Católica no Brasil, e também impactar toda a região, fazendo com que os católicos se concentrem em “fé, família e moral”. Esperamos um documento para sair da reunião Aparecida até o final de 2007, focando sobre alguns dos problemas mais concretos mencionados acima. Fim do comentário.

[…]

Rooney

“Igreja: Carisma e Poder”, por pe. Paulo Ricardo

Gostaria de recomendar, com alegria, este Parresía do padre Paulo Ricardo. O reverendíssimo sacerdote [continua a] fala[r] sobre a eclesiologia anti-católica do Leonardo Boff (expressa originalmente no livro “Igreja: Carisma e Poder”), a qual – infelizmente – é a mesma idéia de Igreja que muitos “católicos” têm hoje em dia.

O padre Paulo Ricardo, com maestria, mostra como esta idéia é insustentável à luz da integridade da Revelação – e mesmo das Escrituras Sagradas sozinhas, ao contrário do que tentam fazer parecer alguns “lobos em pele de cordeiro” (ou, pior ainda, “lobos com cajado de pastor”…) que encontramos por aí. E ele conclama: à união com o Papa! À união com Pedro! Porque a comunhão católica, a verdadeira, não é só comunhão “aqui e agora”: é também comunhão com a Igreja do mundo inteiro e com a Igreja de todos os tempos. Não existe uma igreja “do Brasil”, nem muito menos uma igreja “dos dias de hoje”. Se a Igreja é Católica, é porque Ela é universal – tanto no espaço quanto no tempo. Quod semper, quod ubique, quod ab omnibus.

http://www.youtube.com/watch?v=bMM2mDbA5WQ

A Igreja, de certo modo, nasceu da Tradição; e esta tem os seus Guardiões: o Magistério. A Igreja tem uma hierarquia, com o dever de garantir a transmissão da Graça: desde o Seu Divino Fundador até os dias de hoje. E, para garantir este influxo salutar da Graça, é necessário estar em comunhão com a Igreja, é necessário ser ramo unido à Oliveira. O resto vem como conseqüência.

Porque “a palavra de Deus não precisa ser defendida. (…) A palavra de Deus é um leão que só precisa ser solto; ele faz o resto do serviço. (…) Defender a Fé e a palavra de Deus é simplesmente soltá-la[s]. Se nós soltarmos a palavra de Deus, se nós despertarmos na multidão de católicos que nós temos aqui no Brasil a consciência de que a nossa Fé de dois mil anos ainda vive, é verdadeira e ainda vale… se nós despertarmos isto nos católicos, nós teremos a palavra de Deus como um leão que ruge no nosso país. (…) Não tenhamos medo de nos unir ao Papa, que está unido aos outros Papas e, conseqüentemente, a São Pedro ao longo dos séculos. Não tenhamos medo de ter, ainda hoje, a mesma Fé: a Fé de Pedro, aquela Fé que é rocha firme, na certeza de que as portas do Inferno não prevalecerão”.

Carta de um sacerdote a um amigo petista

[Carta enviada por um sacerdote a alguns amigos petistas, algumas semanas antes do início do processo eleitoral brasileiro. Com a devida autorização, tomei a liberdade de a reproduzir. Reveste-se ainda de extrema oportunidade, tanto pela importância dos pontos levantados quanto pela forma sistemática através da qual eles são abordados.]

Alguns pontos para reflexão

I. Problema moral em geral.

A. Uma deliberação da vontade (escolha) é moralmente honesta quando concorrem três elementos:

a.       Objeto bom ou indiferente: o fim objetivo (que não depende da intenção do sujeito), o objeto.

b.      Meios bons ou indiferentes: o método empregado.

c.       Intenção boa: o fim subjetivo, ou meta do sujeito (o bem que eu tenho vontade de alcançar).

Se faltarem um ou dois desses elementos, a ação é má. Se faltar a boa intenção, é dolosa.

E, olhando pelo prisma do Evangelho, é pecado tanto mais grave quanto maior for o mal que se escolhe.

B. Há objetos que são intrinsecamente maus, que podem ser conhecidos como tais pela razão (lei natural) e são explicitados nas formulações negativas do Decálogo.

As formulações negativas são taxativas e não admitem exceção.

Para um exato conhecimento do objeto político de uma decisão, cada problema deve ser situado no quadro em que lhe é próprio. Não se pode colocar o uso da força no exercício do direito à legítima defesa no campo da violência. O problema do aborto deve ser enquadrado no âmbito do direito à vida. Se for colocado no campo da saúde pública, do direito da mulher ao seu corpo ou das opções meramente religiosas, desnatura-se o enquadramento moral e jurídico do objeto da decisão (uma coisa é decidir entre matar e não matar, outra coisa é decidir como combater as mortes ou doenças causadas pelo aborto clandestino; uma coisa é decidir levando em conta os direitos de duas pessoas – mulher e nascituro – outra coisa é decidir entre a vida da mulher e um “glomérulo de células” nocivas ao corpo). Os direitos à propriedade e à liberdade, combinados com o bem comum. E assim por diante. Aqui só exemplifico os problemas mais evidentes. Mas há problemas vinculados ao direito dos pais de escolherem sem coação por parte do Estado a linha de educação (sexual, moral, religiosa, ideológica, etc.) dos filhos, o direito à formação da família, o direito à proteção da saúde (não à eutanásia e não aos tratamentos excessivos), o direito  à propriedade privada combinado com a hipoteca social dos bens privados, o direito à liberdade de expressão, etc.

O modo de enquadrar estes problemas não é moralmente neutro. E vinculam a consciência da pessoa que deve escolher.

II. O problema moral em relação à eleição.

A. Os partidos.

Os partidos podem ser considerados um instrumento político para a consecução do bem comum ou como a expressão de uma utopia.

No primeiro caso, ele é um meio e deve ser avaliado quanto aos métodos que emprega na luta política e à utilidade em vista do fim a ser alcançado.

No segundo caso é a ideologia que deve ser analisada em relação ao bem comum.  A pessoa que adere a uma ideologia deve tomar o cuidado de confrontar se o ideal de sociedade e o ideal de “nova-humanidade” que o partido encarna corresponde ao bem comum da sociedade.

O tipo de adesão é diferente. No primeiro caso é puramente instrumental e não há dificuldade em se confrontar criticamente com a organização. No segundo caso, a adesão e a militância reveste muita paixão política, chegando por vezes a ser acrítica e, no pior dos casos, se tornar uma “idolatria”: o partido-utopia-ideologia pode se tornar uma “religião civil” (expressão muito usada na esquerda européia, para indicar a ideologia que pretende substituir a religião tomando-lhe as características mais marcantes).

Aqui quero testemunhar o meu sofrimento no seminário e nos primeiros anos do ministério: a ideologia da TdL (Teologia da Libertação – que me ligava ao Partido) tinha se tornado a lente através da qual eu olhava a Igreja (doutrina e indicações morais ou disciplinares). A ideologia pastoral e partidária tinha se tornado o meu critério de avaliação do Evangelho e do Magistério da Igreja: não o contrário.

B. Questões práticas: nas eleições é preciso levar em conta alguns elementos políticos:

a)      o candidato uma vez eleito pode apelar para a objeção de consciência ou tem obrigação de fidelidade partidária em todos os pontos do programa e resoluções, inclusive os que vão contra a sua consciência?

b)      o cargo para o qual é eleito lhe dá possibilidade objetiva de realizar os pontos imorais do programa?

c)      o mandato é vinculado ao partido ou ao eleitorado?

Se o partido consente a objeção de consciência, por exemplo, posso escolher um candidato para o senado ou câmara dos deputados que esteja num partido com um programa que contém pontos eticamente inaceitáveis, desde que tenha a certeza moral (absoluta é impossível) de que ele votará contra tais projetos. Por outro lado, não posso escolher um candidato que estou moralmente certo de que votará a favor mesmo que de um único ponto imoral.

Se o partido exige a fidelidade partidária sem exceções e o seu programa contém projetos vinculantes contrários à lei natural, e os cargos para os quais concorrem seus candidatos dão poder de realização desses projetos – ainda que haja muitos projetos bons em concomitância – não é possível votar nesses candidatos.

III. Consciência do cristão

Além do aspecto meramente racional colocado acima que onera a consciência da pessoa reta e do cidadão, o Cristão tem a vantagem de conhecer as mesmas verdades que a razão atinge com esforço por meio da Divina Revelação. A razão e a fé são as duas asas com as quais o espírito humano voa no céu da verdade. Sem uma delas é mais frágil o espírito humano, não mais forte.

O compromisso da pessoa com a própria consciência é no cristão ao mesmo tempo compromisso com Jesus Cristo e a sua Esposa.

As indicações dos Bispos

  1. Indicações de critérios: são vinculantes na medida em que correspondem ao Magistério da Igreja e ao Evangelho. Devemos levar em conta ao decidir.
  2. Indicações positivas de candidatos: Não é consentido aos pastores indicar ou patrocinar candidatos como católicos. Se o fizessem se trataria somente de opinião pessoal, posso me considerar livre para discutir e discordar, respeitados os critérios a que se refere o n. 1.
  3. Indicações negativas: Quando os Pastores dão uma indicação negativa, de candidato, de pessoa ou de partido, porque contrárias à lei natural (direito à vida, direitos fundamentais da pessoa humana, à liberdade religiosa, etc), o católico fica vinculado em consciência à indicação negativa. Um exemplo histórico: o Papa Pio XII declarou que os católicos não podiam votar no Partido Comunista (stalinista, trotskista ou gramsciano) sem cometer pecado mortal, por causa dos fins anti-religiosos e totalitários que perseguia.
  4. Há uma indicação geral da Igreja: uma proibição dos católicos de se associarem a organizações de qualquer tipo que contenham entre os seus objetivos, fins contrários ao Evangelho e à ordem moral (social ou pessoal). Não é ilícito cooperar com estas organizações quando perseguem fins indiferentes ou bons, discernidos um a um. Por exemplo: não posso me associar à maçonaria (ficaria em pecado mortal e proibido de comungar), mas posso colaborar com os mações em formas de solidariedade social que não envolvam compromisso doutrinal ou moral. Posso colaborar com partidos que têm pontos de programa ilícitos, em tudo o que não me obrigue a comprometer a minha adesão ao Evangelho e à ordem moral.
Por fim uma resposta a uma pergunta concreta.

Outro dia você me perguntou por que a Igreja critica só o PT e a Dilma.

Posso fazer a mesma pergunta: por que depois de tantos anos dando apoio mais ou menos direto ao PT a Igreja no Brasil começou a assumir uma posição crítica?

Quando os Bispos do País tomam uma posição assim crítica, contra uma posição histórica favorável, é preciso perguntar quem foi que mudou. A doutrina social da Igreja, se mantém a mesma.

O próprio Dom Paulo Evaristo Arns, que não pode ser suspeito de ser de direita, é crítico em relação ao programa do PT (especialmente ao PNDH 3, retocado mas não desmentido) e à candidatura Dilma.

Não estou falando da posição do D. Luis Bergonzini, que não é a posição de todos os Bispos do Brasil, estou falando dos critérios que a CNBB propôs.

Os programas oficiais dos partidos: o programa de governo do PT e dos demais partidos vai ser apresentado entre hoje e amanhã. Por que não foi apresentado antes? Temor da crítica política ou das organizações da sociedade civil?

Resta o fato de que a imprensa não conseguirá dar cobertura sobre eles antes de se começar o silêncio eleitoral. Não creio que tenha sido (digo em relação a todos os partidos sem exceção) uma decisão inocente.

Resultado: eu pessoalmente não costumo dizer em quem voto. Mas dessa vez não consegui ainda decidir se votar em um candidato ou em um partido, se abster-me, se fazer um voto útil. Não sei ainda. Mal pela primeira vez depois do fim da ditadura militar, me sinto mal como eleitor e como cidadão.

Padre Hiereus

“Reparai na vossa dignidade, sacerdotes!”

Esta eu li no Evangelho Quotidiano de hoje. É da carta de São Francisco de Assis a toda a Ordem. Trago somente os trechos que mais me comoveram:

Reparai na vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e sede santos porque Ele é santo (1P 1, 16) […] Grande miséria e miserável fraqueza se, tendo-O assim presente nas mãos, vos entreteis com qualquer outra coisa!

Que todo o homem tema, que o mundo inteiro trema, que o céu exulte quando Cristo, o Filho de Deus vivo, Se encontra sobre o altar, entre as mãos do sacerdote. Que grandeza admirável, que bondade extraordinária! Que humildade sublime! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, humilha-Se pela nossa salvação, a ponto de Se ocultar numa pequena hóstia de pão.

Reparai na vossa dignidade, sacerdotes! Quem o diz é São Francisco, o poverello de Assis. Que diferença entre o verdadeiro santo e o “hippie medieval” que muitas vezes nos apresentam! Lembrei-me agora de Genésio Boff que, recentemente, declarou-se “católico apostólico franciscano”. Que diferença gritante entre o santo de Assis e o herege da Teologia da Libertação! Inspira-te o franciscanismo, Genésio? Olha, então, para o que diz São Francisco, e repara na tua dignidade sacerdotal!

Como não seria diferente o mundo de hoje, se os sacerdotes do Deus Altíssimo seguissem o sábio conselho franciscano e reparassem na própria dignidade. “Que todo o homem tema” quando Cristo é elevado na Santa Missa. “Que o mundo inteiro trema” neste momento terrível. E que o Altíssimo, elevado na Cruz do Calvário – e elevado pelo sacerdote no sacrifício quotidiano da Missa – tenha piedade de nós todos. E nos conceda piedosos sacerdotes, que tenham consciência da própria dignidade, e que se esforcem para ser santos como o Pai dos Céus é santo.

Comentários sobre a revolução paterna

Gostaria de tecer agora os comentários sobre o Pai-Nosso Revolucionário que não expus anteontem. Não há necessidade, creio eu, de se ser muito sistemático e analisar em pormenores cada um dos versos e estrofes da tal canção. A mensagem anti-católica fala por si só, e às escâncaras, não havendo muito o que esmiuçar.

Indo direto ao ponto: quem escreveu aquela música não tem Fé. Isto não é um juízo temerário, porque é a análise justa e honesta da “poesia” apresentada. O “pai” apresentado na música não é de todos, mas só dos “torturados” [pelo Regime Militar, quiçá], “marginalizados”, etc. A vontade do “deus” lá da música é que não sejam seguidas as “doutrinas corrompidas pelo poder opressor” [no caso, a Doutrina da Igreja Católica]. O que se pede a este “deus” não é a conversão do pecador, mas a destruição dos “reinos em que a corrupção é a lei do mais forte” (seja lá o que signifique esta frase). Este “pai” apresentado pela oração não é o conservador das coisas que criou – ao contrário, é “revolucionário”.

Não é preciso gastar cinco minutos de raciocínio para chegar à conclusão de que este “pai revolucionário” não é o Deus criador dos Céus e da Terra em Quem professamos a nossa Fé todos os dias. Portanto, este “deus dos oprimidos” não é o Deus da Fé Católica e, portanto, quem professa fé neste “deus” não pode, ao mesmo tempo, ter Fé no Deus Único.

Argumente-se contra isso que o sujeito pode, de boa fé, escrever e cantar este tipo de lixo. Concedo: o sujeito pode, sim, perfeitamente, ser um ignorante religioso a ponto de não saber mensurar o grau de heresia das coisas que escreve e canta. No entanto, se ele não sabe a Fé que tem, então ele não tem Fé, porque Fé é saber. Ao afirmar isso, está-se apenas fazendo uma constatação factual, sem nenhum juízo sobre o grau de culpabilidade do indivíduo que produz, canta e divulga este tipo de música. “Ah, ele pode ser um ignorante” – sim, pode. Mas isso não torna a sua música menos herética, e nem o autoriza a sair por aí apresentando um “pai revolucionário” como se o Deus Católico fosse.

Argumente-se ainda contra isso que a música apresenta, em suas partes e desconsiderados os significados mais comuns dos seus termos, muitas coisas que são aproveitáveis. Concedo, também; contra isso, no entanto, faço notar que (i) desconsiderar o sentido mais comum dos termos e o “contexto” da música para analisá-la “em si”, concedendo o máximo possível o beneplácito da boa interpretação, é falsear a obra artística, posto que a interpretação resultante deste procedimento pode ser (e, aliás, será quase sempre) completamente irreal; e (ii) qualquer coisa tem pontos aproveitáveis, pois o mal absoluto não existe. Certamente há muitas coisas boas e certas em todos os erros e heresias do mundo, e nem por isso o conjunto passa a ser aceitável por meio do aproveitamento das coisas certas e pela “ressignificação” das erradas. A heresia é condenável, mesmo que possua (como sempre possui) pontos positivos; este “pai-nosso revolucionário” é sim condenável, ainda que se possa encontrar nele algo de bom ou conceder uma interpretação ortodoxa às suas partes mais escandalosas.

Afinal de contas, provavelmente não existe ninguém no Inferno (à exceção talvez dos anjos) que nunca tenha feito, em sua vida, nada que aproveitasse. Do mesmo modo, certamente não existe ninguém no Céu – à exceção da Bem-Aventurada Virgem Santíssima [p.s.: e outras exceções] – que não tenha feito nada de condenável enquanto esteve na terra. Aplicar uma “tesoura” à revolução paterna do “deus” da TL para tentar salvá-lo é não ter respeito à Verdade (uma vez que ou se vai pôr em risco a Fé dos incautos aceitando tudo, ou se vai falsificar a realidade dando aos termos empregados pelos hereges um sentido distinto do que eles claramente possuem) e nem senso de realidade (por achar que semelhante idéia pode dar certo…).