Curtas, no Brasil e no mundo

– Nos Estados Unidos, tentam “descristianizar” o Natal. O Wagner Moura comenta, baseado no boletim emitido pela Catholic League. Acho que já comentei aqui como era o Natal Nazista, quando tentaram a exata mesma coisa. Os ateus modernos e os nazistas da Segunda Guerra escolheram até o mesmo Solstício de inverno para colocar no lugar da natividade de Nosso Senhor. Será mera coincidência?

– Na Espanha, foi aprovada a pior lei possível do aborto. A Universidade de Navarra já está em desobediência civil, por ter dito claramente que não iria ensinar procedimentos abortivos em seus cursos de saúde. Há, na internet, uma carta enviada ao Rei da Espanha pedindo para que ele não sancione esta lei – assinem. Não sei quais os efeitos políticos práticos disso, mas importa ao menos fazer saber que somos contra este novo holocausto. Que São Tiago interceda pela sua Espanha.

– Na Itália, enfim, uma boa notícia: a lei do Tribunal Europeu de Direitos Humanos sobre os crucifixos não será reconhecida. O Tribunal Constitucional decidiu que os crucifixos não serão retirados dos prédios públicos. “En su sentenza número 311, el Tribunal Constitucional italiano dispuso que cuando las resoluciones del Tribunal Europeo de Derechos Humanos entran en conflicto con las disposiciones de la Constitución italiana, dichas resoluciones ‘son ilegítimas'”. Cristo venceu. Deo Gratias.

– No Brasil, o desgoverno petista dá mais desgosto: Governo defende liberar aborto. O 3º Programa Nacional de Direitos Humanos pede claramente que seja modificado o Código Penal para garantir a “descriminalização do aborto”. Como se não fosse o bastante, haverá também uma proposta para o “reconhecimento da união civil de pessoas do mesmo sexo”. O Brasil caminha cada vez mais para o fundo do poço. Que a Virgem Aparecida Se compadeça de nós.

O convento e o altar

Fundação Sarney aluga convento para festa sexy. A notícia é menos chocante do que parece à primeira vista, porque o convento em questão já não funciona como convento há anos; em 1990, ele foi doado pelo então governador do Maranhão à Fundação Sarney. É um prédio histórico no centro histórico de São Luís.

Sarney disse que não sabia nada sobre a festa. Li num comentário do Estadão que era, na verdade, uma festa à fantasia. O mais triste, no entanto, é a dessacralização, o que quer que tenha acontecido no Convento das Mercês.

Aliás, ela começou bem antes. O convento é de 1654. Não sei quando foi que ele fechou as portas; mas um convento vazio é um prédio triste. Mutatis mutandis, aqui em Recife temos muitas igrejas antigas com altares laterais belíssimos que não são mais utilizados: um altar sobre o qual não é oferecido o Santo Sacrifício da Missa é uma coisa muito triste.

Porque trata-se de algo que perdeu a sua finalidade. Se o sal perde o sabor, para mais nada serve senão para ser lançado fora. Se o convento perde as vocações, só serve para prédio histórico estéril (ou, pior ainda, para festas mundanas). Se o altar perde a Santa Missa, só serve para apoiar vasos de flores ou castiçais.

A perda de vocações é algo sintomático e preocupante. Não se dá de repente – como também não é do dia para a noite que o prédio se transforma, de convento, em salão de festas. O sal perde o sabor aos poucos… e, se não percebemos a tempo, o futuro é a festa realizada no prédio histórico.

Tarde demais…? Com o quê será restituído o sabor ao sal? Um sacerdote meu amigo disse-me outra vez que o seu sonho era “ressuscitar altares”, celebrando a Santa Missa nos altares das igrejas onde ela não é celebrada há muitos anos. É um belo sonho. Desejo-lhe muitas ressurreições. Porque, se aos homens é impossível reverter a crise que atravessa a Igreja, a Deus não é impossível. A Deus, nada é impossível.

Por meio da Santa Missa, nada é impossível. O convento e o altar têm muito em comum, ordenados que são ambos a Deus. Ressuscitar os altares é ressuscitar os conventos. Pedir ao Senhor da messe que mande operários é já antecipar os campos repletos de trabalhadores. Deus é fiel. A despeito de nossas infidelidades.

Rezemos ao Altíssimo. Peçamos vocações. Ofereçamos as nossas vidas em desagravo pelas dessacralizações, pelas festas nos antigos celeiros de almas consagradas, pelas flores murchas esquecidas nos altares onde Cristo era imolado. Ele é fiel. E não Se esquecerá do Seu povo. O sal há de recuperar o sabor. O convento e o altar voltarão a servir a Deus. Para a Sua maior glória.

O respeito de mão única

Tolerância moderna I: repórter católico é demitido após discordar do “casamento” gay. Resumindo a história: o “casamento” gay foi derrubado no Maine, uma associação pró-gay enviou um email em massa se lamentando pelo ocorrido, o repórter Larry Grard respondeu – de sua conta de email pessoal – desaforadamente à mensagem, o porta-voz da associação reclamou ao chefe do repórter, o repórter foi demitido, e a sua esposa teve a sua coluna quinzenal cancelada.

Tolerância moderna II: menino é afastado de escola após fazer desenho de Nosso Senhor (!). “O pai do aluno disse ter sido chamado pela direção da escola depois de o seu filho ter feito um ‘desenho violento’ atendendo ao pedido da professora para que as crianças da sala fizessem uma composição que tivesse o Natal como tema”. O desenho violento em questão é uma Cruz como Nosso Senhor Crucificado.

Tolerância moderna III: cartaz blasfemo gera polêmica na Nova Zelândia. “Segundo o vigário da igreja [Anglicana] St. Matthew-in-the-City, Glynn Cardy, a ideia do cartaz era questionar estereótipos e promover o debate entre os fieis sobre o nascimento de Jesus Cristo”. Ele disse ainda “que o objetivo do cartaz era satirizar a interpretação literal da concepção de Cristo”. Ao que me conste, o vigário continua lá e o cartaz continua lá.

Tudo isso seria uma grande piada, se as pessoas que vivem neste mundo enlouquecido não o levassem completamente a sério. É muito difícil argumentar contra o óbvio: se o homem moderno não consegue – e eu até acho que ele não consegue – enxergar a enorme disparidade de tratamento ilustrada nas notícias acima, é muito difícil fazê-lo enxergar, pois o caso é praticamente patológico.

As pessoas parecem realmente achar normal que a religião seja vítima de toda espécie de ofensa e vitupério, que seja debochada, que escarneçam dela, e que ela não tenha nenhum espaço na vida pública ou nenhum direito aos tratamentos reservados a outros – na falta de nome melhor – “grupos sociais”. É perfeitamente normal demitir o repórter que ousou “agredir” os gays. É lógico que uma criança capaz de desenhar uma Cruz precisa de tratamento psicológico. No entanto, reclamar da blasfêmia pública é uma censura intolerável e, se o cartaz que debocha do Cristianismo ofende, só pode ser porque os cristãos são melindrosos demais.

Vivemos em tempos difíceis. Os que exigem respeito não nos respeitam. Os que não aceitam a censura fazem de tudo para nos censurar. A via de mão única é claramente cínica e hipócrita e, no entanto, é traquilamente apresentada como se fosse um perfeito modelo de civilidade e modernidade. Esperam que a aceitemos como se fosse a coisa mais natural do mundo?

Não podemos. Isto não é normal. Não é nem mesmo lógico dentro das próprias premissas aceitas pelos que discordam de nós. É absurdo. A ideologia que querem nos empurrar carece até mesmo de coerência interna. Bom seria se os hipócritas de plantão lançassem logo fora as máscaras que ostentam, e assumissem logo serem os anti-religiosos que suas atitudes demonstram. Ao menos, a decência da sinceridade. Mas, pelo visto, parece que isso é esperar demais.

Espanha, aborto, Navarra

Batalha pela vida hoje na Espanha. O motivo? A reforma abortista que, como explica HazteOir, pode ser votada hoje.

O Papa Bento XVI lembrou ontem, em sua audiência geral, que existe “uma verdade objectiva e imutável, que tem a sua origem em Deus e foi, por Ele, semeada nas suas criaturas. É acessível à razão humana e tem a ver com a vida prática e social. Trata-se de uma lei natural, na qual se devem inspirar as leis positivas da sociedade para promoverem o bem comum”. Não obstante, as palavras do Vigário de Cristo parecem encontrar ouvidos surdos.

Até mesmo na Espanha, a católica Espanha, onde, há dois meses, mais de um milhão de cidadãos foram às ruas para protestar contra o aborto. A voz deles foi solenemente ignorada, como a do Papa. A reforma abortista está para ser votada – se é que já não o foi. À revelia da população.

E, mais: “[e]ntre outras coisas, a lei obriga que as Faculdades de Saúde ensinem a fazer aborto” (brasilsemaborto). É maravilhosa a intolerância dos tolerantes! Isto fez com que a Universidade de Navarra publicasse uma bonita nota dizendo que não obedeceria a semelhante lei. Vale muito a pena ler. Destaco:

Nos negamos a solucionar la tragedia de un embarazo indeseado con la tragedia superior del aborto. Nos negamos a incorporar las técnicas abortivas a los contenidos de la educación. Nos comprometemos a formar profesionales para curar, investigar y ayudar.

Nuestra ilusión es que la educación y la información lleguen a todas las mujeres. Saber es un derecho.

[…]

Nuestra ilusión es que la pugna política y la legislación compitan por la defensa de los más débiles, el hijo y la madre. Una sociedad que protege al débil es fuerte.

[…]

Nuestra ilusión es que pronto se estudie como histórico el triunfo de una humanidad valiente que superó el aborto como superó la esclavitud. El orgullo de ser humano.

Nuestra ilusión es que los hombres y las mujeres tomemos decisiones hoy que nuestros hijos aplaudan mañana. Podemos transmitir más de lo que heredamos.

Nuestra ilusión es que la medicina, la enfermería, la biología, la farmacia y la universidad en general sean aliados por la vida.

La historia juzgará nuestra pasividad cómplice o nuestro compromiso solidario con el débil. No hay mejora sin cambio. Hoy es el día de cambiar en España, en Europa y en el mundo.

[Faço notar que ilusión, em espanhol, é falsa cognata. Não tem o sentido de “ilusão” em português, e sim de sonho, desejo, anelo]

Faço coro à Universidade de Navarra. Desejo que a superação do aborto, como a da escravidão, seja estudada como um fato de grande importância histórica. Que tomemos decisões que nossos filhos aplaudam amanhã. Hoje é o dia de mudar na Espanha, na Europa e no mundo. Que a Virgem de Guadalupe – celebrada recentemente – possa livrar a Espanha (e o mundo) da maldição do aborto.

Por uma Quaresma católica – II

Considerando a boa repercussão que teve o meu pequeno desabafo de ontem com a Campanha da Fraternidade 2010, e considerando as pessoas que se manifestaram dispostas a fazer alguma coisa mais concreta, gostaria de lançar algumas idéias sobre o que podemos fazer, ao mesmo tempo em que peço mais sugestões. Agradeço, de antemão, a todos. Alguns pontos:

1. Julgo que convém seguir o princípio da subsidiariedade, e iniciar agindo nas instâncias mais próximas de nós: começando com o “boca-a-boca” entre conhecidos, passando para as nossas paróquias, as dioceses, a Conferência e, por fim, os Dicastérios Romanos.

2. Nosso Senhor disse-nos que fôssemos prudentes como as serpentes. Julgo oportuno, por isso, que levantemos contra os inimigos da Igreja as mesmas armas que eles usam – ipsa veneno bibas, como rezamos a São Bento – e, “roubando” a Campanha da mão dos inimigos de Cristo, empreguemo-la a serviço de Nosso Senhor.

a) A lema da Campanha é católico, afinal é tirado dos Evangelhos. Devemos produzir material em defesa da legítima interpretação da passagem bíblica e da Doutrina Social da Igreja, não somente esvaziando a proposta de sua instrumentalização ideológica como também utilizando-a para atacar a Teologia da Libertação.

b) Simultaneamente, devemos produzir e divulgar materiais que nos incitem à verdadeira e legítima piedade quaresmal. Não é necessário – aliás, não é nem desejado – que o lema da CF permeie toda a Quaresma. Usamos as armas que nos ofereceram para envergonhar e humilhar os inimigos da Igreja, ao mesmo tempo em que usamos as armas que a Igreja sempre utilizou para exaltar a Cristo e propiciar a vivência de uma santa Quaresma.

3. Precisamos definir como isso vai ser feito. Se com a criação de um site específico para servir de repositório de material, ou de alguma outra maneira; particularmente, gosto desta sugestão e poderia criar um sub-domínio do Deus lo Vult! com este propósito. Mas estou aberto a sugestões.

4. Paralelamente, é necessário fazermos o trabalho apologético com extremo cuidado, de modo a mostrarmos como a CF é estranha ao espírito da Quaresma (e até mesmo à Doutrina Católica), de modo que possamos “pressionar”, dentro da subsidiariedade e (obviamente) da caridade, as instâncias próximas a nós para que tomem alguma posição. Esta parte, no entanto, não pode de modo algum obscurecer o “trabalho positivo” que deve ser feito.

5. Alguém tem mais alguma consideração a fazer?

p.s.: 6. Desnecessário dizer que tudo isso é urgente, dado que os filhos das Trevas já contam com grande parte de seus exércitos preparados e a postos. A resistência, portanto, é premente.

Cânticos

Releio o Cântico Espiritual de São João da Cruz. O grande místico foi celebrado anteontem na Igreja. Confesso não conhecer muito sobre ele, mas gosto do pouco que conheço. Em particular, do Cântico Espiritual.

A Esposa procura pelo Amado; pergunta aos pastores, pergunta aos bosques e espesuras que a mão do seu Amado plantou. Procura-O desesperadamente: Decid si por vosotros ha pasado. E ouve falar do seu Amado, mas não O encontra.

Lembro-me imediatamente do Cântico dos Cânticos, e com certeza São João da Cruz tinha o texto bíblico diante de si enquanto escrevia o seu Cântico Espiritual. Mas julgo o livro sagrado mais triste. Porque, nele, fica mais clara a culpa da Esposa na separação:

“Eu dormia, mas meu coração velava. Eis a voz do meu amado. Ele bate. Abre-me, minha irmã, minha amiga, minha pomba, minha perfeita; minha cabeça está coberta de orvalho, e os cachos de meus cabelos cheios das gotas da noite. Tirei minha túnica; como irei revesti-la? Lavei os meus pés; por que sujá-los de novo? (…) Levantei-me para abrir ao meu amigo; a mirra escorria de minhas mãos, de meus dedos a mirra líquida sobre os trincos do ferrolho. Abri ao meu bem-amado, mas ele já se tinha ido, já tinha desaparecido; ouvindo-o falar, eu ficava fora de mim. Procurei-o e não o encontrei; chamei-o, mas ele não respondeu” (Cântico dos Cânticos, 5, 2-3. 5-6).

E gosto particularmente destes versos: Exspoliavi me tunica mea, quomodo induar illa? Lavi pedes meos, quomodo inquinabo illos? Chego quase a imaginá-los. Uma situação cômoda, e alguém que vem incomodar: um descanso merecido, que alguém vem interromper. Mas é Deus quem chama!

A Esposa levanta-se. Antes de levantar, no entanto, reclama; e esta murmuração, ela somente, tão pequena, é suficiente para que o Amado vá-se embora. Não havia de levantar-se? Por que não se levantou de uma vez? Teria encontrado o Amado à porta. No entanto, perdeu tempo. Ele Se foi.

Depois, Ela o procura pela cidade. Sofre, sem O encontrar. “Dizei-lhe”, Filhas de Jerusalém, “que estou enferma de amor” (v. 8). É a mesma coisa que diz São João da Cruz: si por ventura vierdes / aquel que yo más quiero, / decidle que adolezco, peno y muero. A Esposa sofre pelo Amado nos Textos Sagrados, sofre no poema do santo espanhol.

E quem dera a nossa alma sofresse pelo Deus Altíssimo! Porque a imagem da Esposa e do Amado é figura da alma humana que ama e busca a Deus. Tanto o Cântico Espiritual quanto o Cântico dos Cânticos terminam com a união da Esposa e do Amado. A alma, por fim, termina unida a Deus – eis a mística – depois de todo o sofrimento que passa em busca d’Ele – eis a ascese.

Quem dera nossa alma sofresse buscando o Deus Onipotente! Porque, muitas vezes, tenho a impressão de que ela permanece no exspoliavi me tunica mea… Permanece no tempo perdido. Permanece na apatia. Permanece no próprio comodismo, que a afasta de Deus. Precisa levantar-se, abrir a porta, buscar a Deus, sofrer. Só assim vai refazer os passos das Esposas dos dois Cânticos. Só assim poderá terminar na mesma felicidade delas.

É advento. É tempo de endireitar as veredas. É tempo de despertarem os que dormem – pois o Senhor vem. É necessário deixar o aconchego da cama, vestir novamente a túnica, sujar os pés. Ir à cidade, procurar pelo Amado, buscá-Lo nos bosques e nos campos. Mas buscá-Lo, mesmo que se vá sofrer nesta busca. Sabendo, aliás, que se vai sofrer nesta busca: porque a ascese precede a mística, e a união com Deus é para as almas que O procuram. Que a Virgem Santíssima conceda-nos a graça de nos prepararmos bem para o Natal. Que o final feliz do Cântico dos Cânticos e do Cântico Espiritual possa ser também o final do cântico de nossas próprias vidas. Soframos em busca de Deus, para que um dia rejubilemo-nos em Sua companhia.

Por uma Quaresma católica

Está chegando a época da humilhação anual à Igreja de Nosso Senhor. A Campanha da Fraternidade 2010 promete. Com o tema “Economia e Vida” e o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (ou seria o contrário?), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil parece se preparar para uma nova rodada de desprezos a assuntos como graça, sacramentos, oração, mortificação, jejum, penitência, esmola e outras coisas que, no resto do mundo, têm tudo a ver com Quaresma.

No Brasil, na cabeça da CNBB, o que tem a ver com Quaresma é… economia. Como se os bispos fossem economistas, ou como se a Verdadeira Economia estivesse entre aquelas verdades reveladas cuja profissão expressa é absolutamente necessária para a salvação de toda a criatura, ou como se os maiores pecados dos católicos brasileiros fossem a conivência, direta ou indireta, com o “sistema” intrinsecamente injusto que dirige a nossa sociedade.

O Danilo escreveu ontem sobre o assunto. Recebi um email de um amigo comentando o texto-base da CF que, não obstante, vou me abster de citar aqui porque não o encontrei até o presente momento no site da Conferência. O Puggina também escreveu, no Mídia Sem Máscara, um artigo sobre as tolices beato-marxistas das Campanhas da Fraternidade. É crescente a insatisfação das pessoas sensatas com esta palhaçada que, todo santo ano, é feita justamente no tempo talvez mais importante do Calendário Litúrgico da Igreja. E até quando vai continuar?

O mais frustrante é que já é tarde para fazer muita coisa. Já estão escolhidos o tema e o lema, os cartazes estão prontos, a divulgação já começou, e o texto-base provavelmente já está escrito e deverá estar disponível no site da CNBB muito em breve. Ano passado, eu tinha feito o propósito de ensaiar uma mobilização para que, ao menos, esta maledetta campanha fosse colocada bem longe da Quaresma. Não fiz nada – mea culpa. Desta vez, vamos aproveitar enquanto a indignação ainda está fervendo o sangue. Queremos uma Quaresma católica, e isso não pode ser pedir demais.

A obviedade infantil do ateísmo

Corajoso o artigo do Pondé publicado na Folha e reproduzido pelo Instituto Humanitas Unisinos. “Ateísmo não choca mais ninguém (pelo menos quem já leu uns três livros sérios na vida), porque ateus já são vendidos às dúzias em liquidações”.

Verdade. Não existe nenhum arroubo intelectual digno de nota em uma profissão de anti-Fé que, hoje em dia, parece ser moda. Qualquer criança mal-educada consegue ser atéia. De acordo com Pondé, “[p]oucos ateus não são descendentes de uma criança infeliz e revoltada”. E os motivos desta revolta são sempre infantis: sempre existem crianças mais felizes do que elas e, por isso, o mundo não é justo.

Claro, reconhecemos que há ateus e ateus. Há os que não acreditam em Deus porque não se importam, há os que procuram uma válvula de escape para a má vida moral que levam, há os que simplesmente são burros mesmo, há os que se indignam com “a injustiça do mundo”, e há uma infinidade de gradações e sobreposições entre estes motivos e ainda outros. O Pondé acha que a maior parte deles é formada por infelizes e frustrados. Não sei se chega a ser a maior parte, mas parece-me, sim, uma parte bastante considerável: é aqui que o ateísmo é “óbvio”. Puerilmente óbvio.

No entanto, tornar-se ateu devido ao problema da existência do sofrimento no mundo é um non sequitur infantil. Em primeiro lugar, porque a Religião não promete e nem jamais prometeu um mundo isento do sofrimento. Em segundo lugar, porque qualquer pessoa que já tenha assistido “Todo-Poderoso” – ou até mesmo que tenha somente pensado por cinco minutos sobre o assunto – deveria saber que a satisfação plena de todos os desejos de todas as pessoas é simplesmente impossível. Exigir o impossível não é sinal de inteligência, e sim de imaturidade. As condições exigidas pelos ateus para que eles acreditem na existência de Deus são simplesmente irracionais.

E o ateísmo é, no fundo, fruto de um subjetivismo atroz, de um egocentrismo exacerbado, de um ad ignorantiam grosseiro. Afinal de contas, quais são as Cinco Vias Dawkinianas para se chegar à Inexistência de Deus? O ateísmo não é um argumento, é o contrário de um argumento: é colocar as próprias impressões limitadas sobre o mundo como se fossem a própria constituição do mundo, a tessitura do Universo. No fundo, anti-Fé atéia está baseada no achismo do ateu de que Deus não existe. Como se o achismo dele fosse axiomático, fosse a própria manifestação da Verdade Absoluta que ele não reconhece existir.

A trave e os ciscos

Na internet, nós encontramos coisas inacreditáveis. Um site de hereges chamado cristaos.com, que de cristão não tem nada, diz ter feito uma queixa à CNBB (!) com relação àquilo que ele chama de “sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos”. Eis a mensagem que, até o presente momento, encontra-se na página principal do site:

Após denúncia feita pela equipe cristaos.com entramos em contato com a CNBB (Conferência nacional dos bispos católicos do Brasil) solicitando divulgação de uma  nota mostrando qual a posição oficial da religião Católica no Brasil em relação aos sites católicos amadores que pregam ódio e intolerância para com os Cristãos. Fomos atendidos pelo padre Elias Wolff que se prontificou a nos dar essa posição no final da semana que vem. Vamos aguardar e tão logo recebermos esse comunicado estaremos esclarecendo, tanto aos nossos visitantes evangélicos como os visitantes católicos que, muitas vezes, são vítimas dos sites “amadores católicos” como Veritatis, Lepanto, Montfort, Defesa Católica entre outros.

Então, a dar crédito àquilo que o site cristaos.com diz, antes do Natal vai sair uma nota da CNBB sobre os “sites católicos amadores”. Provavelmente, refere-se aos sites católicos leigos, entre os quais, então, encontra-se o Deus lo Vult! – o qualificativo “amadores” é meramente um epíteto depreciativo usado pelo site, aplicado a apostolados tão distintos quanto o VS e Lepanto de um lado e a Montfort e o Defesa Católica do outro.

Não há nada ainda no site da CNBB. Esta é uma nota que eu gostaria muito de ver – vai ser divertido. No entanto, já é para rir ver um site protestante do protestantismo mais chulo, agressivo e rasteiro reclamar das agressões católicas. Neste link, eles chamam a Igreja Católica de “Igreja”, entre aspas, o tempo inteiro. Neste link, são os bispos católicos que recebem aspas quando designados, e ainda são acusados de serem “contrários à pregação do evangelho” (!) – por um irônico ato falho, o “evangelho” deles vai em minúsculas mesmo. Neste longo e enfadonho texto com motivos pelos quais as pessoas não devem ser católicas, insinua-se que os católicos não são cristãos – afinal, o texto diz que vai “mostrar a total incompatibilidade que existe entre a cristã e a fé dos católicos” – e, neste outro, diz-se que o catolicismo é “uma das religiões mais demoníacas que existe”.

Verdadeira piada. E, ao final disso tudo, são os sites católicos que “pregam ódio e intolerância”. Se isso não for um absurdo cinismo, é uma deficiência intelectual gigantesca. Por que os “cristãos” do cristaos.com não olham para a trave em seus próprios olhos antes de fazerem queixas histéricas sobre os ciscos nos olhos alheios?