Maior estátua das Américas: Santa Rita de Cássia

Foto: Portal Uai

Que coisa fantástica! Cidade do RN inaugura estátua maior que o Cristo Redentor (Portal Uai). A cidade, que eu não conhecia, é Santa Cruz e fica a pouco mais de 100 km de Natal.

A imagem é de Santa Rita de Cássia, tem 56 metros de altura e uma cruz de dez metros na mão direita. É maior do que o Cristo Redentor e de que a Estátua da Liberdade. Fora anunciada há mais dois anos (G1), mas só agora no final de junho foi inaugurada. Santa Rita de Cássia, das causas impossíveis.

Segundo G1, a licitação foi promovida “pela prefeitura de Santa Cruz” e a obra teria originalmente “um investimento de mais de R$ 4 milhões”. Segundo o Portal Uai, foi “[c]om recursos do governo do estado e do Ministério do Turismo [que] a santa saiu do papel. Custou R$ 3.774.063,76”. E a obra passou ainda nove meses embargada, com o Ministério Público Estadual questionando “a relevância do projeto para o município”. No entanto, foi recentemente inaugurada. A ênfase é necessária: Santa Rita de Cássia, das causas impossíveis.

A Arquidiocese de Natal publicou uma nota no seu site. “O decreto de criação do Santuário de Santa Rita de Cássia foi assinado em 11 de outubro de 2009, por Dom Matias Patrício de Macêdo, no encerramento da visita pastoral à Paróquia de Santa Cruz”.

E Santa Rita de Cássia dá mostras do porquê de ser conhecida como a santa das causas impossíveis. Uma estátua maior do que a estátua da liberdade, em pleno interior do Nordeste, construída – ao arrepio do “Estado Laico” e para horror dos laicínicos de plantão – com recursos vindos do estado do Rio Grande do Norte e do Ministério do Turismo, a despeito dos protestos e da pressão realizada pelo Ministério Público Estadual! Ad majorem Dei Gloriam. O povo católico fica feliz, e o Deus Altíssimo é glorificado – publicamente – nos Seus santos.

“Direito & Saúde: o caso de Alagoinha”

Em março passado, completou-se um ano do assassinato dos gêmeos de Alagoinha. Na época, o IPAS lançou um documentário sobre o caso, que foi comentado pelo William Murat. Agora, há uma semana, o documentário completo (30 min.) foi disponibilizado para ser assistido na internet.

Foi a primeira vez que vi “Direito & Saúde: o caso de Alagoinha”. Nada de inesperado: as mentiras de sempre (como, p.ex., que o aborto inseguro é uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil), o apelo emocional (com algumas cenas e entrevistas na cidade natal da menor duplamente agredida), a cantilena “o-estado-é-laico-e-mimimi” perpassando o documentário de uma ponta a outra. Ninguém lembra que a laicidade do Estado implica também, por definição, que ele não pode privilegiar a fé dos ateus em detrimento da Fé dos católicos. E ninguém lembra que o assassinato de inocentes não é uma questão religiosa. No final, o documentário é mais um exemplo do modus operandi abortista: mente, distorce alguns fatos quando é conveniente e ignora outros quando são desagradáveis, e faz a caveira da Igreja Católica, pintando-a como a grande vilã da história. Nada de novo.

Mas duas coisas interessantes. Primeiro, a declaração de um médico aos 10m18s. In verbis: “Então a gente não sabe realmente (…) Ela [a menina de Alagoinha] teria um risco muito aumentado de pré-eclâmpsia, de parto prematuro, ruptura prematura das bolsas, hemorragia pós-parto ou de ruptura interina mas, eu não sei dizer qual é o risco. Eu sei que é muito maior; eu não sei se é 1%, 2%, 3%, não sei; mas que é muito maior do que a população geral, isso era”. Então, o artigo do Código Penal que não pune o aborto quando “não existe outra maneira de salvar a vida da gestante” foi evocado para assassinar duas crianças porque a mãe teria (atenção ao tempo verbal) um certo risco (de magnitude desconhecida) de sofrer algumas complicações no decorrer da gravidez? O fato é que, no momento do aborto, ela não tinha nada! “Aborto preventivo” agora também é “legal” no Brasil?

E, segundo, a narrativa do seqüestro da garota. A partir dos 11 min. “Nós fomos ao hospital [IMIP] (…) a direção do hospital estava sendo pressionada”. “Fomos, Curumim, SOS Corpo, (…) a secretária de políticas (…) e uma secretária adjunta dela, fomos (…) conversar com a diretoria médica do IMIP”. “Ligávamos para os promotores (…) [perguntando] aonde nós podemos atuar (…) para garantir que a lei seja cumprida?”; “Nós estamos falando de lei, e eu acho que o Brasil sendo um país laico (…)”; “contactamos outro serviço de atendimento ao aborto legal, perguntamos se eles receberiam a garota”. “Conversamos com a mãe dela, explicamos a situação (…) colocamos para ela todas as possibilidades que ela tinha para que ela tomasse uma decisão”. “Ali mesmo ela assinou o pedido de alta. (…) E a gente fez uma operação de guerra, pegamos as coisas da menina, botamos dentro das sacolas, uma sai com a menina, a outra sai com a mãe, a outra sai duas para disfarçar, e o carro vem pegar de um lado, vem pegar do outro”. “Ela chegou [no CISAM] num carro preto, com vidro fumê”. “Começou o tumulto, a imprensa, já tinha gente aí de todo o lugar (…) eu fui lá, e a gente tratou de isolá-la na enfermaria”.

Lamentável. No documentário, também uma médica residente “contra” o aborto, as declarações de Lula e de Temporão, e muitas outras besteiras que nem vale a pena comentar. Enquanto isso, padrasto engravida menina de 12 anos no interior de Pernambuco. Na semana passada. A gestação já está em seis meses e, por isso, provavelmente, a menina estará livre do lobby abortista (contextualizando: aqui)…

Consagração do Brasil ao Sagrado Coração de Jesus

Fonte: Devoções: leia-me! [ver também no link uma explicação sobre o porquê desta consagração.]

Ato da Consagração Cívica Nacional do Brasil ao Sagrado Coração de Jesus

Coração Eucarístico de Jesus, Coração do Homem-Deus, Coração de Cristo Rei, Salvador da humanidade, Senhor dos senhores, Juiz Supremo dos indivíduos e das Nações. Nós, como legítimos representantes do povo brasileiro, aqui vimos entregar-Vos os destinos de nossa Pátria, que Vos foi consagrada pelo Episcopado Nacional, em presença do Chefe do Governo, no alto do Corcovado.

Neste momento culminante de nossa história, atendendo ao apelo de milhares de vozes, no mais alto plebiscito de Religião e patriotismo, vimos ratificar esta consagração ao Vosso Divino Coração.

A Vós consagramos todos os Estados e Territórios do Brasil com suas riquezas naturais, suas empresas e realizações, suas riquezas materiais, seu patrimônio espiritual e moral.

Reinai em nossos lares, santificando todas as famílias desde a mais abastada até as mais pobres.

Reinai em todas as atividades dos homens. Sede a luz dos homens de estudo, a defesa da Pátria pelas Forças Armadas, a sapiência dos Legisladores, a justiça dos Magistrados, a orientação do Governo.

Agradecemos as Vossas dadivosas bênçãos à nossa Pátria, e, reconhecendo nossos erros e ingratidões, pedimos Vosso perdão e misericórdia.

Por Maria Santíssima, a Virgem Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, suplicamos Vossas bênçãos para felicidade do nosso Povo agora e sempre. Amém.

Assinaram este ato 58 senadores, 250 deputados, 55 ministros do Supremo Tribunal, o Tribunal Superior do Trabalho, o Tribunal de Recursos, o Superior Tribunal Militar e 60 vereadores do Distrito Federal.

Foi pronunciado no encerramento do Congresso Eucarístico Internacional em 24 de julho de 1955.

Leituras apressadas

Estudante mineira pode ser beatificada. “Isabel Cristina lutou até o fim da vida pela virgindade. Ela resistiu ao estupro, mesmo depois de ser golpeada na cabeça com uma cadeira e de ser amordaçada”.

12 razões pelas quais crucifixo não viola liberdade. “A parede branca também é uma declaração ideológica, especialmente se nos primeiros séculos não podia estar vazia”.

Itália: “Esta é a resposta ao Juiz turco de Estrasburgo!”. Leiam, é fantástico! “O prefeito de Assis sugeriu que além dos crucifixos fossem colocados também presépios nas salas de aula. O prefeito da cidade de Trieste esclareceu que tudo permaneceria do jeito que está. A Câmara de Comércio romana pediu que as lojas pendurassem crucifixos […] O prefeito de Galzignano Terme na província de Pádua, Riccardo Roman, ordenou colocação imediata de cruzes em todos os edifícios públicos – não somente escolas, mas também na Prefeitura e museus”.

Apagão em Brasilia foi pior que restante do Brasil: No senado “mordaça Gay” foi aprovada. Na foto: “a Bíblia é homofóbica? E agora, vão rasgar a bíblia?”. No texto: “o projeto fora para votação sem ser comunicado na pauta normal do dia. Foi realmente uma jogada suja, tão suja quanto os que projetaram essa vergonha”.

Concordata e Estado Laico

A Câmara dos Deputados aprovou na última quarta-feira a concordata entre a Santa Sé e o Estado do Brasil. O texto segue agora para apreciação no Senado e, depois, para ratificação presidencial.

Quando da assinatura do acordo, ainda em novembro do ano passado, eu publiquei aqui no Deus lo Vult! algumas ligeiras considerações sobre ele. Não tenho muito mais coisas a acrescentar, porque o texto não mudou; o frisson atual é decorrente da proximidade das votações que irão decidir pela aprovação ou rejeição do texto, e não dele em si.

É fundamental lê-lo na íntegra (vejam aqui no site do Ministério das Relações Exteriores), para evitar que se pensem (ou, pior ainda, se escrevam…) besteiras: isso resolveria a maior parte dos (falsos) problemas que os laicínicos de todos os naipes estão alardeando histericamente. Contudo, tem gente que lê o texto e, mesmo assim, insiste em ver chifre em cabeça de cavalo, como p.ex. o Hélio Schwartzman (em texto publicado na Folha de São Paulo para assinantes, republicado pelo blog Filosofia Social e Positivismo).

Apesar do articulista reconhecer que “o texto não faz muito mais do que reafirmar direitos que a Constituição e a legislação ordinária já concedem não só à Igreja Católica mas a todas as instituições religiosas” e que “[o] problema está menos no conteúdo do texto (…) e mais na oportunidade do acordo”, mesmo assim, segundo ele, a “concordata pode gerar problema institucional” – como diz no título do artigo. O único “problema” realmente é a própria existência do acordo, que o Hélio parece, a todo custo, não querer admitir. No entanto, ele se aventura a uma alfinetada:

Por fim, há que desconfiar das declarações diplomáticas da CNBB de que a Concordata não ameaça o Estado laico, que seria um “valor”. Os bispos brasileiros podem pensar assim, mas a posição oficial de Roma é menos tolerante. A encíclica que trata do tema, a “Vehementer nos”, baixada por Pio 10º em 1906, qualifica a separação entre Estado e igreja como “tese absolutamente falsa” e “erro perniciosíssimo”. Tal carta nunca foi atualizada. Aqui não é preciso ser paranoico para pôr as barbas de molho, conselho que Lula poderia seguir.

Sim, é preciso ser paranóico para trazer à baila uma carta encíclica de São Pio X que fala sobre outra coisa. Para usar um ad hominem e encerrar esta discussão boba, bastaria lembrar ao articulista que a Gaudium et Spes, em 1965, diz textualmente: “No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autónomas” (Gaudium et Spes, 76). No entanto, é mister falar ainda sobre duas coisas.

Primeiro, que as relações entre a Igreja e o Estado são um assunto muito complexo para se tratar em duas ou três palavras. Sendo muito mais lacônico do que o tema permitiria, arrisco-me a dizer que falar em justas relações entre Estado e Igreja não é a mesma coisa que falar em confessionalidade do Estado. Contrapôr, ao “Estado Laico” moderno, um “Estado Teocrático” antigo concebido aos moldes de um regime dos Aiatolás do Irã, é um erro histórico grotesco.

Segundo, que a própria problemática das relações entre Igreja e Estado passa ao largo da presente concordata: esta se presta meramente a regulamentar alguns aspectos pontuais do estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil. Apesar de especialistas criticarem o acordo e das Católicas pelo Direito de Decidir terem divulgado “anteontem [25/08] uma pesquisa feita pelo Ibobe segundo a qual 75% dos católicos seriam contrários ou teriam restrições ao acordo” sem, no entanto, deixarem claro “se a pesquisa também avaliou o nível de conhecimento dos entrevistados sobre o teor da concordata”, tudo isso é fogo de palha. O cerne do problema do Estado Laico não tem nada a ver com este acordo, e sim com as palavras que Bento XVI dirigiu aos juristas católicos italianos em 2006, que – mesmo sendo extensas – peço licença para reproduzir:

Na realidade, hoje a laicidade é geralmente entendida como exclusão da religião dos vários contextos da sociedade e como sua relegação para o âmbito individual. A laicidade expressar-se-ia na total separação entre o Estado e a Igreja, não tendo esta última qualquer título para intervir a propósito de temáticas relativas à vida e ao comportamento dos cidadãos; a laicidade comportaria até mesmo a exclusão dos símbolos religiosos dos lugares públicos, destinados ao desenvolvimento das funções próprias da comunidade política:  dos escritórios, escolas, tribunais, hospitais, prisões, etc. Com base nestes múltiplos modos de conceber a laicidade, hoje fala-se de pensamento laico, de moral laica, de ciência laica e de política laica. Com efeito, no fundamento de tal concepção há uma visão arreligiosa da vida, do pensamento e da moral:  ou seja, uma visão em que não há lugar para Deus, para um Mistério que transcenda a razão pura, para uma lei moral de valor absoluto, em vigor em todos os tempos e em cada situação. Somente se nos dermos conta disto, poderemos medir o peso dos problemas subjacentes a um termo como laicidade, que parece ter-se tornado como que o emblema qualificador da pós-modernidade, de modo particular da democracia moderna.

Então, compete a todos os fiéis, de forma especial aos crentes em Cristo, contribuir para elaborar um conceito de laicidade que, por um lado, reconheça a Deus e à sua lei moral, a Cristo e à sua Igreja o lugar que lhes cabe na vida humana individual e social e, por outro, afirme e respeite a “legítima autonomia das realidades terrestres”, significando com esta expressão como confirma o Concílio Vaticano II que “as coisas criadas e as próprias sociedades têm as suas próprias leis e valores, que o homem gradualmente deve descobrir, utilizar e organizar” (Gaudium et spes, 36).

Esta autonomia é uma “exigência… legítima:  não só é reivindicada pelos homens do nosso tempo, mas corresponde à vontade do Criador. Com efeito, é pela virtude da própria criação que todas as coisas estão dotadas de consistência, verdade e bondade, de leis próprias e de uma ordem que o homem deve respeitar e reconhecer os métodos próprios de cada uma das ciências e técnicas” (Ibidem). Se, ao contrário, com a expressão “autonomia das realidades temporais” se quisesse dizer que “as coisas criadas não dependem de Deus, e que o homem pode usá-las de tal maneira que não as refira ao Criador”, então a falsidade desta opinião não poderia passar despercebida a quem quer que acredite em Deus, nem à sua presença transcendente no mundo criado (cf. ibid.).

Estas são as questões fundamentais que não podem ser negligenciadas, esta é a diferença entre as autonomias legítimas e a Fé Irreligiosa institucionalizada que, hoje em dia, querem a todo custo impôr.

A liberdade da defesa da Vida

Existem algumas coisas que eu não sei bem se valem a pena. Refiro-me à forma como foi organizada a 3ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, que acontecerá em Brasília no próximo domingo.

É claro que vale a pena – aliás, é necessário – protestar contra a legislação iníqua que, já em vigor ou às portas, ameaça a vida humana indefesa nesta Terra de Santa Cruz. O que está em questão não são os eventos, posto que estes são importantes (aqui em Recife nós temos a Caminhada pela Vida feita a nível Arquidiocesano), e sim a forma como eles são organizados.

Por exemplo: Elba Ramalho foi convidada a fazer um show na Marcha de Brasília, e aceitou. Recebeu centenas de emails condenando a sua atitude e outras centenas incentivando-a; decidiu que iria manter. Em reportagem do Correio Braziliense, no entanto, a cantora disse que “você deve preservar a vida de qualquer pessoa, mas sem assumir nenhuma radicalidade quanto a isso”. E disse que está fazendo “o mesmo que aconteceu quando me [Elba] posicionei contra a transposição do São Francisco”.

Eis, portanto, a comparação descabida (o aborto com a transposição do São Francisco!) e a defesa tíbia do direito à vida (posto que deve ser feita sem “nenhuma radicalidade” – o que seria uma “radicalidade” nesta questão, segundo a visão da cantora?), proferidas à imprensa pela artista que está encabeçando o evento. Acaso isso vale a pena?

[p.s.: após uns comentários que recebi principalmente sobre este trecho imediatamente acima, acho importante reiterar que eu não sei o que a Elba Ramalho entende por “radicalidade”. Pode ser a radicalidade necessária (ser contra o aborto inclusive nos “casos-limites”, como risco de vida ou má-formação fetal), ou pode ser a radicalidade condenável (como assassinar o dr. Tiller). Não dá para dizer, só pelas declarações da cantora à imprensa, que ela seja a favor do aborto em alguns casos, e nem eu disse isso; retrato-me aqui por ter dado margem a que se pensasse assim.

O que julguei tíbias – e continuo julgando – foram as declarações concretas concedidas à imprensa, da forma como foram feitas, sem entrar absolutamente no mérito da origem da tibieza, se foi intenção da cantora, inadvertência ou manipulação da mídia. O que julgo é que tais declarações, feitas como estão, muito mais atrapalham do que ajudam a militância pró-vida, porque lhes falta, no mínimo, a clareza exigida pela gravidade da causa. Isso – reitero – sem entrar no mérito sobre a quem cabe a responsabilidade por elas.]

Digam o que disserem, sempre achei perigosa a idéia de organizar movimentos e manifestações contra o aborto que fossem “supra-religiosos”. Quem defende a vida é a Igreja Católica, ponto, fato. É possível ser contra o aborto e ser “contra o aborto, mas…”. Esta última posição é válida por ser melhor do que nada, mas não se pode correr o risco de que ela conspurque a limpidez da posição defendida pela Igreja de Cristo. Não dá para entregar o movimento pró-vida para ser dirigido por pessoas que não tenham a urgência da questão impregnada forte na alma. Não se pode correr este risco.

E mais um exemplo: Fundo do governo banca marcha antiaborto. “[A] 3ª Marcha Nacional da Cidadania Pela Vida recebeu R$ 143 mil do Fundo Nacional da Cultura, um fundo público do Ministério da Cultura para financiar projetos e ações culturais”. Obviamente a crítica é hipócrita, posto que existem incontáveis ONGs e grupos abortistas que recebem financiamentos muito mais pomposos quer do Governo, quer de fundações internacionais. Mas acaso vale a pena este conluio com o governo abortista, para que depois os cínicos de plantão venham fazer estardalhaço e inverter a realidade, acusando o movimento pró-vida de ser financiado pelo governo e, de quebra, fazer barulho contra este flagrante desrespeito à laicidade do Estado?

Unir forças, sim, sem dúvidas. Mas não com todo mundo e – principalmente – não sem critérios. Se as coisas não forem bem feitas, corre-se o permanente risco de que todos os esforços sejam dissipados e tornem-se improfícuos no emaranhado de teias de relacionamentos urdidas na ânsia de se obter tanto apoio quanto possível – mesmo que às custas da liberdade.

En passant, mas mereciam mais

Justiça decide que símbolos religiosos podem permanecer em prédios públicos. “A juíza Maria Lúcia Lencastre Ursaia, da 3ª Vara Cível Federal de São Paulo, indeferiu nesta quinta-feira o pedido do Ministério Público Federal de retirada de símbolos religiosos de prédios públicos”. Uma lufada de bom senso no judiciário, graças a Deus. O Reinaldo Azevedo também comentou: segundo o articulista, a juíza escreveu

1 – que é natural a presença de símbolos religiosos cristãos num país de formação cristã — isso pertence à nossa história;
2  – que, “sem qualquer ofensa à liberdade de crença, garantia constitucional, eis que, para os agnósticos, ou que professam crença diferenciada, aquele símbolo nada representa, assemelhando-se a um quadro ou escultura, adereços decorativos”;
3 – que estado laico não quer dizer estado anti-religioso. Dando uma pequena aula de lógica e de história à boçalidade do CCC, escreveu: “O Estado laico foi a primeira organização política que garantiu a liberdade religiosa. A liberdade de crença, de culto, e a tolerância religiosa foram aceitas graças ao Estado laico, e não como oposição a ele. Assim sendo, a laicidade não pode se expressar na eliminação dos símbolos religiosos, mas na tolerância aos mesmos.”

Só um “detalhe”: o terceiro ponto, com loas exageradas e imprecisas ao Estado Laico, não pode ser subscrito sem ressalvas. E este mau entendimento pode comprometer tudo…

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Lei antifumo paulista é inconstitucional, diz AGU. “A Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que defende e representa a União principalmente em ações no Supremo Tribunal Federal (STF), emitiu parecer anteontem que considera a lei antifumo paulista inconstitucional. O documento, assinado por José Antonio Dias Toffoli, enfatiza que a competência de legislar sobre o uso do cigarro em ambientes fechados é do governo federal e não de Estados ou municípios”.

Não me parece muito animador. Primeiro pelo fato do “posicionamento não ser definitivo” e, segundo e muito mais sério, porque o alegado motivo da inconstitucionalidade está equivocado. A AGU, na verdade, só faz “transferir” o poder ilegítimo dos municípios para o Estado Federal, ao invés de defender claramente o direito à propriedade e as liberdades individuais. E isto é preocupante.

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–  Padres afastados serão ouvidos por dom Saburido. Palavras de Sua Excelência Reverendíssima: “Todos serão bem-vindos na arquidiocese. Todos. Desde que estejam dispostos a trabalhar com amor. Vamos escutar a verdade do outro e perdoar os erros do passado, para reconstruir nossa unidade. […] Muita coisa da época de dom Helder morreu e precisa ser ressuscitada. A igreja precisa voltar a ter um semblante alegre”.

Que a Virgem Santíssima, Onipotência Suplicante, Aquela de quem jamais se ouviu dizer que tivesse desamparado quem se Lhe achegasse com confiança, ponha o Seu valor diante do Altíssimo em defesa de Olinda e Recife. E oremus pro Antistite nostro.

℣. Oremus pro antistite nostro Ferdinando.
℟. Stet et pascat, in fortitudine tua, Domine, in sublimitate nominis tui.
℣. Salvum fac servum tuum.
℟. Deus meus sperantem in te.

O juiz protestante e os crucifixos das repartições públicas

Excelente o texto do William Douglas, “juiz federal, professor, escritor, mestre em Direito – UGF, Especialista em Políticas Públicas e Governo – EPPG/UFRJ”, publicado pelo Consultor Jurídico: Ação contra crucifixos mostra intolerância. Registre-se, aliás, logo de começo, que ele próprio não é católico. Este texto é um excelente exemplo de que é possível, mesmo sem ser católico, fugir à leviana interpretação da realidade – tão freqüente nos nossos dias! – segundo a qual o Estado não pode defender nada que a Igreja defenda, porque Ele é laico.

O juiz critica esta concepção de mundo nonsense muito melhor do que eu, ao dizer que “a laicidade não se expressa na eliminação dos símbolos religiosos, e sim na tolerância aos mesmos”. E devolve com maestria: “o pensamento deletério e a ser combatido é a intolerância religiosa, que se expressa quando alguém desrespeita ou se incomoda com a opção e o sentimento religioso alheios, o que inclui querer eliminar os símbolos religiosos”. Isto, sim, é uma lufada de bom senso no meio jurídico brasileiro, um lampejo de esperança no meio da fúria laicista.

Registre-se mais uma vez: ele não é católico e, ao contrário, é protestante iconoclasta. Pois chega ao ponto de dizer que o crucifixo, segundo a sua linha religiosa, é… um ídolo! Um ídolo, numa imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo! O absurdo da posição só confere mais valor ao seu parecer. Ele obviamente não está advogando em causa própria (acusação leviana amiúde lançada aos católicos), porque o crucifixo é, para a religião dele, muito mais abominável do que para os anti-clericais. Ofende-lhe muito mais do que aos laicistas mimados. No entanto, ele consegue enxergar com clareza a intolerância dos sem-religião.

E vai mais além, porque vai ao cerne do problema ao identificar o ateísmo com uma crença (como, aliás, já cansei de falar aqui): “A recusa à existência de Deus, a qualquer religião ou forma de culto a uma divindade não é uma opção neutra, mas transformou-se numa nova modalidade religiosa. […] A eliminação dos símbolos religiosos atende aos desejos de uma vertente religiosa perfeitamente identificada, e o Estado não pode optar por uma religião em detrimento de outras”. A clareza da posição me alegra sobremaneira: não é mais um católico fundamentalista que está falando isso para meia dúzia de leitores de seu blog, e sim um juiz federal protestante no Consultor Jurídico.

“Excluir símbolos é fazer o Estado optar por quem não crê. A laicidade aceita todas as religiões ao invés de persegui-las ou tentar reduzi-las a espaços privados, como se o espaço público fosse privilégio ou propriedade de quem se incomoda com a fé alheia”. Oxalá este entendimento estivesse mais disseminado no meio jurídico brasileiro! É lamentável que pensamentos como o do dr. William Douglas sejam minoritários. Enquanto isso, teremos que suportar as aberrações do Estado anti-teísta. Até quando…?

Não importunem os ateus!

Acho que eu já disse aqui outras vezes que é melhor ler besteiras do que ser analfabeto – parafraseando o antigo ditado, segundo o qual é melhor ouvir besteiras do que ser surdo. Por isso, nem reclamo mais (tanto) quando me cai aos olhos uma bobagem do calibre deste texto do sr. Claudio Weber Abramo sobre o direito de não ser importunado.

Trata-se de uma infantil reclamação sobre manifestações religiosas em estádios de futebol, que descamba para a já conhecida intolerância do ateísmo militante. O senhor Abramo não quer ser importunado. Por qual motivo, então, ele importuna os outros despejando lixo na internet? “Um ateu que viva num ambiente repleto de evocações a seres incorpóreos, influências etéreas e exortações à ‘espiritualidade’ não pode deixar de indignar-se com a coisa toda”, diz o articulista. Por que ele não vai à China? Lá deve ser o paraíso dos ateus. Ou o que ele quer é transformar o Brasil em uma ditadura atéia onde ele possa viver sem ser importunado? Mas, aí, os cristãos ficariam incomodados… por qual fantástico motivo estes últimos poderiam ser importunados e ele não?

Por qual motivo as manifestações religiosas dos não-ateus incomodam tanto os – assim intitulados – “livres-pensadores”? Em um artigo do João Pereira Coutinho citado aqui ontem, o português dizia: “Conheço pessoas que não fumam. E conheço pessoas que não fumam e não querem que os outros fumem. As primeiras são infelizes. As segundas são miseráveis”. Cai como uma luva para os ateus: existem pessoas que não acreditam em Deus, e existem aquelas que não acreditam e não querem que os outros acreditem. As primeiras, infelizes e, as segundas, miseráveis. O autor do texto ora citado parece pertencer à segunda categoria.

A justificativa dele para a sua posição? “O que está em jogo no caso da propaganda religiosa é o interesse coletivo. Interessa ao coletivo a disseminação de crenças em seres incorpóreos, influências etéreas e assim por diante?”. Ah, então tá. Como muito argutamente notou alguém numa lista de emails, se amanhã o sr. Abramo decidir que eu não existo, os meus amigos ficam ipso facto proibidos de falar em público de mim, porque não interessa ao coletivo. Não sei qual a razão do articulista achar que ele próprio é de interesse público.

Mas o manancial de bobagens parece inesgotável! Chega a ser frustrante ler que “[i]nteiras bibliotecas foram escritas para demonstrar que religião não é uma boa coisa (…) em particular[,] a ofensa que religiões representam à racionalidade, portanto à compreensão do mundo, portanto à capacidade de alterar o mundo”. As duas primeiras ofensas – à racionalidade e à compreensão do mundo – só podem ser uma piada de péssimo gosto. Tal sentença é, ela própria, uma ofensa à racionalidade. A terceira – ofensa à capacidade de alterar o mundo – pode ser verdadeira e talvez revele, afinal, o motivo profundo do ódio do articulista. Talvez ele esteja insatisfeito com o mundo que existe e deseje “alterá-lo”. Como na antiga União Soviética, quiçá. Só que está historicamente comprovado que o mundo inventado pelos sem-Deus não é bonito. Será que deveríamos repetir os mesmos erros de outora, somente para que o senhor Abramo não seja importunado?

Leitura fortemente correlata: A intolerância dos tolerantes! Ou: derrubem o Cristo Redentor e ponham Descartes no lugar.

Miscelânea de véspera de feriado

Mais coisas a comentar do que tempo para o fazer…

Manifesto do Silêncio, proposto pela ABRACEH, sobre o julgamento da psicóloga Rozangela Justino que foi remarcado para o dia 31 de julho de 2009. A ABRACEH também destaca a atividade do deputado federal Paes de Lira, que – entre outras coisas – conseguiu aprovar um requerimento para que houvesse uma audiência pública onde a própria dra. Rozangela, junto com “Joide Miranda (que deixou a condição de travesti), Claudemiro Soares (escritor do livro sobre abordagens terapêuticas para deixar a homossexualidade, ele mesmo tendo saído dela), além do Pastor Silas Malafaia e um representante da CNBB”, possam expressar o seu ponto de vista “acerca do Estatuto da Família e Leis da Homofobia”. Não sei a data desta audiência.

– Hoje é dia de São Thomas More e São João Fisher, mártires da Reforma Protestante na Inglaterra que não aceitaram o cisma de Henrique VIII. Vejam este texto e este outro sobre São João Fisher, junto com este e este sobre São Thomas More. E que os santos que não se dobraram diante do protestantismo possam interceder pela conversão dos hereges e cismáticos à única Igreja de Cristo.

Campanha pela santificação do clero brasileiro lançada pelo Veritatis Splendor. Nas atuais conjunturas chega às raias da utopia [possui coisas como “[q]ue os sacerdotes sejam absolutamente fiéis ao Magistério e valorosos defensores do Papa”, “[q]ue os sacerdotes ensinem a verdadeira DSI e a verdadeira moral, e deixem de favorecer a Teologia da Libertação” e “[q]ue os sacerdotes honrem o latim na liturgia e celebrem a Missa, mesmo na forma ordinária, em latim em suas igrejas”…], é forçoso reconhecer, mas precisamos rezar pelos nossos sacerdotes. Que a Virgem Santíssima consiga um portentoso milagre para esta Terra de Santa Cruz.

Presos dois homens acusados de intolerância religiosa. Protestantes da “Igreja Geração Jesus Cristo” (sic). É o primeiro caso de prisão por intolerância religiosa que ocorre no Brasil. A despeito de ser óbvio que ninguém pode invadir a casa dos outros e sair quebrando as coisas, a condenação está equivocada e pode abrir um perigoso precedente, porque caberia no máximo uma pena por invasão de domicílio e danificação de propriedade privada, não por “intolerância religiosa”. Guardadas as devidas e necessárias proporções entre os protestantes sem noção e os católicos de antigamente, destruir ídolos é em si uma coisa boa. Hernan Cortez o fez no México, e São Francisco Xavier, na Indonésia. Quando o Estado começa a se meter em questões religiosas, legislando sobre matéria que não tem competência, onde estão os defensores do Estado Laico?

FSSPX ordena treze novos sacerdotes nos Estados Unidos, “de surpresa”, em meio à polêmica sobre outras ordenações que estavam marcadas para o fim do mês; estas que geraram celeuma estão programadas para o dia 27 de junho, na Alemanha. Bom, o que dizer diante disso? Por um lado, cabe perguntar se não seria possível à FSSPX esperar um pouco e ter um mínimo de deferência ao Santo Padre que, não obstante esteja tratando com tanta benevolência os lefebvristas, ainda não conferiu status canônico algum à Fraternidade; por outro lado, talvez fosse utópico achar que uma simples canetada fosse transformar de repente a São Pio X em ovelha dócil e fiel ao Sucessor de Pedro. Estas ordenações provavelmente vão gerar ainda mais confusão. Rezemos pelo Papa, rezemos pela FSSPX.

Alguns mitos sobre as cruzadas, texto excelente disponível na Quadrante. “A atual visão a respeito das Cruzadas nasceu do Iluminismo do século XVIII. Muitos dos então chamados “filósofos”, como Voltaire, pensavam que a Cristandade medieval fora apenas uma vil superstição. Para eles as Cruzadas foram uma migração de bárbaros devida ao fanatismo, à ganância e à luxúria. A partir desse momento, a versão iluminista sobre as Cruzadas entrou e saiu de moda algumas vezes. As Cruzadas receberam boa imprensa e foram consideradas como guerras de nobreza (mas não de religião) durante o Romantismo e até o início do século XX. Depois da Segunda Guerra, contudo, a opinião geral voltou-se decisivamente contra as Cruzadas. Na esteira de Hitler, Mussolini e Stalin, os historiadores concluíram que a guerra por motivos ideológicos – seja qual for a ideologia em questão – é abominável”.