Moonwalker

Ontem morreu Michael Jackson aos cinqüenta anos de idade. Muito jovem; de acordo com uns comentários que ouvi ontem à noite, quem tem o dinheiro que ele tinha só morre se quiser.

Nada mais falso. Como dizia Cícero, omni aetati mors est communis: a morte não poupa ninguém, na tradução livre mais comum. “A morte é comum a todas as idades”, em tradução mais literal. A todas as idades e a todas as classes sociais: aos ricos e aos pobres. Também Michael Jackson morre, apesar da idade não tão avançada, apesar do dinheiro que possuía [se bem que eu nem sei se possuía tanto dinheiro assim; há uns anos, rolou uns boatos de que o cantor estava quase falido].

“Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína”? É a pergunta que Nosso Senhor faz no Evangelho (cf. Lc 9, 25). Obviamente eu não sei em que condições morreu o astro – desejo que ele tenha tido a graça de uma boa morte -, mas é público, até onde eu sei, que o cantor nunca se destacou por suas convicções religiosas. Chico César disse ontem que achava “ruim pra ele não ter sido da Igreja Católica” [p.s.: o artista diz isso em sentido provocativo…], pois o cantor aparentemente “viveu infeliz nos últimos anos”. Acaso vale a pena…?

Foi acusado de pedofilia e, até onde me conste, absolvido. Mas a sua carreira não o foi. Sic transit gloria mundi, da Liturgia de coroação dos papas (não sei se ainda é usado): “assim passa a glória do mundo”. Passa depressa, como fumaça. Todo se pasa, diz Santa Teresa. A fama, o dinheiro, a vida… e, ao final, o que importa? “Vós, que tendes tempo sem ter conta, / não gasteis vosso tempo em passatempo. / Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta. / Pois aqueles que sem conta gastam o tempo, / quando o tempo chegar de prestar contas, / chorarão, como eu, o não ter tempo” (A conta e o tempo).

Não me recordo de ter sido, em algum momento, grande fã de Michael Jackson. Mas lembro-me de Moonwalker, do Mega Drive: cliquem aqui para baixar o emulador (Gens) e aqui para a ROM do game. Quanto ao Michael, que a Virgem Santíssima lhe tenha valido no momento derradeiro.

Requiem aeternam dona ei, Domine
et lux perpetua lucet ei.

Requiescat in Pace.
Amen.

O convite e a recusa

“Cantora gospel é impedida de se apresentar em Igreja Católica”, diz uma notícia que recebi hoje. O corpo da manchete, no entanto, dá margens a dúvidas sobre o quê, exatamente, aconteceu.

A primeira frase da reportagem diz o seguinte: “A cantora gospel Nery  Nascimento, foi impedida  pelo ministério de sua Igreja, de aceitar o convite para participar do culto de louvor e adoração na Igreja Católica Carismática de sua cidade”. O grifo é meu. Daí fica a pergunta: “Igreja Católica Carismática” refere-se a um grupo da Renovação Carismática que faz parte de uma paróquia católica apostólica romana, ou refere-se a este cisma de Belém? A manchete induz o leitor a pensar na primeira possibilidade; a primeira frase, na segunda.

De qualquer modo, todo o texto [seguido dos comentários] à exceção da frase supracitada parece considerar que são católicos apostólicos romanos, mesmo. Questiono considerando esta possibilidade:

1. O que vem a ser um “culto de louvor e adoração”?

2. Qual era o propósito de semelhante convite? Aproximar a cantora herege [e/ou a sua “comunidade eclesial”] da verdadeira Igreja de Jesus Cristo, ou alguma outra coisa?

3. A exposição ao “show-pregação” de uma cantora gospel não é colocar a própria Fé em risco sem justificativa proporcionada? Todas as pessoas que iriam participar do tal “culto de louvor e adoração” tinham uma Fé madura o suficiente para não se deixar seduzir pelos enganos da cantora?

4. Qual a prudência de se convidar um herege protestante para um evento ecumênico (ainda concedendo, para ser benedicente, que o intuito dos responsáveis pelo convite fosse verdadeira e propriamente ecumênico) sem saber antes se ele é dócil ou hostil ao convite? Nunca leram nos Evangelhos que não se deve jogar pérolas aos porcos?

As perguntas são pertinentes. Entre os comentários feitos à notícia, um deles fala de um padre que, certa vez, convidou um diácono para fazer a homilia dominical e, após a fala do herege, este “converteu o padre e quase metade dos que ouviam a pregação”. O que significa que arrastou os católicos para longe da Igreja de Nosso Senhor.

Não sei se a história é verdadeira e, aliás, acredito que não seja; mas é óbvio que existe sempre a possibilidade de que um fiel católico seja seduzido pelas falácias protestantes, de modo que não convém expô-lo desnecessariamente ao risco de perder a própria Fé.

Costumo ver com apreensão a aproximação de católicos – e agora não falo mais deste caso da sra. Nery  Nascimento, e sim de coisas que vejo no meu quotidiano – a cantores protestantes, sob a justificativa de que as músicas são religiosas e não contém heresias. Ainda sendo verdade que a maioria das músicas protestantes não contenha expressamente heresias, o problema não é só esse. Músicas protestantes são omissas em temas centrais da Fé Cristã, de modo que são sempre incompletas. Músicas protestantes podem induzir ao relativismo religioso, porque “se fulaninho que é protestante faz músicas tão lindas de louvor ao Senhor, é porque o Espírito Santo age através dele”. Músicas protestantes podem pôr gradativamente a alma em contato com a “cultura” herética protestante e, assim, levar o fiel católico a perder a Fé. Et cetera.

De modo que fico feliz pela sra. Nery ter recusado o convite dos carismáticos, só pela possibilidade de que talvez tenham sido católicos; a recusa da herege privou talvez fiéis católicos de serem expostos a situações perniciosas e danosas às suas almas. Só fico pensando onde é que estão os pastores responsáveis por esta gente: porque ser necessário o lobo afastar-se voluntariamente das ovelhas ante a inércia dos legítimos pastores do rebanho do Senhor é vergonhoso.

Convite – Requiem de Mozart

034

Departamento de Música da UFPE

apresenta

Requiem de W. A. Mozart

Igreja Madre de Deus, Recife
18 e 19 de maio às 20h

Convento Sagrado Coração de Jesus, Caruaru
20 de maio às 20h

[Projeto “Música da UFPE”: Wolfgang Amadeus Mozart – Requiem em ré menor, KV 626, pelo Coro Universitário da UFPE, Coro Contracantos e Camerata da UFPE, sob a regência do Professor Flávio Medeiros.]

Infância roubada, juventude depravada

Quando criança, eu assistia ao “Xou da Xuxa”, tinha os discos do Balão Mágico e do Trem da Alegria. Mas só quando cresci descobri, com horror, a imoralidade existente nesses programas e músicas “infantis” da década de oitenta. Não acho que seria exagerado dizer que parte da responsabilidade pela depravação moral dos jovens do final da década passada para cá deve ser creditada a estas coisas “infantis” às quais eles foram expostos quando eram crianças.

Procurava no youtube ainda há pouco uma música que eu ouvia quando era criança, chamada “Pra ver se cola”. Cola o teu desenho no meu / pra ver se cola / cola o teu retrato no meu / e me namora. [Aliás, só agora, depois de vinte anos, eu descobri que a letra dizia “cola o teu desenho no meu”, porque eu sempre havia cantado, até hoje, “cola o teu pezinho no meu”…] Encontrei-a, com os meninos fazendo uma apresentação no Xou da Xuxa. Quando eu era criança, achava a coisa mais inocente do mundo; hoje, no entanto, vi as crianças cantando, e o clima de “paquera” existente na música representado no palco, e a dança com beijinhos e cabecinhas coladas, e achei isso – ainda que inocente – extremamente precoce. Crianças de seis, sete, oitos anos de idade não deveriam estar cantando “me namora”.

“Ah, deixa de ser exagerado”, alguém pode dizer, “é claro que ninguém vai virar um depravado na juventude por cantar uma coisa inocente como ‘cola o teu desenho no meu’ na infância”. Não, eu não estou exagerando, porque “Pra ver se cola” não é um caso isolado e nem é o pior. Vejam, por exemplo, esta outra música sobre a Xuxa do mesmo Trem da Alegria. Eu me lembro dela. Lembro-me de que a cantava. Mas não entendia a malícia da letra quando era criança: eu fico imaginando, quero ser seu namorado / mas fico com vergonha do meu pai que está do lado / você é a culpada do meu banho demorado / Xuxa… Oras, como assim, “você é a culpada do meu banho demorado”?! Alguém consegue me explicar como foi possível que os pais deixassem as crianças cantarem que ficavam um tempão trancadas no banheiro imaginando a Xuxa?

Insisto: é recorrente. Mais uma música: Fera Neném. Quando quero alguma coisa, eu berro / brinco de médico, ninguém é de ferro / […] / vou em frente, não dou bola pra bruxa, / acordo contente quando sonho com a Xuxa. Como é possível que ninguém tenha protestado contra esta perversão da infância?

Mais exemplos: Rita Lee no Xou da Xuxa. No meio das crianças cantando Xuxuzinho [Papai do Céu, me dá um namorado / lindo, fiel, gentil e tarado]  ou Pega Rapaz [Nós dois afim / de cruzar a fronteira / numa cama voadora, fazedora de amor / de frente, de trás / eu te amo cada vez mais / de frente, de trás / pega rapaz, me pega rapaz, / de frente, de trás / […] / Alô doçura, / me puxa pela cintura / tem tudo a ver o teu xaxim / com a minha trepadeira] – deixar crianças cantarem este tipo de pornografia faz sentido para alguém?

Enfim: as crianças que imaginavam os namoricos de escola das canções, que tomavam “banhos demorados” pensando na Xuxa e acordavam contentes quando sonhavam com ela, que brincavam de médico porque “ninguém é de ferro”, que escutavam, cantavam e dançavam as músicas pornográficas da Rita Lee, poderiam porventura formar uma geração de vestais quando crescessem? Acaso isso é educação? Se as crianças tiveram a sua infância roubada e, no lugar dela, apresentaram-lhes este bombardeio de temas adultos e até mesmo imorais, é de se espantar que os jovens sejam o que são?

Aliás, se os programas e músicas infantis da década de oitenta tiveram realmente esta influência  negativa na geração de jovens que se lhes seguiu, eu não quero nem imaginar como vão ser os jovens que cresceram escutando axé e funk. Que Nosso Senhor tome conta das crianças do Brasil.

Grito Silencioso

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=PXTeqJsErWo]

Esta é uma música antiga de uma banda católica daqui de Olinda. Ouvi-a por duas vezes nos últimos dias, após anos sem escutá-la: encontrei-a “perdida” no notebook enquanto viajava e soube que ela foi tocada na cerimônia de entrega do prêmio Von Galen a Dom José Cardoso Sobrinho. Grito silencioso, de órfãos inocentes. Gosto dela, é quase uma oração: Grito silencioso, que machuca o coração de Deus; Maria, Mãe da Igreja, roga pelos filhos Seus.

Eles não podem gritar. Nós podemos e, portanto, devemos. O grito de agonia deles enquanto estão sendo assassinados não pode ser ouvido; a nossa voz, sim, esta pode ser ouvida, e precisa sê-la, para que eles não precisem gritar em silêncio no ventre materno. Hoje, muitos preferem se calar, em um silêncio tão grande quanto o daqueles bebês assassinados no ventre, vítimas do Holocausto Silencioso. Ambos os silêncios machucam o coração de Deus: mas o silêncio dos já nascidos é mais grave, porque é covardia, é omissão de quem poderia fazer algo e não faz.

Os inimigos do gênero humano, promotores do aborto, no entanto, não se calam. A Fiocruz produziu um documentário sobre o aborto, que ganhou um prêmio e teve a sua produção financiada com dinheiro público; alguns trechos dele podem ser vistos aqui. “O vídeo, da documentarista Thereza Jessouron, apresenta, pela primeira vez no Brasil, depoimentos de mulheres de idades, classes sociais e estados brasileiros diversos, como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife (sic!). Na produção, as entrevistadas falam abertamente, sem esconder o rosto nem a identidade, como e porque fizeram o aborto”. Enquanto gritam os inocentes assassinados por estas mulheres que “falam abertamente, sem esconder o rosto”, também nós precisamos gritar e protestar contra a impunidade e contra a defesa do assassinato de inocentes. O email da produtora/diretora deste curta abortista é: thereza.jessouroun@gmail.com.

Como se não bastasse a guerra incessante que nos é feita desde fora, também de dentro da Igreja nós recebemos golpes cruéis. Depois de Mons. Fisichella, foi a vez do cardeal de Montreal, Jean-Claude Turcotte, prestar um grande desserviço à Igreja dizendo que o aborto é aceitável em “certas casos”. Que “casos”, eminência? Em que “casos” uma vida inocente pode ser ceifada? Em que “casos” há exceções para a proibição de se matar diretamente um inocente? Será possível que estes senhores não temam pela salvação das próprias almas? Será que eles não sabem que o inferno também aceita púrpura?

Maria, Mãe da Igreja, roga pelos filhos Seus! Olha para a Esposa de Teu Filho, ó Mãe Santíssima; olha por aqueles que trabalham – ou deveriam trabalhar – pela glória do Teu Deus. Roga por nós ao Todo-Poderoso. Concede-nos os Teus favores, sem os quais é impossível vencer esta batalha e quebrar o silêncio que envolve o aborto. Sê em nosso favor, e livra-nos do inimigo com o Teu valor. Maria, Mãe da Igreja, roga pelos filhos Teus!

“Mercado de Moda Infantil”

[Publico um capítulo de um estudo realizado pela Universidade Estadual de Goiás sobre crianças e moda, chamado “Mercado de Moda Infantil”, que traz algumas considerações bem pertinentes sobre a corrupção da infância. Agradeço ao Rodrigo Pedroso que mo enviou por email.

O original pode ser encontrado aqui e é da autoria da sra. Nadima Chalup Ribas, estudante de design de moda e autora deste blog, em colaboração com o dr. Bento Fleury, professor doutor em Letras e Lingüística.]

Erotização da Moda Infantil

Um fato que preocupa pais, educadores e a sociedade em geral é a infância cada vez mais curta. É cada vez mais comuns ver meninas na faixa de 7 a 11 anos agindo como verdadeiras moças, ganhar brinquedo é uma ofensa, o presente bem vindo são roupas, acessórios, maquiagens.

As festas de aniversário também mudaram, não existe uma decoração com tema infantil, mas sim festas com DJ’s, luz negra ou então a festa é realizada dentro de um salão de beleza. Criança sempre foi vaidosa, a diferença era que elas colocavam suas vontades todas nas bonecas, hoje não precisam de bonecas, a realidade é mais interessante, elas são as próprias “cobaias”.

O problema tem origens da própria educação dos pais que, na sua maioria, vestem seus filhos, principalmente filhas como adultos em miniatura. Não imaginam o efeito que isso causa em um futuro próximo. Mesmo que alguns pais eduquem seus filhos de maneira coerente, eles acabam recebendo uma grande influência da televisão, a contra educação. O fato não é tão atual, existe uma diferença muito grande na moda infantil antes de depois do programa Xou da Xuxa, exibido na década de 80.

As meninas – as mais influenciadas – não queriam mais saber de vestir vestidos com babadinhos e sapatos. A febre na época eram os shortinhos e as botas, marca registrada da rainha dos baixinhos. A roupa da apresentadora que inspirava sensualidade contrastava com um cenário cheio de elementos infantis. Além de influenciar na moda, o programa também direcionou as crianças ao consumismo e a competição.

Nos anos 90 outra preocupação dos educadores era o então grupo de axé, É o Tchan. A atração do grupo eram as mulheres vestidas com roupas curtíssimas, coloridas e coladas ao corpo dançando com letras de apelo sexual. É obvio que a criança não entendia o significado da letra, mas se deixava levar pelo ritmo e o colorido das roupas das dançarinas.

Nunca uma criança foi tão desrespeitada como naquela época, a tendência da maioria é imitar sim as vestimentas de ídolos, não só as vestimentas, mas também as atitudes. As meninas andavam praticamente semi-nuas, e o pior era o orgulho que os pais sentiam em ver seus pequenos vestidos como os ídolos em programas de TV. Esses programas promoviam concursos de cover infantil e ainda ganhava ibope com isso.

A taxa de violência sexual contra crianças e adolescentes aumentou consideravelmente, a sociedade se chocava no momento em que acompanhavam dados no jornal da TV, mas de nada adiantava, pois depois do jornal entrava a novela ou programas de auditório com a participação especial desses famosos grupos de axé.

Aproveitando o sucesso que o grupo tinha com as crianças, foram lançados diversos produtos da linha É o Tchan entre brinquedos, cosméticos e roupas. Ou seja, mais uma vez as crianças eram as principais vítimas de grandes empresários sem valores que pensam apenas em dinheiro.

Atualmente, um fenômeno que colabora para a erotização da moda infantil é a cultura do funk. Semelhante ao axé, as letras são de gosto duvidoso e também fazem apologia ao sexo. A criança novamente é seduzida pelo ritmo, as batidas. As roupas também são extremamente justas e curtas, a criança ao vestir a roupa, sente-se mais velha, e para elas, não existe coisa melhor.

O grupo Rebeldes, também tem uma parcela de influência nas vestimentas e no comportamento precoce das crianças. O grupo musical também conta com uma novela que é acompanhada assiduamente por crianças e adolescentes, mas principalmente as crianças. A história se passa em um colégio de classe média alta, os atores que interpretam adolescentes, na vida real, já são adultos. As protagonistas vestem uniformes curtíssimos, o que não seria permitido em um colégio da vida real. Além das roupas as crianças tentam imitar o comportamento intitulado como rebelde, o próprio nome diz tudo.

Fatores sociais também colaboram para o aceleramento dos fatores biológicos, as meninas de hoje entram na puberdade mais cedo.”Esta geração de meninas está tão erotizada, vem recebendo tantos estímulos para ficar moça que o cérebro acaba enviando sinais que detonam a produção dos hormônios mais cedo” afirma Jonathas Soares, ginecologista do Hospital das Clínicas e do Albert Einstein, de São Paulo.

João do Morro e cultura média

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=HqlUPoUxnlU]

Até a sexta-feira passada, nunca tinha ouvido falar neste sujeito. No entanto, as músicas dele literalmente tomaram conta de todo o Carnaval de Olinda e Recife! A música acima é uma das maiores pérolas musicais de toda a discografia recifense moderna. A letra é como segue:

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
só porque
eu chamei ela de
Amara.

Ela veio querer
meter a mão
na minha cara,
Só porque
eu chamei ela de
Amara.

Comprei um vestido pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um trancelim pra ela
e ela não aceitou não
Comprei um sabonete pra ela
e ela não aceitou não

Ela gritou na minha cara
que eu não era o homem do seu coração!

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra!
Ela pegou o sabonete
jogou na minha cara…

Sabe o que foi que ela fez?
disse somente uma palavra:
Ela pegou o sabonete
esfregou na minha cara…

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Ai, Amara,
ai, Amara,
Jogasse o sabonete,
e pegou na minha cara!

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo do chupa-cabra

Vinha saindo do beco
quando ouvi uma palavra
era as menina gritando
com medo…

Mas dali eu saí correndo,
dali eu saí correndo
com meu pobre violão…

e de repente eu caí
e ouvi uma palavra:
era a menina, tava com medo,
com medo do chupa-cabra…

e de repente eu caí
ouvi uma palavra:
era as menina, tava com medo,
chupa-chupa

Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]
Chupa-chupa-chupa-cabra
[bééééééééé]

Lembro-me de que um amigo de Brasília, após ter escutado isso 200 vezes (sim, tocou MUITO no Carnaval), comentou que não havia entendido esta música: afinal, por que raios a mulher havia batido no cara?! Eu comecei a rir. Acho que ele não havia ainda sido contaminado com o nonsense do cenário musical pernambucano. E, da segunda parte da música (que começa com “vinha saindo do beco”…), ele comentou que era a mesma música, mas não era a mesma história… e que estava até agora tentando saber qual era “a palavra” que Amara disse…

Bom, João do Morro – isso é meio óbvio porque, afinal, caso contrário provavelmente não faria lá tanto sucesso… – não é lá o melhor exemplo de música recomendável. O show dele no Carnaval foi, ao que dizem, apoteótico. Ele – e isso é um ponto positivo – sofreu um processo de uma ONG gayzista por conta de uma suposta homofobia em uma de suas músicas politicamente incorretas. Mas, biografia à parte, o ponto que me interessa aqui é outro: o que raios explica a decadência musical (e, por extensão, cultural) moderna? A futilidade erigida como padrão máximo de arte aceitável e desejável? Eu reconheço que dá para rir (eu mesmo ri à beça) com a música da Amara e com algumas outras também, mas duas coisas me incomodam profundamente (e isso é apanágio de toda a música moderna, ao menos em Recife, e apenas tomo João do Morro como estudo de caso): um, a existência de imoralidades gritantes que não me atrevo a reproduzir aqui mas, no entanto, são cândida e publicamente entoadas como se fossem a coisa mais natural do mundo; e, dois… o monopólio da futilidade e o local de destaque que lhe é dado. É claro que nem tudo precisa ser sério o tempo todo – um pouco de bom humor é sem dúvidas importante -, mas me incomoda a… seriedade que se aplica à falta de seriedade das coisas.

E talvez seja este um dos maiores problemas da “cultura” moderna: ela está preenchida, em sua virtual totalidade, com coisas fúteis! Parece haver um empenho organizado, um esforço conjunto, para que as pessoas fiquem ocupadas com coisas sem nenhuma importância, que aprendam a gostar delas, e que – por ausência de padrão comparativo – passem a considerá-las como parte substancial de suas vidas. Há incontáveis exemplos, da música ao Big Brother, passanto pelas novelas da Globo, etc, etc. Com a cabeça cheia de entulho, como se pode esperar que as pessoas se ocupem de coisas sérias?

Às vezes, fico desanimado, porque tenho a quase irresistível impressão de que é simplesmente impossível conversar com algumas pessoas sobre as coisas que realmente são importantes. É necessário um dedicado trabalho de… alargamento intelectual, para que coisas como, digamos, metafísica possa ser acomodada em mentes que foram acostumadas, desde a mais tenra infância, à futilidade. E este trabalho não pode ser feito unilateralmente. Não adianta discutir com quem não quer discutir e, muitas vezes, as pessoas simplesmente não são capazes de discutir sem um grande esforço para sair da pocilga e ousar elevar os olhos para o mundo… e muitos, muitos, muitos não estão dispostos a empreender este necessário esforço…

O que é possível fazer? Na minha opinião, oferecer resistência, e oferecer educação, não da maneira mágica e demagógica como falam os nossos políticos, mas educação cristã verdadeira, desde a mais tenra infância, às pessoas mais próximas de nós, em respeito à subsidiariedade, e com um verdadeiro esforço para preservarmos os educandos do ambiente deseducativo no qual eles estão inseridos. Não consigo vislumbrar uma possibilidade mágica de conversão da geração que hoje está aí; é somente nas gerações futuras que está a nossa esperança. E, aliás, urge trabalharmos, apressando a vinda destas, pois não sei ainda quantas gerações como as nossas o mundo é capaz de suportar.

Sobre músicas protestantes

Tenho uma natural repulsa a músicas protestantes. O problema não é propriamente teológico – porque, como alguém já apontou, se a música não contiver heresias ela é uma música católica, num sentido análogo àquele em que a “fé protestante” em Jesus Cristo como Deus e Senhor não é uma “fé protestante”, e sim a exata Fé Católica -, mas sim PASTORAL. É muitíssimo inconveniente que os católicos sejam levados a acreditar que não tem problema algum em ser herege protestante, já que as músicas deles podem ser usadas pelos católicos. É inconveniente que os católicos tomem gosto por músicas que são intrinsecamente pobres (já que há uma gama enorme de verdades da Fé Católica que os protestantes nunca colocarão em suas músicas, porque não as aceitam). É inconveniente favorecermos os grupos heréticos, quando poderíamos favorecer e fomentar os grupos católicos. Enfim, a utilização de músicas reconhecidamente protestantes (excluo deste rol aquelas que já se tornaram praticamente de domínio público, e que quase ninguém associa ao protestantismo quando a escuta) por católicos é muito inconveniente.

Trago as considerações do excelente Dom Estêvão, de saudosa memória, sobre o assunto, publicadas na Pergunte & Responderemos (n/] 516, 2005):

“Não é conveniente adotar cânticos protestantes em celebrações católicas pelas razões seguintes:

1)Lex orandi lex credendi (Nós oramos de acordo com aquilo que cremos). Isto quer dizer: existe grande afinidade entre as fórmulas de fé e as fórmulas de oração; a fé se exprime na oração, já diziam os escritores cristãos dos primeiros séculos.

No século IV, por ocasião da controvérsia ariana (que debatia a Divindade do Filho), os hereges queriam incutir o arianismo através de hinos religioso, ao que Sto. Ambrósio opôs os hinos ambrosianos.

Mais ainda: nos séculos XVII-XIX o Galicanismo propugnava a existência de Igrejas nacionais subordinadas não ao Papa, mas ao monarca. Em conseqüência foi criado o calendário galicano, no qual estava inserida a festa de São Napoleão, que podia ser entendido como um mártir da Igreja antiga ou como sendo o Imperador Napoleão.

Pois bem, os protestantes têm seus cantos religiosos através de cuja letra se exprime a fé protestante. O católico que utiliza esses cânticos, não pode deixar de assimilar aos poucos a mentalidade protestante; esta é, em certos casos, mais subjetiva e sentimental do que a católica.

2) Os cantos protestantes ignoram verdades centrais do Cristianismo: A Eucaristia, a Comunhão dos Santos, a Igreja Mãe e Mestre… Esses temas não podem faltar numa autêntica espiritualidade cristã.

3) Deve-se estimular a produção de cânticos com base na doutrina da fé.”

(Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB)

Recomendo ainda a leitura deste artigo do Amo Roma!. E que nos esforcemos para resgatar a riqueza da música católica.

Carmina Burana

[youtube=http://it.youtube.com/watch?v=v4cNSC8x0Og]

Eu não entendo absolutamente nada de música erudita. Acho-a, no entanto, bela e agradável de ser ouvida. No auge da minha reconhecida ausência de erudição, fui ontem à noite ao teatro da Universidade assistir a uma cantata, a convite de uma amiga. De acordo com o pequeno folder que recebemos, era uma versão simplificada do espetáculo; mas, para mim, pareceu primorosa. Dois pianos, uma camerata de sopros e metais da universidade e um coral de 160 vozes. Majestoso.

A apresentação – que eu não conhecia – era a Carmina Burana, de Carl Orff. Não sabia do que se tratava, nem mesmo se a expressão era traduzível. O teatro, completamente lotado. Ao início, no telão, apresentou-se o subtítulo em latim: Cantiones profanæ cantoribus et choris cantandæ comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis. Deu para entender que eram canções profanas que tinham alguma coisa a ver com imagens mágicas… decidi esperar.

Começou a Fortuna Imperatrix Mundi. Espetacular; embora eu não soubesse o nome, já tinha, sim ouvido a música – quem não ouviu? Latim. No telão, era mostrada a tradução, enquanto as vozes e os instrumentos executavam a melodia. O latim eu tentava identificar de ouvido, feliz quando encontrava a expressão original cuja tradução correspondente eu lia.

As peças sucediam-se, e eu comecei a estranhar as letras daqueles negócios que eram cantados. O “profanae” parecia estar sendo levado muito a sério… por detrás das apresentações espetaculares e sem dúvidas de encher os ouvidos, eu via – graças à tradução exibida – o que estava sendo cantado. Horror. As letras não eram apenas “profanas” no sentido de “não-sagradas”, mas sim de “anti-sagradas”. Dentre as canções, só à guisa de exemplos, encontram-se as seguintes:

Salve, mundo
tão rico de alegrias!
ser-te-ei obediente
pelos prazeres que me permites

entrego-me aos meus vícios,
esquecido das virtudes,
mais ávido de volúpias
do que de salvação,
morta minh’alma
só minha pele me importa.

Queira Deus, queiram os deuses,
aplacar meu desejo:
que eu possa romper
as cadeias da sua virgindade. Ah!

Se um menino com um menina
se encontram em um quarto.
o casamento é feliz.

O amor avulta,
e entre eles
a vergonha é posta de lado
e tem inicio um jogo inefável
em seus membros, braços e lábios.

Inacreditável como é possível alguém passar tantos anti-valores por meio de músicas tão belas! Comecei a ficar incomodado quando vi o sujeito cantar ao “mundo” que lhe seria obediente por causa dos prazeres que ele proporcionava – aliás, a versão traduzida ontem dizia “eu te servirei”. Servir ao mundo por causa dos prazeres que o mundo oferecia! É o anti-Evangelho. A idéia afigurava-se-me como um pacto com Satanás, uma declaração de apostasia: para quê servir a Deus? Comprometo-me a servir ao mundo. Mas – é inegável – a beleza dos arranjos musicais arrebatava o ânimo e arrancava aplausos calorosos. “Servirei ao mundo por causa dos seus prazeres” – e o teatro lotado aplaudia.

Mas, para mim, o ápice foi quando o tenor cantou, em alto e bom latim, que estava mais ávido de volúpia do que de salvação. Em latim! voluptatis avidus / magis quam salutis. Para mim – acostumado com o latim sacro – soava-me incompreensível alguém utilizar a “língua da Igreja” para proferir blasfêmias. E, que blasfêmia horrorosa – como alguém é capaz de escrever (ou de cantar) que está mais ávido de volúpia do que de salvação? O pecado contra o Espírito Santo exibido assim, em toda a clareza do eu-lírico impenitente e empedernido, era repugnante a despeito da beleza da peça.

Nem todas as peças conseguiam atingir este grau de perversão. Muitas eram inocentes – todas, artisticamente bonitas. Mas algumas eram simplesmente chulas. O sujeito clamar aos deuses que aplaquem o desejo dele de “romper as cadeias da (…) virgindade” da garota, afirmando que o “o sopro da primavera (…) torna [o homem] lascivo”, e a menina responder “amor querido, ah, me entrego toda a ti” após o garoto chamar “vem, vem, linda, estou morrendo”, é degradante. Mesmo que seja em latim e em alemão, mesmo que haja dois pianos e cento e sessenta vozes. Percebam bem, não é o amor – mesmo o erótico – entre o homem e a mulher que é degradante, e sim a sua exposição num lugar que não lhe é próprio: num cenário pagão, sob as bênçãos de Vênus e Baco, entre odes à embriaguez e pseudo-conflitos entre “amor lascivo e pudor”, com explícito repúdio à mensagem do Evangelho e louvores ao prazer. Era aviltante.

No final, a apoteose com – de novo – a Fortuna Imperatrix Mundi. Chuva de aplausos, em pé; o espetáculo foi primoroso, sem dúvidas. Talvez as pessoas não tenham prestado atenção naquilo que era cantado; talvez – e pior ainda – não se importem mesmo. Quanto a mim, eu estranhava que o espetáculo depravado fosse de censura livre, sem aviso algum aos navegantes sobre o seu conteúdo…

Foi uma boa noite, fora de discussões, por um duplo motivo. O primeiro, por causa da inegável qualidade da música e da beleza da apresentação; o segundo, porque eu fiquei sabendo que há músicas e músicas, e que certas peças conseguem juntar conteúdos horrorosos com uma tremenda beleza estética. Serviu-me para atiçar a curiosidade e procurar saber exatamente o quê estou escutando; afinal, nem todo espetáculo de música erudita é como a majestosa Messa di Gloria de Puccini que tive a oportunidade de assistir no ano passado…